Por Diogo Cesar Sampaio
Pode ser doce, baroa ou inglesa, não importa o tipo ou a forma, ela é uma unanimidade. Um dos alimentos mais consumidos no mundo, mas nem sempre foi assim. Antes renegada, a batata reúne inúmeras histórias e curiosidades. E é justamente isso que a Unidos de Bangu irá levar para Marquês de Sapucaí em 2019. Dando continuidade à série de visitas aos barracões da Série A, a reportagem do site CARNAVALESCO entrevistou o carnavalesco da agremiação, Alex de Oliveira, sobre o enredo da vermelha e branca para 2019:
“Esse enredo surgiu de um jeito inusitado. Eu estava lendo o crescente sucesso da batata doce no mundo do fisiculturismo, quando me deu um start. Esse enredo já foi pensado há uns dois anos. E ao enveredar por esse caminho, o mais surpreendente foi descobrir as curiosidades por trás da história da batata. Durante a pesquisa, teve uma frase que foi fundamental para conceituar o desfile. O Deus Sol, que era o símbolo maior do povo Inca, antes de ter sua população dizimada pelos espanhóis, dizia que, pra ele, o bem mais precioso que tinha no solo dele era a batata. Pois, ela permitia ter esperança de viver, sonhar e de se alimentar. Os espanhóis invadiram para pegar ouro e prata, mas levaram também uma batata. Depois disso, a batata foi se espalhando pela Europa. Desse conceito a gente percebe que tal qual a batata, nós cariocas e brasileiros, sofremos resistência, fomos marginalizados, sofremos discriminação e conseguimos dar a volta por cima. É o terceiro alimento mais consumido do mudo, rico em uma série de nutrientes, além de ser capaz de se adequar a qualquer tipo de solo, temperatura, inclusive, no inverno e em Marte. Pois, desde 1995, há uma plantação da NASA fazendo testes com a batata”.
Falando sobre a batata, Alex de Oliveira faz sua estreia na Unidos de Bangu. O convite para assinar o carnaval da agremiação surgiu por intermédio de uma indicação do, também carnavalesco, Edson Pereira a direção da escola. Em 2019, Edson assina a direção e coordenação artística da vermelha e branca da Zona Oeste.
“Quando a escola fez contato com o Edson pra vir para cá, ele já tinha acordado com a Unidos de Vila Isabel. Foi aí que ele me indicou, na condição de ele ser o coordenador artístico para me dar um suporte e a gente pensar juntos a narrativa do desfile. Quando decidimos por esse enredo foi porque, tanto eu, quanto o Edson, estamos saturados de alguns enredos que passam na Série A. Seja por conta de plástica, de material e/ou de identidade visual. Já deu! Já teve muita gente, muito santo e muito orixá homenageado”.
Porém, não foi simples conseguir emplacar um enredo sobre a batata. Alex enfrentou uma série de resistências ao tema, desde por parte da direção da agremiação, até mesmo por parte dos torcedores e componentes da escola No entanto, ao longo do processo de confecção do desfile, o carnavalesco foi provando que a batata poderia sim virar samba.
“Muita gente torceu o nariz para esse enredo. E mesmo sendo um tema específico, não tínhamos e ainda não temos patrocínio. Quando foram apresentadas as fantasias, todos ficaram abismados. Até mesmo porque o povo achava que a ala 1 seria a batata chips, a ala 2 batata purê, a ala 3 batata palha….. E nós brincamos com isso. Apresentamos a história e perguntamos: onde está a batata? É uma surpresa que estamos armando, com a comissão de frente e no final do desfile”.
Ao longo da entrevista concedida ao CARNAVALESCO, Alex de Oliveira acabou contando um pouco mais acerca das surpresas que prepara para o desfile. E ainda revelou qual o material mais inusitado que foi utilizado na parte plástica da Bangu para esse ano.
“Tem um material que o Márcio, chefe dos aderecistas, quase enfartou. Compramos um metro de vegetação pronta, e tínhamos de transformar em 100 metros lineares desta vegetação. Tivemos de juntar pedaço por pedaço, e ainda assim, não deu para decorar o carro todo. Teremos de comprar mais material para terminar. Temos algumas ideias e soluções alternativas ou inusitadas que são surpresas e que não podemos revelar. Eu gostaria que todo mundo prestasse atenção no trabalho do Luis Carlos e da Natasha Lima, que são os coreógrafos que estão fazendo nossa comissão de frente. Eles, junto comigo, com o Jeferson, com o Tiago e com o Marcelo Augusto, que trabalha com o Marcelo Misailidis na Beija-Flor. Estamos na expectativa de ser uma surpresa enorme nossa abertura de desfile”.
Alex também revelou que a Unidos de Bangu utilizará de movimentação de esculturas em todas as suas alegorias. Ele ainda garantiu que toda estrutura é nova, e não reaproveitada.
“Em todos os carros teremos efeitos da nossa equipe de Parintins. Além da parte hidráulica e elétrica com gerador. Tudo sendo construído do zero. Tudo novo. Eu vou ficar muito satisfeito e emocionado na hora de anunciar que vai começar o desfile. Esperamos a comunidade brilhar. A passarela é deles”.
A crise e o atual modelo da festa
Antes de fazer esse retorno ao carnaval pela Bangu, o último carnaval que tinha sido assinado por Alex era o da Rocinha em 2016, também pela Série A. Uma experiência que marcou negativamente o carnavalesco, e o fez começar a repensar sobre os rumos que a festa tomou nos últimos anos.
“Confesso que após aquele ano de 2016 eu disse que jamais faria carnaval novamente. Fiquei traumatizado. Era possível até voltar a ser Rei Momo. Mas, jamais voltar a trabalhar em barracão. As pessoas não tem noção. Acho que os desfiles das escolas estão fugindo do carnaval. Falta alegria, jocosidade, loucura, sarcasmo. Falta ter mais prazer de brincar, do que só se preocupar com campeonato e com problema. Se as escolas valorizassem mais o samba que fazem, em detrimento da plástica que elas gastam, até mesmo porque ninguém mais tem dinheiro, voltaríamos à essência das escolas. Que é uma agremiação para unir vários tipos de pessoas. Eu não sou dirigente e nem gestor de nada. Mas, por conta de ter sido rei momo por 10 anos, eu analisei essa situação. E todo ano, qualquer bloco de personalidade ou não, junta um monte de pessoas. Números como duzentos mil, um milhão, dois milhões de pessoas. As escolas, hoje em dia, não desfilam nem com cinco mil pessoas, até pelo tempo não permitir. E até as escolas que oferecem fantasias gratuitas, estão com dificuldades de ter componente. É preciso rever tudo isso. Esse carnaval atípico veio para ser um marco daqui pra frente”.
E mesmo em meio a uma das maiores crises da história da festa do momo, Alex de Oliveira resolveu retornar aos barracões. Ele contou que redescobriu o prazer em se fazer carnaval esse ano, em meio a tantas dificuldades.
“Nem que seja pra sofrer de prazer. Tem que ter, para conseguir fazer. Cada um aqui é parcela fundamental no processo. Eu dependo do rapaz que está ali emendando fio para fazer a solda, do eletricista que trabalha em obra comigo e que vem aqui ajudar a montar projeto de iluminação, dependo do presidente, do vice-presidente, da cozinheira, da faxineira… Carnaval é isso. Quando a agremiação foi fundada, há algumas décadas atrás, era para isso. Juntar um grupo de pessoas para ter prazer de brincar carnaval. Isso não pode se perder”.
E a criatividade foi uma das ferramentas encontradas pelos carnavalescos para lidarem com a ausência de dinheiro e de material. Alex de Oliveira não foi exceção à regra. Ela foi fundamental para lidar com adversidades enfrentadas pela escola, como o despejo de seu antigo barracão.
“Sofremos um revés bem no início da nossa preparação, por conta da escola ter perdido o barracão que tinha. Tivemos de começar do zero. A obra do novo barracão começou em junho e só foi entregue praticamente no Natal. Só começamos a fazer as alegorias em janeiro. É aí que a criatividade se faz ainda mais fundamental, para enxergar a solução. Eu leciono uma disciplina na universidade que é inovação e criatividade. Eu me tornei coordenador de empreendedorismo. Então, o primeiro passo, é saber que não tem. Por exemplo, você só tem vinte copinhos de água que catou do lixo. Dá teu jeito, e faz virar dez quilos de batata. Falar de fora e reclamar, é fácil. Mas tem muita gente que aponta e não sabe o que é vivenciar o barracão, e todas as dificuldades que as escolas têm. Não adianta reclamar, bater o pé. Tem que fazer. Nós temos as noções da dificuldade, claro que queríamos um material mais sofisticado. Mas, o carnaval é um evento efêmero, para passar em 60 minutos. Temos de valorizar mais o samba no pé e menos dinheiro de ferro, madeira e estrutura”.
Alex também confidenciou que ao aceitar a missão de fazer o carnaval da Bangu em 2019, não encontraria um cenário apropriado. Por esse motivo visou, desde o início dos trabalhos, tomar medidas e precauções acerca do que poderia vir. Atitude que ajudou a amenizar um pouco o impacto da crise de verba e falta de apoio.
“Nós já sabíamos que não podia contar com o dinheiro do governo municipal. Então, a própria diretoria foi tocando na medida do possível. O primeiro recurso que entrou foi para a construção do barracão da escola. Então, saímos do zero. Desde maio, eu como arquiteto, venho desenhando o projeto de retratação da quadra do Salgueiro. Então, o presidente atual de lá, André Vaz, nos cedeu uma alegoria que eles não vão usar. Que é o nosso carro 3, que é bem grande, com estrutura de Especial. Nele virão em torno de 100 pessoas. Terá até uma banda marcial que retratará o baile”.
Solução em meio às dificuldades
O carnavalesco Alex de Oliveira concilia seu trabalho no barracão da agremiação com sua outra ocupação, como professor universitário. E foi no meio acadêmico que o artista encontrou algumas das soluções para problemas que vivência devido à crise. Em parceria com a instituição onde trabalha, Alex criou um programa de estágio supervisionando, onde jovens que estão cursando a diversas áreas trabalham em várias etapas do carnaval da Bangu, colocando em prática teorias que aprendem em sala de aula.
“Eu não sei se felizmente ou não, eu não vivo da profissão de carnavalesco, pois eu sou professor universitário. E esse ano, isso está sendo um diferencial da Bangu. Eu convenci a direção da Veiga de Almeida, onde trabalho, a me dar a chancela de criar um convênio de estágio supervisionado pra todos os cursos de graduação da universidade. Ao invés de procurarmos materiais inusitados, estamos usando material clássico de carnaval e uso de uma mão de obra nova em carnaval. Muitos jovens jamais pensaram que teriam mercado de trabalho no carnaval. De engenheiro a profissional de letras, passando por direito e comunicação. Todo mundo que gosta de carnaval e que é aluno da graduação, teve essa oportunidade vir aqui enxergar isso. E como eu leciono na engenharia, tem mais aluno de engenharia e arquitetura. Eles não imaginavam que no carnaval, a engenharia civil pode ser um campo fértil de trabalho. Muitos acham que só podem apenas trabalharem em obra. Mas, quando olha um carro alegórico e identifica que ele é um edifício de uns 12 mastros, com 4 pavimentos e que precisa de um responsável técnico para assinar um documento, para que todas as pessoas que estão ali em cima não corram risco de vida, então percebemos que, cada vez mais, precisamos de profissionais qualificados. Esse é um diferencial que temos aqui na Bangu, e quem sabe um legado para o dia de amanhã. Espero que a diretoria mantenha essa metodologia. Pois, é gente jovem, que está com gás e vontade de mostrar trabalho. Tal qual a Bangu, que voltou a desfilar e agora está tentando retomar a trajetória de vitórias”.
Entenda o desfile
Com o enredo “Do ventre da terra, raízes para o mundo”, a Unidos de Bangu abrirá a segunda noite de desfiles da Série A, no sábado de carnaval. A escola desfilará com em torno de 1800 componentes, distribuídos em 15 alas e 4 alegorias, sendo o abre-alas da agremiação acoplado.
Setor 1: “Vamos abrir com os Incas, que é o povo originário que plantava batata. Eles cultuavam a batata como se fosse uma divindade. Inclusive, nos dias atuais no Peru, tem o dia nacional da batata em seu calendário oficial. Será um setor mais folclórico e original, com indumentária típica desta população”.
Setor 2: “O segundo setor é a chegada da batata e o primeiro contato dela na Europa, após ser levada pelos espanhóis. Temos algumas curiosidades que são verídicas. Primeiro: a batata era amaldiçoada, discriminada, demonizada e excluída. Como ela era tirada da terra, e não era citada no antigo testamento, as pessoas falavam que não se podia comer. Aí ela se tornou um alimento animal, era servida para porco, cavalo e outros animais. Até que temos um fato marcante: o papa Pio IV se curou com a papa da batata. Ele teve uma enfermidade, tipo pneumonia ou tuberculose, e conseguiram curá-lo com o uso deste medicamento quente por alguns dias, coisa que no interior do Brasil se usa até hoje. Tem gente que quando está com enxaqueca coloca batata na cabeça”.
Setor 3: “Nessa transição, de alimento animal para alimento das pessoas, ela virou artigo de decoração. Vamos citar todos os países que, após a Espanha, tiveram o uso frequente da batata no seu cotidiano, como é o exemplo da Alemanha, Irlanda e até dos Estados Unidos. O próprio presidente Thomas Jefferson levou a batata para ser consumida numa solenidade. E fechamos o setor com o carro 3, a epopeia e o apogeu da batata com o baile do croquete de Luis XVI. Quando ele ascendeu ao trono, todo ano o povo esperava que ele apresentasse um herdeiro, e como ele tinha uma limitação física, ele não tinha condição de ter filhos. Ele contratou um famoso cozinheiro chamado Parmentier, para tentar fazer a batata ficar de um jeito comestível. Ele cria a estratégias de acomodar uma quantidade considerável de batata nos jardins do Palácio de Versalhes, sob uma escolta grande de soldados, que no final do dia, se afastavam deste armazenamento. As pessoas achavam que aquilo era muito caro porque estava protegido, e no fim da noite, aquilo era saqueado. Tudo isso era proposital para fazer as pessoas conhecerem a batata. Até que ele pensou numa outra estratégia, fazer um baile. Pois, se toda a corte começasse a usar a batata, a população iria imitar. Daí teve o baile oficial do croquete de Luis VXI, antes da queda da Bastilha. A população começou a brincar, pois ao invés de apresentar um filho, ele apresentou uma batata”.
Setor 4: “No quarto setor, nós falamos de Brasil, Brasil celeiro do mundo. Pois, foi através de D. Pedro I e Leopoldina que a gente tem esse primeiro contato com a batata, até que chegarmos ao agronegócio. No nosso último carro, deixamos reforçada a mensagem de paz, que é aquela ideia inicial do Deus Sol Inca, em que devemos olhar e valorizar nossas próprias raízes e solo. Ali enxergamos a solução para nossos problemas. E a nossa própria Unidos de Bangu, olha para sua comunidade na Zona Oeste que sofre com uma série de mazelas o ano inteiro e se reestrutura. Teremos alguns convidados que são característicos da Zona Oeste e de Bangu, como a participação do time oficial do Bangu Atlético Clube. Apresentamos a batata como o novo símbolo da paz”.

Precursora do Ballet no Estado do Espírito Santo, a história de Lenira Borges vai ser o enredo do Pega no Samba em 2019. Apesar de ter nascido em Porto Alegre, foi em Vitória onde a bailarina fincou suas raízes e contribuiu de forma decisiva para a arte da dança no país. Idealizado por Douglas Paluzzo e Júnior Pernambucano, o título será “Lenira Borges: Uma Vida para a Dança”.
“O presidente de honra Lajota foi quem doou o enredo. Já era um sonho antigo dele, seria tema em 2010 na gestão passada da escola, mas acabou sendo engavetado. Agora com uma nova administração o enredo voltou a tona. Lenira é uma bailarina conhecida do povo capixaba e que formou diversos novos bailarinos por aqui. Fez uma carreira bonita com passagens pelo RJ, a partir daí contamos a história sobre a vida dela. Fazemos uma viagem aos repertórios de Ballet, viajando no mundo encantado da dança. Um encontro mágico e lúdico. Até chegar no Lago dos cisnes, quebra nozes e pássaro de fogo. O final do desfile será um grande encontro dela com o rei sol no castelo de Versalhes, num grande baile. A escola é tem características de enredos leves e esse se encaixou perfeitamente”.
Se dividindo entre o barracão no Espírito Santo e da Rocinha no Rio de Janeiro, Júnior Pernambucano desabafou que a crise é um problema rotineiro nas duas cidades, e que cabe aos carnavalescos suprirem a ausência de dinheiro com o uso da criatividade.
Entenda o desfile:
Ficha Técnica:
Já conhecidos do grande público por suas vozes inconfundíveis na Marquês de Sapucaí e no Anhembi, Bruno Ribas (São Clemente e Tom Maior), Evandro Mallandro (Grande Rio), Leonardo Bessa (Tucuruvi), Tinga (Vila Isabel e Águia de Ouro) e Wantuir (Unidos da Tijuca) mostraram um outro lado do talento ao interpretarem clássicos da música popular brasileira. Durante pouco mais de uma hora e meia, na noite desta quarta-feira, na Sala Municipal Baden Powell, em Copacabana, o grupo apresentou sambas, partido alto, pagodes “fundo de quintal”, e, claro, o que não poderia faltar, sambas-enredo. O quinteto, que vinha utilizando o nome Setor 1, revelou para a reportagem do CARNAVALESCO a decisão de mudar o nome para “Vozes da Avenida”, título dado ao show. O grupo entende que o nome tem uma relação mais direta com o trabalho que pretende realizar.
Parado há mais de um ano, o ainda Setor 1 viu, através de um convite da organização do projeto “Vem pro Carnaval na Casa da Bossa”, a oportunidade para dar continuidade ao trabalho. Para isso, nos últimos meses, os cantores mergulharam fundo em ensaios conciliando com as inúmeras obrigações que possuem nas escolas de samba. O mais experiente do grupo, Wantuir, falou da importância de se valorizar o trabalho da classe dos intérpretes no país.
O show começou com cada intérprete proferindo seu grito de guerra. Do “Entra em cena…”, de Bruno Ribas, passando pelo “Solta o bicho” do Tinga, e também pelos “tá bom a Bessa” e o “que beleza, que beleza…” de Evandro Mallandro até chegar ao “Que show, que show” de Wantuir que deu a senha para os primeiros acordes de “A voz do morro”, de Zé Kéti, música escolhida para abrir a noite. Depois, a primeira hora foi recheada de clássicos da música popular brasileira divididos por cada cantor contando sempre com os arranjos de voz dos outros integrantes. Entre os sucessos apresentados destacaram-se “O mundo é um moinho” de Cartola, “Lama das ruas” de Zeca Pagodinho, “Você abusou” de Toquinho, “Trem das onze” de Adoniran Barbosa, “Não deixa o samba morrer” de Alcione e as emocionantes homenagens para Dona Ivone Lara com a música “Acreditar” e a Neguinho da Beija-Flor com “Negra Ângela”, nestes momentos rendendo algumas palavras carinhosas de Bruno Ribas. Tinga explicou como se deu a escolha do repertório.
“A verdade é que a gente não para. No começo da carreira eu já tocava cavaquinho, andava junto com o canto. O mais importante deste encontro é a gente ter a oportunidade de tocar e cantar o que a gente gosta sem a responsabilidade do samba que defende nas nossas escolas. E estar no palco e mostrar para o público outro lado do cantor para o povo ver que o intérprete de samba-enredo não faz só aquilo. Mostrar para o público que a gente vai muito além da Avenida”, explica Bessa.
Sonhando em conquistar o campeonato que não vem desde 1986, a Unidos da Piedade vai retratar a história dos felinos em seu desfile. O enredo “Felis Catus, Sagrados e Mal Ditos” propõe uma reflexão a história do gato na humanidade desde quando ainda era uma divindade, passando pela marginalização do bichano imposta pela igreja católica até chegar nos dias atuais em que o gato é personagem de diversos desenhos infantis.
“Minha filha havia comprado um gato, quando cheguei em casa vi uma bolinha de pelo no canto e perguntei o que era. Eu tinha um preconceito sobre ele e não queria que ficasse na minha casa, perguntei até porque minha filha não quis um cachorro. Esse ano ela engravidou e por causa do bebê o gato ficou um tempo comigo e simplesmente me adotou como dono. A gatinha Mel é a responsável por esse enredo. Ela é a motivação disso tudo pois transformou a minha vida e me libertou do preconceito sobre o animal. Fiz então uma pesquisa e vi que não era nada daquilo que eu achava. Achei inúmeras qualidades inclusive cientificamente comprovadas de que o afeto do gato diminui a pressão arterial, por exemplo. Além de ser um excelente companheiro para crianças e idosos devido a troca de afeto”.
“Descobri que o primeiro registro do gato é no Egito. E como tudo por lá sempre foi misterioso desde a criação das piramides, a história dele também não é diferente. Ele vem carregando isso consigo. Acreditava-se que ele é a personificação da deusa da fecundidade. Lá o animal era tratado como realeza. Não podia ser comercializado, não podia ser morto, caso contrário haveria punições severas. Com as guerras territoriais e a vitória do império romano, as caravanas saem levando essa devoção a deusa Bastet. Gregos e persas também adotam o culto a essa divindade. Toda parteira pedia proteção a ela. Chegando a idade média a igreja católica com o intuito de dominar, não queria nenhum outro tipo de culto. Com isso, o papa Gregório Nono começa a se incomodar com o panteão de deuses e persegue o povo local. Institui então a inquisição onde toda mulher que tivesse gato de cor preta seria perseguida queimada na fogueira como bruxa. Mas, com a lógica da cadeia alimentar, onde se matando os gatos aumenta-se a população de ratos, a peste negra devastou 1/3 da população europeia. Passou-se o tempo e perceberam que o gato era o predador do rato e a partir daí os filósofos e intelectuais se apaixonaram pelos felinos, assim como Shakespeare. Também existem várias lendas de que os gatos eram elementos de sorte nas embarcações. Mais a frente vieram as histórias como “O gato de botas” popularizando ainda mais o animal. Ney Matogrosso, já contemporâneo, imortalizou em canções. Marisa Monte e outros mais. As pessoas passaram a ver o bicho como um excelente companheiro para se ter em casa. A TV tem um grande papel nisso”, contou o artista.
“Eu nunca passei por uma crise tão grave. Não pela falta de material mas também de mão-de-obra qualificada. As pessoas querem receber mas não procuram se profissionalizar. Querem acabar o serviço rápido mas não se atualizam. Os profissionais de Vitória estão escassos. Sou muito perfeccionista, tenho dificuldade muito grande em confiar nas pessoas para executarem meu projeto. Esse ano estou com a comissão de frente e mais duas alas de passo marcado. Além da coreografia as roupas também são confeccionadas por mim. Participo de tudo. Não sou aquele que idealiza o projeto e entrega pra outro, não fico passivo na construção do carnaval. É complicado porque preciso me desdobrar”.
Entenda o desfile:
Enredo: Felis Catus, Sagrados e Mal Ditos
Segundo informações apuradas pela reportagem do site CARNAVALESCO, os médicos do Arlindo Cruz liberaram a ida do cantor para o desfile oficial da X-9 Paulistana na sexta-feira, dia 01 de março.
O prêmio Estrela do Carnaval, oferecido pelo site CARNAVALESCO aos melhores do carnaval, completa 12 edições em 2019 com grande novidade: um novo lar. A festa de premiação acontecerá na quadra da Unidos da Tijuca, Avenida Francisco Bicalho, 47, no Santo Cristo, e será no dia 14 de abril de 2019.
“É muito importante para Unidos da Tijuca ter esse evento na nossa quadra. Agradeço ao site CARNAVALESCO ter escolhido nossa quadra. Sei que vocês estavam há anos na co-irmã Salgueiro, mas infelizmente eles não puderam fazer esse ano por motivo de obras, mas espero fazer não só esse ano como todos os próximos. Para escola é uma satisfação muito grande, porque é prêmio de grande importância e uma coisa muito séria no carnaval”, disse o presidente tijucano.
O músico e arranjador do CD do Grupo Especial, Rafael Prattes, vai ministrar na sede da Ordem dos Músicos do Brasil (OMB) um workshop cujo tema será o gênero samba-enredo. É a primeira vez que um projeto relacionado à cultura do carnaval e do gênero que embala os desfiles das escolas de samba é ministrado na OMB do Rio de Janeiro.
“Esse é o meu carnaval mais difícil, mas ele também é artisticamente onde estou mais bem colocado. Estou na plenitude no sentido de fazer algo que acho preciso ser falado. Eu sou estudioso da cultura indígena. A história do índio no Brasil é uma das maiores perversidades da sociedade brasileira. O brasileiro não se reconhece indígena, com uma das maiores populações da América Latina. Aqui todo mundo é índio. Existe a construção de uma narrativa proposital, de associar o índio ao opositor do progresso. O cristianismo o associou a um ser sem alma. Propositalmente eu dedico dois setores inteiros à cultura e à resistência indígena. O mangueirense vai conhecer a história do negro herói e não escravo. A escola de samba precisa fazer as pessoas conhecerem Luiza Mahin, Danara, Luiza Garcia, Francisco José”, conta Leandro.
“Eu sou uma pessoa com senso crítico. Em 2018 fiz uma coisa que achei importante, ter o estalo do enredo a partir de uma antena ligada com o cenário moderno. Fiz um carnaval através da defesa do meu ponto de vista. O enredo de 2019 surge da discussão do aspecto da Escola Sem Partido. Quais os interesses de se produzir uma sociedade sem senso crítico, que não pensa, que não questiona a história? Pra mim é negar a representatividade e negar com uma população ninada. A partir daí passei a buscar a construção de uma narrativa da história crítica do Brasil, com um viés de representatividade popular. A Mangueira é formada por descendentes dessas minorias. O enredo é para ‘acordar’ gente grande. O Escola Sem Partido quer ninar gente grande. A história que quer dizer que quem concebeu a abolição foi um representante do estado e não a luta negra. Ora, quando a princesa assina a lei os escravos já viviam em uma condição diferente. Por que os heróis são os bandeirantes e não os índios? O monumento às bandeiras é um tributo ao genocídio indígena. Erguem-se essas bandeiras através de uma lógica elitista. Colocam o povo em uma condição de espera. Parece que precisam sempre de alguém para fazer história no seu lugar”, questiona Leandro.
‘Não veio do céu, nem das mãos de Isabel’. O verso do samba mangueirense para muitos indica que o enredo da Mangueira visa a desconstrução da Princesa Isabel, responsável por assinar a Lei Áurea, que tornou livres os escravos no Brasil em 1888. Mas não se trata disso. Leandro explica que a questão envolvendo a abolição que ninguém conta nos colégios é que quatro antes, no Ceará, já haviam negros libertos.
Nos bastidores da Mangueira, Leandro Vieira deixou clara sua preferência pela obra que a verde e rosa vai levar para a Marquês de Sapucaí em 2019. Ele considera o samba 100% do sucesso de um desfile e admite que já teve composições de sua preferência derrotados na disputa.
“No meu trabalho o impacto foi de zero. Não houve nenhum impacto. A Mangueira possui uma estrutura muito bem definida. Chiquinho delegava funções em cada setor e essas pessoas tocavam cada departamento. As duas pessoas de confiança dele para tocar o carnaval somos eu e Alvinho. Nesse sentido nada mudou. A crise não me afeta. Ela só atrapalha o cara que fez carnaval com grana. Eu desconheço o que é bom nesse aspecto. Fiz Caprichosos de Pilares em 2015, a Mangueira nunca nadou em dinheiro. Enfrentei ano passado um corte de verba de R$ 1 milhão. Talvez isso preocupe quem estava acomodado com uma condição de fartura”, afirma.