O Grupo Especial de São Paulo contará com a presença de uma tradicional escola de samba de São Paulo. Após beirar o fechamento de suas portas, a Colorado do Brás volta a compor a elite da folia paulistana depois de 25 anos. O jovem carnavalesco Leonardo Catta Preta é o responsável pelo desenvolvimento do enredo: “Hakuna Matata – Isso é viver”, tema que busca contar a história e características do país do continente africano, o Quênia.
“Muitas pessoas confundem, elas acham que a gente vai fazer uma cópia do Rei Leão, na verdade o Hakuna Matata vem muito antes do filme da Disney. A Hakuna Matata é uma música queniana, eles criaram essa canção depois da quebra das correntes pra chamar os turistas pro país. O nosso enredo começa nessa questão de mostrar o país para o mundo, a gente abre esses olhos para a África e mostramos todo o continente dentro desse olhar do queniano. Ano passado eu fiz um enredo que era afro, subimos com uma temática de camdomblé, e esse eu ano eu não quis um tema pesado, esse enredo tem leveza. É uma África leve, sem palhas, buzios e nem com dentes, fiz uma coisa lúdica. É uma África infantil, esse é o carnaval da Colorado em 2019”, afirma.
Leonardo conta que a proposta não é dele e diz que está honrado com desenvolvimento pelas diversas opções que o tema proporciona..
“A proposta chegou do Thiago Monganti e ele me apresentou esse enredo, na verdade já tinha outro tema pra Colorado. Quando vi esse enredo, lembrei que foi primeiro filme que assisti no cinema com os meus pais e me encantei. Tenho uma forma de trabalho diferenciada, essa forma das cores e as diversas possibilidades que o enredo me deu, optei pelo tema. Foi um presente e na hora eu abracei a causa”.
Durante a pesquisa de elaboração da sinopse, o carnavalesco ressalta que informações pouco divulgadas sobre a África e a possibilidade de trabalhar com cores diferentes foi o que mais cativou.
“A gente acha que um país da África só tem savana, mas o Quênia é banhado por oceanos. A maior concentração de cavalos marinhos é no Quênia, então isso também abriu meus olhos. Eu gostei da pesquisa porque a África tem de tudo um pouco, eu começo na savana mas tem a parte tropical das matas, do mar. Eu pude misturar as cores, fiquei encantando tanto na pesquisa quanto na elaboração do trabalho”.
E sobre o cronograma, Leonardo diz: “A Colorado está com grande parte do carnaval pronto, agora é só a parte final. Atrasos a gente sabe que sempre tem, mas no final sempre da certo. É só concentrar e finalizar essas metas que falta cumprir”.
Aranha gigante promete impactar sambistas
Durante a entrevista, Leonardo Catta Preta revelou que terceiro setor contará com uma alegoria que vai impactar os foliões presentes no sambódromo do Anhembi. As antigas lendas africanas será tema do terceiro setor, e nela a aranha Anansi será retrata através de uma grande alegoria.
O carnavalesco se mostra cauteloso sobre ponto alto e acrescenta outro destaque para o desfile.
“A aranha é um dos pontos altos, mas eu também tenho uma responsabilidade com a ala das baianas, eu crio uma coisa específica pra elas e nesse ano vai ser um ponto forte. Peguei referências das roupas do Quênia e as minhas baianas tem uma variedade de cor bem extensas, são oito ou noves cores diferentes, uma coisa que São Paulo nunca presenciou. Cada baiana vem com uma roupa própria, são peças únicas e isso também acho que vai ser um diferencial”, revela.
A agremiação do Brás se mantém numa crescente histórica. Em 2011 a Colorado desfilou no grupo três da UESP, e precisou de apenas sete anos para chegar ao grupo especial. Acredita-se que a força da comunidade elevou o patamar da escola.
Leonardo confirma conteúdo dos comentários e afirma que escola ainda tem onde aprimorar.
“É uma missão do pessoal de harmonia de trabalhar nesse quesito, que é tão importante e o que releva o carnaval. Acho que a Colorado vem num progresso de crescimento, são degraus a subir e a escola vem numa escalada. A Colorado tem coisas a aprimorar”.
Conheça o desfile
1° SETOR – QUEBRA DAS CORRENTES
“A nossa comissão de frente mostra a questão do queniano como escravo dele mesmo durante a Guerra Civil. Depois eu venho com a grande savana vermelha, que o primeiro clipe da música não tinha cor, era tudo vermelho. Isso bateu com as cores da escola, então o nosso abre-alas é essa grande savana brilhante.
2° SETOR – CULTURA AFRICANA
“Depois eu venho com essa grande religião afro, com a questão da cultura africana”.
3° SETOR – LENDAS AFRICANAS
“No meu terceiro setor eu conto todas essas lendas africanas, não só no Quênia mas de todo o continente. Nesse setor tem uma parte que eu gosto muito que é a Anansi, uma aranha africana, que pra mim essa alegoria vai ser a surpresa do carnaval. Uma grande aranha na avenida.
4° SETOR – REI LEÃO
“Não podia falar de Hakuna Matata e não citar o filme. Então nesse setor vamos falar sobre isso que popularizou e estourou para o mundo”.
5° SETOR – COROAÇÃO
“No último setor eu venho coroando o carnaval da Colorado. É como se a Colorado vivesse sem problemas e voltando ao especial”.
Ficha técnica
5 alegorias
1 tripé
22 alas
2.150 componentes
História do Leonardo Catta Preta
“Eu meu trabalho começou na Império de Casa Verde, eu vim como assistente do Alexandre Louzada. Foram três anos, sendo que no último eu assinei como carnavalesco, fiz o carnaval dos sonhos A minha base foi toda feita nessa agremiação, escola que eu respeito muito. Depois tive uma passagem pela X-9 Paulistana, fui assistente do André Machado de criar a proposta do enredo sobre o Açai. Nesses três último anos estou na Colorado, na verdade a Colorado virou a minha família, voltamos para o especial juntos, depois de três anos eu também estou voltando para o especial. A escola está numa gana em abrir o carnaval de São Paulo, que também é um desafio pra mim e pra escola. A gente está preparando um carnaval lúdico, realmente fazer coisas diferentes, a gente que uma coisa de impacto no carnaval. Trabalhamos em cima da proposta de abertura”.

“O Império em 2018 fez um enredo que homenageava o povo e gostei muito da sacada que o Jorge Freitas teve, nada melhor do que falar sobre quem está assistindo, quem vivencia o carnaval. A gente precisava manter uma linha parecida, carnaval voltado ao povo. Eu já assisti carnavais na arquibancada nos quais as escolas passam e você não sabe o que elas representam. A ideia de fazer um enredo sobre o cinema partiu desse princípio, de fazer um enredo em que as pessoas possam bater o olho em uma ala e já saber o que ela representa. A ideia partiu de popularizar o desfile, fazer com que qualquer um possa mergulhar de cabeça naqueles 65 minutos”, explica.
“Eu sempre tive vontade de falar sobre cinema, eu adoro, até as minhas camisetas tem uma temática de algum filme, eu sou um cinéfilo de carteirinha. Eu falei que ainda iria fazer a minha história do cinema, fazer o carnaval contando a minha visão sobre isso. Aqui em São Paulo surgiu a oportunidade, nós tínhamos oito propostas de enredo, dessas a escola optou por três e a gente foi lapidando. Até que numa reunião eu apresentei a quarta ideia e eles curtiram logo de cara, o presidente comprou , querendo ou não, não existe ninguém que não goste de cinema. Você pode ver que o público comprou a ideia, as pessoas estão curtindo, cada uma com sua personalidade”.
Buscando o quarto título, o Império de Casa Verde traz essa proposta com ênfase, tanto nos carros alegóricos quanto nas alas de chão.
“Quando você faz um carro desse comprimento, parece que o componente entra em delírio. O Império tem isso na sua raiz, na sua essência. O abre-alas vem com dois tigres, e ele representa o templo maior da sétima arte, que é o cinema. As pessoas vão se deparar com um cenário saudosista, nos inspiramos nas salas de cinemas da década de 50/60, quando teve o ‘boom’ do cinema mundial, a gente pegou de referência na cinelândia, nas salas antigas de São Paulo, na Broadway, nas formas do letreiro. Vai ser uma alegoria que a gente vai impressionar pelo gigantismo, só nesse carro nós temos 60 pessoas totalmente coreografadas, dando vida a essa alegoria”.
“Era o carnavalesco da Tucuruvi e estava num ano em que não seria julgado, estava mesmo com uma visão totalmente neutra. Estava assistindo o desfile de sábado no sambódromo e quando terminou o Império eu, Flávio Campello, já contava como a campeã do carnaval, como a maneira que foi conduzida o carnaval, a gente via o desfile com a essência que a gente está trabalhando aqui, com cara de espetáculo. Acho que as pessoas do Império ficaram mais fascinadas foi com o título do enredo, eles disseram que o título tinha uma resposta ao resultado do carnaval passado, que é ‘O Império Contra-ataca’. O Carlos Júnior acha que é a maior sacada do carnaval foi no título do enredo”, finaliza.
“A ideia não foi buscar na cronologia do cinema pra contar a trajetória dele, até como historiador eu tenho esse vicio de buscar o inicio. Mas não, desde o começo buscamos um enredo não-linear, contar uma história sem se preocupar com uma cronologia e a gente dividiu esse enredo em cinco partes. A gente abre o desfile com início do cinema, com a realização do sonho dos irmão Lumière, que são os inventores que praticamente projetaram o primeiro filme em movimentos. Isso fez com que a gente buscasse inspiração nesse fato e abrisse o desfile. A invenção dos Lumière estará na comissão de frente. A primeira alegoria retrata o ponto de partida de qualquer pessoa que vai assistir um filme, que é o cinema. A gente tem no abre-alas o que a gente denomina o templo da sétima arte, a gente vai brincar um pouco com o público nessa alegoria. Nós teremos algumas meninas que vão estar assistindo o filme como espectadoras, vai ter telão, vai ter poltronas, os filmes vão passando e num tapete vermelho terá os personagens dos filmes passando. A gente tem cerca de 20/25 personagens que vão interagir com esses espectadores como se esses personagens ganhassem vida”.
“Vamos falar dos filmes que marcaram época, como: Senhor do Anéis, Harry Potter, As Crônicas de Nárnia.
“Em 2019 faço dez anos no carnaval de São Paulo. Cheguei aqui em 2009 na Mocidade Alegre, a gente saiu da avenida campeão com aquele enredo do coração, foi muito bom fazer parte daquele projeto, conhecer as pessoas das quais eu trabalhei, Presidente Solange, Sidney França, Márcio Gonçalves, Fábio Lima, foi um time muito legal, eu curti demais, e isso conta bastante para que a gente se firme no carnaval de São Paulo. Eu largei toda a minha vida no Rio de Janeiro e me mudei totalmente pra São Paulo, porque eu acreditei que aqui poderia fazer o que eu goste de fazer e de uma forma que a gente almeja, que é o respeito, o carnaval daqui valoriza muito o profissional, eu sou muito feliz aqui. Depois do Mocidade Alegre eu fui para a X-9 Paulistana onde fiquei quatro anos, depois fiquei dois anos na Dragões da Real, um ano na Tatuapé, ano passado fiz Tucuruvi e esse ano estou aqui no Império de Casa Verde”.
“O carnaval começou a afetar a minha vida desde muito cedo. Eu fui criado na maior Cohab (Companhia de Habitação Popular) da América Latina, na Cohab Cidade Tiradentes. E sempre foi muito perigoso, sempre foi muito difícil de se viver ali. Porque a gente tinha toque de recolher, tinha ‘biqueira’ (uso de crack), venda de drogas. E no mesmo lugar, tinha uma escola de samba, foi ali que nasceu o grande amor da minha vida. Ali tinha a escola de samba Príncipe Negro. Na verdade, foi essa escola de samba que acabou tirando a gente da rua. A gente ia pra essa escola de samba e na verdade sempre foi muito regrado porque a presidente cobrava isso. Ela pedia boletim escolar, presença de pais, tudo isso pra não deixar a gente na rua”, conta Marlon.
“Desde sempre o carnaval teve um direcionamento na minha vida pessoal e profissional. Porque foi pelo carnaval que eu comecei a conhecer outras pessoas fora daquele âmbito onde eu fui criado inicialmente e, aí, onde cresceu o meu amor por estudar mais, e acabei me formando em biomedicina sendo também intermediado financeiramente pelo carnaval. Financeiramente eu acabei tendo muito ajuda do carnaval para me formar. Comprei o meu primeiro carro com a ajuda financeira do carnaval que eu recebia .
“Eu tive várias outras oportunidades pelo carnaval. Saí do Brasil, conheci o Japão, conheci a África, conheci Portugal, conheci Dubai tudo com intermédio do Carnaval. Me levou não só a uma vida financeira estável, mas profissional e pessoal também. O samba é a cultura e ele acaba nos trazendo conhecimento muito, mas muito, importante, principalmente quando a gente se abre para entender o significado desta verdadeira cultura popular brasileira” explica Lamar.
“Eu espero dos próximo carnavais que sejam, assim, cada vez mais grandiosos, que a gente supere essa crise que a gente está passando. Que a gente seja de fato, toda aquela grandiosidade que o samba sempre foi, respeitando o próximo, lutando contra o racismo, contra o preconceito, contra a homofobia. Gosto muito quando o carnaval aborda estes assuntos pois ele deve ser assim sempre plural. Um carnaval que esteja sempre tentando ajudar o próximo, como me salvou, e me deu direcionamento para viver, para sempre seguir o certo, eu tenho certeza, que as escolas serão verdadeiras escolas de vida para ajudar as pessoas” encerra Marlon.
Depois de quase 30 anos em que emitiu o primeiro alerta de que o samba havia sambado, a São Clemente traz em 2019 uma nova crítica sobre os rumos do carnaval com a reedição do clássico ‘E o samba sambou’ de 1990, até hoje a melhor colocação da história da São Clemente. O presidente Renato Almeida Gomes, o Renatinho, concedeu entrevista ao CARNAVALESCO para a série ‘Entrevistão’. O dirigente se diz confiante com o desfile, jura que não vetou qualquer ideia de crítica do carnavalesco Jorge Silveira e revela que a chegada de Bruno Ribas, Giovana e Junior Scapin eleva o padrão da escola.
“A Rosa ajudou a São Clemente a se manter no Especial, nos deu um patamar legal. O Jorge está se encaixando. Ele me apresentou três enredos mas eu em um primeiro momento não fui favorável, pois confesso que não sou muito fã de reedições. Mas pelo momento vivido pelo carnaval achei muito pertinente. O Jorge Silveira é um cara muito inteligente”.
“Eu sou apaixonado por nossa bateria. O trabalho do Caliquinho é um dos melhores do carnaval. Estamos no nível das melhores, como Tijuca, Beija-Flor. Recebemos notas baixas em outros anos pois é mais fácil derrubar quem sobe. As baterias hoje no máximo tomam um 9,8, o nível está muito elevado”.
“O carnaval tem que ser mais engraçado. Estamos indo para um caminho de muita seriedade. A brincadeira é bacana demais. O Paulo Barros disse que os enredos críticos são apelativos. Nosso enredo não está apelando, está brincando com o que acontece”.
“A gente fechou com chave de ouro. Não tivemos problema, não tivemos parte técnica para consertar. A gente ficou até alguns minutos sem conversar no rádio, fiquei até me perguntando se estava tudo bem, mas se ninguém está falando nada é porque está tudo certo. Fizemos um ensaio perfeito e só falta agora o desfile. Se Deus quiser, a escola está preparada para ir para Sapucaí, apresentar seu enredo, samba, alegorias, as fantasias. Uma comunidade fantástica, com um trabalho fantástico que foi feito no barracão. O Salgueiro está pronto para disputar o título”, afirmou o diretor de carnaval Alexandre Couto.
A harmonia do Salgueiro foi praticamente perfeita, sendo o grande destaque da noite de ensaio. A comunidade berrou o samba a plenos pulmões, do início ao fim. Com destaque para as alas 18 e 22, ambas coreografadas, mas que não deixaram de cantar o samba um só instante. Outras alas que merecem menção pelo canto são as dos compositores, baianas e velha-guarda, segmentos que tradicionalmente não cantam tanto.
Quesito problemático da Academia em anos anteriores, nesse carnaval é seu grande trunfo. A obra, que já era aclamada desde a escolha, ganhou ainda mais força e popularidade durante o pré-carnaval. Hoje, não está somente na boca do desfilante, mas também do público em geral, como pode ser visto durante esse último ensaio de rua.
“Dentro das circunstâncias, o ensaio foi muito bom. Tirando um pouco que a rua estava muito cheia, e ela é bem estreita. A galera fica querendo invadir a bateria por causa da Viviane (Araújo, rainha de bateria), querendo entrar no meio da pista. Tirando isso, foi excelente. Graças a Deus a galera está feliz, tanto a bateria, quanto a escola inteira. E vamos trazer a vitória para o nosso Salgueiro. A bateria já está pronta e vamos à busca dos 40 pontos”, declarou Gustavo, um dos novos mestres da bateria Furiosa.