O Sambódromo do Anhembi recebe neste sábado de carnaval a segunda noite de apresentações das escolas de samba do Grupo Especial de São Paulo. Depois de uma noite em que escolas apontadas como favoritas ao caneco deslizaram, as sete agremiações que passarão pela pista hoje têm a oportunidade de largar na frente nos quesitos e tentar interromper a hegemonia do Acadêmicos do Tatuapé, que sonha com o tricampeonato na apuração da terça de carnaval.
Abrindo a noite a campeã do acesso em 2018 e escola que nessa década realizou grandes desfiles no Especial, a Águia de Ouro. Vice-campeã em 2017 e frequentando as campeãs nos últimos anos, a segunda será a Dragões da Real. Uma das sempre postulantes ao título a Mocidade Alegre será a terceira a se apresentar. Em uma sequência de tirar o fôlego dos sambistas, após a Morada desfila a Vai-Vai e na sequência a Rosas de Ouro. A Unidos de Vila Maria é a sexta a se apresentar e fechando a noite uma das mais populares agremiações do carnaval de São Paulo, a Gaviões da Fiel.
ÁGUIA DE OURO: Diante de um cenário onde escolas de samba comercializam enredos, a Águia de Ouro vem na contramão, aborda em seu desfile um tema que crítica as situações de abuso de poder e se posiciona sobre as corrupções presentes no Brasil. A agremiação conta com nomes influentes para o desenvolvimento do enredo: “Brasil, Eu Quero Falar de Você!”. São eles: Laíla, Fran Sérgio, Sérgio Caputto Gall e Beth Trindade. Dando sequência ao especial que visita os barracões das escolas do Grupo Especial de São Paulo, a reportagem do CARNAVALESCO conversou com o Fran Sérgio, que explicou detalhes sobre o carnaval de 2019. * SAIBA AQUI COMO SERÁ O DESFILE
DRAGÕES DA REAL: Vice-campeã do carnaval de 2017 e uma das favoritas para 2019, a Dragões da Real recebeu a reportagem do CARNAVALESCO no barracão para contar mais detalhes sobre o enredo: “A Invenção do Tempo. Uma Odisseia em 65 Minutos”. O experiente carnavalesco Mauro Quintaes afirma que o tema trabalhado proporciona uma estética nova para agremiação. * SAIBA AQUI COMO SERÁ O DESFILE
MOCIDADE ALEGRE: Vice-campeã do carnaval de 2018, a Mocidade Alegre entra pra avenida em busca do 11° título. A carnavalesca Neide Lopes, que integra a comissão de carnaval, é uma das responsáveis pelo enredo: “Ayakamaé – As Águas Sagradas do Sol e da Lua”, uma homenagem ao Rio Amazonas. * SAIBA AQUI COMO SERÁ O DESFILE
VAI-VAI: A reportagem do site CARNAVALESCO visitou o barracão da maior detentora de títulos do carnaval paulistano. Almejando o 16° campeonato, a escola de samba Vai-Vai traz para o Sambódromo do Anhembi o enredo: “O Quilombo do Futuro”, um tema que busca contar a história do povo negro através de uma narrativa ficcional. O carnavalesco responsável por desenvolver a parte teórica do carnaval, Roberto Monteiro, explica detalhes. * SAIBA AQUI COMO SERÁ O DESFILE
ROSAS DE OURO: Dando continuidade ao especial que visita os barracões das escolas de samba para o carnaval de 2019, o site CARNAVALESCO entrevistou o profissional da escola de samba Sociedade Rosas de Ouro. Responsável por todo o desenvolvimento do enredo, o carnavalesco André Machado segue para o seu terceiro carnaval na agremiação com o enredo autoral: “Viva Hayastan”, uma grande homenagem ao país europeu Armênia. * SAIBA AQUI COMO SERÁ O DESFILE
VILA MARIA: Sonhando com o título inédito da elite do carnaval paulistano, a Unidos de Vila Maria caminha para realizar uma grande homenagem à nação Peruana. A reportagem do CARNAVALESCO inicia a série de visitas aos 14 barracões das escolas do Grupo Especial de São Paulo com a agremiação do bairro do Japão. O desfile da entidade é montado todo na própria Fábrica do Samba. Criação das alegorias, confecções das fantasias e até a própria roupa do casal de mestre sala e porta-bandeira são produzidas no barracão. * SAIBA AQUI COMO SERÁ O DESFILE
GAVIÕES: A Gaviões da Fiel traz um enredo reeditado de 1994. Sidnei França é o responsável pelo desenvolvimento do tema: “A saliva do santo e o Veneno da serpente”. O carnavalesco diz que poucos elementos do desfile original será usado e revela nova linguagem, principalmente no último setor. * SAIBA AQUI COMO SERÁ O DESFILE

A Marquês de Sapucaí é o local onde o Brasil se enxerga de forma mais nítida, e a primeira noite de desfiles da Série A, na sexta-feira de carnaval, foi uma espécie de reencontro do povo com sua brasilidade – no que ela tem de melhor e de pior. A festa começou e terminou com duas porta-bandeiras que simbolizam bem o que está representado naquela Avenida colorida. A abertura da Unidos da Ponte trouxe Camylinha Nascimento defendendo o pavilhão azul e branco. Camyla é neta de Vilma Nascimento, a maior de todas as porta-bandeiras, e representa uma característica muito cara ao carnaval: a ancestralidade, a transmissão de conhecimento pelas gerações, a herança da arte através do sangue. Quando ela pisou na Passarela, representando o Oráculo de Ifá, os deuses do carnaval se agitaram ao reconhecer décadas de sabedoria dedicada à festa – e, claro, abençoaram a estreia da menina. Se a abertura da noite foi assim, o encerramento também foi simbólico. No último setor da última escola, a Acadêmicos do Sossego, outra porta-bandeira chamou a atenção: Anderson Morango, que com o mestre-sala Wladimir Bulhões formou pela primeira vez um casal de dois homens na Sapucaí. Com a fantasia “Filhos de Deus perseguidos pela intolerância”, os rodopios de Anderson nos lembravam a todo momento quem somos: ao mesmo tempo, o país que mais mata LGBTs e o país que produz a festa mais tolerante do planeta, o carnaval. Incoerente? Pois o Sambódromo nos deu repetidas lições do paraíso e do inferno que é ser brasileiro.
O melhor do Brasil passou na abertura da Santa Cruz, trazendo a grande homenageada do enredo, Ruth de Souza, uma das glórias de nossa cultura, primeira atriz negra a pisar no Municipal, a ganhar o Kikito em Gramado, a ser indicada a um prêmio internacional. A emoção de ver dona Ruth, aos 97 anos, receber os aplausos de seu povo, sentadinha em seu trono de rainha, fez os pingos de chuva ganharem toques salgados em nossos rostos, misturados às lágrimas que rolavam para a Grande Dama, num encontro das águas que lavava corpo e espírito.
O tom religioso foi fortíssimo nos enredos da primeira noite, que teve ainda a umbanda da Alegria e o Jesus Malverde da Sossego – metade dos desfiles da Série A fala de devoção. Seria difícil imaginar isso no carnaval há 30 anos, quando temas desse tipo eram episódicos. Agora, festejamos a entrada da fé com força na Avenida, mas olhamos fora dela e vemos os casos de intolerância religiosa proliferarem por todo o país. Quem te pediu coerência, meu Brasil?
A Sapucaí é o Brasil inteiro porque as escolas passaram sem destaques nos queijos, com alegorias pobres e fantasias despencando não só por causa da chuva, mas porque não receberam o minguado dinheiro que a Prefeitura prometeu, depois de sucessivos cortes. Pior do que reduzir à míngua a subvenção para as agremiações é não marcar uma data de pagamento, é adiar a assinatura de contrato indefinidamente, é tratar as escolas de samba como assunto secundário numa cidade que deve seu protagonismo internacional a esta festa. Ter no comando da cidade do carnaval alguém que despreza o carnaval: existe algo mais brasileiro do que isso?