
Lins traz ótimos canto e enredo, mas tropeça em evolução
Por André Coelho. Fotos: Magaiver Fernandes
Terceira escola a se apresentar na Intendente Magalhães nesta terça-feira de carnaval, a Lins Imperial contou muito bem o enredo “Malandro é malandro e Bezerra é da Silva” do carnavalesco Guto Carrilho e, inspirada no grande sambista, cantou muito forte, se aproveitando do bom rendimento do samba, porém teve sérios problemas no quesito evolução que devem afastar a escola da briga pelas primeira colocações.
Comissão de frente
Os integrantes representavam personagens de músicas de Bezerra da Silva como Leonardo da Vinci e o Bom Juiz e apresentaram uma coreografia por vezes divertida, por outras dramática, bem ao estilo do homenageado. Traziam ainda um elemento alegórico que pareceu sem função a maior parte do tempo, ganhando algum destaque apenas no final da encenação, quando o personagem que representava Bezerra da Silva surgia sobre a favela reproduzida pelo elemento. De um modo geral foi uma boa apresentação, apesar de simples, transcorreu sem erros gritantes ou falhas aparentes e serviu muito bem como uma amostra do que viria a partir dali, o público identificou de imediato a intenção e pôde imaginar o que seria mostrado pela escola.
Mestre-sala e porta-bandeira
Representando os personagens que, na infância, Bezerra via do alto do morro, o casal vestia fantasia de fácil leitura, ela encarnando a “Dama do Calçadão” e ele um gari. Com uma dança vigorosa, mais clássica, pouco se utilizando de coreografia, Matheus e Manuela fizeram uma apresentação correta, mas sem grande impacto.
Enredo
Tendo como mote a obra musical de Bezerra da Silva, a escolha por essa vertente mostrou-se acertada, pois permitiu que o tema fosse contado de forma clara e direta, sem deixar dúvidas ou questões em aberto. Exaltando as músicas do homenageado a Lins Imperial mostrou a quem assistiu seu desfile toda irreverência e consciência social que o cantor imprimiu em sua história.
Fantasias
De fácil leitura e de colorido alegra, as fantasias serviam perfeitamente à proposta do enredo. Traziam alegria do bom humor das músicas de Bezerra da Silva, aliada à contundência da crítica social sempre presente na obra do artista. Apresentaram-se muito boas e volumosas no início, diminuindo de tamanho e originalidade na parte final, mas cumpriram seu papel e possibilitaram à escola mostrar com clareza seu enredo e ao público compreender perfeitamente o que via passar ma avenida.
Alegorias
Identificadas com o enredo e claras em sua mensagem, as alegorias traziam passagens, locais e personagens da vida e da obra de Bezerra da Silva. Duas delas passaram pela avenida sem iluminação, o que não chega a ser um problema se a proposta inicial for mesmo essa. Chamaram a atenção, tanto positiva quanto negativamente, as composições, algumas com fantasias muito criativas e realistas enquanto que outras muito simples, pouco criativas.
Samba-Enredo
A obra de letra simples e fácil serviu muito bem ao desfile da Lins Imperial. Possibilitou um canto forte e constante dos componentes, impulsionado pelo intérprete Rafael Tinguinha. A obra foi além da avenida e caiu no gosto do público que cantava alto o refrão principal. A letra facilitou a tarefa de anunciar o enredo e de conhecer um pouco dos sucessos do homenageado e a melodia serviu perfeitamente a seu propósito de ser a trilha sonora do cortejo.
Evolução
Quesito em que a Lins Imperial teve graves problemas. Começou bem, com as alas brincando soltas e fluindo bem, mas em frente à segunda cabine de jurados, a primeira alegoria teve problemas e demorou a andar causando um grande buraco. A escola se recuperou, mas próximo do fim do desfile, já em frente ao terceiro módulo de julgadores, a terceira alegoria teve que ficar parada para que o destaque no alto do carro se abaixasse para passar por baixo de de um cabo e a escola seguiu, abrindo um novo e ainda maior buraco.
Harmonia
Se a evolução foi um problema, a harmonia passou longe disso. Quesito em que a Lins foi muito bem, com todas as alas cantando muito e praticamente gritando o refrão. Foi ainda fundamental quando o sistema de som foi cortado e a escola segurou o canto permitindo um final de desfile tranquilo.
Bateria
A bateria de Mestre Adílio optou por um estilo mais conservador, sustentando o ritmo que ajudava o canto forte dos componentes, decisão que se mostrou correta. Algumas bossas e paradinhas, mas o grande destaque foi mesmo a força com que a bateria sustentou a cadência em prol da harmonia.
Outros destaques
Já com 42 minutos de desfile, o som da avenida parou completamente e a escola teve que sustentar o canto, no que foi auxiliada pelo público presente que já havia sido conquistado pela obra da verde-e-rosa. Por conta dos problemas de evolução, a Lins Imperial ultrapassou em um minuto o tempo limite de 45 minutos para encerrar seu desfile.
“São Verde e Rosa as Multidões”: 24ª ala da Mangueira representa moradores das comunidades brasileiras
Por Nathália Marsal
A história real do descobrimento, da independência, da abolição, e de tantos outros momentos foi para a Avenida no desfile da Estação Primeira de Mangueira, na madrugada desta terça-feira. A última ala “São Verde e Rosa as Multidões” representou as multidões de homens e mulheres, moradores de comunidades espalhadas pelo Brasil.
“São personalidades atuantes socialmente que não tiveram o devido reconhecimento. É uma referência à história do negro que morre e é esquecido, mas é um herói, um patriota”, contou o professor e mangueirense André Luiz da Silva Pereira.
A fantasia da ala representa os baluartes do samba, da Mangueira e os atores sociais que foram expostos ao longo do desfile. O traje com as cores da agremiação, um fraque brilhoso e com os detalhes exuberantes foi inspirado na roupa que Cartola usou em 1976. Nas mãos de cada integrante, bandeiras com rostos da vereadora Marielle Franco, da escritora Carolina Maria de Jesus, entre outros.
André Luiz, assim como diversos outros componentes da escola, pesquisou o enredo antes de a escola entrar na Avenida.
“Talvez só tenhamos futuro se olharmos mais atentamente para o nosso passado. Precisamos olhar mais criticamente os fatos que passaram em branco. Crimes graves, assassinatos, mortes de pessoas… É um momento para se refletir”.
Para a pesquisadora e mangueirense Vânia Balassiano, o enredo ajuda a iluminar a importância de pautar a educação, que sofre com a defasagem de determinados assuntos. Para ela, o desfile da Verde e Rosa desenquadrou a memória existente acerca da construção da história do Brasil.
“Precisamos apresentar quem são os atores sociais e quem consta nos documentos oficiais. O negro aparece em momentos muito ‘en passant’ com a chegada da corte portuguesa. Temos uma série de questões para trabalhar em relação a como isso está sendo ensinado”.
Homenageando os 60 anos da madrinha Imperatriz, Siri de Ramos tem problemas de evolução
Por Lucas Santos. Fotos: Magaiver Fernandes
Segunda escola a desfilar na noite de terça feira de Carnaval na Intendente Magalhães, o Siri de Ramos fez uma homenagem de forma lúdica ao aniversário de 60 anos da Imperatriz e os 40 anos de serviços prestados pelo patrono Luizinho Drummond. No enredo, a escola mostrou a atuação de três barões importantes da história do Brasil: o Barão de Drummond, criador do bairro de Vila Isabel e do primeiro jardim zoológico do Rio de Janeiro; o Barão de Guaraciaba, o primeiro negro a se tornar barão durante o império; e o Barão de Mauá, que entre outros feitos, destacou-se a implantação da primeira ferrovia brasileira.
Na parte final de seu desfile, o ex-presidente da Liesa e da Imperatriz, Luizinho Drummond, surgiu em um carro sendo coroado “Barão da Leopoldina”, completando a homenagem à Imperatriz. Durante o desfile, a escola teve problemas de evolução, principalmente na parte final. A agremiação correu para não estourar o tempo. Algumas alas estavam muito espaçadas e com buracos quando passaram próximas ao quarto módulo de julgamento. A apresentação do casal de mestre-sala e porta-bandeira foi diminuída a partir do terceiro módulo. A comissão de frente também teve problemas com a roupa dos integrantes que não parecia adequada ao bio tipo dos componentes.
Por destaque pode ser citado o casal de mestre-sala e porta-bandeira que fizeram uma boa apresentação misturando dança coreografada com bailado tradicional
Comissão de frente
A comissão de frente do Siri apresentou o Imperador D. Pedro I e a Imperatriz Dona Leopoldina realizando um bailado, cercados pela Guarda Imperial e por indígenas, primeiros habitantes do Brasil. A coreografia foi bem executada pelos componentes com boa sincronia de movimentos, mas a partir da segunda para terceira cabine de jurados, um dos integrantes teve problemas com a roupa que abriu atrás, deixando-o um pouco inseguro nos movimentos. A roupa, aliás, parecia não estar adequada e confortável ao manequim de alguns dos bailarinos, pois revelava partes do corpo.
Casal de Mestre-sala e Porta-Bandeira
Diego Lucas e Monalisa Mendes vestiram-se com uma indumentária própria do Império. Diego inclusive usava a coroa do imperador. A fantasia de Monalisa bem trabalhada em vermelho foi um ponto alto. A apresentação do casal no primeiro e segundo módulos se destacou, misturando inicialmente passos coreografados com bailado tradicional posteriormente. Além da sincronia de movimentos, a simpatia do casal e a expressividade de Diego também chamaram a atenção. Nos demais módulos, o casal manteve um bom nível nos passos, mas precisou se apressar um pouco por conta do atraso da escola.
Harmonia
A escola começou o desfile com um bom canto, principalmente nas alas do segundo e do terceiro setor, porém na parte final do desfile, com a correria para não estourar o tempo, as alas passaram caladas.
Samba-enredo
O samba proclamado por Jean Cláudio e Jefão retratou bem o enredo, mas não empolgou o público e nem os componentes que pouco cantaram. Passou bastante frio.
Evolução
Neste quesito a escola pecou demais e comprometeu boa parte do desfile. Com um início lento por conta da apresentação da comissão de frente, que demorou a trafegar de um módulo a outro, a escola precisou correr para não estourar os 45 minutos de desfile. Algumas alas passaram não perfiladas, deixando buracos logo depois do quarto módulo. A evolução lenta dos dois primeiros módulos fez com que o casal de mestre-sala e porta bandeira precisasse abreviar um pouco de sua apresentação nos demais módulos
Enredo
Ao que se propôs no enredo, a escola passou bem. Os quatro setores da escola estavam bem divididos apresentando os três barões retratados na história e no final realizando a homenagem para a Imperatriz e para Luizinho Drummond. Apesar de não ser de fácil entendimento, a jogada dos barões foi ideia original para a homenagem.
Fantasias
Sem muito aporte financeiro com a crise que atrapalhou as escolas do Acesso, principalmente da Série B para baixo, a escola trouxe fantasias de fácil leitura, mas com aspecto estético pouco desenvolvido.
Alegorias
A ideia das alegorias do Siri até foi bem desenvolvida e de fácil entendimento, como o primeiro carro representando o jardim Zoológico de Vila Isabel criado pelo Barão de Drummond e o último fazendo referência a Imperatriz e a Leopoldina, trazendo o homenageado Luizinho Drummond, mas a concepção não ficou tão bem realizada com problemas de acabamento. A falta de iluminação que esteve presente em outras escolas prejudicou a estética das alegorias do Siri.
Bateria
A bateria do Siri de Ramos comandada pelo mestre Gláucio, fez uma apresentação correta, mas como o resto da escola na parte final precisou correr para não ter problemas de buraco com a ala da frente. Mesmo com um andamento para frente, não conseguiu empolgar o público na Intendente.
Outros Destaques
O Siri se propôs a realizar homenagem para a Imperatriz e o ponto alto do desfile ficou para a entrada de Luizinho Drummond, patrono da escola, que desfilou no último carro como destaque maior e distribuiu simpatia e energia, inclusive na parte final do desfile quando a escola correu.
Portela retrata com emoção um altar de tradições em alegoria
Por Juliana Cardoso

A Portela passou pela Marquês de Sapucaí, nesta segunda-feira de carnaval, para homenagear Clara Nunes, uma de suas torcedoras mais apaixonadas, que levou o nome da Azul e Branca de Madureira para o mundo. A religiosidade da artista mineira foi retratada em um altar, com a presença da velha guarda e da cantora e atriz Emanuelle Araújo, que interpretou Clara guerreira.
A alegoria, intitulada “Altar do Samba”, retratou um lugar de culto há alguns símbolos importantes da escola e tinha sua estética baseada nas cores azul e prata. Velas iluminadas foram colocadas na parte inferior da frente do carro e, acima, Emanuelle estava caracterizada como a cantora. A seu lado estavam o ator Milton Gonçalves e o músico Jorge Maia que representaram, respectivamente, Natal e Candeia.
“É minha responsabilidade vir aqui participar deste desfile. Farei o melhor que eu posso para representar esse ilustre personagem que é o Natalino. Já o fiz no cinema e agora farei novamente na Avenida. Estou muito feliz!”, afirmou Milton, já na alegoria.

Maria Helena Pires, que desfila na Portela há 54 anos e, que participou da composição do carro, contou que é uma grande honra homenagear Clara Nunes.
“Este carro comportou muito bem a velha guarda da Portela. Trouxe as grandes tradições da escola”, completou.
Os veteranos da agremiação vieram no meio da alegoria, à frente de uma gigante escultura de Nossa Senhora com detalhes dourados. Nas laterais, queijos carregaram destaques, que usavam a reprodução do conhecido arco de flores e conchas que Clara costumava utilizar para adornar os cabelos. Na traseira, grandes bandeiras com o pavilhão da escola e um imenso quadro que emoldurava uma pintura da cantora, acompanhada pela frase “Até um dia…”.
Com enredo sobre o Galo Português, Unidos de Lucas abre desfile da Intendente
Por Fiel Matola. Fotos: Magaiver Fernandes
Com o enredo “Do Galo de Barcelos ao Galo de Ouro, Lucas conta uma história de fé e Justiça”, contando a Lenda do Galo de Barcelos a Unidos de Lucas abriu as apresentações da Série B do carnaval 2019. A Vermelho e Dourado da Parada de Lucas mandou seu recado, com um samba com força no refrão. A bateria e o casal de mestre-sala e porta-bandeira levantaram o público.
Comissão de Frente
Comandada por Renata Monnier a equipe representava o mito do Galo, ou seja, o jantar onde o Galo assado cantou, livrando uma pessoa da injustiça da nobreza. A execução misturou dança com teatralização, com uma indumentária simples e utilizando um tripé representando a mesa de jantar, com direito até à um vinho português, os bailarinos passaram o recado, muito aplaudido pela platéia e contando claramente o proposto. Ponto positivo para o canto destes, que em nenhum momento da coreografia pararam de cantar, com bom humor e expressões, o quesito passou bem e só pode perder décimos por conta indumentária.
Mestre-sala e Porta-bandeira
O primeiro casal da escola Léo Chocolate e Layne Ribeiro fez uma apresentação firme, com uma fantasia toda em tons rosas. Eles entravam no campo de visão dos jurados com rodopios perfeitos, aliando graciosidade e força o mestre-sala chegava perfeitamente no momento da parada da porta-bandeira. Sempre com a bandeira hasteada e rodopios bem executados, principalmente, os anti-horários, o casal passou bem pelo módulo de julgamento. Porém, alguns problemas podem tirar décimos: parte do adereço do costeiro caindo somente no primeiro módulo e no terceiro módulo a bandeira toca rapidamente a porta-bandeira.
Alegorias
Com dois tripés e uma alegoria, a Unidos de Lucas apresentou um trabalho muito bem executado. O primeiro tripé muito bem acabado, em preto dourado e prata. Já a única alegoria trouxa bom acabamento, luxo e até luzes, apresentando o homenageado da noite, o Galo Português. Na frente um destaque muito luxuoso, assim como o central no alto. As cores da bandeira portuguesa assim como a frente rodeada de velas deram uma excelente impressão do trabalho. Porém, as outras composições que usavam as fantasias das alas do desfile destoaram do belo visual.
Fantasias
Com fantasias simples, porém dignas, sem grandes problemas, na maioria das alas dava para entender o que estava passando só de olhar as fantasias. As baianas vestidas de dourado e branco estavam bonitas, mas faltava cordões em muita delas.
A ala dos passistas chamou atenção. As mulheres estavam vestidas de passistas masculinos e os homens de passistas feminino, o líder, era metade homem e metade mulher.
Enredo
Quando olhamos a figura do Galo Português não entendemos a lenda. Os carnavalescos Ney Junior, Walter Guilherme e Cristiano Plácido Chaves contaram sobre o mito do Galo em Portugal, com um paralelo da Justiça.
Nos primeiros setores foram apresentados o mito em si, o que se conta em terras de Portugal, na parte central do desfile um paralelo Portugal-Brasil e no setor final as injustiças, os impostos, por exemplo, com o povo brasileiro pagando por um dinheiro que os políticos usurpam.
Samba-Enredo
Dos compositores M. Sheik, Ney do Pagode, Branco, Tinta Forte, André Kabala, Pelé Hostinho, Rosali Ahumada Carvalho e Robson Moratteli, o samba-enredo da Unidos de Lucas funcionou na Intendente. A letra coube bem para a leitura do enredo e o refrão principal impulsionou a comunidade.
Harmonia
Sob o canto do intérprete Francisco Ribeiro (Chicão), o canto de Lucas oscilou, no início, alas cantando muito, todo o samba por sinal, já as alas finais não foram conforme as primeiras, só cantando o refrão.
Ponto positivo para a ala após as baianas que cantou muito bem, já os pontos negativos vem das alas que apresentaram as injustiças no último setor.
Evolução
A evolução foi regular, por conta da sua arrancada rápida e um buraco na apresentação da bateria no terceiro módulo. A bateria parou e a escola continuou a andar. Mas, a evolução do componente dentro das alas fez sucesso. Outros pontos de destaques são as baianas rodando muito e a ala de passistas dando show de samba no pé.
Bateria
Com bossas muito bem executadas, a bateria de Celso Filipe Frazão (Celsinho) levantou o povo presente, principalmente, na bossa do refrão. Há de se aplaudir o setor de agogôs, apresentando com precisão e harmonia o toque do instrumento. Os componentes da ala de chocalhos vieram com muita alegria na execução.
Outros destaques
A rainha Débora Souza Reboredo com um look vermelho, preto e dourado e um costeiro com muita pena para ninguém botar defeito. Quando o buraco foi feito no terceiro setor, ela foi lá e preencheu com muito samba no pé.
A velha guarda da escola que estava muito bem trajada e vindo após ao primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira com simpatia e animação.
O segundo casal com rodopios de deixar qualquer um de queixo caído, aplausos para a porta-bandeira que rodou sem medo de ser feliz.
Segundo carro da Mangueira representa o genocídio de índios nas expedições bandeirantes
Por Nathália Marsal
Sangue. Muito sangue. O vermelho do segundo carro da Estação Primeira de Mangueira estava espalhado por animais, índios, placas… Tudo. A alegoria que recebeu o nome “O sangue retinto por trás do herói emoldurado” representou o genocídio de mais de 300 mil índios pelos Bandeirantes. A alegoria trazia cerca de 25 pessoas, com o intuito de contar a verdadeira história.
“Existe muita coisa escondida que precisamos mostrar a verdade”, afirmou a mangueirense Danielle Masta, que escolheu desfilar no carro.
Em geral, esse assassinato em massa é contado de forma que os Bandeirantes são considerados heróis. A Mangueira revela a história real por trás do monumento às Bandeiras localizado no Parque Ibirapuera, em São Paulo, e questiona os fatos das versões históricas oficiais. A obra mangueirense apresenta uma remontagem do monumento com os índios amordaçados, que não tiveram voz para contar sua história.
O carro também trouxe placas com inscrições de “mulheres”, “tamoio” entre outras vítimas. Além de tamanduás, tatus e lagartos que representam a fauna da região. Todos na cor vermelha, enfatizando a violência.
Miraci Mendes que também desfilou de destaque, acredita no poder do samba-enredo para atrair o público e provocar mudanças.
“Precisamos mudar esse futuro e buscar a justiça”, disse, confiante.
Baianas da Mangueira cruzam a Avenida interpretando as irmandades negras
Por Juliana Cardoso
A Estação Primeira de Mangueira levou para a Avenida o enredo “História para Ninar Gente Grande”. A escola mostrou um outro lado do passado brasileiro, trazendo uma narração que não foi contada nos livros. As matriarcas da verde e rosa representaram mulheres negras que utilizavam seu dinheiro como escravas de ganho para comprar cartas de alforrias.
Intitulada como “Irmandades negras”, a ala das baianas vestiu uma fantasia de tons marcantes. A saia negra foi adornada com faixas e cinturões de estampas africanas na cor laranja. No pescoço, búzios, terços e figas, ornamentos que remetem a religiosidade. Na cabeça, um chapéu em forma de bandeja, uma clara simbologia destas personagens, que usavam o pouco que ganhavam para ajudar outros negros da época.
“Muitos se esqueceram dos 338 anos de escravidão, de que quatro milhões de pessoas foram retiradas de suas terras e trazidas para esse país em condições desumanas. Foram obrigadas a aceitar uma vida medíocre e aprender a fazer muito com pouco. Para mim, como mulher negra, desfilar com essa fantasia é resgatar as nossas raízes e valorizar o que a história escondeu”, disse a médica Maria Nazaré Ramos, componente da ala.
A irmã dela, Maria Inês Ramos, completou:
“É emocionante representar a história escondida dos meus antepassados na Avenida, ainda mais em um traje tão bonito e representativo como o das baianas”, disse.
A verde e rosa foi a sexta agremiação a entrar na Marquês na segunda noite de desfiles do Grupo Especial.
Último carro do Salgueiro traz baluartes da escola representando ministros da Justiça
Por Lucas Gomes
O Salgueiro encerrou seu desfile sobre Xangô homenageando alguns integrantes da Velha Guarda na quinta e última alegoria. O carro representava a esperança de que Xangô, em sua misericórdia e espírito de justiça e lealdade, defenda os brasileiros de ladrões, corruptos, maus políticos e pessoas mal intencionadas que causam sofrimento ao Brasil.
Com bom humor, trouxeram os baluartes da escola representando os Ministros do Supremo Tribunal Federal na parte da frente da alegoria, que ainda contava com uma grande balança dourada, símbolo maior da Justiça, além de figuras de raios, representando o poder de Xangô.
O senhor Timbó do Salgueiro, com 60 anos de serviços prestados a Academia do Samba, disse que para ele é uma honra vir representando um cargo tão importante como o de Ministro da Justiça.
“É a primeira vez que eu venho no carro. Estou me sentindo feliz de vir no carro em que estão os 12 ministros da Justiça. É um prazer para mim, que sou benemérito da escola e tenho meus serviços prestados à alegoria”, contou seu Timbó, emocionado.
Dona Vera Sônia é uma das fundadoras da escola e desfilou no primeiro ano de Salgueiro. Neste, representando os Ministros do Supremo e também os 12 obás do Xangô, ela, aos 79 anos, com 68 de Salgueiro, desfilou mesmo de bengala.
“Eu estou até de bengala aqui. É um sentimento bastante intenso. Como enfermeira, o meu sentimento é de amor ao próximo, que anda faltando, inclusive para se fazer justiça. Eu sou uma das fundadoras do Salgueiro, saí no primeiro ano da escola”, disse, orgulhosa.
Outros elementos irreverentes da alegoria foram as policiais federais na lateral. Vestidos de farda e quepe, além das algemas, as “federais” vieram representar uma categoria da justiça que tem aparecido constantemente na mídia após a deflagração de operações com a Lava Jato.
Ana Renata, com 11 anos do Salgueiro passando por alas da comunidade e, desta vez no carro alegórico como “federal”, acredita que este é o momento para se fazer a crítica social.
“O nome da fantasia é “Dá Federal” e este carro é da justiça, principalmente da justiça de Xangô. Esse carro é uma parte mais da atualidade. Então, nós estamos criticando a corrupção. É como se fôssemos da “Lava Jato”, as federais. Acho que tem toda a relação com o momento em que estamos vivendo. Todo esse último setor é uma crítica social”.
Então, nesse momento tão conturbado que o Brasil está vivendo, e a gente vir de juiz, é uma satisfação muito grande. Espero que a gente alcance o campeonato e o nosso Brasil melhore”.
