O Acadêmicos do Tatuapé foi a penúltima escola a pisar no Anhembi na sexta-feira de Carnaval, com o tema “Justiça – A injustiça num lugar qualquer é uma ameaça à justiça em todo lugar”. Wagner Santos, carnavalesco responsável pelo desfile, conversou com o CARNAVALESCO e afirmou que o trabalho foi concluído com sucesso.
“Sempre nos planejamos muito, mas acontecem algumas coisas que estão fora do planejado e isso faz parte do espetáculo, Afinal, é ao vivo. Tudo aconteceu ao mesmo tempo, o trabalho foi concluído, a comunidade correspondeu com a expectativa da escola, fizemos um grande trabalho e agora aguardamos o resultado. Que vença o melhor e que o trabalho seja belo para todos. A festa deve ser linda, o resultado é uma consequência”.
Voz da azul e branco, o intérprete Celsinho Mody falou sobre a apresentação da escola, elogiando o carro de som, os músicos e o samba-enredo.
“Foi lindo e com uma musicalidade em alta. Conseguimos executar tudo que ensaiamos. O que propomos de trabalho, com alegria, de transformar um samba que é de clamor social, um samba que traz uma tristeza, uma melancolia pelos fatos que retrata. Mas trouxemos com sorriso no rosto da comunidade e despertamos, além de consciência, alegria no público que cantou este samba com a gente. Então estou muito feliz com sentimento de missão cumprida e agora respeitosamente é esperado as notas dos jurados”.
O coreógrafo Leonardo Helmer também comentou sobre a apresentação e afirmou estar muito satisfeito com o trabalho realizado.
“Nota 10 e dever cumprido. Foi maravilhoso, estou muito feliz com tudo que fizemos, o trabalho que executamos o ano todo aconteceu corretamente no desfile”, afirmou Leonardo.
Líder da bateria Qualidade Especial, Leo Cupim declarou a nossa equipe que a expectativa está alta aguardando a Tatuapé no desfile das campeãs.
“Deu tudo certo, graças a Deus conseguimos desempenhar um bom papel na avenida e espero que consigamos voltar no desfile das campeãs.”
Rosane Barbosa (esquerda) desfila na Mangueira desde 2017 e Itaiara Andrade (direita) é componente da Mangueira há dois anos Foto: Carnavalesco
O carnavalesco multicampeão Sidney França chegou ao carnaval carioca pelas mãos da Estação Primeira de Mangueira. Com o enredo “À Flor da Terra – No Rio da Negrite, entre dores e paixões”, Sidney estreia na Sapucaí conquistando os componentes mangueirenses com sua presença nos ensaios e sua plástica reconhecida.
Em seu currículo no carnaval paulistano, o carnavalesco foi responsável por quatro campeonatos pela Mocidade Alegre, sendo três seguidos (2012, 2013 e 2014) e uma quinta conquista pela Águia de Ouro em 2020. Também foi campeão no Grupo Acesso 1, pela Vai-Vai em 2023 – o que garantiu o espaço da preta e branca do Bixiga no Grupo Especial de São Paulo. Em 2024, Sidney apresentou na Vai-Vai o enredo “Capítulo 4, Versículo 3 – Da Rua e do Povo, o Hip Hop: Um Manifesto Paulistano” inspirado nos Racionais MC’s e a cultura hip hop. Neste ano, ele se divide entre a preta e branca e a verde e rosa carioca.
Componente da Mangueira há dois anos, Itaiara Andrade, de 30 anos, acompanhou os trabalhos anteriores de Sidney França e acredita na grandiosidade do seu trabalho.
“Eu já vi alguns desfiles dele lá [em São Paulo], e foram bem grande. Nós estamos esperando coisas grandes dele. Ele parece um cara bem atencioso, tanto que nos ensaios da nossa ala coreografada ele está sempre de olho, observando. Ele está atento. Estamos esperando coisas boas.”, disse Itaiara em entrevista ao CARNAVALESCO.
Rosane Barbosa, de 48 anos, já desfila na Mangueira desde 2017 e é parceira de ala de Itaiara e acredita que essa troca de experiências entre Rio e São Paulo vai fazer diferença na Avenida. Além disso, comenta a conexão do enredo com a comunidade.
“Eu achei interessante, porque ele vem de São Paulo e traz a experiência dele de lá para cá. Vai fazer uma diferença muito grande. Esse enredo é importante porque o Rio de Janeiro é de cultura banto. O jongo, por exemplo, vem dessa cultura que foi trazido dos nossos ancestrais. A Mangueira é um celeiro de bambas, de pessoas pretas que iniciam no samba desde a barriga. Trazer esse enredo na Mangueira foi estratégico.”, argumentou Rosane, mangueirense desde criança.
Jonathan Costa vai estrear na Verde e Rosa Foto: Carnavalesco
As expectativas estão altas na verde e rosa. O mangueirense quer voltar no Desfiles das Campeãs como a grande vitoriosa. O estreante Jonathan Costa, de 31 anos, disse que está vivendo a melhor experiência da sua vida desfilando na Mangueira e acredita na responsabilidade de Sidney nessa esperança de campeonato.
“Achei bastante bom porque está agregando muito na nossa expectativa para resultados. Ele tem estado muito presente conosco. Eu acredito que a Mangueira vai ser campeã e ele será um dos responsáveis por isso.”, declarou Jonathan.
Cecília Pontes é baiana da Estação Primeira de Mangueira Foto: Carnavalesco
A baiana Cecília Pontes, de 60 anos, também confia no trabalho do carnavalesco e conta quais são suas expectativas para o que desfilará na Avenida.
“Eu espero ver muita alegria, muito Carnaval, muita emoção, muito entrosamento com todas as alas e todos os segmentos. A sorte é nossa [de ter o Sidney na Mangueira]. Está um belo trabalho e se Deus quiser vai dar tudo certo. O povo preto é um povo sofrido, é povo que merece todo esse resgate. Hoje, falar sobre o povo banto, sobre negritude, é maravilhoso.”, comentou a baiana.
“É uma aula de História”
O enredo desenvolvido por Sidney França foi abraçado pela comunidade. Itaiara Andrade conta como foi a recepção inicial e como o enredo foi fazendo sentido ao longo do tempo.
“Esse enredo, no início, eu vi uma galera muito confusa. Porém, conforme nós vamos desenrolando, ensaiando, aprendendo as palavras, vai fazendo cada vez mais sentido. É grito de resistência mesmo. É um dos enredos que mais fez sentido para mim para se falar nesse momento, e não é porque eu sou mangueirense.”, declarou a componente.
O enredo da verde e rosa narra a História do povo banto – etnia africana de origem da maioria dos escravizados que desembarcaram no Rio de Janeiro – e suas influências na cultura carioca. O integrante Jonathan Costa entende que é um tema que precisa ser mais falado pela sociedade.
“A história do povo banto tem que ser retratada, tem que ser falada, porque ainda existe um preconceito de uma burguesia que tenta nos silenciar.”, explicou Jonathan.
Para Rosane Barbosa, o samba de Lequinho, Júnior Fionda, Gabriel Machado, Júlio Alves, Guilherme Sá e Paulinho Bandolim é uma aula de História.
“É um samba maravilhoso porque é uma aula de História. Fala da cultura banto, carioca, chega no funk e no jongo. Fala da cultura carioca conecta com a cultura banto.”, defendeu Rosane.
Itaiara também celebra o samba e o define como “afrontoso”. O hino da escola para 2025 retrata a religiosidade banto, por meio dos inquices, a dor do povo preto durante a escravidão, mas também alfineta a população “do asfalto” que copia as tendências musicais e estéticas dos “crias do morro”.
“É um samba afrontoso! Esse samba é uma oportunidade de nós, enquanto comunidade, olhar para quem está assistindo e dar o nosso recado. Nós lançamos tendência, somos do passinho, da dança, da coreografia. O público nos vai ver fazendo isso e cantando, mandando recado para eles.”, declarou a desfilante.
Walter Silva da Rocha desfilou pela primeira vez em 2009 e acredita que o trunfo ainda está guardado Foto: Carnavalesco
Há 16 anos atrás, o Acadêmicos do Salgueiro ganhava seu 9º título com o enredo “Tambor” e, de lá para cá, a escola tem se mostrado competitiva para ganhar sua 10ª estrela. Desta vez, a aposta é no enredo “Salgueiro de Corpo Fechado”, desenvolvido por Jorge Silveira.
A escola desfilará na segunda-feira, 3 de março, sendo a terceira a pisar na Sapucaí. Os componentes já estão ansiosos para verem o que o carnavalesco está planejando para o grande dia. Walter Silva da Rocha, de 40 anos, desfilou pela primeira vez em 2009 e acredita que o trunfo ainda está guardado, mas será emocionante.
“Acredito que a décima estrela venha. Nós estamos de corpo fechado, a comunidade está forte, cantando todo mundo junto. A gente vai merecer esse título. O trunfo está guardado para o desfile, este está guardado a sete chaves. O enredo é muito bom porque está contando sobre a proteção que todo mundo tem e todo mundo acredita, desde a Europa, desde os antigos tempos, até os dias de hoje, com patuás, guias, cruzes, medalhas. Estamos falando dessa proteção que todo mundo tem e todo mundo acredita. Eu espero um desfile maravilhoso e emocionante.”, comentou Walter.
Valéria Martins, de 62 anos, desfila no Salgueiro desde 2003 Foto: Carnavalesco
A engenheira civil Valéria Martins, de 62 anos, desfila no Salgueiro desde 2003 e atualmente faz parte da ala das baianas. Para ela, a chave é a identificação com o enredo.
“Nós esperamos que o Salgueiro ganhe a décima na segunda-feira. Estamos torcendo para isso. Eu acho que o trunfo é o enredo, já que está em alta falar da ancestralidade preta. Como o samba é por aí, de repente esse é o nosso trunfo. Alegoria muito bonita, carnaval e enredo muito bem elaborado. Acho que nós conseguimos sim. Eu me identifico muito com enredo, acho ótimo!”, afirmou a baiana.
Carla Muniz vai para seu 10º ano no Salgueiro Foto: Carnavalesco
O otimismo faz parte dos salgueirenses e empolgação dos componentes é contagiante. Carla Muniz, funcionária pública de 47 anos, tem expectativas de um desfile maravilhoso e entusiasmado em seu 10º ano no Salgueiro.
“Eu sou otimista e o Salgueiro vai fazer um carnaval maravilhoso para nós buscarmos a décima estrela. O trunfo do Salgueiro vai ser um carnaval com brilho, com muita fé, de corpo fechado, como o enredo. Eu espero do desfile alegria, emoção, muito entusiasmo, muito samba no pé, muito samba no gogó, evolução. Eu gostei do enredo porque remete à espiritualidade, mas remete à segurança do corpo, do espírito e da pessoa em relação à fé.”, declarou Carla.
E o segundo desfile de Jaqueline de Oliveira no Salgueiro Foto: Carnavalesco
Para Jaqueline de Oliveira, de 37 anos, a vantagem da agremiação é a crença de cada integrante em algum tipo de fé. Este é o segundo desfile dela no Salgueiro, mas ela torce pela escola desde 1993, quando a escola foi campeã com “Peguei um Ita no Norte”.
“Com certeza a décima estrela vem esse ano! A comunidade, a alegria e enredo que é muito bonito e fechado com escola são o trunfo. Todo mundo tem algum tipo de crença para fechar o corpo e eu acho isso muito importante para enfrentar os desafios desse mundo tão louco que estamos vivendo hoje em dia. Espero que o desfile seja maravilhoso e emocionante. Certamente será.”, destacou Jaqueline.
O torcedor salgueirense já pode contar com a animação de seus componentes e criar expectativas para a noite de segunda-feira. No mesmo dia, desfilarão também Tijuca, Beija-Flor e Vila Isabel.
Por muitos anos, a Estação Primeira de Mangueira, uma das escolas de samba mais tradicionais do carnaval carioca, tem encantado o público com seus desfiles grandiosos e sua bateria de ritmo inconfundível. No coração dessa batucada contagiante está uma figura que personifica o glamour, a paixão pelo samba e a tradição da escola: a Rainha de Bateria, Evelyn Bastos.
A trajetória de Evelyn é marcada por muito talento, samba impecável e símbolo de força feminina. “Ela representa tudo, ela é o símbolo, ela e o coração da escola. Sem ela ali, a escola não anda’’, declara Elizangela, componente da mangueira desde 2006, em entrevista ao CARNAVALESCO. A atual Rainha, que estreou em 2014 e se consolidou como uma das representantes mais queridas da comunidade, é nascida e criada no Morro da Mangueira e simboliza o espírito forte, engajado e orgulhosamente raiz da escola.
O senso de pertencimento e representatividade também é um dos pontos fortes que Evelyn reflete como rainha da bateria da Mangueira. ‘’Eu desfilo desde os 15 anos de idade e para mim ter uma mulher negra, que não é atriz, não é blogueira, a frente da bateria, para mim é tudo. Eu deixei de desfilar na escola do meu bairro, que é Vila Isabel, e passei para a Mangueira porque na minha opinião é a escola mais negra do Rio de Janeiro’’, conta a componente da escola há 3 anos, Mônica, de 57 anos.
“É muito mais que ser rainha de bateria, é usar esse posto para empoderar mulheres a acreditarem que todos os espaços são delas, dentro dos seus sonhos, das suas perspectivas, que podem ser tudo e não precisam se privar, se bloquear para chegar em determinado local’’, afirma Evelyn Bastos. O empoderamento feminino ganha um recorte racial quando a rainha de bateria cita o enfrentamento ao desrespeito e a pluralidade da mulher negra. ’’Elas podem ser elas em todos os lugares e que todo desrespeito perante a mulher negra não é um problema nosso, é um problema do outro. O que a gente precisa é enfrentar esse preconceito, cada mulher negra do seu jeito porque somos plurais, temos jeitos plurais. Nunca desistir, e sim, acreditar nos seus sonhos, acreditar em quem você é e passar esse respeito’’.
Além de seus samba sincronizado e energia contagiante na Sapucaí, a majestade da verde e rosa também se destaca por seu ativismo social, sua conexão com a comunidade e sua voz ativa pela preservação das tradições culturais do Carnaval . Desde 2024, à convite do Presidente da Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro, Gabriel David, ela está à frente da Diretoria de Cultura da Liesa. “Eu aceitei esse desafio do meu presidente Gabriel David porque a gente sempre teve muitas ideias semelhantes em outros trabalhos e recebi esse convite muito surpresa esse convite’’, diz Evelyn ao CARNAVALESCO.
Foto: Reprodução / Instagram
A liberdade para executar o seu trabalho como Diretora Cultural, foi o ponto-chave para aceitar o cargo, sobre isso ela diz que ‘’foi a primeira coisa que o Gabriel me garantiu. Inclusive, só aceitei ser diretora cultural na Liesa porque eu tenho autonomia e está sendo mágico. Todo lugar que a gente entra, a gente aprende muito, principalmente quando existe uma equipe muito boa e é um lugar onde estou me descobrindo cada vez mais e podendo expor todas as minhas ideias, as minhas crenças, o que eu acredito para a cultura da nossa gente e do Brasil’’.
O legado da Rainha de Bateria não se limita apenas ao desfile da Mangueira. Com passos firmes e o coração dedicado, Evelyn Bastos se destaca como uma verdadeira defensora do futuro do Carnaval, garantindo que o samba continue vivo e pulsante nas próximas gerações. O seu trabalho com as escolas mirins, não é apenas simbólico, ele tem impacto direto na formação cultural e social das crianças da comunidade .
Em 2025 os desfiles mirins tem o apoio da Liesa, e Evelyn ressalta a importância desta parceria. ‘’É o abraço e o carinho que a gente sempre precisou e que em algum momento foi esquecido, foi deixado para trás. É um resgate, é a gente esperançar e entender que o samba ele é perpétuo, entender essa perenidade é fundamental para gente, para Liesa e que bom a gente está vivendo esse momento’’.
Foto: J.M. Arruda / Divulgação
Uma realeza apaixonante, é assim que seus súditos mangueirenses se referem a ela. ‘’Falar da Evelyn é muito fácil porque a minha rainha é de se apaixonar. Ela é muito simpática, é uma pessoa que tem um entendimento racial fora de sério e especificamente esse ano, eu tenho admirado muito a entrega dela nos ensaios, como ela começa na pegada e ela termina da mesma forma. Tenho muito orgulho de ser um súdito da rainha Evelyn Bastos’’, declara Rosembergue, ritmista da bateria da Mangueira desde 2023.
Para o Carnaval 2025, a satisfação toma conta de Evelyn em representar à frente da bateria da verde e rosa por mais um ano, com um sentimento de felicidade carregando um legado repleto de identidade e ancestralidade. ‘’A cada ano eu me sinto presenteada. É uma satisfação tremenda, eu amo isso aqui e sempre friso que é um lugar onde minha mãe já passou, eu sempre fui muito feliz dentro da Mangueira que é um lugar onde estou desde que me entendo por gente. Eu me sinto contemplada pelos deuses, por Cartola, por Carlos Cachaça, por Zé Espinguela, por dona Neuma, dona Zica, por grandes nomes da mangueira, alguns que eu pude acompanhar, que eu pude dar um beijo na mão, pedir uma bênção e outros não mas que estão guardados na minha história porque sem eles a gente não teria como dar o primeiro passo’’. ressalta Evelyn, com brilho nos olhos.
Primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da Vermelha e Branca de Vila Vintém se consagra como o orgulho da escola Foto: Divulgação / UPM
A Unidos de Padre Miguel segue a todo vapor nos últimos preparativos para a grande estreia no Grupo Especial do Carnaval 2025. A escola será a primeira a desfilar no domingo, com o enredo “Egbé Iyá Nassô”. Um dos grandes responsáveis por essa conquista é o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, composto por Vinícius Antunes e Jéssica Ferreira, que atingiu a nota máxima no quesito em 2024.
Neste ano, o êxito promete se repetir. Desfilando pela 12ª vez consecutiva à frente da condução do pavilhão da UPM, o par segue com grande destaque e conquistando admiradores a cada apresentação. No último ensaio de rua, realizado na quarta-feira, na Praça Guilherme da Silveira, em Bangu, eles receberam inúmeros elogios da comunidade.
É notável a dedicação de Vinícius e Jéssica quando o assunto é excelência. Apaixonados pelo Boi Vermelho de Vila Vintém, eles esbanjam carisma e energia contagiantes. A jovem Camile, de 21 anos, moradora de Bangu e que desfila na escola desde criança, afirma ficar encantada com o trabalho do casal: “É uma leveza, é bonito de ver: a sincronia, a paixão. A UPM já encanta por si só, mas quando os integrantes estão engajados, é lindo! A alegria deles contagia. Tem muito a agregar.”
“Eles são fundamentais para nós. Se empenham ao máximo, são comprometidos e dão tudo pela escola”, reforçou a pensionista Kátia Nascimento, de 62 anos, que desfila há três anos na agremiação.
A expectativa é que todo esse empenho continue a render frutos na avenida. Sobre as notas, a ansiedade é grande, como descreve o passista Jackson Azevedo, de 25 anos, que desfila há nove na UPM: “É um casal em quem a escola apostou e que nos deixa confiantes. Com a experiência da coreógrafa Vânia Reis somada à deles, vamos manter a nota 40!”
Em conversa com o site CARNAVALESCO, Vinícius e Jéssica relembraram com emoção a trajetória na escola e compartilharam gratidão pelos torcedores: “Para nós, é primordial ter esse amor da escola. São mais de dez anos, e esse carinho só cresce. É recíproco! É o combustível do nosso sucesso”, disse o mestre-sala.
Primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da Vermelha e Branca de Vila Vintém se consagra como o orgulho da escola Foto: Divulgação / UPM
Jéssica completou: “Fui muito bem recebida há 12 anos, e esse carinho só aumentou. É importante demonstrar que estamos com a comunidade. Nunca os abandonaremos; lutaremos juntos”, afirmou a porta-bandeira, com um sorriso radiante.
A diretora Lara Mara destacou a identidade que o casal traz à escola: “Hoje, não vejo outro casal na UPM sem ser eles. Carregam o DNA da escola. São profissionais incríveis: o bailado da Jéssica tem leveza, e o riscado do Vinícius é impecável. É nota 40!”
Vânia Vieira, presidente da ala das Baianas, concorda: “Eles sempre deram orgulho à comunidade.” Após o ensaio vibrante, não restam dúvidas: orgulho é a palavra que define o sentimento da UPM por esse casal, que ainda tem muito brilho pela frente.
Com quatro títulos em cinco anos, a Viradouro chega ao Carnaval 2025 como favorita ao bicampeonato, algo inédito desde 2008. Em entrevista ao CARNAVALESCO, o diretor-executivo, Marcelinho Calil, falou sobre a solidez do projeto da escola, a busca pela perfeição em cada detalhe e a resposta a críticas. Sem arrogância, mas com confiança, ele destacou o trabalho coletivo, a gestão familiar e a paixão pelo carnaval como pilares do sucesso. Durante a entrevista, Marcelinho citou o filósofo Aristóteles: “O todo é maior que a soma das partes”. Na Viradouro, cada detalhe – do texto do enredo à harmonia da bateria – é peça essencial para o todo brilhar.
O que explica a consistência da escola nos últimos anos?
“Não é algo recente. É a consolidação de um trabalho que começou há anos. Hoje, temos sinergia entre liderança e comunidade, ambiente profissional e poucos conflitos internos. Cada decisão, desde a escolha do enredo até o músico contratado, é discutida exaustivamente. O resultado é fruto de pequenas escolhas certas ao longo do tempo”.
Você considera este o ápice da gestão?
“Sempre buscamos o ápice no próximo ano. Em 2024, temos o que considero o melhor enredo até hoje: Malunguinho, com potência cultural e reparação histórica. João Gustavo (enredista) e Tarcísio (carnavalesco) são gênios em seus quesitos. Mas não paramos: até uma vírgula é revisada”.
Como responder a quem diz que o sucesso da Viradouro se deve apenas a recursos financeiros?
“Adoro ouvir isso! Quanto mais repetirem, mais mostram que não entendem nosso trabalho. Dinheiro não compra o que temos: disciplina, pesquisa e paixão. Ano passado, não fomos a escola que mais recebeu patrocínio, mas fizemos um carnaval impecável. O mérito é da equipe”.
Há soberba na gestão?
“Rimos disso. Soberba é falar que vamos ganhar sem mérito. Aqui, motivamos a comunidade, mas respeitamos os rivais. Já perdemos e aceitamos com respeito. Quem critica talvez não esteja feliz com o próprio trabalho”.
A bateria da Viradouro passou por mudanças. Como foi essa transformação?
“Foi uma decisão estratégica. Trouxemos o mestre Ciça, que adaptou o andamento ao samba e à identidade da escola. Não é sobre velocidade, mas sobre musicalidade. Ele é um mestre que entende o impacto da bateria no conjunto”.
Você se vê como referência no carnaval?
“Não penso nisso. Meu foco é interno. Mas é gratificante ver escolas seguindo nosso modelo. O que importa é consolidar a Viradouro como espaço de excelência e inclusão, com projetos sociais e formação de novos talentos”.
O que esperar do desfile de 2025?
“Um carnaval à altura do nosso legado. Não queremos ser melhores que 2024, mas sim melhores que as outras escolas. Malunguinho traz força, provocação e poesia. A comissão de frente será grandiosa, mas não comparamos com anos anteriores: cada desfile é único”.
Há pressão para vencer de novo?
“Não carrego esse peso. Recomeçamos do zero todo ano. Se não há bicampeão desde 2008, o problema não é nosso. Queremos fazer o melhor possível e deixar o julgamento aos juízes. Confiamos neles”.
O que define a Viradouro?
“Paixão. Somos uma família que ama carnaval, competição e transformação social. Ganhar é consequência de um trabalho que não para. E, seja em 2025 ou daqui a dez anos, seguiremos com a mesma sede”.
Alemão do Cavaco é Diretor musical do Salgueiro Foto: Carnavalesco
Alexandre Augusto Panzoldo nasceu no final dos anos 1970 em uma família de classe média, na Mooca, cidade de São Paulo, de uma dona de casa e um engenheiro, ambos descendentes de italianos. Sem vínculo familiar direto com o mundo da música, o pai comprava LP ‘s de Agepê, Benito de Paula, Exporta Samba, Beth Carvalho. “Eu ouvia muito em casa”, disse ele em entrevista ao CARNAVALESCO.
Autodidata, aprendeu sozinho a tocar pandeiro, tamborim e surdo. “Quando eu fui fazer cursos e trabalhar com profissionais, os professores falavam: “Você tem uma facilidade muito grande de aprender perante os outros alunos que eu tenho”. Aí eu percebi que eu tinha jeito para o negócio e comecei a me apaixonar”, recordou Alexandre.
Apaixonado por futebol, costumava tocar na bateria da torcida organizada do Corinthians. “Com 13, 14 anos, eu ia no jogo do Corinthians e a Gaviões da Fiel era um bloco que estava se transformando em escola de samba”, relembrou ele, que fez parte da primeira formação da escola de samba Gaviões da Fiel, no Carnaval de 1989, como ritmista.
Foi no cavaquinho, no entanto, que o jovem talentoso mais se destacou. Após dominar a percussão, Alexandre mergulhou no instrumento de cordas. Um dia, na quadra da Gaviões da Fiel, diante da ausência de um dos cavaquinistas, foi chamado para compor a equipe de som daquela noite. O diretor de harmonia Carlos Tadeu Miranda, hoje conselheiro vitalício da Gaviões, achou Alexandre um nome fraco e disse: “Com vocês, Alemão do Cavaco”, batizando-o com o apelido pelo qual é ate hoje conhecido, em razão do então cabelo loiro e feições europeias.
O tempo passou e a dedicação à música só aumentou. Alemão formou-se em Violão e Arranjo pela Faculdade de Música Carlos Gomes, criou o próprio grupo de samba, Dose Certa (do qual participou por mais de 20 anos, até o fim da banda em 2022), e tornou-se um conhecido compositor e arranjador de sambas-enredo no Rio de Janeiro. Na Mangueira, assinou, entre outros, o samba “Maria Bethânia: a Menina dos Olhos de Oyá”, de 2016, e assumiu o posto, pela primeira vez em sua vida, de diretor musical de uma escola.
Desde 2022, está à frente da direção musical do Salgueiro, onde gabaritou, todos os anos, o quesito Harmonia, firmando a Academia do Samba como a única escola a somar 80 pontos neste quesito nesse período.
“Ser diretor musical do Salgueiro é uma honra gigante, porque é uma escola gigantesca. Quero agradecer ao nosso patrono Adilsinho, ao Leandro e ao André, nosso presidente, que foi quem me trouxe para o Salgueiro, pela confiança no meu trabalho. A gente em dois anos aqui a gente alcançou a nota máxima com o grupo. Estamos trabalhando demais para continuar mantendo essa nota, porque o nosso grande objetivo é o título”, disse Alemão do Cavaco.
O paulistano de coração carioca explicou ainda como é seu trabalho na escola: “O trabalho de diretor musical consiste em cuidar dos arranjos, da mixagem, dos volumes, das notas cantadas, da tonalidade, dos andamentos, dos conjuntos de bossa com bateria que vão ser feito harmonicamente também com os cavaquinhos e violões. É todo esse cuidado para a gente ter o máximo de nota possível”.
Alemão do cavaco é Diretor musical do Salgueiro Foto: Reprodução / Instagram
Embora o objetivo principal seja o desfile carnavalesco, Alemão trabalha o ano todo – por exemplo, na supervisão musical da final do samba-enredo e no arranjo da gravação da faixa escolhida.
O trabalho tem gerado valorosos frutos: o samba do Salgueiro de 2025 é, hoje, o mais tocado do Brasil nas plataformas de streaming e o único com mais de um milhão de plays no Spotify.
“Quando o samba foi escolhido, ele já era um sambaço, a gente já tinha visto isso, por isso que escolhemos, mas ele não era o mais falado. Ser o mais ouvido, a pouquíssimo tempo do Carnaval, facilita o canto das pessoas. O samba é acessível de melodia, de letra. Quanto mais viraliza, melhor, porque você pega um público maior”, vibrou o musicista.
A popularidade da obra pode estar também ligada à sua qualidade técnica, que une passado e presente, macumba e Nordeste, numa junção potente e melódica.
“O samba este ano tem uma melodia ora tradicional, de sambas antigos tradicionais, e ora com novidades. Ele tem uma modulação que hoje já é bastante comum no samba e no samba-enredo, mas ela não é tão previsível. Além disso, ele casa muito a letra com a melodia adequada. Sendo mais explicativo, na hora que fala do macumbeiro mandingueiro, aquilo chama um terreiro, chama um um atabaque. Quando fala do sertão, a gente remete a uma melodia de cangaço, de baião. O samba é perfeito para um desfile dinâmico, poético e emocionante”, desenvolveu Alemão.
O diretor musical abordou também o Manual do Julgador da LIESA 2025, que trouxe modificações em quesitos como Bateria, Samba-Enredo e Harmonia, entre outros. Neste último, em especial, passa a ser avaliada a performance do intérprete e do carro de som, o que, para o diretor salgueirense, já vem ocorrendo há um tempo.
“No Rio, o carro de som já vem sendo julgado, no mínimo, há uns 7, 8 anos. O quesito Harmonia praticamente virou carro de som. O que ele era antigamente acabou indo para Evolução. A questão da sanfona da escola, de abrir buraco… A única coisa que ainda ficou em harmonia é o canto das alas, que tem sido pouco levado em consideração porque hoje as harmonias fazem as escolas cantarem. A harmonia do Salgueiro não é diferente. Os jurados tem realmente olhado o quesito Harmonia como uma harmonia de música. Estar em paz, estar equilibrado. O cantor no tom correto, sem excessividade de cacos, o arranjo correto, o andamento bacana com a bateria para não ficar uma correria, para não ficar muito para trás, as introduções, o cavaquinho que veio desafinado ou não. O jurado vai buscar a excelência. Isso que está no manual simplesmente corrobora com o que já vinha acontecendo”, constatou.
Alemão do cavaco é Diretor musical do Salgueiro Foto: Reprodução / Instagram
Por fim, Alemão avaliou as estrelas pratas da casa do Salgueiro.
O ano de 2025 marca a estreia do intérprete Igor Sorriso à frente da Academia do Samba, após passagem pela escola-mirim Aprendizes do Salgueiro e longa trajetória na São Clemente. Apesar do começo no Rio, Igor esteve dedicado nos últimos anos ao Carnaval paulistano, onde destacou-se como bicampeão (2023 e 2024) pela Mocidade Alegre.
O cantor recebeu quatro vezes o Prêmio Estrela do Carnaval de Melhor Intérprete, oferecido pelo site CARNAVALESCO (duas vezes pela São Clemente, em 2012 e 2015, e mais duas pela Mocidade Alegre, em 2019 e 2022).
“O Igor é um dos caras mais profissionais que eu trabalhei na minha vida. Ele tem cuidado com o canto, com o estudo, melodia, com a nota que ele vai cantar. E o principal, ele tem uma humildade que poucos gigantes tem. Ele sabe ouvir. Eu tenho certeza, certeza absoluta que independente de nota, claro que nós vamos buscar as notas, mas independente de você estar na mão de um jurado ou não, o trabalho que vai ser entregue vai ser de excelência. E isso muito pelo Igor também”, elogiou Alemão do Cavaco.
Filhos do ritmista e ex-presidente de ala Tuninho e também crias da Aprendizes, os irmãos Guilherme e Gustavo Oliveira galgaram posições até alcançar o maior posto da bateria Furiosa, dos longevos mestres Loiro e Marcão. Já colaboraram com Fundo de Quintal, Clareou, Dudu Nobre, Ludmila e Xamã, além de liderarem o projeto Dos Santos, que une samba e música eletrônica sob uma perspectiva experimental. Há três anos, os mestres da Furiosa integram também o projeto Samba in Harlem, da escola de música Frederic Douglas, na cidade de Nova Iorque, Estados Unidos.
“Eles são muito esforçados, muito inteligentes e muito talentosos. A molecada que vem se renovando tem eles como guias. Não é nem discussão, mas é um papo de altíssimo nível que eu tenho com eles. Tudo que a gente faz na área musical, a gente conversa junto. Introduções, arranjos… Tem sido um entrosamento, uma coisa muito gratificante para mim. Gosto muito do trabalho deles”, enalteceu o líder da ala musical salgueirense.
“Ninguém me chamou para ser presidente. Eu que quis ser, me candidatei. O que mais gostei de fazer é esse trabalho com a comunidade, com os crias, de colocar as pessoas da casa mesmo nos lugares-chave, com competência, como sempre digo. Isso mexe comigo, acho que é um acerto. Tem outros acertos também, mas se eu quiser frisar uma coisa, para mim é isso: essas pessoas da casa, que a gente apelida de cria. Nasceram no morro. Uns eu vi na barriga da mãe, amigos dos meus filhos, que eu sabia que tinham competência, mas alguns não tinham ocupado ainda esses postos. Ajudaram a escola nesses três anos a evoluir em muitas coisas, e acho isso muito legal”.
O que você gostaria de fazer que ainda não deu tempo?
“Tem muita coisa, muita coisa. Para o carnaval, acho que estou fazendo o que tenho que fazer. Falta o título, e estamos trabalhando para que ele venha agora, com vontade e força. Agora, em infraestrutura, tem algumas coisas que gostaria de fazer aqui no barracão e na quadra, que não deu tempo. A obra na quadra seria uma expansão, mas não há espaço em volta. Ali precisa de reparos, por exemplo: fiz o chão, mas terá que ser refeito. Climatizar aqueles camarotes, recuperar a climatização do salão VIP, porque os ar-condicionados já estão ruins há seis anos. Tirei de vez, não consegui colocar financeiramente, porque estou focando mais no custo do carnaval. Alugo climatizadores aos sábados, mas está sendo mais barato. Temos que melhorar o centro de memória e o auditório”.
Como está a questão financeira da Mangueira?
“O nosso projeto para o desfile está sendo executado 100%. Fico chateada quando dizem: ‘O carnaval foi assim porque a Mangueira não tem dinheiro’. A Mangueira sempre gastou. Às vezes, o que não dá certo não é por falta de dinheiro, é porque deu errado ali, alguém errou, mas não falta investimento. Não faltou nos dois anos. Os carnavalescos estão aí e podem confirmar. Não deu, não rolou. Agora, não interessa mais o motivo. É complicado ter um projeto e ter que cortar algo, mas se não há recursos totais, não dá”.
A Mangueira tem pessoas que apoiam o carnaval financeiramente?
“Busco recursos. O Sidney (França) está aí e não me deixa mentir: não falta recurso. São amigos meus que ajudam a escola. Apoiadores, a quem agradeço muito. O Quaquá (prefeito de Maricá) começou isso, ele me incentivou a assumir. Os amigos abrem caminhos, mas não chegam a ser patronos da Mangueira, porque a escola não se permite ter patrono. Quaquá e Freixo nunca tiveram essa intenção. Quaquá é mangueirense. Só fui descobrir quando o conheci. Freixo já sabia há muito tempo. Só tenho gratidão aos dois por abrirem portas para a Mangueira”.
Você gostou de ser presidente da Mangueira?
“Costumo dizer que estou aqui, do lado daquela cadeira, há 12 anos. Fui braço direito do Chiquinho. Ele dizia que eu era o braço direito e esquerdo. E vice-presidente do Elias, também braço direito dele. Para mim, foi natural assumir a presidência. Mas gosto, gosto do que faço. Primeiro, porque gosto de gestão. Trabalho com isso há anos. E gerir a minha escola do coração, imagina como é”.
Você é tipo xerife no comando?
“Às vezes preciso ser. Mas, às vezes, sou mãezona. Por isso falam ‘Guanayra mãe’, mas aqui dentro é uma família. Trabalho com maioria que conheço há anos, é família. Família briga, se abraça, se beija”.
O enredo de 2025 mexeu com você?
“Mexeu comigo desde o dia em que foi apresentado. O Sidney me mostrou três propostas, mas ele queria essa. As outras nem lembro. Esse mexeu muito. E a cada dia, desde o lançamento, conversando com os pesquisadores, mexe mais. É a vida dos meus ancestrais até a vida dos meus netos hoje. Estamos muito mexidos com esse enredo”.
O que esperar do desfile de 2025?
“Acho o abre-alas maravilhoso. Vai causar. É um desfile para emocionar e com técnica. A Mangueira sempre emociona. Viemos tentando trabalhar mais a parte técnica. A comissão de frente vai emocionar muito mais do que no ensaio técnico. Nossa comissão é babado. Estamos aí para emocionar com técnica”.
Você tem noção de que tem a melhor ala musical do carnaval?
“Já confiava. Não vou dizer que sabia, mas achava que seria assim, porque conheço a qualidade do Vitor Art e do Digão. Fiz o casamento perfeito, mas o trabalho deles combina com o do Hudson (Taranta Neto) e do Rodrigo (Explosão). Os quatro vêm juntos desde pequenos na Mangueira. Uma hora um canta, outra toca cavaquinho, e deu nisso”.
O Dowglas Diniz e o Marquinho Art estão muito bem no carro de som. Qual sua análise?
“O Marquinhos foi um achado meu. Eu que trouxe ele para o Chiquinho. O Dowglas era um garoto de casa que eu observava há tempo. Quando tive a oportunidade, chamei. Não esqueço: ele estava assustado. Perguntou: ‘O que foi, madrinha?’. Quando o convidei, chorou muito ali naquela cadeira”.
O sonho de todo o sambista paulistano aconteceu: Ter a experiência de ver o Vai-Vai com toda a sua torcida pela manhã. No momento em que o locutor anunciou o nome da escola, as bandeiras se agitaram desenfreadamente, dando um belo contraste no amanhecer do Anhembi. No ensaio, os componentes demonstraram a força da comunidade e a garra do canto. A bateria “Pegada de Macaco” e o carro de som comandado pelo cantor Luiz Felipe também foram destaques no ensaio do Bixiga. Entretanto, houve falhas na evolução, pois o cálculo do tempo somado ao andamento não foi correto e a escola acabou acelerando os passos, somente ao final da passarela chegou a correr, causando a variação de velocidade. Um desfile ousado e criativo, mas os erros em evolução podem tirar décimos importantes na apuração.
A ala, coreografada pelo estreante Sérgio Cardoso, apostou nas maiores ousadias de encenações. Zé Celso era um artista que não via problemas em nada. Sendo assim, a comissão de frente fez de tudo para homenagear da melhor forma possível. Houve mulheres com seios de fora e o próprio ator fazia uma encenação que mostrava a parte traseira.
O tripé, que representava o Teatro Oficina, merece um destaque especial. Além de muito parecido com a meca do teatro, também tinha um visual bastante agradável.
Mestre-sala e Porta-bandeira
O casal Renatinho e Fabíola, com a fantasia de “Exu-Baco: Uma força de caos e desordem”, em análise no segundo módulo, foi observado um desfile satisfatório da dulpa. Eles inovaram e fizeram a coreografia dentro do samba em frente à cabine, não sendo nada burocráticos.
Enredo
A ideia do Vai-Vai foi de homenagear um dos maiores dramaturgos que já pisou em solo brasileiro. José Celso Martínez é devorado na primeira alegoria, onde Exus são convidados a fazerem isso com ele, pedindo licença para o ‘Exu das artes’. Conseguiu realizar de forma satisfatória a projeção feita na pista.
Alegorias
O primeiro carro da escola representou “No Banquete de Baco, a Saracura Devora Zé Celso, O Louco, Criador das Artes nas Macumbas Paulistanas” O Vai-Vai sempre desfila com uma coroa em seu abre-alas. Afinal, é o símbolo do pavilhão da escola. Ela sempre vem preta, dourada ou iluminada. Porém, desta vez ela foi toda enfeitada com flores e investimento de luzes.
A segunda alegoria simbolizou “O Mundo Louco de um Eterno Sonhador… Liberdade de Ser e Pensa” – Uma ideia lúdica, mas que nesse houve a falha na pintura, deixando rastros de sujeira dentro da própria alegoria.
O terceiro carro foi à pista como “Flores para Cacilda: Beleza e Potência do Amor no Teatro e na Vida”, explanar sobre Cacilda Becker, o grande amor de sua vida, apesar de ter se autodenominado um homem bissexual.
A alegoria que fechou os desfiles, mostrou “o raiar de um novo dia, apoteose no Bixiga” – Realmente era uma festa colorida no Vai-Vai, com uma escultura de Zé Celso no centro.
O Vai-Vai colocou em prática alegorias de fácil leitura, mas pequenas falhas de acabamento pode prejudicar o quesito.
Fantasias
O Vai-Vai entregou uma estética diferenciada no desfile. Não foi nada de luxo, mas estava tudo bem acabado. Por ser um tema teatral, a escola apostou em uma característica diferente do habitual: Fantasias simples e investimentos em maquiagens, dando um ar de peça ou de filme na pista. Assim, dá para perceber que há um toque de Sidnei França por todo o contexto plástico.
Seres bacanais com uma ala apenas de pessoas saindo com os seios de fora. Uma identidade visual bem diferente do que vimos costumeiramente.
Samba-enredo
O intérprete Luiz Felipe com maestria. Ele também embala a comunidade a todo o momento com palavras de incentivo, além de cantar muito. Desde 2023 até aqui, Luiz coleciona boas atuações e caminha para ficar muito tempo dentro do Vai-Vai.
A ala musical com outros nomes e o entrosamento com várias bossas da “Pegada de Macaco”, dialogando com os mestres Tadeu e Beto.
Evolução
Foi um quesito problemático para a escola. Em dado momento, quando as lideranças notaram que não daria tempo de passar no tempo de 65 minutos, começou a acelerar os componentes na dança e, após, a corrida.
Outros destaques
A bateria “Pegada de Macaco”, de mestre Tadeu e Beto, está cada vez melhor e voltando a figurar entre as principais de São Paulo. As variedades bossas foram destaques, principalmente no refrão principal.
A rainha de bateria Madu Fraga desfilou com uma fantasia inteiramente de laranja com detalhes em vermelho no costeiro. A dona da batucada também segurava um tridente, sambando muito no pé a avenida toda. Luciana Gimenez, madrinha de bateria, cruzou a passarela com um costeiro todo preto.
Comissão de frente da Mangueira Foto: Carnavalesco
Em entrevista ao CARNAVALESCO, a dupla de coreógrafos Lucas Maciel e Karina Dias falou sobre o trabalho da Comissão de Frente e a relevância de um enredo marcado pela brasilidade e representatividade.
“Este enredo tem um simbolismo muito forte. Acredito que, neste ano em especial, ele é extremamente significativo, tanto para a comunidade quanto para a visibilidade das pessoas afro-brasileiras. O Sidnei [França] acertou em cheio, e estamos empenhados em traduzir essa homenagem e respeito na Comissão de Frente. Essa parceria tem um valor imensurável para nós!”, destacou Lucas.
Karina reforçou o sentimento: “É uma grande responsabilidade representar um enredo que espelha toda uma comunidade e essa nação que é a Mangueira. Apesar do desafio, está sendo uma experiência incrível!”
Os dois também enfatizaram a sinergia com o carnavalesco Sidnei França, que recentemente se mudou de São Paulo para comandar o carnaval da escola. “O Sidnei tem contribuído muito! O enredo que ele propõe traz uma narrativa potente, e a partir dela trocamos ideias, combinamos visões e vamos montando esse quebra-cabeça”, explicou Karina.
Lucas complementou: “O processo é contínuo. Muita gente não imagina, mas o trabalho começa logo após o carnaval anterior, quando já temos um novo enredo em mente. As conversas se iniciam cedo, e tudo vai sendo construído com calma ao longo do ano.”
Coreógrafos da comissão de frente da Mangueira Lucas Maciel e Karina Dias Foto: Divulgação / Mangueira
Inovações técnicas e impacto visual
Questionado sobre tendências, Lucas destacou o papel da iluminação cênica, que ganha espaço nas comissões de frente: “Tenho certeza de que a iluminação veio para ficar. Ela agrega ao espetáculo, então não faria sentido abrir mão de um recurso que só traz diferencial!”
Karina citou ainda o uso de tripés como elemento-chave nas apresentações: “As estruturas de tripé e a iluminação dão um peso visual enorme ao espetáculo. Com certeza, serão recursos essenciais na nossa comissão este ano!”
A dupla encerrou reforçando o compromisso de honrar a tradição da Mangueira enquanto incorporam modernidade à celebração. “É sobre unir raízes e futuro, e isso é o que o carnaval faz melhor”, concluiu Lucas.