Início Site Página 156

Imperatriz Leopoldinense resgata enredo afro e retrata a resistência de Oxalá no Carnaval 2025

No ano em que a intolerância religiosa e o racismo estrutural ainda desafiam a sociedade brasileira, a Imperatriz Leopoldinense decidiu usar o Carnaval como palco de resistência e celebração da cultura afro-brasileira. Com o enredo “Ómi Tútu ao Olúfon – Água fresca para o senhor de Ifón” que retrata a jornada de Oxalá, uma das principais divindades do panteão iorubá, a escola de samba trouxe para a avenida uma narrativa que mistura fé, tradição e luta, emocionando o público e reafirmando a importância da representatividade religiosa e cultural.

ala 10 imperatriz1

 

José Carlos, 46 anos, vendedor e veterano da Imperatriz há 30 anos, desfilou com orgulho na ala que representava o momento difícil de Oxalá, quando a divindade ficou suja de carvão durante sua jornada ao reino de Xangô. “A gente veio pra brigar, com raça e muito samba no pé. Essa ala representa a dificuldade de Oxalá, mas também a superação. As fantasias estão no nível mais alto, e estamos aqui para brigar pelo primeiro lugar”, afirmou. O figurino, inspirado nas vestes tradicionais de Oxalá, foi cuidadosamente elaborado para manter as referências ao orixá, mesmo sujo com o carvão que simboliza suas provações.

Ana Carolina Aquino, 37 anos, Yalorixá e estreante na Imperatriz, destacou a riqueza simbólica do enredo. “Nossa ala traz o imagético de Oxalá sujo de carvão, mas também elementos como o sal, que são kizilas (proibições) de Oxalá. Usamos o Opaxorô, o cajado de Oxalá, que aqui está sujo de preto, representando o carvão. Mesmo na cor que não é tradicionalmente dele, reconhecemos o orixá”, explicou. O Opaxorô, instrumento sagrado que simboliza a força e a sabedoria de Oxalá, foi um dos elementos centrais da ala, reforçando a conexão entre o enredo e a espiritualidade.

imperatriz ala10

Para Ana Carolina, desfilar pela Imperatriz foi uma experiência emocionante e cheia de significado. “Eu sempre fui torcedora da Imperatriz. Meu pai era um homem de Xangô e Oxalá, e ele torcia por essa escola. Estar aqui realizando esse sonho, pensando nele, é maravilhoso”, compartilhou. A Yalorixá também ressaltou a importância da Imperatriz trazer um enredo afro em um momento de tantos desafios. “Em 2025, com tanta intolerância religiosa e discursos de ódio, a Imperatriz trazer isso é resistência, resiliência e força. É uma luta contra o racismo religioso que ainda precisamos enfrentar”, afirmou.

O enredo da Imperatriz Leopoldinense não apenas celebrou a cultura afro-brasileira, mas também reforçou o papel do Carnaval como espaço de resistência e afirmação identitária. Em um ano marcado por polêmicas e ataques às religiões de matriz africana, a escola mostrou que a arte e a cultura podem ser poderosas ferramentas de afirmação dos saberes ancestrais de sua comunidade.

Alas da Mangueira retratam os povos Bantus e sua influência na culinária Carioca

A culinária carioca, tão diversa e cheia de temperos, carrega traços profundos da influência africana, especialmente dos povos bantus. Originários da região que hoje abrange países como Angola, Congo e Moçambique, esses povos foram majoritariamente trazidos ao Brasil como escravizados a partir do século XVI. No Rio de Janeiro, sua cultura se mesclou com a indígena e a portuguesa, resultando em uma gastronomia rica e cheia de história.

Os povos bantus foram os primeiros africanos a chegar ao Brasil e, no caso do Rio de Janeiro, sua presença foi marcante. Além da forte influência linguística, os bantos deixaram um legado forte na música, na religiosidade e, principalmente, na cozinha.

As alas da verde rosa ‘’Um banquete de angu’’ e ‘’Quem come quiabo não pega feitiço’’, retratam a riqueza histórica e cultural desses alimentos na mesa das famílias do Rio de Janeiro.

Uma das marcas mais evidentes da influência banta, o angu é um prato feito de fubá de milho que se tornou popular entre as camadas mais pobres da população brasileira e, mais tarde, foi incorporado a pratos como o “angu à baiana”, bastante consumido na culinária carioca.

‘’O angu, por conta do angu a baiano, todo carioca gosta de comer, é tradicional da nossa cidade também, apesar de não ser daqui, mas é a tradicional da nossa cidade, então está super bem representado. Minha avó que vendia angu a baiana aqui nessa época, lá nos Correios aqui perto do sambódromo. Ela era baiana e vendia angu aqui. Estar aqui significa que eu tô representando ela, que era mangueirense, que era baiana, era vendedora de angu, eu estou representando ela aqui também na nossa escola’’, relata emocionada a jornalista Joana Cunha, de 45 anos, componente da escola há 5 anos.

monique

Em muitos cantos da cidade é possível encontrar o alimento, principalmente à venda na região central da cidade, que historicamente foi o local de chegada e moradia dos povos bantus e reflete até hoje na cultura gastronômica do Rio de Janeiro.

‘’O angu representa de uma forma, que por exemplo, aqui na Central do Brasil vende o famoso caldinho que a gente sempre gosta. É uma cultura do Rio de Janeiro, que é do carioca, de tomar um gelo, tomar um caldinho. E hoje a mangueira tá trazendo esse enredo, eu tô extasiada por ser a primeira vez e tô muito feliz por representar a minha cidade. Eu amo angu. Com alho , com frango, eu amo tudo. Sou uma verdadeira carioca’’, declara Monique, empresária de 39 anos que desfilou pela primeira vez na Estação Primeira de Mangueira.

monique 1

Outro ingrediente diretamente da cozinha banta e fortemente presente na vida e nos pratos dos cariocas, é o quiabo. Um vegetal que tem a baba como sua característica principal, sendo muito utilizado na preparação com outras comidas, como o frango, e até mesmo como o famoso ‘’tira gosto’’, forma que é chamado petiscos para acompanhar as bebidas, principalmente a cerveja.

‘’Não sabia dessa informação antes do desfile sobre quando foi escolhido como tema da ala e é só um alimento que eu gosto bastante. E é um alimento que ele é muito representativo da cultura negra carioca. Desde pequeno eu como quiabo porque tem receita de família de frango com quiabo’’, relata André, de 27 anos, estreante no desfile da verde e rosa.

Até mesmo quem não é carioca, mas vive na cidade do Rio de Janeiro, tem vivências com o alimento. A baiana Kaline Assis, médica de 39 anos e está na Sapucaí com a escola pela primeira vez, afirma que ‘’Eu, como uma baiana sabia da questão da relação através de um ditado do candomblé que diz que quem come quiabo não pega feitiço, e foi por isso que eu escolhi essa ala, eu fui ler algumas coisas e descobri outras coisas acerca também dizendo de que o quiabo não é só uma culinária, mas é como se fosse algo espiritual também para eles, quando eles comem eles se sentem protegidos’’.

andre

Os escravizados bantus eram majoritariamente trabalhadores das lavouras, das cozinhas dos senhores e dos mercados urbanos. Adaptando ingredientes locais às suas tradições, deram origem a pratos que, até hoje, fazem parte do cardápio carioca.

O coração pulsante da Viradouro: A comunidade que move o Carnaval

A Unidos do Viradouro desfilou na madrugada de domingo para segunda com o enredo “Malunguinho: o Mensageiro de Três Mundos”, sobre o líder quilombola do século XIX, hoje cultuado em religiões afro-indígenas. Lutando pelo bicampeonato, a escola apresentou, nos ensaios, uma excelência técnica que lhe garantiu a alcunha “patamar Viradouro”. Pouco antes do começo do desfile, o CARNAVALESCO conversou, na concentração, com componentes sobre sua relação com a escola de Niteroi.

“Fazer parte da comunidade da Viradouro é tudo de bom. A Viradouro é como se fosse um refúgio. Eu me sinto em casa, literalmente. Eu costumo dizer para todo mundo que eu que eu moro na Viradouro e visito a minha casa. Para mim, é uma verdadeira terapia, uma coisa que faz a minha cabeça, a minha mente ir para um lugar e ficar muito boa”, disse a estudante Mirella Santos, de 17 anos, em seu terceiro carnaval pela Viradouro.

mirela

“Comecei desfilando na Viradouro com 8 anos de idade. A coisa mais linda que eu acho na minha vida é participar. É muito bom, a gente esquece todos os problemas. Eu adoro. A garra da nossa comunidade é maravilhosa, todo mundo se dá muito bem”, enalteceu a cozinheira Ana Maria dos Santos, de 72 anos.

anamaria

Um dos mais aguerridos do carnaval em dias atuais, os torcedores da vermelho e branco de Niteroi marcaram presença, ao longo do ano, nos eventos da escola, que se iniciaram por volta de setembro e culminaram no desfile de março.

“Eu fui em todos os ensaios de rua, tanto de rua, tanto de quadra. Fui nessas disputas de samba, eu estava em tudo. Em um dos ensaios, tinha um telão que apresentava para gente as fantasias e a história através da fantasia. É importante frequentar a escola para ir criando aquele laço e saber o que está se passando. Para começar a entender o samba, o que você está cantando. Não só falar da boca para fora”, explicou Mirella.

“Todo domingo estávamos na Amaral Peixoto fazendo um ensaio perfeito, mostrando a força da Viradouro. A presença da comunidade, a presença que nós sentimos durante os ensaios, é algo muito bom”, relembrou o autônomo estreante na escola Kauã, de 21 anos.

Caua

A sensação do grande dia, porém, supera a de qualquer outro.

“Pisar na avenida é uma sensação única. Toda vez parece que é a primeira vez. O coração dispara, dá vontade de chorar, fico muito ansiosa. Parece que o coração para. É uma sensação muito boa”, descreveu Mirella.

“Todo ano é como se fosse meu primeiro na Viradouro. Já entro em lágrimas e termino em lágrimas. Estou até arrepiado agora. A emoção é muito forte. Essa escola é tudo para mim. Amo a Viradouro”, declarou o fotógrafo Jorge Luiz, conhecido como Jorginho da Viradouro, de 59 anos. Jorge desfila há 33 anos pela Viradouro.

jorge

“Quando eu entrar na avenida, vai ser um um sentimento muito bom, bonito. Pretendo levar esse título por mais um ano. Vai depender de Deus. Sem ele nós não conseguimos levar, mas ele vai dar força para a gente levar mais esse título para Niterói”, garantiu o funcionário público José de Oliveira, de 64 anos, que desfila há 10 pela Viradouro.

Joze

De fato, a comunidade é o coração pulsante de uma escola de samba. Bateria, baianas, comissão de frente… Nada se sustenta sem o apoio de cada componente.

“Antes de preparar um carnaval, preparar o desfile, precisa preparar a comunidade. Sem a comunidade não tem desfile. A comunidade é uma peça muito importante. O canto da comunidade é aquilo que move o público”, defendeu Kauã.

“O que diferencia a Viradouro é sua comunidade. É o chão que ela tem. Em respeito a todas as coirmãs, mas nosso chão é muito forte. Uma escola sem comunidade, não chega a lugar nenhum. Em respeito a todos os segmentos da escola, mas a comunidade é o ponto forte”, finalizou Jorge.

Do Samba ao Funk: A Corporeidade Negra que Dança e Resiste no Carnaval da Mangueira

Com o enredo “À Flor da Terra, no Rio da Negritude entre Dores e Paixões”, desenvolvido pelo carnavalesco Sidnei França, a Mangueira fez uma celebração das sonoridades que ecoam pelas ruas da cidade. Ritmos como o samba e o funk foram apresentados como exemplos do legado bantu e das estratégias de recriação do cotidiano da negritude.

mangueira

Em entrevista ao CARNAVALESCO, Luiz Antonio Simas, historiador e componente da quarta alegoria, falou sobre a semelhança entre duas das mais populares manifestações culturais cariocas. “O samba e o funk tem uma semelhança evidente porque são oriundos das populações afro-cariocas”, afirmou o historiador que relembrou do processo de marginalização do samba no início de século XX: “Se a gente pega o samba na década de 10 ou 20, a gente percebe que o samba era criminalizado pela vigência da lei de vadiagem. Samba era coisa de vadiagem. João da Baiana foi preso porque estava com um pandeiro e o pandeiro dele foi considerado a prova do crime, a prova da vadiagem”.

mangueira2

Para ele, o funk, assim como foi com o samba, passa por um processo de criminalização e se reinventa por construir sentidos a partir da corporeidade da negritude. “O funk passa por um processo de criminalização muito parecido com o que aconteceu com o samba, porque é um contexto mais amplo de criminalização das manifestações das populações afro-cariocas. Agora, da mesma maneira com o samba, o funk foi se reiventando”, afirmou.

Para Leda Maria Martins, escritora e professora, a criminalização das manifestações culturais negras são cíclicas. Sob argumentos de que esses ritmos fazem apologia às drogas, à pornografia e à violência, as culturas negras são demonizadas. Na contramão, o samba e o funk recriam um corpo que dribla o escopo determinado da marginalização. “Basta você dar uma olhada aqui pelo Sambódromo. Dá uma olhada no no movimento do corpo carioca, do corpo em geral do corpo brasileiro e, principalmente, do corpo negro do brasileiro. É uma corporeidade dinâmica, dançante, bailarina. É uma elasticidade do corpo, uma disponibilidade do corpo para o movimento, para a criação e para a memória do conhecimento. É um modo alternativo de escrever o conhecimento”, concluiu.

Jonny Santos, de 31 anos, componente da ala 20, lembra que a marginalização foi um modo de circunscrever a corporeidade negra nos limites da branquitude. “O nosso corpo fala o tempo inteiro, nos movimentos, na forma como conduz o andar, os gestos dos braços, das mãos, ele está falando o tempo todo. Os movimentos perseguidos são movimentos onde o corpo do negro está falando de uma forma diferente da forma permitida pelo branco colonizador”, afirmou o componente da ala 20 que vem representando o funk carioca dos anos 70.

mangueira3

A Mangueira não apenas celebrou as sonoridades que ecoam pelas ruas do Rio de Janeiro, mas também destacou a resiliência e a capacidade de reinvenção das culturas negras. No Marquês de Sapucaí, a verde e rosa contou uma história de luta, paixão e resiliência, mostrando que a cultura negra, seja através do samba ou do funk, é uma força viva e pulsante que não pode ser silenciada.

Mangueira Carnaval 2025: galeria de fotos do desfile

CLIQUE EM CADA IMAGEM PARA AMPLIAR A FOTO

Terreiro Viradouro: Rute e Julinho personificam o Orixá da Justiça na avenida

Em alta na avenida este ano, Xangô e a sede de justiça também estiveram presentes no desfile da Viradouro. O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Rute Alves e Julinho Nascimento, personalizou um elo muito forte da Viradouro com o enredo. Com a fantasia “Terreiro Viradouro” e sob as bênçãos do orixá do fogo, Xangô, que é padrinho da escola e está assentado pela agremiação, o casal representou o fogo da justiça na avenida.

Unindo a energia forte e justiceira de Xangô e a força e vigor do bailado elegante, altivo e clássico do casal da atual campeã do carnaval, as fantasias todas trabalhadas em vermelho e pedrarias, que segundo a coreógrafa do casal, Juliana Meziat, eram as camisas mais pesadas do Grupo Especial, o casal levou o pavilhão na cabeça da escola abrindo o terreiro Viradouro na avenida para a consagração de Malunguinho.

O experiente mestre-sala, Julinho Fonseca Nascimento contou ao CARNAVALESCO como ele recebeu a fantasia que representa tanto a espiritualidade da escola.

“É um grande presente que eu e Rute recebemos, desfilar representando a falange de Xangô, que é tudo que a Viradouro representa, aí vem toda a ancestralidade da Viradouro, todos aqueles que fizeram um dia pela Viradouro e ainda fazem todo mundo representado na gente e no nosso pavilhão. Quando a gente defende o pavilhão de uma escola, a gente representa tudo isso, e a fantasia por si só está representando. E é uma grande homenagem a Malunguinho, que a gente está fazendo através da falange de Xangô”, contou o Julinho.

Rute, que é uma mulher de axé, candomblecista que não esconde e sempre se emociona ao falar de sua fé, também se sentiu presenteada ao representar uma divindade tão importante para a Viradouro e para a sua vida também.

“Eu sou uma mulher de muita fé e eu sou muito grata, eu sempre me emociono quando eu falo da minha mãe Iansã. Então, eu vir representando o orixá, que não é minha mãe diretamente, mas é Xangô, o orixá da justiça, que reina com Iansã, estamos no ano deles. Então, eu fico emocionada, fico grata ao Tarcísio por pensar nesse carinho. No ensaio técnico, eu pedi para vir de Iansã, e que não tem muita ligação com o enredo. E ele foi lá, pesquisou, estudou e me liberou para vir. Então, foram dois presentes que o Tarcísio me deu, vir de Iansã no ensaio técnico e hoje representando o cara da justiça num ano de tanta intolerância, de tantas adversidades, mas eu tenho certeza de que vai ser lindo nosso desfile”, disse Rute emocionada.

Com a missão de traduzir em dança a essência do enredo, Rute e Julinho entraram na avenida com a responsabilidade de levar a força de Xangô em cada movimento. O bailado preciso e imponente do casal levará o pavilhão como um verdadeiro estandarte da justiça, unindo fé, tradição e arte em um espetáculo de devoção e resistência. Agora, eles compartilham a emoção de interpretar essa poderosa simbologia e os desafios de representar a energia do orixá no maior palco do samba.

“Neste nosso desfile, somos todos por essa reparação histórica na figura do Malunguinho. Hoje viemos com um bailado forte e potente. No sentido da energia que a gente passa, principalmente da minha porta-bandeira, e a gente poder vir com toda essa representatividade de Xangô, que tanto representa para a nossa escola, e a gente poder traduzir isso em dança, óbvio, com toda a leveza, com toda a harmonia, com todo o glamour, com toda a elegância que o mestre-sala e a porta-bandeira tem que apresentar, mas conservando principalmente as características de Julinho e Rute, que é muita energia e hoje a energia é concentrada em Xangô, nessa entidade maravilhosa que apadrinha a escola”, disse o mestre-sala.

Com cada passo cuidadosamente pensado, Rute e Julinho representam a força e a justiça de Xangô em sua dança. A simbologia do orixá se manifesta no bailado, na fantasia e na energia que conduz pelo sambódromo.

“Xangô estará no nosso bailado através da energia, nós vamos entrar com a energia de Xangô e com o seu axé, com a força da minha mãe Iansã. O Julinho faz um passo, tipo um xaxado, e de maneira sutil fazemos uma dança relacionada às religiões de matrizes africanas, mas a representatividade maior está na nossa fantasia e está na nossa dança”, declarou a porta-bandeira.

Viradouro Carnaval 2025: galeria de fotos do desfile

CLIQUE EM CADA IMAGEM PARA AMPLIAR A FOTO

Imperatriz Leopoldinense Carnaval 2025: galeria de fotos do desfile

CLIQUE EM CADA IMAGEM PARA AMPLIAR A FOTO

Unidos Padre Miguel Carnaval 2025: galeria de fotos do desfile

CLIQUE EM CADA IMAGEM PARA AMPLIAR A FOTO

Com duas águias, Nenê tem ótima noite do casal de mestre-sala e porta-bandeira

Buscando a correção nos quesitos, a Nenê de Vila Matilde desfilou neste domingo (02 de março) no Sambódromo do Anhembi, sendo a sexta a se apresentar no Grupo de Acesso I. Com excelente apresentação de Edgar Carobina e Graci Araújo, primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira do Quartel General de Bamba. A águia, símbolo da agremiação, também teve destaque por vir em dois momentos cruciais da apresentação: no abre-alas (em um azul que a destacou bastante) e no último carro (neste, em tons terrosos). A apresentação inteira teve 58 minutos.

* Seja o primeiro a saber as notícias do carnaval! Clique aqui e siga o CARNAVALESCO no WhatsApp

Sempre presente em tudo que envolve escolas de samba, o CARNAVALESCO traz a análise do desfile da onze vezes campeã do carnaval paulistano:

Comissão de Frente

Nene2025 Comissao1

Com o nome “O Encontro da Arte”, os componentes cumpriram muito bem o papel de apresentar o enredo da escola. Com um personagem vestido de trovador (segurando um alaúde), um de bufão (popularmente conhecido bobo da corte) e os demais de artistas mambembes. Coreografados pelo diretor artístico da Comissão de Frente, Fernando Lee, os componentes executaram uma coreografia animada e que tinha como objetivo mostrar um pouco do desfile que estava se iniciando. Vale destacar que o tripé, intitulado “Carroça Medieval”, tinha pouca participação no resultado do segmento.

Mestre-Sala e Porta-Bandeira

Primeiro casal da agremiação, Edgar Carobina e Graci Araújo desfilaram com uma fantasia chamada “Rei e Rainha Medieval” – que também já deixa claro qual era o papel desempenhado por eles na exibição.

Nene2025 PrimeiroCasal

Inteiros nas cores azul e branco e com uma indumentária com brilhantes estrategicamente posicionados que tornavam a roupa de muito bom gosto. A dupla, formada por profissionais bastante experientes e de alto gabarito, não surpreendeu: dançou muito bem, com Graci executando os giros com maestria e Edgar a cortejando muito bem – além do cada vez mais afiado samba no pé.

Enredo

De maneira bastante resumida, a Nenê de Vila Matilde falou sobre festejos populares brasileiros e a raiz comum de todos eles- tradições da Idade Média. Nessa linha cronológica bastante ampla, existem alguns fatos bastante relevantes que permeiam a temática: o clássico livro “Os Doze Pares da França” que falava sobre a guarda pessoal de Carlos Magno; e o Movimento Armorial, criado por Ariano Suassuna, para valorizar a cultura brasileira – e já reconhecendo o medievalismo em cada uma delas.

Nene2025 8

Dividido em três setores, o primeiro tem o nome de “Um Quê de Poesia” e fala sobre a era medieval e o trovadorismo. Depois, é a hora do setor “Um Tanto de Magia”, que mostra a influência do medievalismo em representações folclóricas brasileiras. Por fim, aparece o segmento “A Arte de Encantar o Imaginário Popular”, fincando raízes no país.

Alegorias

Nene2025 AbreAla

O abre-alas, “Era do Trovadorismo”, obviamente foi inteiro inspirado na Idade Média e possuía esculturas e itens que remetiam ao período em questão – além, é claro, da indefectível águia, símbolo da agremiação. Quase que inteiramente azul (incluindo a mascote), o carro trouxe boas soluções plásticas. O segundo, “Trupe de Artistas”, enquanto começa a mescla entre festejos brasileiros e inspirações medievais, tem uma estética bem mais colorida. Por fim, a última alegoria, “Relicário Armorial”, deixa explícita a retomada da cultura brasileira proposta pelo movimento criado por Ariano Suassuna. A surpresa no último carro é a presença de outra águia: se a primeira inicia a viagem, a segunda conclui – na tonalidade marrom, tal qual a alegoria, com temática nordestina.

Fantasias

Nene2025 Baiana

Majoritariamente exaltando movimentos medievais (como guardiões, nobres da corte e damas da Idade Média) e brasileiros (tal qual a cavalhada e as congadas), o grande mérito do conjunto de fantasias foi a simples assimilação para quem conhece cada uma das manifestações. Outra mescla muito bem pensada pela escola foi a altura de costeiros – algumas eram mais altas, enquanto outras tinham um teto menor. O que não falhava era o volume: todas tinham alguma representação e muitas tinham adornos – o que também ajudava no quesito Evolução. É importante destacar, porém, a lindíssima indumentária da Ala das Baianas: chamada de “Damas da Idade Média”, elas traziam o tradicional azul da Vila Matilde para o desfile da Nenê.

Harmonia

Nene2025 Passista

Historicamente, escolas de samba da Zona Leste de São Paulo são conhecidas pela força do chão das comunidades. A Nenê, terceira maior campeã do carnaval paulistano e grande vencedora do “Lado Leste”, novamente não decepcionou em tal aspecto. Mesmo com o potente sistema de som do Anhembi, era possível ouvir o samba ressoando no Anhembi.

Evolução

Nene2025 1

Com boa presença de fantasias volumosas, a movimentação dos componentes da escola criou uma dinâmica interessante na avenida – e a comunidade em geral se mostrava satisfeita com o que estava sendo apresentado. Houve, entretanto, um momento que pode ser mal interpretado pelos julgadores: enquanto o casal de mestre-sala e porta-bandeira se apresentava no segundo módulo, a ala à frente não parou de evoluir – criando um espaço próximo das seis grades, limite para não ser considerado passível de penalização.

Samba-Enredo

Nene2025 InterpreteAgnaldo

Dividindo opiniões entre quem acompanha o carnaval paulistano, a canção optou por mesclar alguns versos mais poéticos com outros mais objetivos. Vale destacar que, tal qual o enredo, a canção é escrita na visão da Águia, mascote da agremiação, que percorre locais e eras diferentes para contar a própria visão de tudo que viu e aprendeu. Como é de praxe, a obra teve excelente interpretação por parte de Agnaldo Amaral e foi muito bem sustentado pela Bateria de Bamba, sob o comando de Matheus Machado.

Outros Destaques

Reinando absoluta na frente da Bateria de Bamba, a rainha Gabriela Ribeiro.