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Fred Nicácio será destaque no desfile da Unidos de Padre Miguel

A Unidos de Padre Miguel anuncia que o médico, apresentador e ex-BBB Fred Nicácio será um dos destaques de seu desfile no Carnaval 2025. Conhecido por sua forte representatividade, carisma e engajamento em pautas raciais e sociais, Fred chega para somar à apresentação da vermelha e branca da Zona Oeste.

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Foto: Divulgação/UPM

Fred Nicácio esteve no barracão da escola, localizado na Cidade do Samba, Zona Portuária do Rio, onde conheceu de perto o projeto do desfile e ficou encantado com a grandiosidade da proposta.

Com um enredo que exalta a ancestralidade e a cultura afro-brasileira, a escola retorna ao Grupo Especial após 52 anos com “EGBÉ IYÁ NASSÔ”, uma emocionante celebração da história e do legado de Iyá Nassô, sacerdotisa africana responsável pela fundação do primeiro terreiro de candomblé registrado no Brasil.

A escola da Vila Vintém irá se apresentar no domingo de Carnaval, dia 02 de março, na Marquês de Sapucaí, abrindo a primeira noite do Grupo Especial.

Barracões Série Ouro: Estácio de Sá promete encantar na avenida com a história dos encantados amazônicos

A Estácio de Sá se prepara para entregar mais um bom desfile no Carnaval 2025. Isso porque ela fez uma ótima apresentação no ano passado, que lhe rendeu o terceiro lugar na Série Ouro. Agora, a vermelha e branca está com sede pela vitória, e para isso, aposta em um enredo que possibilita uma infinidade criativa dentro de um assunto já bastante abordado na avenida. De autoria do carnavalesco Marcus Paulo, “O Leão Se Engerou em Encantado Amazônico” fala sobre os povos originários do Brasil sob um novo olhar, explorando suas crenças e cultura através da história dos encantados amazônicos.

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O CARNAVALESCO esteve no barracão da escola para ver como essa narrativa está sendo materializada, e batemos um papo com Marcus Paulo, que nos contou como foi o caminho e desafios encontrados para chegar na escolha deste tema.

“A escola me deu essa missão de falar da Amazônia e contar a história dos povos originários, mas eu não queria, de verdade. Já não falaram muito do Brasil? A gente já vai para a Sapucaí esperando esse tema. Alguma escola vai fazer. Fiquei muito incomodado, porque há bem pouco tempo o Salgueiro fez um enredo muito bonito sobre isso, e a Porto da Pedra também, com o Mauro Quintaes, que é meu amigo, que trouxe o olhar de um estrangeiro que nunca foi para a Amazônia, mas tinha aquela visão de fora, do europeu pesquisador. Eu fui pesquisar muito contrariado, já inclinado a fazer outro enredo que gosto muito, que já está me acompanhando há muito tempo e ainda não consegui executar. Foi quando eu esbarrei com essa história dos encantados amazônicos, aí fiquei muito curioso para saber quem eram e porque a gente não ouve falar sobre eles aqui no Sudeste. Quem são? O que eles representam? O que está por trás desse arquétipo? O que significa isso? Eu fiquei muito curioso, e aí fui, mesmo que despretensiosamente, pesquisar mais sobre eles. Até porque eu gostei da palavra ‘encantados’. Acabei descobrindo que o que chega aqui para a gente como folclore, a Caipora, o Ganhabora, o Curupira… São encantados amazônicos, e para alguns povos originários, principalmente para o povo Tembé (indígenas), é como se fosse uma religião. Eles acreditam que esses encantados são a própria natureza que se gera para se autoproteger e para proteger o povo da mata (quem trabalha e vive da mata). E esses encantados me encantaram! Aí, eu falei: está aí o meu enredo! Eu vou falar de povos originários, mas desse aspecto. Vou falar da Amazônia, mas trazendo um olhar totalmente diferente do que já foi dito na Marquês de Sapucaí. Estamos contando a história dos encantados, como eles representam cada elemento, como defendem a floresta e como representam a cultura amazônica”.

Riqueza do foclore engerada na Avenida

O carnaval é uma festa popular que faz parte das manifestações culturais do nosso país, logo, tem essa ligação direta com o folclore brasileiro, que é rico e diversificado, e também conta com influências africanas, indígenas e europeias. Sabendo disso, Marcus aproveitou para extrair o que há de mais fantástico nessa junção, e usou a criatividade para transformar isso em arte.

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“O que me encantou nesse enredo é que eu pude viajar muito, porque essa história dos encantados é muito lúdica, muito rica de imagem, o que me fez carnavalizar muito minhas fantasias. Eu vim de um enredo um pouco mais documental do ano passado, que contava as histórias de duas meninas pretas escravizadas. Sempre defendo a minha sinopse dizendo que é uma história baseada em fatos reais, mas também carnavalizada e adaptada artisticamente. Eu sempre coloco ali o meu toque, mas esse ano eu pude fazer isso muito mais, porque para os povos originários e para quem vive na mata, a realidade se confunde com a fantasia. O que para a gente é fantasia, para eles é real. A partir daí, ficou um enredo muito bacana. O desfile está muito colorido e me permitiu fazer fantasias lindas”.

Poder da originalidade para se destacar entre as demais

Todo ano, cada escola de samba recebe o desafio de trazer algo jamais visto para o Sambódromo. Essa tarefa é difícil, mas ela não parece ter sido um empecilho para Marcus, que em vez disso, considera sua narrativa como o grande trunfo da escola neste ano. Ele ainda destaca a importância de um povo contar suas próprias vivências e narrativas, explicando como os pesquisadores devem dar voz aos contadores de estória para fazer um trabalho bem feito.

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“Estou trazendo cultura do povo da mata que ainda não foi contada dessa forma, com eles contando a história deles, apresentando o que são esses encantados, o que eles representam, como eles protegem e concebem cada elemento da floresta, demonstrando como eles são a força da própria natureza que se gera e se transforma em alguma coisa pra se autoproteger. Então, esse é o diferencial dentro de um tema muito explorado na Marquês de Sapucaí. Seja falando de Amazônia ou de povos originários, eu consegui pincelar um aspecto que não é tão explorado”.

Medo do desconhecido gera ignorância

O carnaval também cumpre o papel de levar informação para a sociedade. Através de uma jornada mística feita por seu leão mascote, o desfile da Estácio irá desmistificar os preconceitos criados em torno das lendas e mitos da Floresta Amazônica.

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“Esse ano, por exemplo, temos o enredo da Vila Isabel, que traz o Curupira como uma assombração. E como o Curupira se transformou em uma assombração? Foi quando o homem branco chegou para explorar e ouviu falar nesse ser dos povos originários, aí ele imediatamente o demonizou, assim como ele demonizou as religiões africanas. Como se tratava de um ser que causava medo a ele, que era dito por ali que se ele entrasse na mata para explorar, seria castigado, ele o colocou como um demônio. E, para o povo da mata, o Curupira é a maior força da natureza. Além dele ter esse nome, ele tem vários outros nomes. Ele se transforma em várias coisas, como rio, água, fogo, galho, árvore, cobra … E é dessa forma que a gente estará o retratando na Marquês de Sapucaí”, explica o artista.

Mas, afinal, o que é um engerado?

“Essa palavra eu descobri conversando com pesquisadores e folcloristas locais, porque nos meus trabalhos eu quero sempre trazer a visão de dentro, não do pesquisador de fora. Então assim eu soube o que é o engeramento, que além do incorporar, é se transformar, se mutar em alguma outra coisa. Uma árvore se transforma em animal, animal se transforma em água, que se transforma em rio, que se transforma em gente, ou pode ser metade rio, metade gente. Esse engeramento será o meu grande trunfo na avenida, porque as pessoas não verão um indígena como indígena, ou um animal como um animal, verão sempre tudo engerado, transformado. Inclusive, os protetores que perderam a vida protegendo a mata, como Dorothy Stang, Dom Phillips, Chico Mendes e vários outros. Eles retornam no nosso enredo, mas não na forma que eles tinham em vida, porque o povo lá acredita que eles se engeraram e se transformaram em outra coisa, em um outro animal e continuam ali. Eles não acham que eles saíram da floresta. No nosso enredo, nada é como é. Tudo está transformado, está engerado. É tudo muito colorido, porque a Amazônia é extremamente colorida, apesar de ser ‘verdona’ se vista de cima, pois quando você a adentra, descobre as cores vibrantes, cítricas, cores que a gente não percebe normalmente, os lilases, os laranjas, que tem ali nas minúcias da floresta. Então o meu desfile está bem colorido. É um enredo encantado mesmo. Não tem como ele dar errado, de verdade. Realmente, dá para brincar muito. É uma coisa muito lúdica, bem bonita”.

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Não se faz caraval sem grandes referências

Por trás de todo bom carnavalesco, há outros carnavalescos que já fizeram história no Carnaval. Marcus Paulo cita suas referências no ramo em que atua, e conta como seus ídolos influenciam o seu trabalho.

“Eu sou fã de Joãozinho Trinta e de Oswaldo Jardim. Eles criavam muito esses mundos deles. Joãozinho Trinta, em uma entrevista, foi cobrado sobre o fato de a África não ser do jeito que ele havia retratado. Ele trouxe alguma coisa que não existia lá. Aí, na época, ele falou ‘Se você quer ver a África, pegue um avião e vá para a África. Essa é a minha África’, então os meus enredos têm essa pegada. O carnavalesco tem que viajar. Ele é contratado pela arte e pela expertise dele. É um artista. Eu sou um artista. Procuro criar meus mundos dentro de mundos que já existem, colocando a minha carnavalização e as minhas fantasias, e esse enredo está me permitindo isso enormemente. Estou apaixonado, e acho que todo mundo vai se encantar com a obra”.

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Este é o terceiro ano do carnavalesco na agremiação estaciana. Com um currículo que inclui outros grandes nomes como Unidos da Tijuca e Unidos de Bangu, ele fala sobre a experiência de estar mais uma vez à frente de uma das queridinhas do samba.

“É uma escola que se identificou comigo e eu estou identificado com ela. Super bacana. Muito mesmo. Inclusive, eu já tenho um fechamento para o ano que vem, seja qual for o resultado, que será positivo. “O casamento está bacana. Está legal. Eu entendi o que é a Estácia de Sá e toda a sua grandeza. Por exemplo, a preocupação que eles têm com o maior símbolo deles, que é o leão. Eles gostam de ver o leão grandioso, bonito. O desfile de escolas de samba nasceu da Estácia de Sá. Ela criou o ritmo samba-enredo. Esse ritmo do samba enredo. Ela nasceu para isso. Para disputar e ser melhor que as outras, sempre com muito respeito entre si. É uma escola que se vê grande, independente da dificuldade. Eu cheguei e peguei uma escola muito apreensiva, vindo de dois desfiles anteriores com muitos problemas. O artista anterior não entendeu muito bem o símbolo dela, e veio muito pequenininho, fazendo com que o desfile não fosse legal. Não foram os anteriores. Eu peguei uma escola bem preocupada. Bem tensa. Desde o primeiro desfile no nosso casamento, a escola está muito alegre, querendo disputar o título e voltar para o Grupo Especial. Lotam a quadra nos ensaios, lotam a rua. Costumo dizer que eu estou em casa. Faço parte dessa família estaciana hoje em dia”.

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Mas nem tudo são flores. Com a pouca verba liberada para o Grupo de Acesso, os carnavalescos encontram muitas vezes dificuldades para executar suas ideias.

“Quando eu estava na Unidos da Tijuca, eu driblava essa condição, porque sabíamos que o presidente é um bom administrador, mas não é milionário igual os outros. A verba era sempre muito curta, e tínhamos que nos virar. Se buscarem por meus desfiles anteriores na Tijuca verão que não tinha luxo, mas as ideias estavam ali, bem colocadas e com boas soluções. Lá eu driblava, porque mesmo menos pomposa, tinha a verba. Aqui não tem o que driblar. Não é uma barreira que eu pulo e vou andar um pouquinho. Não tem verba, não tem poder público para olhar, não tem decência para a gente trabalhar, então temos que ser artistas ao pé da letra, estar com a arte sempre aflorada para criar alguma coisa que caiba minimamente no bolso, pois infelizmente precisamos de dinheiro, não tem jeito, não se faz carnaval sem dinheiro. Conseguimos driblar isso, minimamente, com ideias. Por exemplo, ideias para manter o visual que queremos, mas com materiais que fujam do comum do carnaval caro. Tem que ser tudo barato, mas eu procuro imprimir ali a forma do que eu quero passar com itens alternativos. Eu consegui no ano passado, temos o maior orgulho de ter levantado o troféu de terceiro lugar. Queremos mais esse ano, mas é uma escola feliz, e agora eu estou indo do mesmo jeito, disputando com escolas que divulgaram ter verbas pomposas e com outras que tem verbas duplas. Eu fui com a minha verba mínima e cheguei longe. Costumo dizer que a gente consegue fazer uma obra de arte tanto lapidando um diamante que custa milhões quanto pegando um pedaço de madeira e talhando. Tem esses dois lados da arte, e o luxo não é quesito. A obra precisa ser bem compreendida e bem desenvolvida. Eu não fico muito preocupado com dinheiro, se não tiver eu vou fazer do mesmo jeito. O que eu gosto como artista é criar. Não tem como ficar esperando alguém ganhar na mega sena ou fazer uma doação, você tem que fazer sua arte com o que tem, botar o pé no chão e tenta ser criativo o tempo todo. O que eu escrevo vira música, vira um samba-enredo que vai ser eternizado e depois transformado em elementos que compõem um desfile belíssimo que vai ser eternizado para a vida inteira. Como não ser feliz fazendo isso? Não tem nada que tire a minha felicidade, com dinheiro ou sem dinheiro”.

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Dentre as alternativas citadas pelo artista, está a reciclagem de materiais utilizados em desfiles anteriores.

“O pessoal vai ver materiais bem alternativos, até mesmo reutilizados, mas de formas diferentes. Esse ano a gente começou a trabalhar muito cedo, fomos testando várias possibilidades para achar as formas e as cores para representar essa cultura dos encantados que é muito colorida e muito diferenciada do que a gente está acostumado a ver”.

Conheça o desfile da Estácio de Sá

A Unidos do Estácio de Sá vem em 2025 com cerca de 2 mil componentes, 3 carros alegóricos e 1 tripé na comissão de frente. Marcus Paulo, ao CARNAVALESCO, fez a setorização do desfile da escola.

COMISSÃO DE FRENTE: Esta ala vem com dois elencos, contando com 27 bailarinos. A abertura começa com o ritual de engeramento, que é um ritual de pagelança para poder engerar o meu leão e apresenta-lo ao que é a Floresta Amazônica. Ele não é um animal da nossa fauna, está presente no continente africano e em outros cantos do mundo, mas no nosso país não tem. Eu brinco com essa coisa lúdica onde o pagé convida ele pra um ritual de pagelança e ali engera ele, o transforma ele em um encantado e o leva para conhecer cada elemento que compõe aquela Floresta Amazônica, a qual ele está sendo convidado a proteger. Então esse ritual do leão faz parte da minha comissão de frente e do meu primeiro casal. Ali está a minha abertura, até o abre-alas, que é esse leão totalmente engerado, imerso nesse universo da Amazônia.

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SETOR 1: No meu primeiro setor, o leão é recebido por Yamandacy, que é a encantada dona da mata. Os povos originários pedem permissão a ela para entrar na mata e terem um bom dia de caça, caso o contrário, eles se perdem. Aí, ela recepciona esse leão engerado, que recebe do pagé o nome de Guarini, que significa guerreiro lutador. Ela então o apresenta aos encantados que representam cada elemento dessa mata, como o que representa as pedras preciosas, o das riquezas profundas, o da vegetação rasteira, o das águas, o das grandes árvores, o do arco, e etc. Depois que ele os conhece, ele passa para o segundo setor.

SETOR 2: Aqui, Guarani conhece os encantados que protegem a floresta, e percebe que a ganância ou qualquer seja o sentimento que alguém tem ao entrar na floresta e na própria natureza, se volta contra ele e reverbera nesses encantados. É o encantado que percebe quando você entra com ganância e te prega peça, como trançar seu pé no cipó para que não consiga andar ou te cegar no meio da mata para você se perder do seu caminho. Eles têm umas artimanhas que te deixam tonto. Assim, ele passa a saber como é feita a
proteção da floresta.

SETOR 3: No terceiro setor, nosso leão conhece os encantados que representam as festas e os folclores da Mata Amazônia. As pessoas conhecem muito Parintins, não é? Mas lá tem uma centena de outros festivais. O Festival de Mocambo, o Fstival de Capiranga, o Festival folclórico de Manaus. E cada festival desse tem um encantado como representante. Por exemplo, a Adana Encantada, que é uma serpente que vive no fundo da ilha, representa o festival de Manaus. Os bois, que quando estão engerados ali com os tripa, que representam o festival de Parintins. E tem um outro festival que é representado por um Mocambo, por um cavalo marinho. Então, o leão também conhece esses encantados que representam cada festival. E no final, ele convida esses encantados a participar do nosso desfile aqui na Marquês de Sapucaí. Esse enredo é lindo. Estou literalmente encantado por ele. Espero que todo mundo se encante também”.

São Paulo afirma ter o ’maior carnaval de rua do Brasil’ e causa reação de cidades brasileiras

Uma publicação do perfil oficial da prefeitura de São Paulo no Instagram, realizada no dia 1º de fevereiro promovendo o carnaval de rua da cidade, repercutiu não apenas entre os cidadãos, mas também entre contas ligadas a outros órgãos municipais e estaduais brasileiros. No corpo do conteúdo, a conta paulistana exalta o recorde de 767 blocos inscritos para se apresentar no município ao longo de 860 desfiles que ocorrerão na temporada carnavalesca local.

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“O maior Carnaval de Rua do Brasil está chegando, amigos!

E esse ano vai ser gigante. São mais de 860 desfiles e 767 blocos inscritos que vão fazer a cidade toda ferver, pra animar os foliões da capital e turistas.

Prepare sua fantasia para uma festa histórica! As descrições e trajetos dos blocos devem ser publicados nos próximos dias

#CarnavalDeRuaSP #Carnaval2025 #PrefeituradeSaoPaulo”, diz a publicação.

A maior festa popular do mundo leva milhões de foliões às ruas de vários estados e cidades brasileiros, e os perfis oficiais de alguns deles reagiram à publicação paulistana. O governo da Bahia, as prefeituras de Belo Horizonte, Olinda, as contas oficiais dos carnavais de Olinda e Recife, além da Assembleia Legislativa de Pernambuco fizeram comentários no conteúdo.

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“ Calma, amiga. Respeita mainha! Antes de usar essa unidade de medida, é bom avisar a terra do Axé, né? ”, @govba

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“Uai, cês tão falando de carnaval? Podem ficar com a disputa do maior, que ficamos com o título de melhor.”, @prefeiturabh

“Oi, São Paulo! ”, @prefeituradeolinda

“Alguém me chamou aqui? ”, @carnavaldeolindaoficial

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“Maior Carnaval de rua do Brasil” ? Quem me chamou? ” @carnavalrecife

“Aham, Cláudia… senta lá!”, @assembleiape

O comentário do perfil da prefeitura de Recife, inclusive, gerou resposta por parte da conta de São Paulo.

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“Obrigada pela homenagem, @prefsp, qualquer coisa vai avisando. Só lembrando… o maior carnaval de rua em linha reta do universo começa dia 27. Ah… e se for chorar manda áudio! ”, comentou a @prefeiturarecife.

“Que bom que vocês gostaram da nossa homenagem @prefeiturarecife! São Paulo é a terra onde o Brasil se encontra. Aqui, a gente homenageia e celebra também a cultura e a alegria dos pernambucanos, baianos, cariocas… Com recorde de 767 blocos inscritos e a expectativa de atrair 15 milhões de foliões, São Paulo vai promover mais uma grande festa sem fronteiras, para todos os ritmos e gostos. Vai ter frevo, vai ter axé, vai ter samba, vai ter funk, e muito, muito mais. No ano passado teve Galo da Madrugada e este ano vai ter de novo  Venham todos se divertir conosco no maior carnaval do Brasil!”, respondeu a @prefsp.

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O perfil oficial da prefeitura de Salvador no X publicou um print da postagem de Sâo Paulo…

“E aí, @prefolinda e @prefrecife! Eu conto ou vocês contam?”, @prefsalvador

… Que chamou atenção da conta da cidade do Rio de Janeiro.

“”, @Prefeitura_Rio

 

Componentes revelam emoção de ver a União de Maricá ganhando força no cenário do carnaval carioca

As ruas foram tomadas na última sexta-feira pelos integrantes da União de Maricá para mais um ensaio de rua, preparando-se para o grande desfile. A escola será a sexta a pisar na Marquês de Sapucaí na disputa da Série Ouro, divisão de acesso do Carnaval do Rio de Janeiro. A energia e empolgação do ensaio reuniu intérpretes, passistas, mestre-sala e porta-bandeira, além da bateria “Maricadência”.

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Foto: Divulgação/União de Maricá

Com uma grande estrutura, a agremiação levará 1.600 componentes divididos em 18 alas e três carros alegóricos para brilhar na passarela do samba. O samba-enredo deste ano, cantado pelos intérpretes Matheus Gaúcho, Nino do Milênio e Bico Doce, “O Cavalo de Santíssimo e a Coroa do Seu 7”, é uma homenagem à mãe de santo Cacilda de Assis e ao exu festeiro e musical da umbanda carioca, Seu 7 da Lira, figura icônica das décadas de 1970 e 1980. Nas redes sociais, um vídeo publicado pelo CARNAVALESCO mostrou o entusiasmo dos integrantes cantando o samba com garra e emoção.

Resposta da comunidade

A reportagem conversou com alguns integrantes da comunidade sobre a emoção de ver a União de Maricá ganhando força no cenário do carnaval carioca. Elizabeth Santos Pimentel, de 58 anos, costureira e manicure, Suellen Pimentel, de 39 anos, técnica de enfermagem, e Maria das Graças, de 60 anos, costureira, falaram sobre a felicidade de representar a cidade na avenida.

As três moram em Maricá há diferentes períodos: Elizabeth há doze anos, Ellen há dez, e Maria das Graças há quase quatorze. Quando perguntadas sobre como é ter a escola de samba de Maricá representando-as no Sambódromo, Elizabeth expressou que estão lutando para ir com o Grupo Especial.

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Elizabeth Santos Pimentel, de 58 anos, costureira e manicure, Suellen Pimentel, de 39 anos, técnica de enfermagem, e Maria das Graças, de 60 anos

“Estamos lutando para chegar ao Grupo Especial. Para nós, isso é um sonho se tornando realidade. É maravilhoso ver a nossa escola crescer e saber que fazemos parte disso”, disse Elizabeth.

Ellen destacou: “O carnaval sempre fez parte da minha vida, mas agora, desfilar pela União de Maricá, que representa a nossa cidade, é uma experiência ainda mais especial”.

Maria das Graças complementou: “É uma emoção indescritível. Estar na Sapucaí pela primeira vez, com minha comunidade, é algo que jamais esquecerei”.

Sobre o carnaval, Elizabeth e Maria das Graças estão desfilando pela primeira vez em uma escola de samba, enquanto Ellen já teve essa experiência em outra escola. Quando questionadas sobre o que esperam do desfile, Elizabeth mencionou a emoção e a energia do evento, e todas concordaram que desejam ser campeãs no grupo especial, “se Deus quiser”.

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Foto: Divulgação/União de Maricá

“Queremos ser campeãs! Vamos entrar na avenida com garra e dar o nosso melhor para levar o título”, afirmou Elizabeth, enquanto Ellen e Maria das Graças concordaram.

Outra integrante que expressou sua emoção foi Miriam Passos, de 57 anos, diarista e moradora do Parque Nanci. Miriam desfila pela União de Maricá desde sua fundação e acompanha o crescimento da escola de perto. “Ver a nossa escola na Sapucaí é uma conquista enorme. Meu sonho é vê-la disputando de igual para igual no Grupo Especial”, declarou.

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Miriam Passos, de 57 anos, diarista e moradora do Parque Nanci

Para ela, acompanhar o crescimento da escola e vê-la na Sapucaí é emocionante. O sonho de Miriam, assim como o de muitos componentes, é ver a União de Maricá brigando de igual para igual no Grupo Especial. Com esperança e orgulho, ela acredita que, em alguns anos, a escola poderá estar no mesmo patamar das grandes agremiações de Niterói, São Gonçalo e do Rio, que não apenas brilham no carnaval, mas também têm um forte impacto social na comunidade.

“Se continuarmos crescendo dessa forma, em alguns anos, poderemos estar no mesmo patamar das grandes escolas de Niterói, São Gonçalo e Rio. Essas escolas têm um impacto social forte, e acredito que a União de Maricá também pode alcançar esse nível”.

Simone de São Lucas, de 52 anos, também compartilhou seu entusiasmo. Desempregada no momento, Simone vive em Maricá há sete anos e, após insistência da irmã, decidiu desfilar pela primeira vez. “Sempre gostei do carnaval, mas nunca pensei em participar. Minha irmã me convenceu e agora estou ansiosa para essa experiência!”.

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Simone de São Lucas, de 52 anos, também compartilhou seu entusiasmo

Ela contou que a sua irmã é apaixonada pela bateria da escola, e esse foi o principal motivo de desfilar. Para Simone, estar no desfile é uma forma de celebrar o crescimento da cidade e da agremiação, que agora briga por um lugar no Grupo Especial. Para ela, ver a União de Maricá ganhando força e reconhecimento no carnaval é motivo de grande orgulho e uma bênção para todos os moradores.

“A nossa cidade está cada vez mais forte no cenário do carnaval, e estar na Sapucaí é uma grande conquista. Ver a bandeira da União tremulando ali é emocionante”, afirmou.

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Com uma comunidade vibrante e determinada, a União de Maricá segue sua preparação para mostrar na avenida que merece sim seu espaço no Grupo Especial. Com um enredo marcante, uma equipe dedicada e componentes cheios de paixão, a escola prometeu um desfile inesquecível.

Para alcançar a melhor performance possível, a escola ainda realizará quatro ensaios antes do desfile principal: três deles ocorrerão em Maricá nos dias 7, 14 e 21 de fevereiro, enquanto o ensaio técnico na Sapucaí será no dia 9 de fevereiro. A expectativa dos componentes é alta, e a preparação segue intensa.

Série Barracões SP: Brinco da Marquesa volta organizada e ‘com sangue no olho’ para o Grupo de Acesso II

Os últimos anos foram agitadíssimos para o Brinco da Marquesa. Em 2023, a escola foi rebaixada do Grupo de Acesso II e, no mês de abril, sofreu uma reintegração de posse orquestrada pela Subprefeitura do Ipiranga, perdendo a antiga quadra da escola – situada na Rua Dom Vilares, na Vila Brasilina. Em 2024, entretanto, a volta por cima veio: a agremiação foi campeão do Especial de Bairros da União das Escolas de Samba de São Paulo (UESP) – quarto grupo do carnaval paulistano. Voltando aos grupos da Liga-SP e ao Anhembi, a instituição virá, em 2025, com o enredo “A Marquesa na Cidade do Amor”, nono a ser exibido no sábado anterior à folia (22 de fevereiro, data já tradicional do terceiro pelotão da cidade), idealizado por uma comissão de carnaval.

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Fotos: Will Ferreira/CARNAVALESCO

Para conhecer um pouco mais sobre a produção do desfile para 2025 e, também, sobre o enredo em si, o CARNAVALESCO conversou com um dos integrantes da comissão de carnaval da agremiação Rogério Monteiro, popularmente conhecido como Sapo – que vai para o segundo ano na instituição.

Pragmatismo

Ao ser perguntado sobre a ideia que gerou o enredo, Sapo destacou o quanto o foco da escola é se integrar novamente ao Grupo de Acesso II: “O enredo surgiu através da comissão do carnaval e da diretoria da escola. Eles criaram um enredo de fácil assimilação, um enredo leve porque, até então, a escola tinha a ideia de que ela seria uma das duas primeiras a desfilar. Ela queria abrir o desfile com um enredo leve, um enredo que fale da cidade de São Paulo. O Brinco da Marquesa tem uma ligação muito forte com a cidade de São Paulo – e, quando foi apresentado a ideia para a diretoria, foi um enredo que de pronto agradou a escola. A única coisa que foi colocada da parte da diretoria é que a Marquesa, que é o símbolo da escola deveria contar essa história. É ela quem visita os cantos da cidade e fala da evolução da cidade de São Paulo – desde a chegada dos imigrantes para cá, dos migrantes que construíram a cidade de São Paulo até a cidade nos dias atuais”, pontuou.

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Vale destacar o trecho “até então, a escola tinha a ideia de que ela seria uma das duas primeiras a desfilar”. Como é de conhecimento público, em 2025, a Liga-SP inovou e aboliu o sorteio para a ordem de desfiles, fazendo com que a escolha do posicionamento seja feito de acordo com a classificação de cada escola de samba no ano anterior – a melhor escolhe primeiro, a segudna melhor na sequência e assim sucessivamente.

Pesquisa e características

Com a ideia do enredo já aprovada pela direção marquesense, naturalmente, veio toda a busca por informações para construir a história a ser apresentada no Anhembi. De acordo com Sapo, a quantidade de pessoas envolvida na construção da cidade de São Paulo foi um aspecto marcante na pesquisa: “O que mais me chamou atenção é que São Paulo é feito por vários braços. Quando se fala de São Paulo, é uma coisa meio óbvia falar dos migrantes, falar dos imigrantes. Mas a ideia do enredo, na verdade, não é contar a história da cidade de São Paulo: é, sim, contar nuances da cidade de São Paulo, particularidades e peculiaridades que tem na cidade de São Paulo. Os parques, a gastronomia, o esporte, o lazer. Não é um enredo contando a história da cidade de São Paulo. Na verdade, são duas vertentes do enredo: os carros alegóricos contam a construção da cidade – e o segundo carro, em especial, a cidade em evolução. O destrinchar da escola conta essa chegada dos imigrantes e a contribuição dos imigrantes e imigrantes para a cidade de São Paulo – e, depois, os vestígios que ele deixou na cidade de São Paulo, como nos parques, no teatro, nas artes e no mosaico cultural que é São Paulo”, comentou.

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Logo depois, um dos carnavalescos destacou, imageticamente, algumas características importantes sobre o desfile: “É um enredo bem colorido, o que a gente pode adiantar é que as fantasias são bem coloridas – e, ao mesmo tempo, leves; mas grandes, porque a gente procurou colocar a escola sempre para o alto, para a evolução, com penas. Todas as fantasias são bem altas – mas, ao mesmo tempo, elas são leves para a fácil locomoção dos componentes. E os carros alegóricos, por mais que eles não sejam aqueles monstros gigantescos, já que foi uma opção da escola vir com os carros menores, sãocarros bem acabados. Quem bate o olho no carro sabe que ele falando de São Paulo. É isso que todo mundo vai ver. Tanto no barracão quanto na avenida, você vai ver que tudo tem uma ligação muito forte com a cidade”, pontou.

Sem setorização

Como está se tornando comum em desfiles de carnaval, Sapo entende que o desfile do Brinco da Marquesa não será dividido em setores: “O enredo é corrido, não tem um setor a setor. Justamente por ser o Grupo de Acesso II, por ser um desfile mais curto, o enredo não é dividido por setores. O enredo começa com a chegada dos migrantes nordestinos para São Paulo, construindo essa cidade. O carro abre-alas é a cidade em evolução, a gente vê chaminés industriais e engrenagens. A engrenagem move muito a cidade de São Paulo e ela também move o enredo, por consequência. Tanto no abre-alas quanto no segundo carro a engrenagem é uma figura bem presente, porque é uma cidade em evolução constante. Então não tem uma setorização habitual. É um enredo descritivo, corrido, e o ponto de ligação que faz o primeiro setor – que é o setor que fala dos espanhóis, que fala dos imigrantes, dos italianos. No meio do desfile, que trata dessa construção da cidade, a transição da cidade antiga para a cidade moderna. E, quando a cidade é moderna, a gente fala de museus, astronomia, teatro, esporte, cultura. No primeiro setor é mais a parte da cidade em construção, dos migrantes, imigrantes e a contribuição deles para a cidade de São Paulo, o legado que eles deixaram na cidade de São Paulo, partindo para as nuances que hoje tem na cidade atual”, explicou.

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Trunfos – no plural

Quando perguntado sobre qual seria o grande fato capaz de levar o Brinco da Marquesa além, Sapo começou contando um pouco da própria história na agremiação para destacar qual seria esse trunfo: “Eu cheguei na escola no ano passado, na UESP. Eu cheguei para contribuir com as alegorias também do Especial de Bairros, porque a gente percebe que a escola mudou a mentalidade que ela tinha antes. Ela ainda tinha um sistema de trabalho muito artesanal. Quando a gente chega na Liga-SP, a gente tem que ser profissional – e o presidente Adriano Bejar implementou isso já no Especial de Bairros. Aquele modelo de fantasia que é feito com aquela tiazinha da comunidade, aquele senhorzinho que está vindo para ajudar ou com aquele mutirão, o Adriano mudou. Ele profissionalizou o ateliê da escola – e assim também foi com as alegorias, que é o momento em que eu chego. Ele colocou responsáveis de cada setor para profissionalizar a escola. O grande trunfo do Brinco e a grande virada de chave do Brinco é chegar com essa organização nos grupos da Liga-SP novamente. Com o ateliê de fantasias, hoje é possível falar tranquilamente que está tudo cem por cento pronto, porque ele pegou um grupo de trabalho muito forte. Nas alegorias, você vai ver também que ela está bem adiantada, porque ele procurou separar: quem faz fantasia não mexe com alegoria, e quem é diretoria corre atrás só dos recursos e não fica palpitando no trabalho. O grande trunfo do Brinco é a organização. O Adriano organizou bem a escola e, com isso, ele conseguiu subir”, orgulhou-se.

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Antes de encerrar a explicação, porém, ele aproveitou para adicionar mais um ingrediente no poço de confiança marquesense: “E o maior trunfo de uma escola que sobe é a motivação. Eles estão com garra, estão com vontade, estão com determinação. A ordem do desfile contribuiu muito para eles se motivarem dessa maneira. A partir do momento que você sobe, você sabe que vai abrir ou fechar. Vai abrir ou vai ser a segunda. E, a partir do momento em que ele está no meio do desfile, quase encerrando a noite, é a penúltima, ele está no bolo, ele está na briga. o jurado já viu quase tudo, então ele sabe como ele pode pontuar ou despontuar. é fazer o arroz com feijão – e, quem sabe, eu vou ganhar o Grupo de Acesso II, que é o sonho da escola”, suspirou.

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Dentro do cronograma

Mesmo assumindo que, no dia da visita da reportagem, os trabalhos ainda não estavam integralmente concluídos, Sapo demonstrou extrema tranquilidade ao falar do andamento dos trabalhos no barracão do Brinco da Marquesa: “O barracão de alegorias eu posso falar que, no dia 24 de janeiro, está hoje oitenta por cento pronto. Não são carros grandes, mas são carros bem acabados. Um jornalista fala que meus carros alegórios são como se fossem umas caixinhas de presente: toda bem acabadinha, bem feitinha. Eu estou primando por isso. O Adriano me contratou justamente com esse intuito, de fazer carros bem acabados, bem detalhadinhos, com todos os detalhes, tem placa em toda parte do carro. A gente começou tarde, começamos no finalzinho de outubro, início de novembro. Mas, graças a Deus, a gente finalizou um carro no mês de novembro mesmo, e esse segundo carro, que é o abre-alas, que está dando um pouquinho mais de trabalho, mas a gente finaliza agora no final do mês. Está tudo tranquilo. Lógico que a gente vai deixar muita coisa para fazer lá. Eu acho que o Grupo de Acesso II ganha muito ao desfilar com dias de antecedência. Por mais que seja uma semana antes, ele consegue ter uma gama de profissionais para trabalhar uma semana antes que já está meio que terminada do Grupo de Acesso I e do Especial. Eles vão lá, ajudam e depois voltam a montar seus carros nos outros grupos. Eu acho que é um ponto positivo. É uma semana que perde, mas também é uma semana que você fica livre. Acabou o desfile e você sai para o abraço. Está tudo bem tranquilo. Eu sei que a comissão de frente ainda está em andamento de execução, mas eu sei também que os casais já estão em processo de finalização, as composições da escola e de alas já estão prontas em relação à fantasia. O que está em finalização é comissão de frente e casais”, finalizou.

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Ficha técnica

Título do enredo: “A Marquesa na Cidade do Amor”
– Componentes: 800 componentes
– Alas: 10 alas

– Alegorias + tripés: Duas alegorias, zero tripés
– Diretor de Barracão: Comissão de Barracão
– Diretor de Ateliê: Comissão de Ateliê

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Entre troféus, bandeiras e saudade, família de Laíla abre as portas de sua casa e emociona ao relembrar a vida e o legado do mestre que revolucionou o carnaval

O tempo passa, mas a ausência de Laíla ainda é sentida por todos que admiravam seu trabalho. O lendário diretor de carnaval foi o comandante da construção de uma hegemonia impressionante e teve participação direta em todos os 14 títulos conquistados pela Beija-Flor de Nilópolis no Grupo Especial. Esse ano, ele recebe uma justa homenagem.

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Fotos: Luan Costa/CARNAVALESCO

Conhecido por sua seriedade na avenida e paixão pelo samba, Laíla deixou um legado não apenas na Marquês de Sapucaí, mas também dentro de casa. Foi lá que o CARNAVALESCO foi recebido pela família, que abriu as portas para um bate-papo repleto de história, emoção e saudade. Marli da Silva, esposa de Laíla, e seu filho Cláudio Ribeiro, contaram várias curiosidades sobre o mestre.

Relíquias e Fé

No quarto repleto de prêmios, jornais antigos, bandeiras da Beija-Flor e imagens religiosas, tudo segue intocado, como se ele ainda estivesse ali, zelando por sua coleção de lembranças. Cada item tem uma história, um pedaço de uma trajetória marcada pelo amor ao carnaval e pela busca pela perfeição na avenida. “Ele tinha carinho por tudo isso aqui. Nada podia ser jogado fora, nada podia estragar. Tanto que tem coisas aqui de mais de 30 anos. Desde a época do Salgueiro. É até difícil dizer qual ele tinha mais carinho.Ele guardava tudo com muito cuidado”, conta a viúva de Laíla, emocionada ao relembrar a dedicação do marido.

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Além dos troféus e dos registros históricos, outro elemento que se destaca são as guias e imagens religiosas. A fé de Laíla era parte essencial de sua vida e de sua preparação para os desfiles. “Ele mantinha um altar em casa, mas, depois que ele faleceu, eu não tinha como cuidar. Chamamos um Pai de Santo para fazer uma limpeza e retirar tudo”, relembra dona Marli.

Apesar da imagem rígida e exigente que Laíla transmitia no carnaval, dentro de casa ele era um homem tranquilo, que adorava reunir amigos e familiares.

“As pessoas achavam que ele era bravo, mas aqui ele era diferente. Gostava de sair, tomar uma cerveja, brincar com as crianças. Nossa casa vivia cheia, principalmente nos finais de semana. Ele fazia questão de estar perto de quem amava. Ele contava várias histórias, explicava por que ganhou, por que não ganhou. Ficava muito orgulhoso de mostrar isso, trabalhou muito, mas isso o orgulhava demais”, conta dona Marli.

A perda

Laíla morreu no dia 18 de junho, aos 78 anos, vítima de uma parada cardíaca. Sua partida deixou um vazio imenso no mundo do samba e, principalmente, em sua família. A perda foi um golpe duro, agravado por outra dor imensurável: poucos dias depois, sua filha, Denize da Silva, também faleceu. “Foi um baque muito grande, ainda está sendo. Eles eram muito unidos. Sempre que chega essa época de carnaval, a lembrança vem com mais força. A ausência dele ainda pesa no dia a dia. Apesar de estar sempre no barracão, sempre ocupado, faz falta para mim, para as crianças, para os netos, para os bisnetos. Ele era o elo da família. Gostava de unir todo mundo”, desabafa a viúva.

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O carinho e a presença de Laíla ainda vivem nas lembranças de quem o amava. “Meu pai sempre cuidou muito bem de mim, mesmo com a correria, ficaram as boas lembranças, como minha mãe falou, sempre foi um paizão, muito família, sempre procurou cuidar de todo mundo, um coração muito grande. Saudades a gente tem pra caramba, ele nos deixou de uma maneira que ninguém esperava, para todos nós a despedida dele seria dentro do samba, mas não era o destino”, conta com carinho Cláudio Ribeiro, filho de Laíla.

Dia a dia do Mestre

Laíla vivia para o carnaval. Nos meses que antecediam os desfiles, quase não parava em casa, dedicando-se inteiramente à Beija-Flor. Sua esposa lembrava bem dessa rotina intensa: “Antes do desfile, ficava o tempo inteiro no barracão. Mas nunca se via ele nervoso, não tinha isso. Ele era sempre centrado naquilo que queria fazer”.

Muita gente o enxergava como uma figura rígida e imponente, e na avenida essa imagem se confirmava. “Ninguém via ele sorrindo! Sempre sério, sempre concentrado, sempre dando esporro em um, gritando. Mas, dentro de casa, ele mostrava um outro lado, mais tranquilo. Em casa, ele não era de falar muito, de conversar demais, mas era uma pessoa calma. Era tranquilo”, comentou dona Marli.

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Com o tempo, Laíla foi deixando de lado um pouco da sisudez que muitos associavam a ele. “Quando era mais novo, era mais sisudo. Talvez, achasse que isso impunha mais respeito. Mas depois, foi se abrindo mais, já sorria, coisa que antes quase não fazia. Ainda assim, sua postura séria gerava interpretações equivocadas. Até hoje falam: ‘Tinha medo do seu marido!’ Mas medo de quê? Era a figura dele… Talvez, tenha sido o jeito dele de se impor”.

A competitividade que mostrava dentro da escola também se refletia no seu ritmo intenso de trabalho. “No dia a dia, ele pouco parava. Era barracão, viagens para seminários de harmonia, trabalho em outras escolas… Quando chegava, queria dormir. Se não tirasse a soneca depois do almoço, ninguém aguentava. Mas, ao mesmo tempo, Laíla também sabia aproveitar os momentos de lazer. Toda oportunidade era um motivo para juntar gente aqui. ‘Ah, vamos botar um peixinho na brasa…’ Daqui a pouco tinha 10, 15, 20 pessoas. Ele adorava estar com os amigos, com os netos… Depois que vieram os bisnetos, mais ainda”.

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O que poucos sabiam é que ele tinha um carinho especial por crianças e gostava de casa cheia. “A casa vivia cheia de crianças. Pegava as crianças da rua e enfiava na piscina. Ele gostava de casa cheia, principalmente no fim de semana, quando ficava livre.

A neta, Amanda Ribeiro, falou da coleção de conquistas do avô que são guardadas na casa: “Essa sala de troféus, prêmios, recordações, já existe há muitos anos. Ele fazia questão de reunir tudo o que podia, desde a época do Morro do Salgueiro, pra lembrar que tudo o que conseguiu foi com muita luta, suor e trabalho! Todas as vitórias do meu avô sempre foram muito merecidas. Ele vivia o carnaval de corpo e alma os 365 dias do ano e mostrava pra gente o valor do trabalho árduo. O que o público viu na Avenida no último sábado, no ensaio técnico, foi fruto do que ele plantou: uma comunidade aguerrida, de chão forte. O rolo compressor tá de volta e vai cruzar a Sapucaí pra fazer história em homenagem ao maior de todos os tempos! Tenho muito orgulho de ser neta dele”, disse.

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Antes dos desfiles, a tensão aumentava, mas ele não demonstrava abertamente. “Deus me livre se a gente atrasasse ele! Tinha que sair daqui para a avenida no horário certo.” Com o passar dos anos, aprendeu a dividir mais as responsabilidades. “Depois, com o tempo, ele já dividia mais as funções, cada um tinha seu setor.”

Homenagem da Beija-Flor

Na Beija-Flor, porém, tudo mudava. Ele se transformava na avenida, assumindo o papel de líder incansável. E essa entrega fez com que conquistasse sua comunidade e hoje fosse celebrado como uma das maiores figuras que já passaram pela escola. Neste carnaval, Laíla será imortalizado na Marquês de Sapucaí no enredo “Laíla de todos os santos, Laíla de todos os sambas”. Um tributo à sua trajetória, à sua genialidade e à sua dedicação ao samba.

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Para a família, a homenagem vem carregada de emoção e gratidão. “Acho que ele estaria feliz. No fundo, ele sabe o trabalho que fez, o quanto lutou pela escola. E não só pela Beija-Flor, ele ajudava qualquer escola que precisasse. Sempre estava pronto para ouvir samba, ajudar. Então acho que lá onde ele está, deve estar muito feliz. Nós também estamos muito gratos por essa homenagem”, conta Marli.

A decisão de aceitar a homenagem não veio de imediato. No início, a família ficou dividida. “Primeiro ficamos assim… ‘Faz? Não faz? Deixa? Não deixa?’ Mas pensamos: ‘Ele gostaria, então vamos ajudar, fazer de tudo para dar certo.’ E, graças a Deus, está fluindo”, pontuou a viúva.

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Para Cláudio, o pai sempre foi mais do que um mestre do carnaval, era também um ídolo. A relação entre os dois dentro do samba se estreitou apenas mais tarde, já que Laíla fazia questão de separar trabalho e família. Agora, ao ver a Beija-Flor se preparando para homenageá-lo, Cláudio sente a presença do pai em cada detalhe.

“A vida dele era toda voltada pra carnaval, eu passei a conviver com ele no samba depois de velho, ele mesmo preferia afastar a gente um pouco, acho que pra separar isso de trabalho e família. Ele era um ídolo pra mim, além de pai, um ídolo. Eu vou apresentar Claudinho e Selminha, no último ensaio de quadra eu senti a presença dele, pessoalmente senti a presença, estava fazendo meu trabalho, mas a emoção foi muito grande. Acho que a escola vem de uma maneira que vai arrastar toda a Sapucaí, ele brigava por aquela comunidade e eu tô sentindo que eles virão com tudo para honrá-lo, com muita emoção”, finaliza Cláudio, emocionado.

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Na contagem regressiva para o Carnaval, Rio Praia Camarote promove ‘Esquenta’ no domingo

Já é carnaval na Cidade Maravilhosa e o Rio Praia Camarote entra no clima da folia realizando mais uma edição do “Esquenta rio Praia”, evento que acontecerá no dia 09 de fevereiro, a partir das 17h no Grand Caballero Lounge & Bar, reunindo a nata do samba carioca.

Para esta edição, quem comanda a roda de samba é o grupo Confraria Carioca. O quinteto, formado por Rodolfo Marques, no tantã, Endrigo Manhães, no pandeiro, Felipe Araújo, no surdo, Cezar Filho, no violão, Lucas Bernardo, no cavaco , Nanda Monteiro nos vocais, é reconhecido pelo samba raiz. Assim como na primeira edição, a Bateria da Mocidade Independente de Padre Miguel também se apresenta levando o carnaval para o espaço localizado na Barra da Tijuca.

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Foto: Daniel Pinheiro/Divulgação Rio Praia

Os ingressos para garantir um fim de domingo no clima do Rio Praia custam R$50, sem consumação incluída. Mais informações pelo telefone 21 99994-3632. O Grand Caballero Lounge&Bar fica na Avenida Ayrton Senna, 2541 – Barra da Tijuca, dentro do estacionamento do Shopping Aerotown.

Serviço: Esquenta Rio Praia Camarote
Data: 09 de fevereiro, domingo
Atrações: Bateria da Mocidade Independente e Grupo Confraria Carioca
Horário: a partir das 17h
Local: Grand Caballero Lounge&Bar (Av. Ayrton Senna, 2541 – Barra da Tijuca- estacionamento do Shopping Aerotown)
Valor: R$50 (consumação não está incluída)
Informações: 21 99994-3632
Classificação: 18 anos
Capacidade da casa: 400 pessoas

Comlurb inicia podas preventivas de árvores no roteiro dos carros alegóricos até o Sambódromo

A Comlurb iniciou podas preventivas no trajeto dos carros alegóricos, da Cidade do Samba, na Gamboa, até o Sambódromo. O objetivo é proteger as árvores e os carros alegóricos das escolas de samba de eventuais acidentes, devido às manobras com veículos de grandes dimensões, comuns nesta época do ano.

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Foto: Divulgação/Comlurb

O serviço segue até uma semana antes do desfile na Passarela do Samba, e está sendo realizado durante a madrugada para não causar nenhum transtorno no trânsito ou atrapalhar a dinâmica da cidade. No roteiro estão a Avenida Venezuela, a Rua Sacadura Cabral, a Avenida Rio Branco e a Presidente Vargas. A poda será feita também nas árvores na área interna da Passarela do Samba.

Parque de Ideias tem programação de Carnaval gratuita com Milton Cunha, Luiz Antônio Simas e Leonardo Bruno

A programação de fevereiro do Parque de Ideias já está em ritmo de Carnaval. O projeto, idealizado por Marcio Debellian, leva programação gratuita para a Biblioteca Parque Estadual, no centro do Rio de Janeiro, e convida Milton Cunha, Luiz Antônio Simas e Leonardo Bruno para três atrações especiais que exploram diferentes aspectos da festa mais popular do país. As atividades acontecem entre os dias 10 e 26 de fevereiro e incluem uma oficina sobre desfiles marcantes, uma aula magna sobre a história do Carnaval no Rio e uma imersão no universo dos figurinos carnavalescos. Toda a programação é gratuita.

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Foto: Divulgação

Abrindo as atividades, nos dias 10 e 14 de fevereiro, das 14h às 17h, o jornalista, escritor e diretor Leonardo Bruno ministra a oficina “Os 10 Desfiles Inesquecíveis dos Últimos Tempos”. Pesquisador do Observatório do Carnaval no Museu Nacional (UFRJ), autor de livros como “Explode, Coração: Histórias do Salgueiro” e “Cartas para Noel: Histórias da Vila Isabel”, e diretor da série “O Samba Me Criou”, Leonardo relembra momentos marcantes dos desfiles das escolas de samba do Rio, trazendo análises e curiosidades sobre os grandes espetáculos da Sapucaí.

No dia 17 de fevereiro, das 14h às 16h30, o historiador e escritor Luiz Antônio Simas conduz a palestra “As Culturas de Festas da Praça Onze”, local emblemático do Carnaval do Rio, responsável pelo surgimento do samba carioca e da tradição dos desfiles. Simas é especialista nas tradições ancestrais brasileiras e autor de mais de 23 livros sobre cultura e religiões populares, incluindo “Dicionário da História Social do Samba”, que lhe rendeu um Prêmio Jabuti em 2016, e “Samba de Enredo: História e Arte”.

Encerrando a programação carnavalesca, no dia 26 de fevereiro, das 10h às 12h, Milton Cunha ministra a palestra “Figurinos de Carnaval”. Doutor em Letras pela UFRJ, com pós-doutorado em História da Arte, Milton é conhecido por seu trabalho como comentarista na TV Globo e outras emissoras, além de sua atuação como cenógrafo de espetáculos no Brasil e no exterior. A aula aborda o processo de criação dos figurinos que desfilam nas avenidas e revela detalhes dos bastidores criativos da festa.

Sobre o Parque de Ideias

O Parque de Ideias é idealizado pelo documentarista Marcio Debellian (“Fevereiros”) e tem como objetivo levar programação cultural e educativa às bibliotecas públicas da cidade. Os eventos incluem shows, cursos em parceria com a PUC-Rio, oficinas literárias, exibições de filmes, palestras e encontros com artistas e criadores.

Nos últimos meses, o projeto recebeu artistas como Adriana Calcanhotto, Gilberto Gil, Lenine, Zélia Duncan, Elisa Lucinda, Gregório Duvivier, Conceição Evaristo e ofereceu mais de 500 horas de aula em cursos e oficinas, criando um público cativo e interessado na programação. Mais de 7.800 pessoas participaram de todas as atividades oferecidas pelo Parque de Ideias entre 2022 e 2023.

O Parque de Ideias é uma realização Debê Produções com patrocínio do Instituto BAT, Vivo, Energisa e Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado do Rio de Janeiro, através da Lei Estadual de Incentivo à Cultura.

SERVIÇO PARQUE DE IDEIAS
De 10 a 26 de fevereiro de 2025
Local: Biblioteca Parque Estadual – Av. Pres. Vargas, 1261, Centro – Rio de Janeiro
Instagram Parque de Ideias: @parque_de_ideias
Site: https://linktr.ee/parqued
Grátis. Livre.
Para participar é necessário se inscrever através do site

OFICINA “OS 10 DESFILES QUE MUDARAM A HISTÓRIA DO CARNAVAL” COM LEONARDO BRUNO
10 e 14 de fevereiro, das 14h às 17h

PALESTRA “A CULTURA DAS FESTAS NA PRAÇA ONZE” COM LUIZ ANTÔNIO SIMAS
17 de fevereiro, das 14h às 16h30

PALESTRA “FIGURINOS DE CARNAVAL” COM MILTON CUNHA
26 de fevereiro, das 10h às 12h

Série Barracões: Mangueira busca fazer justiça histórica aos apagamentos das influências bantu no cotidiano carioca

A Estação Primeira de Mangueira trouxe para o Carnaval 2025 um talento da Terra da Garoa para comandar seu carnaval. Sidnei França já exerce o ofício de carnavalesco desde 2009 em São Paulo, onde conquistou cinco campeonatos pela Mocidade Alegre e pela Águia de Ouro, e atualmente é responsável há dois carnavais pelo Vai-Vai. Foi com essa bagagem que ele foi convidado pela presidente Guanayra Firmino para assinar o carnaval da Verde e Rosa. Cria da Morada do Samba, Sidnei buscou fazer do seu trabalho no Rio uma folha em branco por conta das diferenças entre os carnavais das duas maiores cidades do país, e enquanto pensava em qual seria o melhor enredo para a Mangueira, foi apresentado por um amigo a um livro, nascido como uma tese de mestrado, que propõe uma investigação sobre a origem dos escravizados que chegaram ao Cais do Valongo, Zona Portuária do Rio, que eram em sua imensa maioria bantus. A partir deste fato, o carnavalesco encontrou a história a ser contada na Sapucaí, em forma de homenagear o legado deixado por esses povos na construção da cidade e da identidade carioca, com o enredo “À Flor da Terra – No Rio da Negritude Entre Dores e Paixões”.

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Carnavalesco Sidnei França, da Mangueira
Carnavalesco Sidnei França, da Mangueira

No início da série de barracões do Grupo Especial, o CARNAVALESCO entrevistou Sidnei França, que deu os detalhes de como foi esta busca pelo enredo na Mangueira e como ele viu a necessidade de falar sobre a contribuição dos bantus para a cultura carioca.

“Quando a Mangueira me contratou, eu falei, vou ter que pensar uma coisa muito legal. Primeiro que é uma escola potente para discursar, a narrativa da Mangueira sempre ressoa de uma forma muito forte, trata os assuntos e aquilo sobe e vira um acontecimento, tanto que poucas escolas homenageiam como a Mangueira. Tem Bethânia, Chico Buarque, Alcione. Ela tem uma força narrativa que faz com que algo que em outra escola fosse apenas um bom enredo vire algo gigantesco. Já morando aqui no Rio, frequentando o barracão, montando equipe de trabalho, e sempre pensando, eu tenho um amigo aqui do Rio que é professor de história e, nessa fase de definir enredo, ele me entregou a dissertação de mestrado do professor Júlio César Medeiros que escreveu “A Flor da Terra”. Depois, ele publicou em livro e queria investigar quem era e de onde vinham os pretos que desembarcavam no Cais do Valongo. O trabalho dele começou a criar números e estatísticas a respeito de quem eram e de onde vinham aquelas pessoas, e 80% dos pretos que chegaram no Rio escravizados através do Cais do Valongo eram bantu. Se você pensa que mais de três milhões de pretos foram desembarcados, 80% é muita gente. Foram escravizados e ocuparam a cidade do Rio de Janeiro. Estavam nas ruas trabalhando, falando, comendo, produzindo, dialogando, se divertindo também, porque a gente precisa parar com esse estigma de que o preto escravizado era só passivo e submisso. Não, ele também trapaceava, jogava, se divertia, tinham uma vivência que é o contexto da Pequena África”, dissse Sidnei ao falar do pensamento para concepção do enredo.

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O carnavalesco explicou o processo de pegar essas informações, organizar um desfile em homenagem e em reparação ao desconhecimento que se tem da influência bantu nos hábitos do Rio de Janeiro. Foi pontuando palavras, alimentos e tradições que são corriqueiras dos moradores da Cidade Maravilhosa.

“Por que todo mundo diz da onde veio a cultura indígena?, todo mundo diz da cultura europeia, e não tem uma entrega justa para contribuição bantu. Eles já apareceram em outros carnavais, só que não era falar sobre o bantu, mas a contribuição, e, principalmente, entregar a autoria de muita coisa, fazer justiça através de um desfile de escola de samba, para o povo saber que se você fala bunda, quitute, quitanda, quilombo, samba, chamego, xodó, dengo, são palavras bantu. Está no nosso dia a dia. É bonito você entregar autoria e saber porque e de onde vem aquilo que você fala, o que você come. Vários alimentos são bantu, questões religiosas, e se hoje se veste de branco no Réveillon, em Copacabana, vem dos omolocôs, e eles eram de uma casa ligada à ancestralidade bantu. A tradição bantu está diretamente ligada ao fato de todo mundo estar de branco estourando champanhe. Esse desfile da Mangueira não é para simplesmente falar da tradição bantu de uma maneira iconográfica, mas apresentar na prática esses valores, para que a sociedade reflita e comece a valorizar a quem de direito. A força da tradição bantu na cidade do Rio é muito grande, mas isso é apagado, não é cultuado. Você começa a entender que desde a chegada desses pretos tem um apagamento dos seus corpos, das suas identidades, mas isso perdura até os dias de hoje, quando você não reconhece essa identidade, você apaga. Ser carioca é viver entre dores e paixões, principalmente, na negritude, porque você tem que conviver com a marginalidade, a violência, com as balas perdidas que sempre acham os mesmos corpos. A vulnerabilidade social é histórica. Houve o fim da escravização no papel, mas não houve políticas públicas de trabalho, de moradia, de acolhimento, de oportunidade para essa população preta. São sempre as populações mais vulneráveis”, pontuou Sidnei.

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Para o artista, a história dos bantus deixa como legado também o carnaval, e desta forma se conecta com a Mangueira, e a figura do cria como personificação dessa identidade das comunidades e dos morros cariocas.

“A gente faz um diálogo entre toda essa construção dos bantus com a negritude atual personificando a figura do cria, que está na logo do enredo, camisetas, identidade visual, porque é onde a Mangueira se torna tão ela dentro desse contexto, quando você apresenta um morro como o da Mangueira, que já é tido como um patrimônio geográfico da cidade do Rio. A figura do cria sintetiza tudo isso que “A Flor da Terra” propõe, que são herdeiros de uma tradição banto direta na cidade do Rio. É um quilombo moderno, porque o morro da Mangueira é um quilombo, resistência, identidade, pertencimento. Se você chega na Zona Sul do Rio e fala onde você mora, no morro da Mangueira, a pessoa pode te olhar assim, mas sabe o que é, qual é o tamanho da representação, confere identidade, e você não precisa falar mais, se sabe que você deve ser uma pessoa de muita luta, aguerrida. O cria dialoga desde o preconceito que a elite tem para com as figuras do morro, de não entender sua música, jeito de se vestir, jeito de falar, sua própria apresentação visual, seu tom de pele, porque tinge o cabelo, descolore, o nevou. É uma série de questões de construção identitária que não são compreendidas por uma parcela da população que não quer nem entender o que é um morro, e desvaloriza, ou seja, mudam os tempos, mudam os mecanismos, mas esse apagamento dos 80% dos bantus que chegaram no Valongo permanece. O que a Mangueira traz com orgulho são os seus crias, valores, como a possibilidade de oferecer criatividade, potência, samba e carnaval para a cidade do Rio de Janeiro, ou seja, tudo isso que vocês aplaudem a cada fevereiro também é bantu, também é Mangueira, também é cria, também é nosso. O nosso samba fala, quer imitar meu riscado, descolorir o cabelo, bater cabeça no meu terreiro. Quer dizer, você me critica, mas você usa tudo que é meu, e o samba e o carnaval da Mangueira é o cartão de visitas dessa cidade chamada Rio de Janeiro”.

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Sidnei França falou também sobre como está sendo trabalhar no Rio, na Mangueira, e da concepção prática do carnaval mangueirense, destacando as mudanças em relação ao trabalho na folia de São Paulo.

“O carnaval do Rio, para mim, é uma novidade no aspecto de criação, trabalho, de entender que hoje eu tenho a responsabilidade de criar e dirigir o desfile da Estação Primeira de Mangueira, e que é uma grande responsabilidade, mas eu não vejo como uma surpresa, como se eu não entendesse o que acontece na Sapucaí. Tem uma curva de 90 graus que em São Paulo não tem, tem um viaduto, tem a torre da TV, tudo isso eu acompanhei quando nem existiam arquibancadas dos dois lados, era um paredão de camarote. Dentro desse contexto todo, o carnaval do Rio é muito natural para mim, até mesmo as diferenças entre o Rio e São Paulo. Eu nunca pensei eu quero ser carnavalesco no Rio, até porque eu tenho uma trajetória em São Paulo, uma história no carnaval de São Paulo, alguns títulos conquistados lá, e vir para o Rio é começar do zero, como se fosse uma folha em branco e as pessoas falarem: ‘em São Paulo ele domina um estilo de fazer carnaval, é um outro padrão de iluminação, o enquadramento de arquibancada é diferente’. A escola passa na avenida em uma visualidade muito diferente. O Rio tem uma outra maneira de enquadrar a escola na pista e o trabalho acontecer. Aceitar o convite da Mangueira é recomeçar, é uma nova etapa, e eu tenho consciência disso. Também tenho consciência do tamanho da Mangueira, e não bastasse estrear no carnaval carioca, eu estou estreando simplesmente na Estação Primeira de Mangueira. Isso requer uma responsabilidade dupla, porque eu tenho que entregar para o Carnaval do Rio, mas eu também tenho que entregar para a comunidade da Mangueira, que é exigente, é chata, cobra, questiona. Na Mangueira nada é pouco, se é alguma coisa para o bem ou para o mal, tudo reverbera muito, e não só para o mundo, para dentro também, o mangueirense ele é enjoado, ele é exigente, ele é vaidoso com a sua escola”.

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Sidnei falou da concepção das fantasias para 2025, e o que o torcedor da Verde e Rosa pode esperar da forma que a escola vai estar vestida para desfilar na Passarela do Samba, destacando o uso de materiais mais diferenciados

“Foi um processo de muita liberdade, uma criação muito consciente, em que procurei colocar meu estilo a serviço da Mangueira. Eu tenho um estilo de figurino, muita modelagem no corpo, roupas muito bem compostas. Eu não gosto de roupa larga em componente, eu gosto de tudo muito enquadrado na estética da anatomia humana. Quase não uso penas, não gosto muito de pluma, e vai ter pouquíssima pluma no desfile da Mangueira, porque eu aprendi em São Paulo a trabalhar muito bem com a volumetria de materiais alternativos. Eu não sou aquele carnavalesco do galão dourado e da pluma. Acho que até isso para a Mangueira também desconstrói um pouco, já que é uma escola romântica e clássica. O que eu estou fazendo é um desfile mais cenográfico do ponto de vista das alegorias e da indumentária teatral para as fantasias. É muito mais teatro do que carnaval o que a Mangueira vai apresentar, é muito mais roupa do que fantasia, porque isso é muito meu, eu gosto dessa linha. O verde e rosa aparecem no final, no último setor do desfile, a escola encerra chegando na figura do cria com muito verde e rosa, mas os outros setores nem tanto. Eu tive liberdade total até porque a presidenta me falou que quer fazer um grande carnaval para a Mangueira e eu aposto muito em mim como uma mente criativa, para não ficar preso se o material é caro, se é barato. E eu tive liberdade para fazer. Eu tenho buscado isso há anos em São Paulo e eu acho que eu cheguei no limite disso aqui na Mangueira, que é de buscar uma variação de volumetria de fantasia onde você olha uma ala e a próxima não tem nada a ver e a outra nada a ver. Isso vai gerar, em quem está assistindo, um estímulo do que vem aí, até para não cansar e ele falar que todos os costeiros têm a mesma pena, todas as cores vão se repetindo sistematicamente. Cores, formas, eu venho trabalhando isso, isso já desde São Paulo há alguns anos, intencionalmente. Todo o processo criativo foi muito consciente para entregar uma Mangueira diferente, mas para que o meu trabalho também fosse respeitado no sentido da autoria”.

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Ao comentar sobre trazer inovações sem perder a tradição que a Estação Primeira possui, Sidnei retoma a primeira conversa com a presidente Guanayra Firmino, onde o assunto foi tratado por ela, casando com o estilo que o artista gosta de trabalhar em seus carnavais.

“Esse desfile da Mangueira, não é só de mim, parte da própria diretoria da escola, logo na primeira conversa, no dia do desfile das campeãs, quando eu venho de São Paulo para o Rio, me reuni com a presidenta Guanayra e ficamos uma tarde inteira conversando, e uma das coisas que a presidenta me falou foi que a Mangueira precisa se modernizar na estrutura dos seus carros, na maneira de apresentar o carnaval, e eu fiquei com aquilo na mente. Eu já tenho um estilo de trabalho de flertar com tecnologia, não sou high tech, mas eu gosto de tecnologia em desfile, de formas arrojadas, eu sempre fiz em São Paulo carros vazados, muito desconstruídos. Os famosos caixotes, que as pessoas falam, eu nunca gostei desde o começo lá. Juntou um perfil meu, com uma vontade da escola. O carnaval que eu estou projetando e que está se materializando para a Mangueira, são carros muito desconstruídos do ponto de vista estético, muito vazados, cheios de formas e volumes, mais altos do que o que a Mangueira tem apresentado ultimamente, a volumetria muito mais preenchida. Não estou falando que é melhor ou pior, estou dizendo que tem uma ideia diferente do que a escola vinha apresentando. Vai ter muito momento de movimento, de tecnologia, de iluminação para fora do convencional, até porque hoje a Sapucaí propicia, e todas as escolas estão entrando nessa era de luminotécnica, de um projeto de luz muito diferente do que se fazia antes. Vai juntando tudo isso, e eu acho que as pessoas vão entender a necessidade de modernizar a Mangueira sem perder a tradição”.

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Fotos: Divulgação/Mangueira

Por fim, o carnavalesco respondeu o que o mangueirense pode esperar da sua agremiação no Carnaval 2025, destacando que a garra que a comunidade está tendo durante os ensaios é a mesma que a diretoria e o barracão estão trazendo na montagem do desfile da escola.

“Uma escola muito madura artisticamente na pista, tenho certeza absoluta. É algo que eu falo com muita tranquilidade. Não estou falando de resultado, eu estou falando da certeza do que foi projetado e está sendo finalizado agora entre janeiro e fevereiro. É uma escola de uma maturidade, de chão, e de discursos muito fortes que agora se alia com uma plástica que vai chegar acabada, porque como a escola está terminando tudo no seu tempo, não vai ter aquela aceleração de última hora. De tal coisa faltou, desde uma luva, a pena de um chapéu, uma gola que deveria ser bem trabalhada e não deu tempo de terminar. A escola vai se apresentar em alto nível, não só chão, bateria, quesitos clássicos, em que a Mangueira é sempre muito boa, que depende da quadra e do chão, mas o que vem do barracão eu também tenho certeza que vai dar muito certo. O mangueirense pode esperar um desfile muito coeso entre discurso e materialidade, entre aquilo que se diz e aquilo que se vê. Me emociono a cada domingo, quando a gente vai para os ensaios de rua da Visconde de Niterói, que eu fico vendo e ouvindo a comunidade cantando, e eu começo a fazer link com tudo que a gente está produzindo no barracão e que vai naquela potência para a Avenida. É muito bonito pensar que a Mangueira vai dar conta de levar algo que a comunidade já abraçou e canta com verdade. Acho que o que eu posso dizer para o mangueirense é que a mesma garra que ele tem lá fora para ir para a rua, para pisar no asfalto com vontade, é a determinação que a atual diretoria está tendo, que eu como carnavalesco tenho entregado, Dudu Azevedo diretor de carnaval, também é incansável, está dia e noite no barracão, não tem hora para entrar, não tem hora para sair. Se criou uma energia dentro da Mangueira de que vai dar certo, e eu quero muito que o mangueirense sinta essa confiança que a gente está sentindo”, finalizou o artista diretamente para o torcedor da escola.

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Conheça o desfile da Mangueira

A Estação Primeira de Mangueira vem em 2025 com cerca de 3 mil componentes em 27 alas. A Verde e Rosa virá com cinco carros alegóricos, dois tripés, e um pede passagem, além do elemento alegórico da comissão de frente. Sidnei França, ao CARNAVALESCO, fez a setorização do desfile da escola.

Setor 1: “O primeiro setor é encerrado pelo carro abre-alas, toda a abertura do desfile, fala muito sobre a aventura Atlântica, que é chamado no contexto antropológico, o entender o Oceano Atlântico não só como uma rota, porque às vezes comparam o Atlântico na travessia diaspórica mais ou menos como a Dutra que liga Rio e São Paulo. Tenho em uma ponta África e tenho a superfície do mar, só que existe uma profundeza do Oceano Atlântico que guarda corpos que se lançaram ao mar ou foram lançados ao mar. Pensar o Atlântico como um local de mistério, é por isso que o samba da Mangueira canta “mistério das kalungas ancestrais que o tempo revelou no cais”, ou seja, nesse mistério, entende-se o Atlântico como uma grande kalunga, um grande depósito de almas, que algumas se lançaram, tendo muito relato de preto escravizado que se rebelou, resistiu à escravização e se lançou ao mar, porque o povo bantu não acredita na morte como um fim. Para ele é assim, se eu me lançar aqui, eu vou renascer em África e vou retomar meu elo com os meus ancestrais, porque a morte para o banto não é ausência da vida, é ausência da identidade, é quando você apaga a história dele, como a escravização faz, para ele isso é a morte e não se lançar ao mar. Para ele é um ato de resistência, tanto que os pretos eram presos nos tumbeiros para não se jogar no mar. O que a frente da escola conta é sobre esses mistérios das kalungas ancestrais que transformou o Atlântico em um grande depósito de histórias e almas que acreditavam no pós-morte e não no fim por ali. É muito bonito pensar resistência dessa forma”.

Setor 2: “Uma vez já no Rio de Janeiro, falando da Pequena África como território de acolhida dos bantos. O segundo setor, fala muito sobre a chegada do preto na cidade do Rio de Janeiro, como ele foi acolhido ou muitas vezes apagado nessa cidade, e também fala principalmente da primeira grande contribuição de sociabilidade preta, que é a religiosidade. A maneira do brasileiro entender a fé é totalmente atravessada pelos bantus. Até porque os Nagô-Iorubá, eles eram mais de Pernambuco e Bahia, muito depois, na fase Tia Ciata, que a Bahia veio aportar no Rio de Janeiro. Esse Rio preto, lá dos séculos XVIII, XIX, de 1700 a 1800, ele não era baiano, era um Rio ainda muito bantu. Não se falava em orixá, era inquice. Orixás vêm com as tias baianas, com os terreiros da Bahia aportando no Rio de Janeiro. Isso é muito para cá, na historicidade. Esse segundo setor fala dessa mescla do carioca como uma figura nativa atravessada pela fé e pelas crenças das inquices, as ervas, os omolocôs, que deu origem a Umbanda. E o segundo carro é o Afrocatolicismo, o encontro das crenças pretas, ancestrais, com a sistematização da fé católica, e coisas que só o Brasil explica e o Rio de Janeiro. Por exemplo, São Jorge. Tem carioca que hoje olha para São Jorge e não sabe se você está falando de algum orixá, se é o santo guerreiro, vira tudo uma coisa só. Isso é um fenômeno muito carioca. Isso vem da tradição bantu diretamente, através dos omolocôs, das tradições bantu que fundaram os terreiros de erva no Rio de Janeiro, as benzedeiras”.

Setor 3: “O terceiro setor avança no tempo, e fala sobre a força da sociabilidade, a presença preta no território carioca. Entra a questão da capoeira, o lundu, as danças, a presença preta nas rodas de jogatinas. Tem muitos relatos de jogatinas no Rio de Janeiro, na Pequena África, carteado, tem essa questão de quebrar com esse entendimento que o preto só trabalhava, trabalhava, trabalhava, trabalhava. Não, ele também se divertia, e ele começou a construir aqui na Pequena África uma cidade à parte. E é o que a gente vai mostrar, como era a Pequena África, nesse terceiro setor. E o terceiro carro que resume essa Pequena África, apresenta o que, eu fiz uma pesquisa, nunca apareceu num desfile de escola de samba do Rio, casas de zungu. Na Pequena África, Santo Cristo, Gamboa, Saúde, Providência, o Valongo, toda essa região que vai desde ali da Praça Mauá até onde hoje é a rodoviária, tinham as casas de zungu, que eram uma espécie de quilombos urbanos. Apesar de chamar casa, era um vilarejo, uma espécie de cortiço, um grupo de casas, e nesse agrupamento de casas, os pretos faziam práticas religiosas, faziam batuques, danças, jogos, tinha benzedeira, era um coletivo de amparo para o preto. Quando na cidade do Rio de Janeiro, um preto fugia do seu senhor, ele já ia para uma Casa de zungu, porque ela tinha acolhida. E se chamava casa de zungu porque servia angu, que era o prato barato que tinha para todo preto fugido e acolhido naquele lugar, e a polícia não entrava, não quebrava, não arrebentava porque ia transformar o preto em herói. Eles preferiam controlar e conviver do que exterminar e ter um levante, porque a cidade era muito preta, tinha muitos pretos. As casas de zungu eram verdadeiras embaixadas negras dentro do Rio de Janeiro. É muito bonito pensar que tinha um local de resistência dentro do Rio de Janeiro. O terceiro carro é uma casa de zungu, uma Casa de Angu, onde as tias pretas ofereciam pratos de Angu para alimentar os pretos fugidos e eles passavam a morar nessas casas de zungu. E como você sabia que ali era uma casa de zungu? Qual era a mensagem? Eles colocavam um pano branco no lençol, algum pano branco na janela, porque era a ligação com Zambi, que é Oxalá. Aqui é um lugar de paz, que vai te acolher. É sempre nós por nós. É bonito pensar nisso e o terceiro carro tem essa questão do pano branco, essa vivência valente das Casas de zungu, tem uma cozinha nesse carro que oferece angu para esses pretos que buscam acolhida nesse local”.

Setor 4: “O quarto setor fala sobre a contribuição bantu na cultura carioca. O quiabo é um prato trazido pelos bantus. Por isso que hoje tem o ditado quem come quiabo não pega feitiço, isso vem dos bantos, porque o quiabo é um alimento sagrado entre Angola, Congo, Moçambique. São regiões do centro-africano onde os bantus se estabeleceram, e nós vamos mostrar a ala do quiabo. Nesse setor que a gente tem os gurufins. Para o bantu, se alguém morre, não é o fim, você não tem que chorar, você tem que celebrar o tempo que você viveu com aquela pessoa. Por isso que no subúrbio carioca tem os gurufins, que é o vamos beber o defunto, vamos celebrar mesmo, porque ele foi feliz. Não vou chorar meu amigo não, meu irmão. É uma coisa que Zeca Pagodinho traz muito forte, essa prática do gurufim, porque ele quer viver a vida. Chorar tem motivos para chorar. Quando meu irmão morre, claro que é um motivo de abatimento, mas eu preciso tirar força e gastar energia celebrando a vida dele do que lamentando. O próprio Réveillon de Copacabana. Tudo que é carioca, que a gente mal sabe e vem dos bantus, está nesse setor quatro. A cuíca, que é um instrumento, e cuja origem da palavra também é bantu, vem de puita, e nós vamos mostrar um tripé que vem nesse setor, que são as cuícas. Se hoje é um instrumento super importante para as baterias da escola de samba, veio dos bantus. E o carro que fecha, ele é o carro do funk, que fala dos funk cariocas, que também é outra coisa que as pessoas não sabem, mas a batida do funk vem de Angola, não veio para o Brasil, foi para os Estados Unidos, virou beat do funk americano. Mas como o Brasil importou, veio via bantu através dos Estados Unidos, e por isso que o samba fala, meu som por você é criticado, sempre censurado pela burguesia. Esse som criticado é o funk. Antes era o samba, por muito tempo o samba não era assimilado. E depois, quando o samba é assimilado, o funk passa a ser criticado: é coisa de morro, é coisa de preto do morro”.

Galeria de fotos do ensaio técnico da Mangueira na Sapucaí

Setor 5: “O último setor é quando mostra o legado bantu para a construção do Rio atual, da negritude carioca e principalmente da figura do cria. Toda a visualidade do último setor, eu me baseio no conceito do afrofuturismo, que é pensar no ontem para ressignificar o hoje e reconstruir a possibilidade do amanhã. Toda a estética do último setor é afrofuturista, como visto nas redes sociais, uma fantasia cheia de tomada, que tem uns girassóis. O último setor é todo neste contexto, pensando que a estética africana não é europeia. Você não tem que ficar esperando volutas, arabescos, em uma fantasia. Você tem que pensar a vida como a África enxerga, em uma diversidade de cores e de formas. Na África, um sinal de romance, um namorado não entrega uma rosa, entrega um girassol, o símbolo de chamego e de afeto é o girassol, não é um botão de rosa. Isso é cristão e é religioso, vem da Guerra das Rosas, Inglaterra e França. A gente precisa decolonizar, precisa reutilizar signos que tragam tudo pra dimensão africana para entender um novo Rio de Janeiro, um Rio preto. E esse último setor termina com a figura do cria, como uma possibilidade de um futuro, de um amanhã conectado com a realidade do Rio de Janeiro e não aquele Rio que a gente tenta ser e nunca vai ser porque nós não somos europeus”.