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‘Nenhuma violência contra mulher deve ser tolerada’! Governo Federal e Liesa lançam campanha na Cidade do Samba

Em uma iniciativa de combate à violência contra as mulheres, na última sexta-feira, ocorreu na Cidade do Samba, localizada na Zona Portuária do Rio de Janeiro, o evento de lançamento da campanha ‘’Feminicídio Zero; Nenhuma violência contra mulher deve ser tolerada’’ reunindo autoridades, parlamentares, lideranças comunitárias e representantes das escolas de samba do Grupo Especial, tendo como principal objetivo ampliar a conscientização sobre o feminicídio e incentivar ações de prevenção, além de fortalecer a rede de proteção às vítimas de violência doméstica.

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Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Durante o lançamento, a Ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, destacou a importância da mobilização social no carnaval para enfrentar o problema. “É fundamental porque o samba é uma grande representação da cultura nacional, de resistência, de sabedoria, de construção de valores e comportamento. Aqui é um espaço para que a gente fale, discuta a questão da não violência contra a mulher e o feminicídio zero. È uma grande emoção estar na casa do samba e ni periodo do carnaval a gente estar fazendo esse grande evento para milhões de pessoas ficarem sabendo que o governo do presidente Lula e que o Brasil não aceita violência contra as mulheres”.

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Foto: Marielli Patrocínio/CARNAVALESCO

O evento contou com grandes mulheres do samba. A musa da Portela, Amanda Oliveira, foi a mestre de cerimônia e declarou que se sentiu honrada com o convite. “È uma honra ter sido convidada para representar as mulheres do carnaval, as mulheres pretas do carnaval, eu, como musa da Portela, sei de todas as barreiras e estereótipos que nos dão como mulher preta, como passista, que a passista não pode chegar a qualquer lugar, então é uma honra gigantesca estar aqui conduzindo este evento sobre o Feminicídio zero e que cada vez mais essa pauta esteja em alta para que tenhamos um excelente carnaval e não só no carnaval, porque é uma pauta atual”.

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Foto: Marielli Patrocínio/CARNAVALESCO

A abertura ocorreu com a apresentação das porta-bandeiras das 12 escolas do Grupo Especial e seus pavilhões, sendo elas, Grande Rio, Portela, Viradouro, Mangueira, Beija-Flor, Paraíso do Tuiuti, Unidos de Padre Miguel, Imperatriz Leopoldinense, Mocidade Independente de Padre Miguel, Unidos da Tijuca, Vila Isabel e Salgueiro. A fala da diretora de Cultura da Liesa, Evelyn Bastos, também rainha de bateria da Estação Primeira de Mangueira, marcou o início da abertura.

“Como rainha de bateria, me coloco no lugar das passistas que por arte, expomos os nossos corpos, e nos colocam em situação de vulnerabilidade diante de ideologias misóginas e patriarcais”, declara a diretora cultural.

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Foto: Marielli Patrocínio/CARNAVALESCO

Evelyn agradeceu a esta iniciativa e também reforçou o valor desta parceria. “Quero agradecer a todos vocês e tenho certeza que essa união irá mudar as estatísticas e vai fazer com que o Carnaval e o Brasil acesse a base da nossa pirâmide social que são as mulheres, com uma informação muito mais didática porque as nossas mulheres, negras, principalmente, merecem essa comunicação como forma de cuidado e de preservação”.

As escolas de samba e o próprio Sambódromo são ambientes culturais e sociais fundamentais para desenvolver de maneiras eficazes e contundentes conscientização, prevenção e enfrentamento ao cenário completamente inaceitável da violência contra as mulheres no Brasil. Considerando o direito e a participação de meninas e mulheres em todos os espaços de carnaval, o Ministério das Mulheres, o Ministério da Saúde, a Liga Independente das Escolas de Samba e a Fundação Oswaldo Cruz comprometeram-se em desenvolver esta parceria para promover, disseminar, organizar e operacionalizar ações de combate a violência promovendo a conscientização social.

Um problema de toda sociedade, principalmente dos homens

A violência contra a mulher é uma das mais graves violações dos direitos humanos, é um problema estrutural que assola o Brasil. O feminicídio, sua manifestação mais extrema, reflete a cultura machista enraizada na sociedade, que perpetua a desigualdade de gênero e normaliza as agressões. Diante dessa realidade, a luta contra a violência de gênero não pode ser uma responsabilidade exclusiva das mulheres. Os homens têm um papel fundamental nesse debate e devem assumir a responsabilidade de se posicionar ativamente contra essa violência.

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Foto: Marielli Patrocínio/CARNAVALESCO

Pela primeira vez este debate ganha visibilidade no Rio Carnaval através do presidente da Liesa, Gabriel David, que destacou a potência das escolas de samba para disseminar a informação na sociedade brasileira.

“Poucas organizações do Brasil, como as escolas de samba, tem o potencial tão grande de comunicar algo tão importante para a sociedade, entender que nós podemos fazer a mudança, e, tenho certeza que todas as escolas de samba, todos os foliões e todos aqueles que estiverem na Marquês de Sapucaí esse ano, estarão vendo essa mensagem não só para o carnaval, mas uma mensagem que a gente precisa ter todos os dias do ano pelo resto de nossas vidas, para que de fato, possamos chegar ao índice de feminicídio zero”. Gabriel agradeceu a presença de todas as mulheres que trabalham diariamente para a construção do país.

A iniciativa da campanha contra o feminicídio na Cidade do Samba surgiu graças à articulação do presidente da Embratur, Marcelo Freixo, que aproximou o Ministério das Mulheres à Liesa. Esse movimento estratégico tem grande importância, pois aproxima o debate sobre a violência contra a mulher de um dos maiores símbolos da cultura popular brasileira.

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Foto: Marielli Patrocínio/CARNAVALESCO

“É um marco importante. Eu conversei com a Ministra Cida lá atrás e a gente pensou em que lugar acontecer essa campanha tão fundamental para o Brasil, e além dos estádios, a gente pensou também no Carnaval. A Cida de forma muito competente colocou isso nos campos de futebol, uma mensagem que tem entrado em todo esse universo, agora, nada é mais potente em termos de expressão e comunicação do que o carnaval. Então, colocar essa mensagem ‘Feminicídio Zero’ dentro da avenida é um posicionamento de um Brasil que é sonhado mas é construído. A gente já avançou muito, mas tem muita coisa para avançar ainda e é bom lembrar que do 8 de março, Dia Internacional da Mulher, cai no sábado das campeãs e não é atoa, a gente tem muita coisa para fazer juntos. Parabéns Cida e a todos”, discursou o presidente da Embratur, Marcelo Freixo.

A presença da campanha na Cidade do Samba reforça a necessidade de envolver diferentes setores da sociedade na construção de uma realidade mais segura para as mulheres. Marcelo Freixo, ao estabelecer essa conexão entre o Ministério das Mulheres e a Liesa, demonstra a importância de unir esforços institucionais e culturais para enfrentar um problema estrutural que afeta milhares de brasileiras todos os anos.

Brasil ocupa o quinto lugar no ranking mundial de feminicídio

De acordo com dados da ONU, o Brasil apresenta uma das taxas mais altas de assassinatos de mulheres por razões de gênero. Em muitos casos, as vítimas são mortas por parceiros ou ex-parceiros, em contextos de violência doméstica e controle abusivo. Além disso, o feminicídio muitas vezes é o estágio final de um ciclo de agressões físicas e psicológicas que, se não interrompido, resulta na morte da vítima. O índice é ainda mais alarmante quando se faz um recorte de racial.

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Foto: Marielli Patrocínio/CARNAVALESCO

“O maior indíce de violência contra as mulheres, são as mulheres negras. Por isso estar aqui com a Anielle Franco, nossa Ministra da Igualdade Racial, se faz tão importante quanto e dizer neste momento que o maior espetáculo da Terra se dá exatamente no Carnaval, que envolve o Brasil como todo’, então essa campanha vai se fazer ouvir e fazer acontecer realmente para milhões de pessoas. Então, quero agradecer às nossas ministras e a todas as mulheres sambistas”, declarou a deputada federal, Benedita da Silva (PT), que discursou durante o evento.

O combate ao feminicídio exige medidas urgentes e eficazes, como o fortalecimento das delegacias especializadas, a ampliação da rede de apoio às vítimas e campanhas de conscientização para desconstruir a cultura machista que naturaliza a violência. Além disso, é fundamental que a sociedade como um todo se mobilize para pressionar por políticas públicas que garantam a proteção e a vida das mulheres em todos os espaços, inclusive no carnaval.

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Foto: Marielli Patrocínio/CARNAVALESCO

“Nós precisamos estar vivas, precisamos estar inteiras, não podemos ser violentadas e maltratadas. Nós somos o quinto país no ranking mundial de feminicídio principalmente na América Latina. Estamos construindo políticas públicas, mas só podemos mudar a realidade desse país se cada cidadã e cidadão entenderem que isso também é um problema de todos. E é através da Cultura, através do samba, que nós vamos conseguir chegar em todas as pessoas para mudança de comportamento”, afirma a Ministra das Mulheres, Cida Gonçalves.

Saúde pública para mulher no enfrentamento à violência

A violência contra a mulher é um problema de saúde pública e uma violação dos direitos humanos, impactando profundamente a vida e o bem-estar das vítimas. Para enfrentar essa realidade, é essencial que o sistema de saúde pública esteja preparado para acolher, orientar e proteger as mulheres que sofrem qualquer tipo de violência.

“O Ministério da Saúde também se soma à essa importante iniciativa ao lado da Liesa, porque há muito tempo nós definimos que violência contra mulher é uma questão de saúde pública. Quero agradecer ao Gabriel David por estar conosco nessa parceria tão importante e a Diretora de Cultura, Evelyn Bastos”, ressaltou a Ministra da Saúde, Nísia Trindade.

Carnaval Seguro: Diversão, Respeito e Igualdade para Todas as Mulheres

A segurança no carnaval não é responsabilidade exclusiva das mulheres. Homens e toda a sociedade devem se conscientizar sobre a importância do respeito, combatendo comportamentos abusivos e apoiando iniciativas de proteção feminina.

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Foto: Marielli Patrocínio/CARNAVALESCO

“Carnaval bom, é carnaval para todas as pessoas. A gente está aqui hoje, é a reafirmação da vida, onde estamos justamente fazendo uma campanha de conscientização tanto de feminicídio, mas também sobre o combate ao assédio no Carnaval”, diz Joyce Trindade, Secretária das Mulheres do Município do Rio de Janeiro.

A noite de lançamento contou com a presença de mulheres componentes das escolas de samba do Rio, que ouviram atentamente, aplaudiram as ações que serão tomadas nos espaços do Carnaval e aplaudiram a iniciativa. “Eu achei maravilhoso. A gente sabe desde os tempos de primórdios como as passistas são tratadas, principalmente pelos gringos, então mudar essa visão para a arte, porque o que elas fazem na avenida é arte, é muito importante. Ter um evento como esse com ministras, com vereadoras, com mulheres lutando por nós é muito importante”, finaliza Deise Fernandes Sacramento, de 58 anos, componente da Portela há 10 anos.

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Bateria ‘Fantástica’ brilha no ensaio técnico da Brinco da Marquesa no Anhembi

Por Lucas Sampaio e fotos de Rebeca Schumacker (Agência Enquadrar)

O Brinco da Marquesa realizou na noite da última sexta-feira seu único ensaio técnico previsto no Sambódromo do Anhembi em preparação para o desfile no carnaval de 2025. A bateria “Fantástica” foi o grande destaque, animando o canto da comunidade no treinamento encerrado após 48 minutos na Avenida. A escola da Vila Brasilina será a nona a se apresentar pelo Grupo de Acesso 2 com o enredo “A Marquesa na Cidade do Amor. São Paulo Carnaval 2025″, assinado por uma comissão de carnaval.

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Comissão de Frente

Ensaiada pelo coreógrafo Hugo Alves, a comissão de frente do Brinco realizou uma apresentação com duração de duas passagens do samba. Sem as fantasias ainda não é possível definir com clareza a coreografia, tendo em vista que nos primeiros momentos do primeiro ato três atores parecem se destacar nas interações entre si como se fossem uma família, mas em dado momento eles se separam, uma das atrizes passa a se destacar sozinha até que por volta do segundo ato já nenhum dos componentes parece ter algum destaque. É como se a ideia proposta fosse mostrar como uma pessoa, gradualmente, se torna uma só com as características da cidade, que é o que os demais participantes do quesito dão a entender que estão fazendo. Uma atuação intrigante que no dia do desfile, com todos devidamente fantasiados, pode fazer mais sentido.

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Mestre-sala e Porta-bandeira

O primeiro casal da Marquesa, formado por Samuel Lemos e Mariana do Carmo, encontrou problemas no andamento do seu ensaio junto com a escola. No primeiro módulo, a dupla realiza sua coreografia com um avanço muito lento na dança, o que faz com que a parte à frente do desfile avance mais do que a que vem atrás, comprometendo a evolução. No terceiro módulo, em menor escala, essa falha persistiu, sanando em definitivo apenas no último grupo de jurados.

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A porta-bandeira se mostrou muito mais segura e ativa em seus passos do que o mestre-sala, que se atrasou em algumas finalizações de obrigatoriedades em dados momentos. Será necessário refinar a preparação para chegarem no dia do desfile prontos para garantir as notas para o quesito. Um ponto a se atentar é justamente a parte final da atuação, que parece ser a que mais causa essa “segurada” no andamento da escola.

Harmonia

Um canto acima da média para o Acesso 2 chamou a atenção no ensaio da Brinco da Marquesa. Mesmo com um contingente pequeno, as alas que estavam presentes contaram com muitos componentes cantando o samba, mesmo que outros, em uma escala bem menor, ainda demonstrassem timidez. A ala que mais se destacou no ensaio sem dúvidas foi uma das últimas, cujos desfilantes portavam leques e estavam especialmente animados. O dia e o horário do ensaio podem ter atrapalhado a mais pessoas a participarem do treinamento, mas se a escola conseguir reforçar o samba na voz de todos que forem desfilar, podem sonhar com a nota máxima.

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Evolução

A Brinco da Marquesa distribuiu seus segmentos de forma pouco usual na pista. A bateria veio logo depois da comissão de frente, com a ala das baianas vindo logo atrás e em seguida o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira. Só depois de tudo isso e de mais uma ala é que vem a marcação do carro Abre-alas. Curiosidades à parte, a formação não parece ter comprometido o andamento geral da escola, com exceção do que fora apontado na análise do casal. Como nem todas as alas contavam com todos os desfilantes com camisas da escola, a sensação de compactação não foi suave, e em dados momentos algumas alas pareciam mais afastadas de outras que o normal, mas a fluidez no geral da Marquesa na Avenida foi correta. Cabe a preocupação quanto ao tempo do fechar de portões aos 48 minutos mesmo com um baixo contingente. A escola precisa se atentar ao fato de que o regulamento mudou, pois ficou a apenas dois minutos do limite de tempo.

Samba-Enredo

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Com o carro de som liderado pelo intérprete Buiu MT, a obra do Brinco da Marquesa funcionou bem no ensaio. A letra é simples, mas de fácil compreensão e assimilação por parte dos desfilantes, que mesmo os mais tímidos foram ganhando coragem conforme evoluíam na Avenida. A combinação de carro de som e bateria foi sublime, e nos momentos em que os ritmistas fizeram apagões, a comunidade respondeu bem e sem atravessar o canto. Se a obra estiver alinhada com o enredo dentro que o regulamento pede, pode render bons frutos para a escola.

Outros Destaques

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Mestres Bigode e Maurício Camilo podem se considerar orgulhosos de seus ritmistas. A bateria “Fantástica” esteve em grande noite e foi o grande destaque do ensaio, com instrumentos bem alinhados e bossas muito agradáveis de se ouvir em diferentes momentos do samba. Um pequeno apagão observado logo no começo da primeira parte da letra chama o componente para se envolver no desfile ainda mais. Certamente o quesito honrou o nome que receberam da própria escola.

Barracões Série Ouro: Arranco do Engenho de Dentro representa a força feminina no carnaval carioca

O Arranco do Engenho de Dentro homenageou em 2024 a psicanalista Nise da Silveira, mulher que revolucionou o setor psiquiátrico do Brasil ao implementar tratamentos humanizados para pacientes com transtornos mentais, em meados dos anos 40. Ela é lembrada até hoje como exemplo de sensibilidade e humanidade. Neste ano, a escola da Zona Norte novamente levará para a Avenida o poder feminino de transformar o mundo através do cuidado, onde as mulheres serão representadas pela figura materna no enredo “Mães que Alimentam o Sagrado”. O CARNAVALESCO entrevistou Annik Salmon, autora do enredo e única mulher no posto de carnavalesca da Série Ouro. Ela nos contou de onde veio a inspiração para construir a história do desfile da escola.

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Fotos: Divulgação/Arranco

“O meu despertar para desenvolver esse enredo foi quando eu recebi o convite da Tatiana Santos (presidente da escola) para ser a carnavalesca do Arranco e aceitei. O primeiro encontro que eu tive com ela foi na quadra, em uma festa de feijoada. Assim que eu entrei nessa quadra, já me deparei com a Diná Santos, que é a presidente, cozinhando, fazendo a feijoada para todo mundo. Ela mesma que cozinha e fica sempre tão preocupada, sabe? Se todos estavam comendo, se o pessoal da bateria já tinha comido, e perguntava para mim, ‘Niki, já comeu? Vem cá pegar seu prato de feijoada’. E era uma comida deliciosa, feita com carinho, com amor. Com aquilo, já eu fiquei ‘nossa, que interessante’. E uma escola presidida por mulheres: a Diná, a filha, Tatiana, e a filha dela também, que é a secretária, me contratando como carnavalesca, agora então a única carnavalesca mulher. Uma escola muito feminina e matriarcal, com segmentos femininos, como a intérprete do carro de som, a Pâmela. E eu me senti em casa. Me senti abraçada”.

A moça reforça o encantamento pelo tema quando afirma ter escolhido fazê-lo por conta própria, passando pela aprovação da vice-presidente Tatiana Santos.  “Eu já cheguei na escola com uma proposta de enredo pronta, mas conversando com ela (Tatiana) e conhecendo essa essência do Arranco, mudei de ideia. Eu também sou muito guiada pela minha intuição, e nesse dia, quando fui para casa depois de ficar muito feliz lá na feijoada, tive um sonho onde eu meio que dei estalo, e conclui que o meu enredo teria que ir por esse caminho. Aí eu quis falar dessa questão de mãe, da alimentação e do afeto de mulheres. Aí veio o desafio: como desenvolver isso dentro de uma narrativa para ser mostrada na avenida? Aí que entrou a pesquisa com o Artur, que já era o pesquisador enredista da escola, e no segundo dia de encontro com ele já começamos a desenvolver tudo”.

Maternar é mais importante do que a maternidade

A figura da mãe nesta narrativa vai muito além do fator biológico. Salmon não foca na capacidade dar a luz ao abordar a relação da maternidade com a mulher na sociedade. O ato de maternar aqui quer dizer cuidar, e não somente dos próprios filhos.

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“O primeiro alimento vem dos seus seios, do corpo feminino. Mas aí eu pontuo muito bem nesse enredo que, antes de toda mãe ser uma mãe, ela é uma mulher. Pode ser uma mulher que já nasceu mulher, ou também uma que escolheu ser mulher. O que eu defendo é que toda mulher é uma mãe, mesmo sem gerar uma vida. Tem aquelas mães que cuidam da sua comunidade, tem as mães que cuidam todo de terreiro de Candomblé, tem adotivas, tem as tias que cuidam dos sobrinhos, que também são mães, e as que geram e cuidam dos seus filhos. Mostro que às vezes o ato de maternar é muito mais importante do que a própria maternidade em si. O carinho e o afeto que vem das mulheres, independente delas terem escolhido ser mães biológicas ou não”.

Mães e ancestralidade

Na sua pesquisa, a artista quis explorar a ligação que a mulher tem com o zelo e a proteção no imaginário popular, e buscou referências que comprovam que essa ideia existe no pensamento coletivo desde os primórdios da nossa história.

“Essa temática começa com a questão ancestral que envolve todo o arquétipo da mulher feminina, da mãe, dentro de uma cultura afro-iorubá. Para eles, a mãe é sagrada, e muito mais até que um Orixá. É uma divindade a quem eles são gratos e têm devoção. Aquele ultra, aquela cabaça, aquele símbolo mítico africano que é capaz de gerar e guardar os mistérios da vida. A gente começa essa pesquisa, desenvolve esse enredo por essa pegada da ancestralidade, até chegar nessa pluralidade que é o nosso Brasil, onde essa
crença não está somente nas religiões de matriz africana, mas nas outras também, como, por exemplo, na religião católica, onde há a devoção à Nossa Senhora. E não tem como falar de ancestralidade sem falar dos indígenas. Quando a gente entra também na questão que envolve a mãe nas lendas e crenças dos nossos povos originários. Falar de mãe também é falar da natureza, que, afinal, é conhecida como a ‘mãe Terra’. A associação vem do feminino, da ideia de que, se cuidarmos bem dela, a Terra vai continuar produzindo alimentos para nós, para os nossos filhos e para os nossos outros que ficam”.

O que representa o alimento sagrado na Arranco 2025?

Ao permear entre os conceitos de mãe, mulher, ancestralidade, fé e alimentação, uma pergunta fica no ar: o que, de fato, é sagrado para uma mãe? As prioridades e desejos mudam de acordo com as vivências e o contexto no qual estão inseridas essas mães, que, antes de tudo, são mulheres. Mas é inegável que há um motivo em comum que move a maioria delas, e é neste aspecto que Annik quer se aprofundar.

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“O alimento representa a nossa fé, quem a gente cultua dentro da nossa espiritualidade, dentro da nossa crença, seja ela qual for, mas também aquilo que é sagrado para toda mãe, que são seus filhos e sua família”.

Luta das mães representa a luta das mulheres

“As mulheres estão atuando o tempo inteiro na rua, buscando como levar esse alimento para os seus sagrados dentro da sua casa. Elas estão na luta diária dentro dos seus ofícios, sejam eles quais forem. São as mulheres que cuidaram da terra onde se tira o alimento. Elas que vão para a feira, elas que são as donas do mercado. Foram as mulheres, principalmente as mulheres negras, as primeiras a ocuparem as ruas no mercado e ali faziam seu cambio, seu movimento de troca com as suas vendas. Muitas dessas mulheres estão ali vendendo seu alimento, levando o que produziram nas hortas de suas pequenas casas, mas não têm o que comer. A gente também fala dessas mulheres que vão ali no resto da feira buscar o que não se vê beleza, que é o resto, e levar para fazer uma comida maravilhosa para os seus filhos em casa”, complementa.

As mulheres na atualidade

Annik considera o fato de colocar as mulheres em evidência o grande trunfo de seu desfile, por conta da desigualdade social que ainda existe entre os gêneros no mundo atual. Ela relata sua experiência pessoal como a única representante feminina no cargo de carnavalesca da Série Ouro do carnaval carioca, e uma das únicas do carnaval em geral.

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“É um enredo que fala da escola, porque é a essência feminina, mas que também fala muito de mim, da minha história, de mim como artista, profissional e mãe. Eu pensei ‘é um momento tão importante para a minha vida, quanto para a história do Arranco. Ainda somos colocadas em lugares subalternos na sociedade, pois somos consideradas para muitos o sexo frágil. Ainda temos desigualdade salarial, sofremos muito machismo, muito preconceito, às vezes simplesmente pelo fato de sermos mulheres. Estou mostrando no meu enredo do início ao fim que a mulher ela é forte e pode ocupar seu espaço onde ela quer, mesmo ainda a gente tendo que driblar o preconceito o tempo. A gente tem que mostrar diariamente que somos capazes de fazer aquilo que a gente quer. E isso cada uma dentro da sua profissão, cada uma dentro da sua área. E quando eu falo de mãe, a gente sempre relaciona, porque o tanto que ela luta diariamente dentro do seu ofício para conseguir levar o sustento para esses seus sagrados, só a mulher é capaz de fazer. Mostro isso no desfile, exatamente a força dessas mulheres, para mostrar que nós somos o sexo
resistente sim”.

Salmon tem um extenso currículo no carnaval. Começou sua carreira como assistente e figurinista de Alexandre Louzada, na Porto da Pedra, em 2003, e estreou como enredista em 2007, na Acadêmicos do Cubango. A partir dali, teve a maioria de seus enredos feitos para as escolas do Grupo Especial. Após dois anos consecutivos à frente da Mangueira, ela retorna para a Série Ouro com a Azul e Branca da Zona Norte, e relata as dificuldades que vem encontrando depois da experiência na Verde e Rosa.

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“Voltar a fazer a Série Ouro não é fácil, é muito difícil. Aqui no barracão, a realidade das coisas é muito diferente. A gente não tem uma estrutura como a o do Grupo Especial. Temos que fazer carros melhores, assim como pensar em enredos mais enxutos. Enquanto a gente está no Especial, conseguimos desenvolver o enredo em cinco, seis setores, com seis alegorias. Aqui temos que pensar em uma temática que precisa ser reduzida para três setores e três alegorias. Até pensar em desenvolver esse enredo, com uma temática em que ele seja mais enxugado, é um trabalho mais difícil. Quando a gente começa a abrir esse leque e pensar numa proposta, a gente quer ampliar muito mais. Eu poderia fazer esse enredo em 10 setores, enquanto isso, temos que resumir e fazer em três. Voltar para o Acesso e fazer isso é pensar até em quais pontos são os mais importantes dentro da matemática, quais que vão tocar mais o público, quais são mais interessantes visualmente, e tudo isso dentro de uma dificuldade financeira”.

A artista também contou como faz para ultrapassar as barreiras impostas por essas dificuldades financeiras, admitindo ser “muito pé no chão”.

“Nós dividimos barracões, pois tem barracões que molham quando chove, aí se não dividíssemos teríamos que cobrir esculturas. Isso porque aqui não temos uma verba tão alta. Hoje mesmo estávamos olhando aqui e pensando ‘vamos cobrir esse carro com a lona?’, e a gente não tem essa praticidade. Agora estamos em um barracão que está só a gente, mas o teto direito é muito baixo. Tenho que pensar em como vai ser o carro, e fazê-lo mais baixo do que eu gostaria de fazer, e ainda tenho que pensar como vou fazer para que esse carro cresça lá na avenida. Tem que ter todo estudo com o ferreiro, de como fazer esses carros, ao mesmo tempo todo esse mecanismo tem que ter um custo maior. Se eu já tivesse teto alto, eu sairia na altura que eu queria. É tudo mais complicado, mas pensamos da melhor maneira e estudamos para que consigamos fazer um carnaval bonito e seguro, sem correr tanto risco de carro quebrar ou não chegar inteiro. Eu gosto muito de trabalhar dentro da realidade, dentro do que me permite, então se o que o barracão me permite hoje são carros menores, eu vou fazer carros menores. O desafio hoje é isso, é trabalhar dentro do possível para impactar o público com uma arte bonita, mesmo com uma proporção menor”.

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Mas não pensem que a profissional está insatisfeita com o trabalho que está fazendo na Arranco. Apesar das adversidades, ela fala com muito carinho sobre a agremiação.

“Estou muito feliz no Arranco, é uma escola onde fui abraçada por essas mulheres. É uma escola feminina, matriarcal, eu me sinto acolhida, pertencente a essa comunidade, a essa família. Como artista, o importante é estar atuando e fazendo carnaval, independentemente de ser uma escola de Grupo Especial ou da Série Ouro. O importante é a gente estar fazendo o nosso trabalho e eu espero sempre ter espaço mesmo pra poder desenvolver minha arte, que é a coisa que eu mais amo fazer”.

O Arranco encontrou na sustentabilidade a solução para a falta de verba para os desfiles. Essa iniciativa é excelente, tendo em vista o grande percentual de acumulação de resíduos provenientes dos materiais utilizados em fantasias e alegorias das escolas de samba. Artur Amaro, pesquisador de enredo da escola, falou sobre como é o processo de reutilização de materiais no processo criativo da escola.

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“Nosso carnaval é muito pensado na sustentabilidade. A gente projeta, faz protótipo com determinados materiais, e quando o dinheiro cai, temos que substituí-los, porque não os encontramos. Vou usar o que eu tenho hoje em mãos. A nossa escola está vindo com quase 90% de materiais de reuso, dentre eles, materiais que já tínhamos, como ferragens de outros carnavais. Fui reaproveitando. Já fiz o projeto pensando nisso, desde o início. É claro que temos materiais novos que a compramos para algumas alas, mas eu realmente pensei o tempo inteiro em fazer um carnaval sustentável mesmo, tanto em alas quanto em alegorias. Não dá para levar para a avenida o discurso que fala sobre como as mulheres conseguem ter o poder de transformação e não apresentar isso. Como que vamos ter um desfile que diz ‘cuide da terra, cuide da natureza’, se a gente sabe o impacto do lixo que o carnaval produz? Desde o início tivemos a preocupação de começar a pensar em como reutilizar esses materiais e leva-los para a avenida de uma forma inédita e impactante. O carnaval precisa ser comunitário, além de ser bonito. Precisa falar do Brasil, e se tem uma coisa que esse terreiro mais fala é do Brasil, porque é o país que tem grande parte das suas famílias chefiadas por mulheres, que é o primeiro instrumento de resistência africana. Eu quero pensar em um carnaval que tenha a força dessas mulheres que eu me inspiro”, comentou Artur.

“Eu chego na escola e me deparo com essas pessoas que também pensam assim como eu. A nossa vice-presidente, a Tatiana, até brinco que ela é acumuladora, porque ela guarda muito material. Temos também o ferreiro Elcio, que é meu amigo, e já trabalhamos juntos em outras escolas. Ele também é assim. Eles dois são importantes para o meu processo de criação, pela maneira como pensam. Hoje você entra ali e vê no barracão um monte de coisas no chão que a gente realmente está reaproveitando”, complementa Annik.

Conheça o desfile do Arranco do Engenho de Dentro

O Arranco do Engenho de Dentro vem em 2025 com cerca de 2 mil componentes, 3 carros alegóricos e 1 tripé na comissão de frente. Annik Salmon, ao CARNAVALESCO, fez a setorização do desfile da escola.

PRIMEIRO SETOR: Abordo a ancestralidade em volta dessa mãe por um ancestral, que vem da África, que é o berço dessas mulheres que são consideradas pelo povo Yorubá como sagradas. Para eles, a mãe é um ser mágico e único, que tem que ser valorizado e cultuado. Eu abro por aí e chego no nosso Brasil mostrando que essas mulheres venceram e conquistaram aqui os seus espaços, que são os terreiros. Foram essas matriarcas que fundaram os primeiros terreiros de Candomblé aqui no Brasil e hoje muitas mães seguem
esse legado que foi dado e colocado aqui pelas mãos delas.

SEGUNDO SETOR: Nesse eu falo da pluralidade que tem aqui no nosso Brasil, que envolve questões religiosas, festivas e culturais relacionadas à mãe. Falo da fé católica, da fé dos povos originários e da fé que brota da terra.

TERCEIRO SETOR: É o setor da resistência, no qual eu falo mais da atualidade, das mulheres que estão na luta dia a dia para vencer, cada uma com seu ofício, cada uma dentro do seu mercado de trabalho, mas que continuam ali lutando e vencendo para levar esse alimento para dentro de casa, para conseguir criar esse seu sagrado que são seus filhos.

Referências! Rodrigo Negri e Priscilla Mota fazem balanço sobre o uso de inovações nas comissões de frente

O casal Rodrigo Negri e Priscilla Mota são os responsáveis pela comissão de frente da Viradouro desde a preparação para o carnaval de 2023. Os coreógrafos que tem uma carreira vitoriosa na sua trajetória do carnaval ajudando na conquista de diversos títulos por diferentes escolas, como Unidos da Tijuca, Mangueira e o campeonato do último carnaval na Viradouro, além de diversos prêmios pelas comissões de frentes criadas e coreografadas por eles. O CARNAVALESCO conversou com os artistas sobre o trabalho da dupla.

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O casal de coreógrafos começou falando sobre a atuação na Viradouro, e como eles casaram bem seus momentos profissionais com o bom momento pelo qual a escola de Niterói passa.

“A Viradouro hoje é uma escola amadurecida em todos os aspectos. É uma escola muito estruturada, em que depois de 15 anos de carreira, nossa quarta escola, em que parece que a gente está em um momento certo de carreira. Juntou um momento bom da escola com um momento bom da nossa carreira de maturidade, de entender o quê funciona, de entender a importância dos processos. É uma escola que não mede esforços para viver os nossos processos, e todos os processos de todos os quesitos”, iniciou Priscilla Mota.

“Acho que o bacana também é que a gente encontrou uma equipe muito coesa. Uma equipe que troca muito conosco nas questões artísticas. É uma parceria que a gente vinha buscando ao longo dessa nossa trajetória e que achamos que finalmente encontramos esse time aqui na Viradouro”, pontuou Rodrigo Negri.

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O trabalho com o diretor executivo, Marcelinho Calil, também foi comentado, tendo destaque a forma com que ele trabalha com a comissão de frente da escola em busca do melhor para o segmento comandado pelo casal.

“O Marcelinho é um presidente que entende de carnaval, e ele é muito participativo, extremamente parceiro de tudo que a gente faz e de todo mundo, não só da comissão de frente. Ele ama a comissão de frente, é um quesito que ele curte. Ele é muito atuante no nosso processo e exigente também, mas o bom é que nós também somos exigentes, então normalmente quando ele vem com uma questão, ou a gente já pensou, a gente agrega isso”, explicou Priscilla ao tratar do modo de trabalho em conjunto com o diretor executivo da escola.

“Normalmente são super pertinentes as questões, que muitas vezes fazem a gente refletir e pensar sobre o projeto. É um parceiro que a gente conta muito durante o projeto, para conseguir finalizar, e que as opiniões dele são sempre válidas”, disse Rodrigo sobre o trabalho.

O carinho dos componentes da Vermelha e Branca de Niterói foi o próximo ponto da entrevista, assim como a forma com que a agremiação convive e busca realizar o carnaval a ser levado para a Marquês de Sapucaí.

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“Acho que a maturidade traz para nós um senso de caminhada. Porque muito se fala para quem assiste carnaval no resultado, na nota, no prêmio, no campeonato. Mas de nada vale tudo isso se você não tem uma boa caminhada, uma boa temporada, e um bom ano. E eu acho que aqui na Viradouro todos nós somos extremamente exigentes com a nossa performance. Do Marcelinho, ao Alex, e ao Tarcísio, e isso a todo mundo, todos os quesitos. Mas nós também temos muito respeito e amor pelo nosso ofício, e uns pelos outros. Então isso faz com que o dia a dia de tanta exigência seja mais leve. Nós sabemos que a gente tem amigos para contar, pois às vezes a gente precisa mudar a rota. Mas existe um entendimento, porque todo mundo sabe aqui que a grande estrela no final é a própria Viradouro”, afirmou a coreógrafa.

“Quando sempre tem alguma questão no caminho, o time todo se abraça e fala, vamos juntos pra gente tentar resolver essa situação. Mas eu acho que é isso. Apesar da gente saber da expectativa em relação à escola, a gente percebe que o processo é leve, sabe? Não é um processo que é aquele por acesso desgastante, é um processo leve que acho que isso é fundamental para que a gente consiga desenvolver o nosso trabalho também”.

Sobre o trabalho com Tarcísio Zanon, carnavalesco da escola, a dupla pontua a boa interação e a parceria, além da forma coletiva de criar as comissões que a Viradouro levou e levará para a Passarela do Samba, com Priscilla destacando a conexão na forma que cada um entre o trabalho do outro.

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“O Tarcísio, ele é um encantado. Ele é intuitivo, ele é parceiro, a gente aprende muito com ele, que está em franca evolução. Quando a gente acha que ele já entregou tudo, ele vem e surpreende a gente. O trabalho é uma parceria linda, ele ouve, ele entende. Não só nos ajuda a resolver, mas ele entende a forma que a gente pensa e hoje a gente entende a forma que ele também pensa. E ele é otimista, um criador otimista, isso é muito bom, porque às vezes a gente fica naquela expectativa, será que a gente faz? Ele fala que vai dar certo, vambora, vambora. E, realmente, ele não larga a nossa mão durante toda a caminhada. Trabalhar com ele é fantástico”, disse Priscilla, pontuando principalmente o otimismo do carnavalesco.

“É bem coletivo essa criação. A gente vem sempre com uma proposta e a gente discute muito se isso funciona, se isso não funciona, às vezes ele também traz uma ideia, e a gente discute muito. É um trabalho muito coletivo, ele é muito parceiro em todos os detalhes. A gente sempre procura estar ali, Tarcísio, o que você acha, o que você pensa disso? Acho que essa parceria é o fruto desse sucesso desses dois últimos anos de trabalho”, afirmou o coreógrafo.

A iluminação cênica da Sapucaí foi comentada pela dupla, falando sobre a utilização dela para as comissões de frente como mais um elemento para ser utilizado pelas escolas para seus desfiles.

“Acho que é mais um elemento que vem para somar. Além de pensarmos agora não só no projeto em si, a gente agrega mais um elemento que é a iluminação cênica. Então, quando a gente pensa no projeto, agora, a gente tem que pensar no todo, não só ali na parte estrutural, da dança, do tripé, mas mais esse elemento que vem para agregar no carnaval. Acho que vem para somar de uma maneira também que não roube o trabalho, mas ele vem para poder potencializar o nosso trabalho”, observou Rodrigo.

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“Acho que é um elemento que tanto pode exaltar como prejudicar, se você não souber usar. Então, realmente, desde o início do projeto do desfile, não só da comissão, a gente fica trabalhando para fazer o bom uso da iluminação, para que seja um fator que venha a agregar ao projeto que já é bom da sua célula”, explicou Priscilla.

O casal, responsável por diversas imagens marcantes do carnaval carioca ao longo dos anos, falou sobre essa responsabilidade de acabar marcando muitos desfiles com algo trazido pela comissão de frente ensaiada por eles, e como buscam fazer o melhor trabalho de abrir um desfile de uma escola sem a preocupação de gerar esta imagem, mas sim, realizar o melhor para a agremiação.

“A gente não faz a comissão de frente pensando em criar a imagem do carnaval, mas entendemos a importância da comissão de frente para abrir um desfile. Uma boa comissão de frente é um caminho muito importante para um bom desfile. O jeito que eu e o Rodrigo fazemos, que é aquela coisa de tentar resumir o desfile inteiro, ajudar o público a entender o que virá, os setores, de que forma, como é que essa história é resumida para que ele já curta o desfile de outra maneira. A gente pensa muito nisso, de como vamos trazer o espectador, como vamos melhorar a experiência do espectador em relação ao desfile, porque o espectador tem que participar. Entendemos que esse é o papel da comissão de frente. A gente acha que é, a gente não sabe se é o certo, mas é o jeito que a gente faz. Para a Viradouro, tem funcionado. É mais difícil dessa forma, porque você acaba tendo que, em pouquíssimo tempo, fazer coisas inacreditáveis. Mas é bom quando, no final, isso vira a imagem do desfile, porque é sinal que deu certo”, afirmou a coreógrafa, contando um pouco sobre a intenção do trabalho do casal com a mensagem a ser contada pela comissão de frente.

“Mas também traz uma pressão normal, que a gente já está acostumado. E a gente não tem essa pretensão de buscar todo ano a imagem no carnaval. São apostas. Eu acho que vem dando certo, e é reflexo de muito trabalho. A gente vai tentar buscar isso também para esse carnaval, e acho que também é um estilo de comissão que a gente vem desenvolvendo ao longo dos anos, que é pensar essa coisa de sintetizar o enredo. Eu acho que isso é um ponto positivo”, concretizou Rodrigo.

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Priscilla comentou sobre a questão da superação deles mesmos, como o casal encara uma pressão em se superar ao pisar na Sapucaí no ano seguinte, destacando que esta superação pode ocorrer de diversas formas, a partir do enredo a ser contado.

“A gente abandonou um pouco essa ideia de superação, porque eu acho que nosso trabalho está a serviço do enredo. E cada enredo nos guia de alguma forma. Então, às vezes a gente vai se superar na imagem, em um item específico. Às vezes ele vai se superar na mensagem. Às vezes ele vai se superar no sentido da reação do público. Não tem uma fórmula, mas a gente sempre pensa em dar o nosso melhor, mas a serviço da Viradouro e daquele enredo específico. A gente nunca vai passar por cima disso para marcar de alguma forma. Se a gente marcar é mais um ganho, mas a ideia é servir a abertura do desfile do Tarcísio”, salientou a bailarina.

Questão dos tripés

“Voltando a falar no público, acho que ele é nosso principal objetivo. A gente precisa ajudar a escola a fazer um grande desfile, fazer uma grande comissão de frente pertinente ao enredo, mas não podemos esquecer que precisamos impactar o público. Eu estou falando de jurado também, porque os jurados também são seres humanos, e se a gente impacta o público, o jurado vai se impactar também. Acho que o uso dos tripés vai muito em relação ao que você quer dizer. Nós já viemos com comissões sem tripé também, e totalmente pertinente com o nosso enredo, não faríamos diferente. Mas acho que o tripé traz mais possibilidades de recursos para que você traga mais ainda o público para essa experiência. Trazendo recursos, por exemplo, como o uso do gerador, que é a energia que a gente usa para iluminação. Você precisa iluminar o seu tripé, você tem que trazer a tecnologia para dentro do seu palco. É um teatro, é um espetáculo, o carnaval é um espetáculo. E eu acho que o bom uso do tripé com senso de tamanho, com senso de você poder privilegiar a visão do público, ele é bem-vindo”, abordou a coreógrafa.

“A gente tem um elemento, uma nova ferramenta de iluminação, precisa de um gerador. O artista tem a liberdade de criar sua comissão com o tripé, é uma escolha do artista, não uma composição”, destacou Rodrigo.

“Voltando à discussão, que naquela época eu e o Rodrigo fomos veementemente contra, talvez poucos, mas nós fomos contra, eu acho que você não tem que proibir o que não é obrigatório, e nunca foi obrigatório você usar. Realmente, ali ficou um pouco fora de contexto, até a reclamação. Até hoje não entendo o porquê aconteceu, até porque no mini-desfile a gente viu várias escolas com tripé, e se é uma coisa que não faz tanta diferença, a gente não precisa usar. Mas eu achei a discussão totalmente fora do contexto, tanto que uma semana depois caiu por terra, e estamos aí com todas as comissões com tripé novamente. E reiterando, eu e o Rodrigo somos totalmente contra a qualquer tipo de padronização. Não existe padrão para a arte, você não vai dizer qual o tamanho que a escultura tem que ter, você não vai dizer para o pintor o tamanho que o quadro dele tem que ter. Você pode dizer a quantidade de componentes, você pode dizer ter algumas regras, mas padronizar uma altura, padronizar que tem que ter, padronizar que não tem que ter, aí você pode chamar uma pessoa só para fazer todas as escolas que não vai fazer a menor diferença”, comentou Priscila falando sobre todas as questões que envolvem o uso do elemento alegórico pelas comissões de frente.

Por fim, o casal segredo compartilhou um pouco do que podemos esperar da comissão de frente da Viradouro para o Carnaval 2025, destacando que será uma apresentação potente da escola de Niterói.

“Pensando nessas duas últimas comissões, a gente teve essa preocupação mais um ano, de fazer essa síntese do enredo. Acho que é uma comissão muito valente, ela tem uma força muito grande. É uma comissão mais enérgica, ela vem com mais força. Diferente da Rosa, que era mais singela e poética. No ano passado era bela, tinha também a força das guerreiras, mas esse ano ela tem uma potência, é uma comissão muito potente”, finalizou Rodrigo.

“Malunguinho está nos guiando, nos mandando sinais, nos dando afirmações, e a gente está ouvindo esses sinais, a gente está trabalhando muito incansavelmente. Ontem a gente saiu daqui às quatro, e às dez da manhã a gente já estava aqui. É um trabalho que está nos exigindo muito, mas acho que vai valer muito a pena, o público não vai se arrepender, o torcedor da Viradouro vai ficar orgulhoso. É bem potente”, encerrou Priscilla.

Artigo: ‘Festa do Círio de Nazaré – Samba, Fé e Tradição’

Por Miguel Santa Brigida*

“No mês de outubro em Belém do Pará,
São dias de alegria e muita fé.
Começa com extensa romaria matinal,
O Círio de Nazaré”

A complexidade estética, dramática e cênica dos desfiles das escolas de samba na Sapucaí acolhe, a cada ano, as intercorrências da pós-modernidade artística das múltiplas e diversas linguagens que compõe a sua espetacularidade contemporânea desfilada no sambódromo carioca.Este belo rito negro sob forma de procissão engendra-se na trilogia batucar-cantar-dançar identificada pelo filósofo congolense Bunseki Fu-Kiau, estudioso da cultura africana,e que caracterizam também práticas espetaculares afrobrasileiras, como este arrebatador fenômeno do samba carioca, signo-marca da festa de nossas ancestralidades, coletividades e comunidades negras, constituindo-se traçado singular da cultura brasileira.

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Inspirado na trilogia negra de Fu-Kiau, este ensaio convida para navegarmos nesse universo de encantamentos revelados na cena sapucainiana, propondo a trilogia samba-fé-tradição para uma imersão na obra musical que embala o Maior Espetáculo da Terra: o samba-enredo!

Há cinquenta anos, um samba-enredo vem atravessando magicamente o tempo, a história e a memória dos sambistas e do imaginário carnavalesco brasileiro: “Festa do Círio de Nazaré”, composto por Aderbal Moreira, Dário Marciano e Nilo Esmera para a Escola de Samba Unidos de São Carlos (atual Estácio de Sá) para o carnaval de 1975 do Rio de Janeiro, e que seconsagrou, desde então, como um dos sambas mais icônicos e emblemáticos do carnaval brasileiro.

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Foto: Acervo Liesa

A primeira edição deste samba-enredo foi levadaà cena carnavalesca da passarela do samba carioca há exatos cinquenta anos, no dia 09 de fevereiro de 1975, um domingo de carnaval. Mais precisamente, o samba foi cantado pela escola e ecoado pelas multidões na madrugada da segunda feira de carnaval! Em sua primeira versão, o samba foi gravado e cantado na avenida por Dominguinhos do Estácio. Naquele ano, os desfiles das escolas de samba aconteceram na Av. Presidente Antônio Carlos devido as obras de construção do metrô na Av. Presidente Vargas, local onde os desfiles aconteciam tradicionalmente:

O desfile da Unidos de São Carlos não logrou sucesso. A escola se classificou em décimo lugar, devido algumas falhas em sua apresentação, inclusive os jornais da época dão conta de que a escola perdeu o canto na parte final do desfile, entretanto, de forma empolgada, as arquibancadas não pararam de cantar o samba-enredo. A partir daquele instante,recebeu um especial acolhimento e adesão popular, consagrando-se no universo dos sambas-enredos brasileiros e na história do carnaval!

Decorridos quase vinte anos da primeira edição, em 2004, por ocasião da celebração dos 20 anos do sambódromo carioca, a LIESA (Liga das Escolas de Samba do Rio de Janeiro) propôs e incentivou que as escolas de samba revisitassem a antologia dos sambas-enredos cariocas e reeditassem os mais importantes econsagrados pela tradição popular. Entre os sambas eleitosestava de maneira destacada “Festa do Círio de Nazaré”, escolhido pela escola niteroiense Unidos do Viradouro, que reeditou o samba com o enredo rebatizado “Quem Vem ao Pará, Parou. Com a Viradouro eu Vou para o Círio de Nazaré”.

A nova versão do enredo foi assinada pelo carnavalesco Mauro Quintaes, com pesquisade Gustavo Melo e contou com nossa consultoria artística e criações cênicas para o desfile. O consagrado samba-enredo foi novamente cantado por Dominguinhos do Estácio promovendo mais uma vez um arrebatamento emotivo e popular desde os ensaios no pré-carnaval, na quadra da Viradouro, nos ensaios técnicos da Sapucaí e em especial, no desfile. A Viradouro foi uma das escolas que voltou no desfile das campeãs obtendo o quarto lugar.

Nesse desfile, brilhantemente conduzido por Mauro Quintaes na escola de Niterói, “Festa do Círio de Nazaré” cintilou mais uma vez confirmando sua consagração na constelação dos sambas-enredos cariocas e sublinhando Dominguinhos do Estácio como um dos mais importantes intérpretes das escolas de samba e uma das grandes vozes da Sapucaí. Da primeira edição em 1975, quase vinte anos depois, a performance e assinatura personalizada de Dominguinhos rendeu diversas e elogiosas críticas nos jornais cariocas, aliadas mais uma vez, a enorme consagração popular:

Importante destacar em um enredo que desfilou o Círio de Nazaré, a maior procissão católica do mundo, que acontece há duzentose vinte dois anos em Belém do Pará, a relação e importância de Dominguinhos com o carnaval paraense, sua história com a procissãodo Círio e sua comovente devoção por Nossa Senhora de Nazaré.

O cantor, desde a década de setenta, desenvolveu especial relação afetiva, artística e cultural com Belém do Pará. Desde sua participação como cantor nos blocos e nas escolas de samba da cidade, especialmente o Rancho Não Posso me Amofiná, a quarta escola mais antiga do Brasil, para a qual compôs memoráveis sambas-enredos, bem como sua devoção com a padroeira dos Paraenses. Dominguinhos se casou na Basílica Santuário de Nazaré etodos os anos participava do intenso e extenso ciclo quinzenal da Festa do Círio de Nazaré. Seu estúdio de música no Rio de Janeiro se chamava Nazaré Music, uma de suas filhas foibatizada de Lívia de Nazaré, e o cantor carregava no peito um cordão de ouro com a medalha de Nossa Senhora de Nazaré, a qual beijava antes de começar a cantar em todos os desfiles do sambódromo carioca.

Sua trajetória artística e musical hámuito foi atravessada pela cultura carnavalesca, devota e festiva de Belém do Pará.

“Que maravilha, a procissão.
E como é linda a Santa em sua berlinda”

A história de Dominguinhos revela-se como uma bela síntese de um sensível amálgama do samba, da fé e da tradição popular que “Festa do Círio de Nazaré” promoveu como traçado da cultura brasileira que reúne a um só tempo festa, devoção popular e espetacularidade em fenômenos como os desfiles das escolas de samba. Herança de nossas matrizes culturais e estéticas ibéricas, que nos vestiram com fantasias-comportamentos aos moldes da sensibilidade barroca investigada por Michel Maffesoli em sua Sociologia da Orgia, da qual o nosso carnaval é encharcado brilhantemente,nos carnavalizando assim, para além do carnaval, enchendo mais ainda de folia e alegria o Rio que passou em nossas vidas enossos corações se deixaram levar…

Outro aspecto extremamente significativo da “Festado do Círio de Nazaré”, enquanto obra musical brasileira, são suas permanentes recorrências observadas nas inúmeras gravações realizadas por diversos artistas de múltiplos gêneros e estilos musicais, desde sambistas, cantores românticos, forrozeiros, entre outras modalidades do mosaico musical da MPB. Além da seminal e antológica gravação de Dominguinhos do Estácio o samba foi gravado por Jamelão, Elza Soares, Lecy Brandão, Beth Carvalho, Alcione, Dudu Nobre, Arlindo Cruz, Serginho do Porto, Conjunto Nosso Samba, Quarteto em Cy, Junina Babaçu, Junina Matutos do Rei, Zeca Baleiro e Ana Guanabara, entre os que conseguimos registro.

O enorme acolhimento popular e a adesão artística por diversos cantores,sublinhama consagração da obra musical criada pela trilogia de sambistas cariocas, revelando uma permanente recorrência poética de sua beleza. Para além das quadras das escolas, blocos carnavalescos, bailes populares, entre outros formatos comemorativos da festacarnavalesca, este samba atravessa de norte a sul o Brasil popularmente folião.

“E o romeiro a implorar.
Pedindo a Dona em oração.
Para lhe ajudar.”

Em Belém do Pará, cidade matricial da procissão do Cirio de Nazaré, queacontece desde 1793, atualmente movimenta mais de dois milhões de pessoas pelas ruas da Cidade das Mangueiras, este samba-enredo, para além dos ambientes e ciclos carnavalescos que desenham a geografia festiva do país, é tradicionalmente cantado na Quadra Nazarena, como sãodenominados os quinze dias de festejos em homenagem àNossa Senhora de Nazaré, a qual inclui 13 procissões e diversas comemorações festivas por toda a cidade.

Destacamos de maneira especial, a presença deste samba-enredo durante a procissão do Círio, cortejo religioso com duração média de seis horas, no qual o samba incorpora em muitos momentos um tom mais contrito-religioso, alternando-se muitas vezes pelo seu tom carnavalesco-sambístico original. A multidão de fiéis e devotos quando entoa coletiva eharmoniosamente integradaem umgigantesco coro, confirma mais uma vez o amálgama de fé e devoção da identidade devocional e carnavalesca dos paraenses.

O percurso da procissão de aproximadamente cinco quilômetros é marcado por diversas homenagens realizadas por instituições durante a passagem da berlinda que conduz a imagem de Nossa Senhora de Nazaré, são colégios religiosos, hospitais, bancos, entre outros. Essas homenagens, em sua maioria na linguagem musical, são realizadas por corais, bandas, cantores locais e cantores nacionais convidados. Nestas homenagens, o samba-enredo“Festa do Círio de Nazaré” é sempre recorrente, alternando indissociavelmente o tom religioso com o carnavalesco. Em algumas instituições, observamos os próprios padres cantando com esta singular alternância dos ritmos.

Confirmamos, mais uma vez, com essas inúmeras cenas musicais para além dos lugares de carnaval, a presença deste samba enredo em um cíclico retorno de sua diversidade de recepção, presença e emocionada consagraçãopopular. Aqui consagrada e abençoada na maior procissão religiosa do país: samba, fé e tradição.

“Oh!Virgem Santa
Olhai por nós
Olhai por nós
Oh! Virgem Santa,
Pois precisamos de Paz”

Destacadamenteda Quadra Nazarena, é imperativo falarmos da incorporação espetacular deste samba enredo no espetáculo Auto do Círio. Esse evento é realizado pela Universidade Federal do Pará, por meio da Escola de Teatro e Dança, Instituto de Ciências das Artes e Pró-reitoria de Extensão, em um singular exercício da cultura extensionista em sua dimensão social, cultural e artística de mãos dadas com a multidão.

O espetáculo, em forma de cortejo dramático, acontece desde 1993 nas ruas do bairro da Cidade Velha, o Centro Histórico de Belém do Pará, que guarda a memória da fundação da cidade e da devoção a nossa Senhora de Nazaré, no qual está situada a Catedral da Sé, igreja de onde sai a procissão do Círio no amanhecer do segundo domingo de outubro.

Com mais de trinta anos de tradição, o Auto do Círio foi registrado pelo IPHAN como Bem Imaterial da Cultura Brasileira atrelado ao complexo festivo do Círio de Nazaré.O registro aconteceu na celebração de sua décima edição, em 2003, ano em que a Unidos do Viradouro escolheu a reedição de “Festa do Círio de Nazaré”, e foi também, o ano que Dominguinhos do Estácio cantou pela primeira vez no espetáculo.

A inclusão deste samba enredo no Auto do Cirio foi de nossa autoria no ano que assumimos a direção do espetáculo. O cortejo foi dirigido em seus três primeiros anos por Amir Haddad, e a partir de 1996 dirigi o espetáculo durante quinze anos. Meu traçado principal como encenador foi introduzir e destacar as matrizes carnavalescas da estética das escolas de samba no cortejo, com samba-enredo, bateria, mestre-sala e porta-bandeira, entre outros elementos que compõe a estética cênica das escolas de samba. E de maneira dominante “Festa do Círio de Nazaré” passou a ser cantado na apoteose do espetáculo, consagrando-se mais uma vez e criando outra tradição fora dos lugares carnavalescos tradicionais, no qual mantém-se vivo e pulsante até hoje:

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Auto do Círio em sua cena carnavalesca em Belém do Pará. Fonte. Ascom/Ufpa.

O Auto do Círio reúne um público superior a trinta mil espectadores pelas ruas do Centro Histórico de Belémaclamado por uma enorme adesão e consagração popular. Desde 2003 no ano de celebração de sua primeira década e quando Dominguinhos do Estácio passou a cantar o samba em sua apoteose carnavalesca, elevousobremaneira,a tradição e relevância do espetáculo. A presença do artista foi se redimensionado a cada ano, especialmente a partir de 2004 com a reedição da Viradouro, quando esteve presente nesta edição o carnavalesco Mauro Quintaes, sua equipe de criação e a diretoria da escola carioca.

Dominguinhos do Estácio recebeu em 2005, por sua intensa participação e parceria para o engrandecimento e projeção nacional do espetáculo promovido pela UFPA, o título de Padrinho do Auto do Círio. Importante destacar, que esse terceiro título que o sambista recebeu, veio somar-se à outras duas honrarias do artista em Belém do Pará.

Dominguinhos é o único artista brasileiro que possui o título de Cidadão Belenense concedido pela Câmara Municipal de Belém e o título de Cidadão Paraense pela Assembleia Legislativa do Estado do Pará em reconhecimento por sua contribuição ao samba e a devoção dos paraenses.

Nesta edição de 2005, o espetáculo foi marcadoespecialmente, também, pela participação de Fafá de Belém, que pela primeira vez participou como artista convidada e foi homenageada pelos seus trinta anos de carreira. O encontro desses dois artistas promoveu uma das mais bonitas e emocionantes edições do Auto do Círio. Fafá de Belém cantou inicialmente na primeira estação do cortejo em frente à Catedral da Sé, onde tradicionalmente os artistas pedem permissão e as bençãos à sua padroeira para seguir com o cortejo cênico-carnavalesco e, posteriormente, cantou com Dominguinhos do Estácio “Festa do Círio de Nazaré” na última estação do cortejo onde acontece a apoteose.

“Em torno da Matriz
As barraquinhas com seus pregoeiros
Moças e senhoras do lugar
Três vestidos fazem pra se apresentar”

O encontro apoteótico de Fafá e Dominguinhos cantando este samba-enredo reuniu e celebrouum momento cênico-festivo carregado de significados e simbologias especiais para a dimensão devocional do samba. Os dois artistas são conhecidos nacionalmente por sua devoção à Nossa Senhora de Nazaré. Fafá é uma artista paraense que carrega em seu nome artístico o nome de nossa cidade, e Dominguinhos um cidadão belenense e paraense por afeto, amor e devoção a nossa cidade. Ambos tem marcados em sua trajetória artística, ainda mais especialmente, uma relação com o Círio de Nazaré, o que contribuiu notadamente para a grandeza da cena espetacular comungada com a multidão que acompanha o Auto do Círio.

Fafá de Belém, embora não seja uma cantora de samba, possui uma história especial com as escolas de samba brasileiras, notadamente no Rio de Janeiro, São Paulo e Belém do Pará. A artista desfilou diversas vezes em escolas cariocas desde o início de sua carreira. Em São Paulo, cidade que escolheu morar, recebeu homenagem da escola de samba Império de Casa Verde no carnaval de 2024 com o enredo “Fafá, a Cabocla Mística em Rituais da Floresta”. Em Belém, Fafá também já desfilou em diversas escolas, especialmente no “Rancho Não Posso me Amofiná” da qual é torcedora e foi homenageada com o enredo “Fafá de Belém – Estrela do Norte em Fá Maior” no carnaval de 2002, no qual a escola sagrou-se campeã do carnaval.

Na carreira da cantora é imprescindível destacar que a artista gravou sambas-enredos do Rancho Não Posso me Amofiná em seus Lpsda década de oitenta. Importantes registrosrealizados por uma cantora não sambista que projetou nacionalmente os sambas-enredos paraenses: “Amanheceu” de 1985, “Rei no Bagaço, Coisas da Vida” de 1986, ambosde Oswaldo Garcia e Robertinho Garcia”. Os dois sambas foram cantados na avenida por Dominguinhos do Estácio para a escola jurunense.

“Tem o circo dos horrores
Berro-Boi, Roda Gigante
As crianças se divertem
Em seu mundo fascinante”

A trilogia Samba-Fé-Tradição, indutora deste ensaio carnavalesco pelo samba “Festa de Nazaré”, ganha contornos especiais com as cenas carnavalescas-devocionais que descrevemos, tramadas e enredadas, historicamente a partir dodesfile da Unidos de São Carlos do carnaval de 1975. São tecituras bordadas com linhas brilhantes da cultura popular brasileira que desfilam magicamente também nessa tríade de cortejos brasileiros: as Escolas de Samba, o Círio de Nazaré e o Auto do Círio! São três práticas espetaculares sob a forma de procissõesque se intercruzam culturalmente, se interpenetram em suas espetacularidades e guardam singularidades de suas estéticas cênicas e dramáticas. Nossas escolas de samba marcadas por nossa ancestralidade negro-africana que fundamentam e assentam este espetáculo carioca dando vozes as comunidades pretas em suas multiplicidades e diversidades étnicas. O Cirio de Nazaré guardaa matriz europeia de nossa herança luzitana. O Auto do Cirio, por sua vez, se formatou e se adensou espetacularmente encantado por essas duas matrizes estéticas e culturais para fundar- se emsua singular dramaturgia caminhante na capital paraense no coração da Amazônia.

Essas três procissões enquanto práticas de dramaturgias caminhantes são prenhes do batuque do samba, da emoção devocional do catolicismo popular e do encantamento cênico belenense do Auto do Cirio. São espetacularidades populares brasileiras, aqui refletidas pelo axé do samba “Festa do Círio de Nazaré” em seu cinquentenário e que trabalham simbolicamente o tempo, o espaço, a história e a memória, promovendo o reencantamento do mundo.

“E o vendeiro de iguarias a pronunciar
Comidas típicas do estado do Pará.
Tem pato no tucupí
Muçuã e tacacá
Maniçoba e tucumã
Açaí e aluá”
(No mês de outubro…)

Ao concluirmos nossa navegação com este ensaio, homenageio In MemorianDominguinhos do Estácio pela grandeza de sua obra e bela travessia no carnaval brasileiro e que foi navegar no firmamento para brilhar, ainda mais, em outra dimensão entre as estrelas. Homenageio também Fafá de Belém que junto com “Festa do Círio de Nazaré” celebra e comemora cinquenta anos de carreira como uma das maiores cantoras e intérpretes da cena musical brasileira. Fafá, nossa grande voz feminina que carrega a emoção, a alma, a diversidade e o espírito profundo encantado de Belém, do Pará e da Amazônia para o mundo.

Dedico este ensaio a dois artistas brilhantes da Sapucaí. O carnavalesco Mauro Quintaes, que na reedição do samba-enredo na Viradouro em 2004, me convidou para consultoria, abrindo profissionalmente o portal mágico do Maior Espetáculo da Terra, gesto que me transformou profundamente como artista cênico e pesquisador. Gustavo Melo, jornalista e pesquisador de enredos, cujo singular processo criativo a partir desta reedição pude testemunhar, aplaudir e comungar. Compusemos também, uma trilogia que criou juntos três carnavais: Viradouro (2004), Viradouro(2005), Mocidade Independente de Padre Miguel (2006).Minha maior gratidão e emoção carnavalesca para esses dois gigantes da Sapucaí!

Belém do Pará, 09 de fevereiro de 2025.
Um domingo de pré-carnaval.

  • Professor Titular do Instituto de Ciências das Artes/Escola de Teatro e Dança da UFPA.
    Autor de: “O Maior Espetáculo da Terra – O Desfiles das Escolas de Samba do Rio de Janeiro como Cena Contemporânea na Sapucaí” (Doutorado 2006-UFBA). “A Dança do Mestre-Sala e da Porta-Bandeira: Magia e Ritual na Cena Afro-carioca” (Pós-doutorado 2010-UNIRIO). “O Sagrado Sorriso de Selminha” (Documentário – UNIRIO 2012)

Com show de ‘apagões’ da Ritmo Puro, Mocidade Alegre mostra ótima adaptação com o samba em seu segundo ensaio

Por Gustavo Lima e fotos de Rebeca Schumacker  (Agência Enquadrar) – Colaboraram Will Ferreira, Lucas Sampaio, Nabor Salvagnini e Naomi Prado)

A atual bicampeã do carnaval paulistano, Mocidade Alegre realizou o seu segundo treino no Anhembi, na noite da última sexta-feira. O ensaio contou com forte canto da comunidade, grande performance do casal e ótimo desempenho da bateria. Também marcou um momento de emoção e união, onde as lideranças ao final fecharam os portões todos abraçados, simbolizando o “imenso cordão”, como diz o samba. A escola cruzou o final com 55 minutos, mas devido ao ato citado, o cronômetro da pista foi fechado em 59 minutos.

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A ‘Morada do Samba’ ainda tem mais um ensaio para fazer, no dia 16 de fevereiro, e levará para a avenida o enredo “Quem não pode com mandinga não carrega patuá”, assinado pelo carnavalesco Caio Araújo e o enredista Léo Antan.

Comissão de frente

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Coreografada por Jhean Allex, a comissão de frente da Mocidade executou um desempenho com diversos atos entre sincronia dos bailarinos. A ala dançou pela pista o tempo todo, saudou o público e priorizou a coreografia no ritmo do samba-enredo. Também havia um tripé, cujo dois personagens destaques ficavam juntos a todo instante – Esses devem ter papel fundamental no dia do desfile. Tal elemento alegórico mencionado, quando os bailarinos subiam nele, fazia um efeito com espécies de pilastras, indo para um lado e outro. Com certeza terá surpresas, afinal não dá para decifrar, visto que a coreografia não se interpreta tanta coisa dentro do enredo e o tripé estava todo embalado.

Mestre-sala e Porta-bandeira

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Foi um dos destaques do ensaio. Novamente, vestidos com a fantasia do desfile oficial de 2024, o casal Diego Motta e Natália Lago, indo para o segundo ano juntos, se mostram cada vez mais entrosados. A coreografia dentro do samba é criativa e não perde muito tempo no mesmo lugar – Ou seja, eles dançam e evoluem com tranquilidade sem dar um trabalho a mais para a escola. A estratégia de ter vários guardiões ao redor da dupla também facilita para que não haja espaçamentos. Vale destacar a grande evolução que Natália teve nos seus giros, desde que assumiu o pavilhão oficial da agremiação, ainda com outro parceiro.

Harmonia

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Sem dúvida, o maior destaque do ensaio da Mocidade. Embalados pelas falas da presidente Solange Cruz, tanto no esquenta, como na introdução do samba, o canto dos componentes se fez ouvir com força novamente. Se na chuva passada o canto já foi satisfatório, neste ensaio, com o tempo em boas condições, se tornou ainda melhor.

Vale destacar o refrão principal, onde os componentes aumentaram a força do canto justamente no apagão que mestre Sombra realizou com a “Ritmo Puro”. Isso aconteceu três ou quatro vezes. Os desfilantes também aumentaram a voz nos últimos três versos, que certamente são de destaques da obra: “Fé.. Na terça, o terço na mão/É… O dia da consagração/Dez! Mais uma estrela no pavilhão”.

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Mostrando-se contente com a harmonia, o diretor de carnaval Júnior Dentista declarou que o quesito foi um dos destaques do ensaio. “O nosso primeiro foi muito bom, mas teve algumas falhas que trabalhamos muito durante a semana para corrigir. Achei a escola muito compacta, ai eu quero ver no drone como foi essa compactação. Eu estava acertando o tempo da apresentação do primeiro casal e da comissão de frente, porque vai ter umas ações diferenciadas e a gente precisa treinar aqui. Mas no contexto geral a escola cantou e evoluiu demais”, disse.

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Evolução

A Mocidade mostrou uma evolução satisfatória. Da comissão de frente até a marcação da última alegoria, se viu uma escola bem compacta entre as alas, como sua característica de anos, sem deixar qualquer brecha para espaçamento ou buracos. As fileiras entre as alas e dança dos componentes também são destaques no quesito – Os integrantes das alas da Morada estavam soltos e leves para dançar e executar as suas coreografias.

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Na segunda parte do samba, há movimentos que fazem efeito com a letra do samba: No verso “Nossa família, imenso cordão”, os componentes balançam para esquerda e direita. Já, nos últimos três: : “Fé.. Na terça, o terço na mão/É… O dia da consagração/Dez! Mais uma estrela no pavilhão” – Os componentes caminham de um lado para o outro com a mão erguida, sendo no último verso fazendo o sinal de ‘10’, para avisar que será mais uma estrela no pavilhão com a sua fé, como diz a obra.

Entretanto, houve uma questão com a evolução: Após a saída da bateria do recuo, a escola ainda estava com muito tempo para finalizar o percurso. O relógio estava por volta de 40 e 42 minutos. Sendo assim, para cumprir o mínimo de 55, as lideranças seguraram os últimos componentes por muito tempo, caminhando devagar, até dar o tempo necessário. Contudo, o diretor de carnaval Júnior Dentista relatou ao CARNAVALESCO que foi uma estratégia proposital com o intuito de analisar a evolução ‘zigue-zague’ dos componentes.

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“Foi de propósito. Você traz o povo aqui para poder ensaiar e eu pedi para eles: ‘eu quero evolução, tem o zigue-zague’. Eu falei: ‘eu vou travar vocês e quando chegarem em mim, eu quero que vocês venham fazendo, porque a velocidade para menos pode, para mais que não pode. Eu estou dentro da regra. Então eu falei: ‘vou travar vocês porque eu quero ver a evolução’”, contou o diretor de carnaval.

Ainda dentro disso, Júnior disse que haverá ações no desfile, que esse tempo de 55 minutos irá virar 60. “Vamos ter algumas ações que não estamos mostrando aqui, então eu preciso me adaptar a elas. Vocês podem ver que eu saio no tempo de 55 minutos, que para mim já virou 60 minutos pelo que vamos apresentar. Nós vamos mostrar na hora e aqui eu preciso tomar muito cuidado com algumas situações, mas com certeza, dentro do esperado, foi certo”, concluiu.

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Samba

O samba-enredo realmente pegou com a comunidade, como citado no forte canto do quesito harmonia. Devido a isso, os componentes conseguiram se soltar na avenida, sendo embalados pelo intérprete Igor Sorriso. O cantor, que sempre empolga a comunidade, não fez diferente na concentração. Desde os alusivos até o final.

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Porém, apesar de solucionado, houve problemas com o carro de som da Mocidade Alegre. Em dado momento, perto do recuo de bateria, a voz de Igor sumiu por alguns minutos, e apenas se ouvia os apoios Lucas Donato e Fernandinho SP nas caixas de som do Anhembi. Depois tudo foi solucionado junto ao time de som da Liga-SP e o cantor oficial retomou o seu trabalho.

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Igor Sorriso explicou a situação e contou que foi problema na bateria do microfone. “Acabou a bateria do microfone, eu senti que estava falhando. Eu tirei o fone e pensei: ‘É o fone que está falhando?’ Tirei o fone do ouvido no meu retorno e estava falhando também na caixa. Conversei com os operadores e aí eles trocaram a bateria e resolvemos”, contou.

Analisando a performance da ala musical, o intérprete diz que busca sempre a evolução para alcançar o tricampeonato. “O processo é sempre de evolução. Nós vamos buscando sempre ajustar os detalhes. Hoje tivemos a baixa da Talita, nossa cantora que está se recuperando de um procedimento, mas daqui a pouco ela está com a gente e faz muita falta. Acho que são os detalhes que fazem a diferença, os detalhes que fizeram a Mocidade ser bicampeã. São esses detalhes que a gente não pode deixar passar despercebido para buscar o tricampeonato”, declarou.

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Igor também exaltou a comunidade da ‘Morada do Samba’. “Foi nítido o quanto o povo está cantando o samba e está se entregando. Portanto a gente fica feliz e o trabalho se torna mais fácil quando o samba é popular e o povo participa. Tudo se torna mais fácil”, finalizou.

Outros destaques

A bateria “Ritmo Puro”, de mestre Sombra, encaixou perfeitamente com o samba-enredo de 2025. Aliás, se adapta com qualquer obra desde os anos 90 e agora não será diferente. Apagões no refrão principal fazendo a escola cantar forte e a bossa do refrão do meio, mostraram um grau maior de criatividade da batucada da Mocidade Alegre.

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‘’Estamos fazendo as correções, não existe perfeição, tem que continuar trabalhando, ensaiamos tudo direitinho e vamos ver com todos como foi. Estamos na média. Não posso falar de melhora, posso falar de ficar atento no trabalho, não teve nenhum erro Graças a Deus é isso que queremos então estamos caminhando devagarinho’’, comentou o mestre Sombra.

Vale destacar as baianas da escola. Vestidas com uma roupa elegante, estampas diferenciadas, saiotes azuis e colares laranja, deram um contraste diferente na pista.

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A marcação das alegorias traziam significados do que será no desfile, como “Altares das irmandades pretas”, “Quem não tem balangandãs não vai ao Bonfim”, “Mandingas para mais uma vitória”.

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Ao final do ensaio, a bateria voltou da dispersão para a pista e encerraram o ensaio junto às lideranças da escola, que formaram uma espécie de corrente, com todos abraçados, simbolizando a união. “Nossa família, imenso cordão”.

Globo adquire direitos de transmissão do Oscar e mostrará desfiles da UPM e Imperatriz na TV aberta para o Rio e no Globoplay para o país

A TV Globo adquiriu os direitos de transmissão do Oscar 2025, que acontece no domingo de carnaval, e terá o Brasil concorrendo em três categorias: melhor filme internacional, melhor atriz (Fernanda Torres) e melhor filme. Assim, na TV abertura, os desfiles da Unidos de Padre Miguel e Imperatriz vão ser exibidos apenas para o Rio de Janeiro. O restante do país terá a apresentação do maior prêmio do cinema mundial. O Globoplay terá sinal aberto para todos os desfiles ao vivo na Marquês de Sapucaí.

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Foto: Divulgação

Segundo a emissora, após o término da última escola, vão ser exibidos na íntegra os desfiles que não passaram na TV aberta para todo o Brasil. Para os moradores do Rio de Janeiro, a transmissão da premiação do Oscar acontecerá em flashes durante os desfiles das escolas de samba.

“No domingo, dia 2 de março, a transmissão do OSCAR será comandada por Maria Beltrão, a partir das 21h55, para todo o Brasil, com exceção do Rio de Janeiro. Quem estiver no Rio, vai acompanhar os desfiles das escolas de samba na íntegra, com flashes dos momentos mais importantes do OSCAR direto de Los Angeles. O sinal da TV Globo com a transmissão do OSCAR ao vivo estará disponível no Gshow ou no g1.

O restante do Brasil passará a acompanhar ao vivo os desfiles do Rio logo após o término da cerimônia do OSCAR. As escolas que já tiverem passado pela Sapucaí terão seus desfiles recuperados e exibidos na íntegra, para todo o Brasil, ao final da transmissão ao vivo. O público que estiver fora do Rio e preferir assistir aos desfiles desde o início terá a transmissão completa no sinal ao vivo da TV Globo no Globoplay”, informou a emissora.

Série Barracões: Salgueiro vem com fortes emoções para contar sobre as formas de fechamento do corpo ao longo dos séculos

De corpo fechado, em busca da vitória. Assim vem o Acadêmicos do Salgueiro para o Carnaval 2025, com o enredo “Salgueiro de corpo fechado”, do carnavalesco Jorge Silveira, que retorna para assinar um desfile no carnaval carioca após conquistar um bicampeonato no carnaval de São Paulo pela Mocidade Alegre. O artista já atuou no Rio, assinando enredos na São Clemente e na Viradouro.

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Sobre a concepção do enredo, o carnavalesco detalhou o processo de criação, que aborda a história do fechamento de corpo desde o Império Mali, na África, até os dias atuais no Brasil:

“Construímos algumas propostas para o Salgueiro, e a direção identificou-se desde o início com a ideia de um enredo que dialogasse com a identidade salgueirense. Minha busca pessoal é criar narrativas que conversem com a essência da agremiação. Trabalhando com Leonardo, Ricardo e Allan — núcleo de pesquisa que me acompanha —, exploramos temas alinhados a essa identidade. Fizemos um estudo aprofundado da trajetória recente da escola, seus temas preferenciais e, em parceria com Igor Ricardo, enredista da escola, chegamos a um amálgama de ideias. O enredo parte do princípio de que o Salgueiro pede proteção para disputar o carnaval. Ele entra na avenida entendendo que ela é uma encruzilhada para o sambista, repleta de desafios. Ao longo do desfile, mostraremos onde busca referências para superar obstáculos, fechar o corpo e vencer”.

Identidade e espiritualidade são pilares do enredo, como destacou Jorge: “O salgueirense vê sua quadra como um terreiro espiritual. As entidades e assentamentos de orixás do Salgueiro estão simbolicamente representados no chão da quadra. Queríamos que a escola se reconhecesse na narrativa, usando símbolos que traduzem esse sentimento. Do início ao fim, o desfile será uma celebração da essência salgueirense”.

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Sobre o retorno ao Rio após o bicampeonato em São Paulo, Jorge expressou gratidão e responsabilidade: “É uma conquista pessoal. Após portas se fecharem no Rio, fui para São Paulo, onde tive uma experiência valiosa. O sucesso lá fez o Salgueiro me olhar novamente. É uma honra liderar a criação artística de uma escola tão relevante, com tamanha história e torcida. Dedico cada segundo para honrar essa oportunidade”.

Diferenças entre Rio e São Paulo foram abordadas com sensibilidade: “No Rio, a estrutura da Cidade do Samba e os profissionais locais exigem uma abordagem específica. Em São Paulo, há forte influência dos artistas de Parintins. A chave é adaptar-se às particularidades de cada cidade. Aqui, estamos reformulando o método de trabalho do Salgueiro, com planejamento de longo prazo. Já temos o projeto 2025 estruturado e usaremos a infraestrutura da Cidade do Samba para executá-lo com precisão”.

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Cangaço e fechamento de corpo surpreenderão no desfile: “Muitos se perguntam o que o cangaço tem a ver com o tema. A cultura dos cangaceiros incorpora rituais de proteção, e exploraremos isso de forma inovadora, fugindo do óbvio para enriquecer a narrativa”.

Fantasias e alegorias foram pensadas para equilibrar luxo e funcionalidade: “Estudamos desfiles passados e notamos que o Salgueiro se destaca com figurinos leves. Optamos por materiais sofisticados, mas priorizando a mobilidade. As alegorias são minha paixão: desenho cada detalhe para que sejam impressionantes na avenida e técnicas na montagem. Cada carro terá volumetria e interação únicas, usando tecnologia e movimento para dialogar com o público de 2025”.

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Emoção como trunfo: “Mais que efeitos visuais, vamos tocar o coração do salgueirense. O enredo é um ritual de proteção e superação, e fecharemos com chave de ouro: ‘botando fogo no gongá’ para buscar o título”.

Conheça o desfile do Salgueiro

A Acadêmicos do Salgueiro vai levar à Marquês de Sapucaí seis carros alegóricos, 3 tripés e 3.300 componentes. O Torrão amado vai desfilar com a seguinte setorização, explicada por Jorge Silveira.

Setor 1: “A gente vai trazer o próprio Salgueiro buscando suas referências espirituais para poder fechar o corpo. Então a gente traz referências à ancestralidade do Salgueiro, às entidades que governam e comandam a espiritualidade do Salgueiro. A gente está praticamente arriando uma oferenda na avenida para pedir proteção para o desfile que vai vir adiante”.

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Setor 2: “Vamos falar sobre a origem. A gente demarca historicamente a origem da cultura do fechamento de corpo no norte da África, no Império Mali, nos negros que habitavam o norte da África, que iniciaram o processo do desenvolvimento da cultura do fechamento de corpo. Então a gente vai fazer uma referência ao surgimento dessa cultura no Império Mali e nesse setor mesmo a gente faz a transição quando eles chegam ao Brasil por meio dos escravizados e desembarcam em Salvador. E a gente mostra a influência da cultura Mali em Salvador, trazendo seus patuás, seus objetos de proteção e se mesclando com a cultura brasileira”.

Setor 3: “Depois a gente vai, capítulo a capítulo, andando pelo território e observando como a cultura vai se miscigenando com a realidade nacional. Então, depois da Bahia, a gente vai em direção ao cangaço, a gente vai explorar toda a realidade dos cangaceiros e seus ritos de fechamento de corpo, objetos e tradições”.

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Setor 4: “Depois a gente caminha em direção às culturas dos povos originários. Os nossos nativos daqui também tinham as suas culturas de fechamento, os seus rituais, pajelança, objetos sagrados, tudo isso relacionado à ideia de proteger o corpo contra o mal”.

Setor 5: “E aí finalmente, ao final do enredo, tem dois capítulos em que a gente se aproxima mais do que as pessoas imaginam que seja a ideia do fechamento de corpo. O penúltimo capítulo é o candomblé, com banho de ervas, passes magnéticos e palavras encantadas”.

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Setor 6: “E o último capítulo é a umbanda e a figura do Seu Zé. Então a gente faz o nosso enredo partir do Rio de Janeiro, partir do próprio Salgueiro, caminhar pelo Brasil, mostrando onde a gente busca as referências e retorna para o Rio de Janeiro já com o corpo fechado, e se Deus quiser, campeão na quarta-feira”.

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Ministra Anielle Franco visita barracão da Unidos de Padre Miguel e confirma presença no desfile

A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, visitou nesta sexta-feira o barracão da Unidos de Padre Miguel, onde foi recebida pelos diretores de carnaval Cícero Costa e Lara Mara, além dos carnavalescos Lucas Milato e Alexandre Louzada. O encontro reforçou a sintonia da escola com orientações voltadas à valorização da cultura.

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Foto: Daniel Pinheiro/S1 Comunicação

Durante a visita, Anielle Franco conheceu de perto os preparativos para o desfile de 2025, no qual a Unidos de Padre Miguel levará para a Marquês de Sapucaí um enredo que homenageia Iyá Nassô – precursora do candomblé e a herança cultural deixada por africanos escravizados no Brasil. A escola, que tem tradição em exaltar a ancestralidade e a resistência do povo negro, aposta em uma narrativa forte e emocionante

Ao final do encontro, a ministra aceitou o convite da agremiação e confirmou sua presença no desfile do Boi Vermelho da Vila Vintém. “Ter Anielle conosco nesse momento tão especial é um símbolo de reconhecimento e fortalecimento da nossa mensagem. Nossa escola sempre abraçou a luta pela igualdade e tê-la na avenida ao nosso lado será histórica”, destacou a diretora de carnaval Lara Mara.

A escola da Vila Vintém irá se apresentar no domingo de Carnaval, dia 02 de março, na Marquês de Sapucaí, abrindo a primeira noite do Grupo Especial.

MetrôRio vai funcionar até 2h para os ensaios de sábado na Sapucaí

O MetrôRio preparou um esquema especial de funcionamento neste fim de semana (8 e 9/02), com ensaios técnicos na Marquês de Sapucaí, megablocos no Centro do Rio e jogos de futebol no Maracanã e no Engenhão. Para os clientes que vão assistir ou participar dos ensaios no Sambódromo, a concessionária vai estender o horário de operação nas estações Central do Brasil/Centro e Praça Onze neste sábado (8/02) até as 2h. As demais estações do sistema funcionarão normalmente, das 5h à meia-noite. Porém, depois da meia-noite, elas ficarão abertas apenas para desembarque.

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Foto: MetrôRio/Divulgação

No domingo (9/02), a operação do sistema metroviário seguirá o horário regular de domingo com encerramento às 23h. Na volta para casa, o MetrôRio recomenda aos clientes com destino às estações da Linha 2 que utilizem preferencialmente a estação Central do Brasil/Centro. Já para os passageiros das linhas 1 e 4, a melhor opção é a estação Praça Onze.

Nos dois dias, a linha 2 vai operar entre Pavuna e General Osório/Ipanema, e as linhas 1 e 4 seguirão o trajeto Uruguai-Jardim Oceânico/Barra da Tijuca. A transferência entre as linhas 1 e 2 poderá ser feita no trecho entre as estações Central do Brasil/Centro e General Osório/Ipanema.

A concessionária recomenda o uso do pagamento por aproximação, disponível nos cartões de crédito e débito Visa, Elo e Mastercard, ou em dispositivos com tecnologia NFC, como celulares, relógios e pulseiras. Outra dica importante é antecipar a compra ou recarga dos cartões de passagem Giro, unitário do MetrôRio ou Riocard Mais, incluindo a compra da volta, facilitando a entrada no sistema. Os créditos podem ser adicionados pelo site, aplicativo do MetrôRio ou app RecargaPay.

Eventos de pré-carnaval

O MetrôRio é o principal meio de transporte para atender aos clientes que vão aos eventos de pré-carnaval no Centro do Rio. A recomendação da concessionária é que os foliões utilizem a estação Carioca/Centro para embarque e desembarque por conta dos grandes blocos que desfilam no Centro do Rio.

A estação Carioca/Centro contará com estrutura de embarque pelo Largo da Carioca, preparada para o grande aumento de fluxo, além de comunicação exclusiva e equipe reforçada. O mesmo esquema se repetirá nos dias de carnaval e no fim de semana após o carnaval (1 a 04/03 e 8 e 9/03).