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Comissão reivindica e emociona, Gilsinho dá aula e portelense canta alto no ensaio técnico

Por Guibsom Romão e fotos de Allan Duffes (Colaboaram Gabriel Radicetti, Raphael Lacerda, Luiz Augusto, Matheus Morais, Matheus Vinícius e Rhyan de Meira)

Com um carro de som impecável, uma comissão de frente impactante e uma harmonia bem trabalhada, a Portela fez bonito em seu ensaio técnico na Sapucaí. Sob a regência de Gilsinho, o canto forte da comunidade embalou a avenida, enquanto a coreografia e os elementos visuais reforçaram a força do enredo sobre Milton Nascimento. A centenária de Oswaldo Cruz e Madureira mostrou coesão na evolução e reforçou sua candidatura ao título de 2025, fechando a noite com a energia característica de quem sabe a grandiosidade que carrega.

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Sendo a segunda escola a ensaiar na noite de sábado, a Portela vem com o enredo ‘Cantar Será Buscar o Caminho que Vai dar no Sol’, desenvolvido pelos carnavalescos André Rodrigues e Antônio Gonzaga. A expectativa é de um desfile emocionante na terça-feira de Carnaval.

“A Portela é uma oração. Se eu falasse que a gente veio cantar samba hoje também estaria certo, mas eu prefiro dizer que a gente veio orar. Sabe por quê? Por causa do manto azul, por causa da águia, por causa do Milton Nascimento e porque todos os portelenses hoje não fizeram um ensaio, se alguém disser que a gente fez ensaio aqui estará errado. Os portelenses vieram orar, vieram celebrar a passagem da sua escola. Claro que a técnica é importante, ela é crucial, vital, mas se diante de tudo você não conseguir se emocionar pra emocionar, ser feliz para rir felicidade, vai fazer outra coisa. A Portela veio fazer carnaval, e carnaval é isso, felicidade multiplica felicidade”, analisou Junior Schall, diretor de carnaval.

Comissão de Frente

Sob as coordenações dos coreógrafos Leo Senna e Kelly Siqueira, os componentes da comissão se apresentaram com uma roupa em tons de azuis e detalhes dourados, transmitindo a sofisticação e grandeza do homenageado. A coreografia, executada com precisão diante das quatro cabines de jurados, foi cuidadosamente planejada para representar a trajetória de Milton Nascimento. Alguns guarda-chuvas foram utilizados durante a apresentação, os guarda-chuvas de cor azul simbolizavam a ditadura militar que o Brasil sofreu e eram substituídos por guarda-chuvas com girassóis desenhados, remetendo a vinda de melhores tempos.

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No fim da apresentação e seu ponto alto, a mesma cadeira utilizada anteriormente por Milton Nascimento nos eventos da escola, entra no meio da apresentação e a placa que a cantora Esperanza Spalding, com quem Milton concorria ao Grammy, usou para demarcar a ausência de Milton na plateia da premiação, é colocada em cima da cadeira e uma faixa com a palavra “Respeito” é aberta a cima da cadeira. Esse ato foi uma manifestação da escola a respeito do desrespeito que a premiação teve com o seu homenageado, que teve um lugar na plateia principal da premiação negado.

Mestre-Sala e Porta-Bandeira

Marlon Lamar e Squel Jorgea entraram muito bem para se apresentarem nas cabines de julgadores. Apresentando a coreografia oficial, o casal deixou transparecer o encantamento mútuo entre eles, em alguns momentos eles se assemelhavam a um casal apaixonado. Foi uma coreografia muito delicada. Mesmo com o vento forte tentando atrapalhar a condução da bandeira nos primeiros módulos, Squel demonstrou de maneira firme o domínio sob seu mastro e tirou de letra. Foi perceptível um levíssimo descompasso que o casal apresentou no que se refere ao ritmo de bailado individual. Além desse leve descompasso, é notável que o casal, mesmo em grande forma, ainda tem potencial para voar mais alto. Uma execução de coreografia mais aguerrida, com explosões e o ritmo levemente acelerado, é capaz de fazer o casal brilhar muito mais do que já brilha.

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“Saiu tudo como o ensaiado, como o programado. Quando chegamos aqui olhei pro Marlon e perguntei se queria bater a coreografia, olhar o video, ele só falou pra gente entrar na avenida e fazer o que a gente sabe, então fomos. Agora é curtir esse bom ensaio, bater a coreografia, dia 22 estaremos aqui de volta, é trabalhar, trabalhar e trabalhar até o desfile oficial que a gente não para nessa reta final”, citou Squel.

“A gente está muito confiante, chegamos aqui, nos olhamos e ‘bora? vamos’, quando a coreografia tá no corpo, óbvio que vamos assistir o vídeo da apresentação de hoje e sempre tem algo pra corrigir, mas serve pra melhorar a coreografia, não para mudar a coreografia, ela já está na gente. E estamos muito felizes, sabemos que será um desfile emocionante aos moldes da Portela, como a escola mostrou aqui, brilha Milton Nascimento”, completou Marlon.

Harmonia e Samba

Gilsinho e seu carro de som foram pontos altos do ensaio. Porém, quanto mais longe a ala estava do carro de som e da bateria, o seu canto aparecia um pouco mais cadenciado, não baixo, mas num ritmo mais para baixo. Ao contrário das alas próximas do intérprete ou do mestre Nilo que bradavam o samba em um tom mais aguerrido. Gilsinho mostrou pleno domínio do samba que defenderá na avenida, passando a sensação de que se ele quiser, dá para brincar ainda mais com o microfone, já que o samba e o andamento permitem.

A escola cantou muito e bem alto, até o fim da Sapucaí os portelenses desfilaram com o samba na ponta da língua e evoluindo de maneira precisa. O uso do caco “eu acredito”, por parte dos componentes, no meio da repetição da frase “Quem acredita na vida não deixa de amar” puxava a escola para cima. O samba passou bem pela avenida, o possível dentro de suas limitações.

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“Foi um bom ensaio. Até onde a gente pôde ver, a escola estava cantando muito bem, estava todo mundo cantando, todo mundo animado, a bateria foi sensacional, ritmo purinho, do início ao fim, o carro de som sustentando o samba do início ao fim, e a comunidade cantando muito, então acho que foi muito, muito proveitoso. Agora vamos ajustar mais algumas coisas para o segundo ensaio e fazer melhor ainda. Ajustar mais algumas coisas de canto, mais coisas para a escola cantar. Achei que a escola cantou muito bem, mas eu tenho certeza que a Portela pode cantar muito mais, então vamos forçar o canto para a escola cantar um pouco mais alto, cantar um pouco mais firme, não que não tenha sido, foi ótimo, mas a gente pode melhorar, sempre pode”, disse Gilsinho.

Evolução

A escola conseguiu manter a coesão na evolução, sem atropelos, estagnação ou buracos, mesmo com muitas alas coreografadas e teatrais, o que pode ser um desafio. No entanto, será interessante observar se essa fluidez se mantém no desfile oficial, quando há mais elementos cenográficos e pressão do julgamento.

O mesmo tripé utilizado no Dia Nacional do Samba na Cidade do Samba, foi utilizado neste ensaio técnico, com a presença de Tia Surica e Carlos Reis em cima do elemento cenográfico e a águia mascarada no meio. Foi a comprovação de que nos ensaios de rua a evolução funciona muito bem na Portela.

Outros destaques

A atriz Gabz, protagonista de ‘Mania de Você’, desfilou à frente de uma ala e não conteve a emoção. Cria de Irajá, ela estava em casa com a centenária de Oswaldo Cruz e Madureira. O uso de girassóis pelos componentes continuam causando um efeito visual interessante para as apresentações da escola, causando uma curiosidade em saber como a escola irá usar o amarelo no seu desfile.

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A rainha de bateria, Bianca Monteiro, esbanjou simpatia e muito samba no pé. Ela interagiou o tempo inteiro com o público presente na Avenida. Segundo o nosso colunista, Freddy Ferreira, a bataria teve “uma apresentação segura durante o percurso garantiu o bom ritmo da Majestade do Samba, além de paradinhas bem vinculadas ao samba da azul e branca de Oswaldo Cruz.

Freddy Ferreira analisa bateria da Portela no ensaio técnico na Sapucaí

“Foi muito bom. As bolsas já estavam sendo feitas lá em Madureira, mas hoje viemos aqui para tocar e colocar o andamento. E a bateria segurou o andamento. Os jurados estão batendo muito nisso na nova formação. Então o andamento foi correto e teve sustentação. A bateria está muito boa, mas estou sempre cobrando. Hoje não teve nada de errado. Só vimos que foi no andamento. E, devido a distância da escola que estava muito grande, eu não fiquei arriscando muitas bossas. No dia do desfile, logicamente, com o som na avenida inteira, eu vou fazer mais bossas”, revelou mestre Nilo Sérgio.

Veja galeria de fotos do ensaio técnico da Grande Rio na Sapucaí

Veja galeria de fotos do ensaio técnico da Portela na Sapucaí

Veja galeria de fotos do ensaio técnico da Vila Isabel na Sapucaí

Freddy Ferreira analisa bateria da Grande Rio no ensaio técnico na Sapucaí

Um excelente ensaio da bateria do Acadêmicos do Grande Rio, dirigida por mestre Fafá. Um ritmo marcado por equilíbrio musical e uma equalização de timbres simplesmente impressionante. Outro fato que merece menção é a educação e disciplina musical privilegiada de todos os naipes da bateria da tricolor da Baixada. Bossas bem atreladas ao melodioso samba da escola também ajudaram na exibição caprichada da bateria.

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Na parte da frente do ritmo da Grande Rio, um bom naipe de cuícas fez um trabalho seguro. Uma ala de agogôs exemplar ajudou bastante na musicalidade das peças leves, executando um desenho rítmico atrelado a melodia do samba com muito capricho e qualidade musical, inclusive auxiliando de forma luxuosa nas bossas. Um naipe de chocalhos acima da média se apresentou com consistência, por vezes tocando entrelaçado aos tamborins. A boa e ressonante ala de tamborins executou uma convenção rítmica profundamente interligada ao belo samba-enredo do Acadêmicos do Grande Rio.

A cozinha da bateria da Grande Rio fez uma exibição que esbanjou equilíbrio, estupenda equalização de timbres e muita educação e disciplina musical. Foi possível perceber todos os ritmistas tirando som de suas peças, sem colocar força exagerada no instrumento. Uma boa afinação de surdos foi notada, fato que auxiliou a equalização a receber o devido destaque. Surdos de primeira e segunda tocaram de modo seguro e eficaz, mas sem largar o braço. Surdos de terceira ficaram responsáveis pelo balanço da parte de trás da tricolor de Duque de Caxias, seja fazendo ritmo ou participando de modo cirúrgico nas frases musicais das paradinhas. Uma ala de repiques coesa tocou de forma reta, contribuindo com o preenchimento dos naipes médios junto de um naipe de caixas de guerra consistente e ressonante. Na última fila da bateria da Grande Rio, vieram tambores junto de maracas, que auxiliaram a consolidar o ritmo do Carimbó pela Avenida, adentrando pelo corredor em momento de bossa.

Bossas intimamente ligadas a grande obra da agremiação caxiense foram um dos pontos altos da musicalidade da bateria da Grande Rio. Todas se aproveitando exatamente do que o samba pede, evidenciando uma criação musical orgânica e praticamente intuitiva. A participação de todos os naipes nos arranjos também demonstra o extremo bom gosto no conceito criativo das paradinhas. Embora não sejam de alto grau de complexidade, as bossas são potentes, musicais e principalmente dançantes, fato que pode ajudar a impulsionar a evolução e contagiar os desfilantes da agremiação durante o desfile. Impressionante o ressoar metálico poderoso e simplesmente precioso dos agogôs da bateria da Grande Rio durante as paradinhas, comprovando o apuro técnico do naipe e o acerto musical na escolha das convenções dos arranjos.

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Foto: Thomas Reis/Divulgação Rio Carnaval

Um ensaio técnico excelente da bateria do Acadêmicos do Grande Rio, comandada por mestre Fafá. Um ritmo com notável equilíbrio, além de uma equalização acima da média. Esse alto nível técnico proporcionou uma audição absoluta de todas as peças do ritmo caxiense pela Sapucaí. Bossas com entrosamento pleno com o samba auxiliaram no impacto positivo da musicalidade da bateria de mestre Fafá, garantindo uma exibição de grande destaque.

Freddy Ferreira analisa bateria da Portela no ensaio técnico na Sapucaí

Um bom ensaio técnico da bateria “Tabajara do Samba” da Portela, sob o comando de mestre Nilo Sérgio. Uma apresentação segura durante o percurso garantiu o bom ritmo da Majestade do Samba, além de paradinhas bem vinculadas ao samba da azul e branca de Oswaldo Cruz.

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Na parte da frente do ritmo portelense, um naipe de cuícas volumoso e de qualidade auxiliou no preenchimento das peças leves. Uma ala de agogôs correta executou um desenho rítmico pontuando a melodia do samba da Majestade, inclusive em paradinhas. Um bom naipe de chocalhos contribuiu de forma consistente com a cabeça da bateria da Portela, assim como uma ala de tamborins se exibiu em bom nível,executando um desenho rítmico com certa complexidade, acrescentando bom volume à “Tabajara”.

Na cozinha da bateria da Portela uma afinação correta de surdos foi notada. Um trabalho firme e preciso foi realizado pelos marcadores de primeira e segunda, seja fazendo ritmo ou nas paradinhas. O balanço envolvente dos surdos de terceira deu um bom molho à parte de trás do ritmo, inclusive nas bossas, onde sua acentuação musical era solicitada de modo destacado. Um bom naipe de repiques tocou com coesão, bem como uma ala de caixas com sua clássica rufada contribuiu com qualidade no ressoar dos naipes médios.

As bossas portelenses eram pautadas pelas nuances melódicas do samba da Águia. Terceiras e caixas apresentaram um nível de exigência musical maior dentro dos arranjos propostos, recebendo maior destaque, assim como o trabalho dos agogôs também pôde ser notado dentro das paradinhas, dando boa musicalidade às bossas da bateria da Portela. A boa pressão dos arranjos foi propiciada graças a uma afinação de surdos mais pesada, contribuindo com bossas que misturaram musicalidade e certa potência sonora.

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Foto: Thomas Reis/Divulgação Rio Carnaval

A bateria “Tabajara do Samba” da Portela fez um bom ensaio técnico, dirigida por mestre Nilo Sérgio. Um ritmo portelense com sua clássica caixa rufada ecoando pela pista, com a peculiar levada portelense, dando molho inclusive nas boas participações em bossas. Uma apresentação consistente e equilibrada da “Tabajara”, que mostra que a agremiação da Rua Clara Nunes está em um caminho próspero para o tão aguardado desfile oficial.

Freddy Ferreira analisa bateria da Vila Isabel no ensaio técnico na Sapucaí

A bateria “Swingueira de Noel” da Unidos de Vila Isabel fez um ótimo ensaio técnico, na abertura da terceira semana do grupo especial, sob o comando de mestre Macaco Branco. Um ritmo fluído, bem equalizado e com uma afinação potente de surdos foi apresentado. Bossas profundamente integradas à melodia do samba também deram um brilho a mais, na grande apresentação da bateria da Vila.

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Na cabeça da bateria “Swingueira de Noel”, uma ala de cuícas ressonante exibiu um trabalho sólido, fazendo um feijão com arroz bem temperado, valorizando o ritmo e marcando o samba. Um naipe de chocalhos acima da média se apresentou muito bem tocando interligados com uma ala de tamborins, que executou um desenho rítmico com certa complexidade com notória eficiência. É possível dizer que o belo entrosamento entre chocalhos e tamborins encheu de virtude sonora o trabalho das peças leves da Vila.

A parte de trás do ritmo da bateria da Vila contou com sua afinação peculiar, bem pesada. Impressionante o timbre puxado mais para o grave da marcação de primeira, com uma potência capaz de tremer o chão da Avenida, junto da resposta da segunda mais aguda, permitindo um Groove exemplar. Marcadores de primeira e segunda foram firmes e precisos durante todo o ensaio. Surdos de terceira foram responsáveis pelo balanço, tanto fazendo ritmo, quanto nas participações pra lá de caprichadas nas bossas. Incrível a sintonia e integração musical das terceiras nas paradinhas da escola do Boulevard. Um naipe de repiques coesos e equilibrados auxiliaram no preenchimento dos naipes médios. Que também contou com a tradicional mescla entre caixas retas eficientes tocadas embaixo dando consistência e de taróis com suas rufadas genuínas contribuindo com um volume sonoro de bastante destaque. Uma cozinha da “Swingueira” exibindo um grande trabalho, com o inconfundível ritmo da Vila.

As bossas eram extremamente integradas ao animado samba-enredo da escola do bairro de Noel. Paradinhas contendo pressão sonora envolvendo a afinação dos surdos foram percebidas, além do fato de aproveitar as terceiras para efetuar frases rítmicas pontuais, demonstrando exímio bom gosto musical. Um leque que, mesmo sendo mais enxuto, se mostrou musicalmente atraente e principalmente dançante. São bossas para os componentes dançarem, contagiando o desfilante e impulsionando a evolução durante o percurso da agremiação. A paradinha da cabeça faz o que pede o samba e imita um trem fazendo um barulho de locomotiva, garantindo interação popular com os ritmistas dançando pra lá e pra cá. Para quem não sabe, Locomotiva de Noel era o apelido do ritmo que fazia a bateria da Vila Isabel, na época do grande mestre Ernesto, que merece a menção musical por ter forjado a identidade rítmica herdada por mestre Mug há muito tempo atrás. A retomada da bossa que, seguindo o pedido pela letra vem do “silêncio” (vazio) tem um charme valioso, pois usa exatamente a forma como historicamente a bateria da Vila sobe seu ritmo no esquenta do Setor 1, desde os tempos do saudoso mestre Amadeu Amaral.

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Foto: Vitor Melo/Divulgação Rio Carnaval

Um grande ensaio técnico da bateria “Swingueira de Noel” da Vila Isabel, dirigida pelo mestre Macaco Branco. Uma bateria da Vila genuinamente vinculada à essência do que há de mais tradicional em seu ritmo, tudo isso aliado a bossas contemporâneas com frases musicais bem conectadas à obra da escola. Um ritmo marcado pela boa fluência entre os mais diversos naipes, que tocaram de forma equilibrada por toda a pista de desfile. Certamente mestre, diretores e ritmistas têm motivos de sobra para voltarem orgulhosos para a quadra de ensaios na 28 de Setembro.

Freddy Ferreira: ‘Qual o tamanho ideal de uma bateria que desfila na Sapucaí?’

Um tema pouco explorado que merece total atenção de mestres, diretores e ritmistas é o tamanho ideal de uma bateria de escola de samba. Tempos atrás vir com trezentos ritmistas ou mais era quase uma cultura rítmica carioca. Cada vez mais esse número vem sendo reduzido ao longo do tempo e hoje em dia dificilmente alguma bateria ainda desfila com três centenas. Sejam por questões estruturais e financeiras referentes às próprias escolas ou mesmo pela avaliação do potencial risco acústico durante o percurso do desfile.

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Foto: Alexandre Vidal/Divulgação Rio Carnaval

Quantificar em números a bateria ideal é uma tarefa árdua, mas o detalhe técnico crucial para esse tipo de avaliação é medir na verdade o seu tamanho (extensão). A distância entre as caixas de som pela pista de desfile é de 15 metros de uma para a outra. Uma bateria com mais de 45 metros pode sofrer algum tipo de prejuízo acústico, por causa do atraso gerado a partir da quarta caixa de som da Avenida, após o caminhão do carro de som. Dentro do carro de som existe uma espécie de GPS que deixa as três torres de som posteriores da pista sincronizadas com o carro. Somente o retorno de vozes e cordas fica ativo e mais baixo, desligando assim o da bateria, para que o som ambiente aproveite a sonoridade única do ritmo. Esse tipo de cálculo é realizado levando em conta o caminhar da bateria pela pista, exatamente para manter a acústica ambiente propícia para a melhor passagem possível do ritmo pela Avenida.

Baterias maiores que 45 metros podem ser afetadas por um ambiente acústico irregular. Mestres que estiverem mais próximos da quarta caixa do que da terceira tendem a ouvir o som da Avenida levemente atrasado, em relação ao ritmo que está sendo feito por sua bateria. Outro fato que exemplifica isso é quando se está na arquibancada e uma bateria bem grande se aproxima, mas enquanto se locomove parece estar atravessando o ritmo. Assim que ela para de frente para o setor é possível perceber que está tudo em ordem, com o ritmo equilibrado. Isso ocorre, pois a própria locomoção também leva em conta essa teoria das três caixas de sons subsequentes e andar rápido demais com o ritmo também pode potencialmente gerar complicações acústicas pelo som da Avenida. O ideal é sempre entrar e sair dos módulos andando de forma mais ponderada, sem acelerações ou atropelos, assim como por todo o cortejo.

Outro fator a ser levado em conta é a própria organização dos ritmistas pela Avenida. A formação das filas pode ser um agravante muitas vezes sequer notado para elevar a extensão da bateria. Normalmente são formadas fileiras de doze ritmistas, seis do lado par e outros seis do lado ímpar, podendo variar para a formação de dez ritmistas, com cinco de cada lado. A segunda automaticamente aumentará o tamanho do ritmo pela pista. Por vezes, o próprio tamanho da fantasia usada pelo ritmo influencia de modo direto tanto essa organização das fileiras, como a extensão da bateria na Avenida. Fantasias volumosas ou mesmo com chapéus elevados precisam de uma distância maior entre uma fileira e outra, até para garantir a plena execução dos movimentos, visando consolidar os toques. Isso acarreta necessariamente em uma bateria maior em extensão na Sapucaí, podendo gerar eventuais prejuízos sonoros.

Como é possível perceber, ritmo de bateria de Escola de Samba sempre viverá dilemas acústicos eternos, já que seu trabalho é executado através da física envolvendo a propagação do som. Refletir de forma crítica sobre seus eventuais desafios, portanto, é um jeito de buscar uma evolução da nossa cultura rítmica, auxiliando numa passagem cada vez mais regular e consistente de todas as baterias. O ato de caminhar pela pista enquanto toca precisa sempre de atenção e ponderação. Assim a propagação de uma conjunção sonora impecável de todos os naipes ficará em evidência, sem sofrer qualquer tipo de transtorno ou abalo acústico.

Ministra Anielle Franco visita barracão do Salgueiro e exalta enredo do Carnaval 2025

Na tarde da última sexta-feira, a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, visitou o barracão do Acadêmicos do Salgueiro, na Cidade do Samba, antes de participar do lançamento da campanha “Feminicídio Zero no RioCarnaval 2025”. O evento contou com a presença da ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, além de autoridades do estado do Rio e personalidades do mundo do samba.

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Foto: Ygor Gusmão/Divulgação Salgueiro

Recebida pelo carnavalesco Jorge Silveira, Anielle Franco conheceu as alegorias e detalhes do enredo que a vermelha e branca da Tijuca levará para a Marquês de Sapucaí neste carnaval. Em um momento marcante, Jorge Silveira destacou a importância da visita da ministra e a representatividade do enredo salgueirense:

“Olha, hoje é um dia muito especial para nós aqui no Salgueiro. É um ano muito especial para nós. Acho que a jornada do Salgueiro esse ano é uma jornada que tem uma representatividade muito importante e a sua presença aqui representa parte dessa nossa luta e é um somatório de esforços para que a gente possa fazer validar aquilo que é de direito da cultura brasileira. E muito obrigado, seja bem-vinda ao Salgueiro.”, declarou Jorge à ministra.

A ministra foi presenteada pela agremiação com uma figa de madeira, remetendo aos amuletos de proteção destacados no enredo. Emocionada com a recepção, Anielle Franco ressaltou o impacto social do carnaval e a importância de valorizar suas raízes:

“Eu sempre digo que a gente não pode esquecer de onde vem, né? E lembrar de onde vem, respeitar quem veio antes, faz parte dessa história da construção de futuro. E o que vocês fazem aqui, o que o carnaval oferece para as pessoas desse país, de cultura, de esperança, de alegria, porque isso também é político, faz com que a gente entenda a nossa real missão de estar aqui.”

A ministra também destacou a força do enredo e do samba-enredo do Salgueiro, que carrega uma mensagem contundente contra a intolerância religiosa:

“O que a gente está vendo aqui e em várias outras escolas também, é a luta para cada vez mais reforçar o respeito, a empatia. Não à toa o samba de vocês aí está no ‘top dos tops’, como uma das músicas mais ouvidas do momento, mas não só isso, foi das mais baixadas, porque tem um recado para dar. Assim como nós, quando estamos no Ministério, falamos da luta, da importância do povo negro, das pessoas respeitarem, humanizarem esse povo, essa sociedade, assim também é o carnaval.”

A ministra se emocionou ao lembrar da irmã, Marielle Franco, vereadora assassinada em 2018, e fez um apelo pelo respeito e pela empatia:

“Propagar o respeito, a empatia. Propagar que cada pessoa tem direito de cultuar aquilo que acredita, da maneira que acredita. Vocês sabem da história da minha melhor amiga, né? Quando a minha irmã é assassinada, um dos motivos, é por defender pessoas que lutam todos os dias contra essas violências.”, destacou Anielle ao falar da importância das escolas de samba na luta contra a intolerância religiosa.