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Olhar especial: o que vimos nas cabines de julgadores nos desfiles do Grupo Especial do Rio

Pela primeira vez, a Liesa disponibilizou para imprensa imagens das quatro cabines de julgadores do Grupo Especial no Carnaval 2025. Foi montado um telão, na sala de imprensa da Sapucaí, com imagens da pista, no mesmo ângulo do jurado. O CARNAVALESCO acompanhou tudo e apresenta o que viu de cada escola.

Unidos de Padre Miguel

A Unidos de Padre Miguel trouxe o enredo “Egbe Iyá Nassô”, dividido em seis setores com alegorias e um tripé.

Comissão de frente
A comissão de frente comandada por Sérgio Lobato representou “De Ori pra Ori”, a comissão abriu os caminhos de Iyá Nassô autorizando o desfile da Unidos de Padre Miguel. Nas quatro cabines a comissão se apresentou com correção, muito bem sincronizada nos movimentos das senhoras e com o efeito da orixá indo ao topo do tripé funcionando com êxito.

Mestre-sala e porta-bandeira
Vinicius Antunes e Jéssica Ferreira vieram representando “A corte real de Oyó”, com uma fantasia em branco e prata. E o casal realizou uma apresentação sem erros técnicos nos quatro módulos de jurados, com precisão nas finalizações e bom uso do espaço da pista.

Evolução
A escola veio com um contingente significativo e conseguiu realizar uma evolução firme e linear, pisando com bastante força na Marquês de Sapucaí. Uma evolução sem atropelos ou maiores espaçamentos, com bom preenchimento do espaço à frente das alegorias. Sem buracos nas quatro cabines.

Harmonia
A Unidos apresentou um excelente canto durante todo o seu desfile, com momentos de muita explosão, como o refrão principal e o trecho “toca o adarrum que meu orixá responde”. Bom desempenho do carro de som liderado por Bruno Ribas que não deixou o samba cair de rendimento. Vila Vintém cantou forte na avenida.

Samba
Um samba forte, potente e bonito que se provou na avenida com um desempenho aguerrido e explosivo. O samba segurou firme durante toda a apresentação da escola, impulsionando seu desfile.

Imperatriz

A Imperatriz Leopoldinense foi a segunda escola a desfilar apresentando o enredo “Omi Tutú ao Olufón – Água Fresca Para o Senhor de Ifón”, dividido em cinco setores, cinco alegorias e 24 alas.

Comissão de frente
A comissão coreografada por Patrick Carvalho veio apresentando a figura central do enredo, Oxalá, se banhando em suas águas. Bastante jogo de luz e efeitos de chafariz que funcionaram nas quatro cabines e uma coreografia correta. Uma comissão plasticamente muito bonita com um excelente tripé

Mestre-sala e porta-bandeira
Philipe Lemos e Rafaela Theodoro vieram representando o “Axé Funfun”, um tributo à Oxalá. O casal realizou uma apresentação irrepreensível nas quatro cabines, mostrando um nível de excelência alto e seguindo o grande momento dos dois. Entrosamento, bailado espetacular, elegância, fluidez, todos os elementos foram apresentados pelo casal em todos os módulos. Um brilhante desempenho.

Evolução
A Imperatriz apresentou uma evolução quente, empolgante e muito organizada em todo o seu desfile. A escola fluiu com muita tranquilidade, chegando sem sustos ao final da Sapucaí. Alas muito compactadas, ritmo constante e uma escola que não deixou claros durante a sua passagem pela avenida. Ótima evolução pelas quatro cabines.

Harmonia
Se a Imperatriz não apresentou a catarse no quesito e na comunicação com o público como foi em 2024, trouxe um canto muito satisfatório, com o samba na ponta da língua de todos os componentes. Todos os setores cantaram o samba do início ao fim, sem quedas. O carro de som liderado por Pitty de Menezes teve mais um grande desempenho, e Pitty se firma a cada ano como um dos grandes Interpretes do Carnaval.

Samba
Um dos melhores sambas do ano passou com o desempenho que fez jus à qualidade que possui, se mostrando envolvente e gostoso de ouvir. O samba fluiu com bastante facilidade e não caiu em momento algum.

Viradouro

A Unidos da Viradouro foi a terceira escola a se apresentar na Marquês de Sapucaí neste domingo de Carnaval com o enredo “Malunguinho, o mensageiro de três mundos”, divididos em quatro setores, com 21 alas, seis alegorias e um tripé

Comissao de frente
Comandada pelo casal Priscilla Mota e Rodrigo Negri, a comissão representou a invocação de Malunguinho, aparecendo para o líder do Catucá, João Batista. Uma comissão que impressionou pelos diferentes atos e uso de muitos elementos, além de efeitos de luz, fogo e drones trazendo chapéus. E tudo fluiu perfeitamente, uma comissão que tinha um fato novo a cada momento, tornando a apresentação dinâmica. Mais um excelente trabalho do casal.

Mestre-sala e porta-bandeira
Julinho e Rute vieram fantasiados de “terreiro Viradouro”, abrindo a passagem de Malunguinho pela Sapucaí. E abriram com brilhantismo e uma apresentação de altíssima categoria. Eles flutuaram pela pista com uma apresentação bonita e de entrosamento perfeito. Nas quatro cabines exibiram o mesmo nível.

Evolução
A evolução da Viradouro teve algum descompasso em seu ritmo, com a escola ficando parada em alguns momentos sem avançar pela pista de forma constante. De resto a escola passou com correção, sem abertura de buracos ou desorganização em suas alas.

Harmonia
Forte quesito da Viradouro, tanto no canto da escola que em alguns momentos explodia como no trecho antes do refrão principal “o rei da mata que mata quem mata o Brasil”, quanto no carro de som extremamente afinado liderado por Wander Pires. O desempenho foi constante e o Intérprete segurou o samba até o fim da passagem da escola.

Samba
O belíssimo samba da Viradouro mostrou toda sua qualidade nesta noite na Marquês de Sapucaí. Excelente desempenho valorizado pela interpretação de Wander Pires que explora cada variação melodia da obra. O samba começou a mil, e se não explodiu, passou de forma muito competente mantendo um ótimo rendimento até o final.

Mangueira

A Estação Primeira de Mangueira fechou o primeiro dia de desfiles trazendo o enredo “À Flor da Terra – No Rio da Negritude Entre Dores e Paixões”, dividido em cinco setores, com cinco alegorias, dois tripés e 26 alas.

Comissão de frente
Os coreógrafos Lucas Maciel e Karine Dias trouxeram uma comissão representando “À Flor da Terra”, com a primeira parte da coreografia formada por mulheres ancestrais, coreografia simples de passagem fazendo transição para a mudança de palco com dançarinos simulando passinhos de funk. A parte do passinho foi o ponto alto da apresentação, finalizando com os componentes soltando pipa, empolgando o publico presente. A comissão passou com a iluminação muito escura em alguns momentos, dificultando a observação da sincronia dos componentes. Nos dois primeiros módulos um componente demorou pra baixar o pano.

Mestre-sala e porta-bandeira
Matheus Olivério e Cintya Santos vieram representando os “Ancestrais Bantos da Negritude Carioca”, e fizeram uma boa apresentação nas quatro cabines, com bastante vigor, e pequenos desajustes. No primeiro módulo Cintya Santos deu duas bandeiradas muito bruscas destoando do restante de sua apresentação. No terceiro módulo teve alguma dificuldade de desenvoltura em alguns giros. No segundo e quarto módulo a apresentação foi excelente por parte de ambos, muita sincronia entre Cintya e Matheus.

Evolução
A Mangueira teve uma boa evolução durante sua passagem na Sapucaí. A escola arrancou forte, acabou diminuindo um pouco o seu ritmo mas finalizou o desfile sem correria, apesar de encerrar próximo do tempo máximo permitido. Mais uma escola que passou compactada sem abertura de maiores espaçamentos.

Harmonia
Um banho do carro de som da Mangueira liderado por Marquinho Art Samba e Dowglas Diniz, comprovando o excelente trabalho da direção musical da escola. Perfeita combinação das vozes e condução constante do samba. Os componentes também cantaram forte, com pouquíssimas alas passando mais abaixo. Em alguns momentos o canto explodiu, como no trecho “é de arerê, força de matamba” e no refrão principal.

Samba
O samba da Mangueira veio crescendo ao longo dos ensaios e comprovou seu viés de alta no desfile oficial. Rendeu bastante para a escola, com uma letra de fácil assimilação e uma melodia que joga o samba pra cima, apesar da mudança brusca pro refrão principal. O trecho “é de arerê, força de matamba” funcionou muito, inclusive com o público.

Unidos da Tijuca

A Unidos da Tijuca abriu o segundo dia de desfiles trazendo o enredo “Logun-Edé: Santo velho que menino respeita”, dividido em seis setores, com 27 alas, cinco alegorias e um tripé.
Comissão de frente
A comissão liderada pelas coreografias Ariadne Lax e Bruna Lopes, estreantes na agremiação, veio com a apresentação batizada de “tudo começa no Orum”, mostrando a origem da saga de Logun-Edé. A coreografia representou a briga e o perdão de Oxalá à Logun-Edé. Mais uma comissão com a coreografia feita praticamente toda no tripé. No primeiro módulo ocorreram algumas falhas de sincronia na realização da coreografia.
Mestre-sala e porta-bandeira
Matheus André e Lucinha Nobre desfilaram com uma fantasia chamada “O elo entre Orum e Ayê – Um movimento ancestral”. Eles realizaram uma apresentação com alguns deslizes, no primeiro módulo alguns movimentos e giros do casal não convergiram, na terceira cabine Lucinha teve dificuldades para manter a bandeira esticada que chegou a encostar em Matheus durante um momento da coreografia. A melhor apresentação do casal foi na última cabine, onde os movimentos foram mais afiados.
Evolução
A Tijuca abriu alguns espaços durante seu desfile e não passou de forma tão compacta, sobretudo na segunda metade de desfile. Algumas alegorias apresentaram uma evolução lenta e dificultaram o trabalho da escola, dois espaços maiores foram abertos em frente à cabine de jurados, sobretudo um buraco significativo no módulo 1.
Harmonia
Um bom canto apresentado pela Unidos da Tijuca, que ao contrário da evolução foi bem linear, com poucas alas destoando. Não foi um canto avassalador mas a escola foi muito correta no quesito e teve todos os trechos do samba entoados pelos componentes. Ito Melodia teve uma condução correta da obra.
Samba
O samba passou bem durante quase a totalidade da apresentação da Tijuca, com um ou outro pequeno momento de menor força, mas com a costumeira competência de mestre Casagrande a bateria Pura Cadência sustentou muito bem o samba da escola, que tem trechos de qualidade como o refrão central.

Beija-Flor

A Beija-Flor foi a segunda escola a desfilar com o enredo “Laila de Todos os Santos, Laila de Todos os Sambas”, dividido em seis setores, 26 alas e seis alegorias.

Comissão de frente
A comissão coreografada por Saulo Finelon e Jorge Teixeira trouxe o “Terreiro de Laíla”. Uma apresentação recheada de religiosidade, numa bela realização cheia de efeitos de luz, que funcionaram perfeitamente nos quatro módulos, assim como a coreografia idealizada pela dupla. Um belo momento do desfile da Beija-Flor.

Mestre-sala e porta-bandeira
Claudinho e Selminha Sorriso desfilaram com uma fantasia batizada de “Odu do destino – A Confirmação do Ori Ancestral”. Uma apresentação que cresceu demais nos dois últimos módulos após desajustes nas primeiras duas cabines. No módulo 1 o casal dançou de forma lenta e pouco dinâmica principalmente na segunda passada do samba. No segundo módulo essa quebra rítmica voltou a acontecer e no fim da apresentação Claudinho teve dificuldade na pegada da bandeira, ela escapa mas depois ele a retoma. Na terceira e quarta cabines o casal mostrou sua habitual categoria.

Evolução
A evolução da Beija-Flor foi correta, porém apresentou descompassos no andamento, pois a escola foi mais lenta na primeira metade de desfile e apressou um pouco o passo na parte final. Em relação a espaços na pista, a azul e branco evoluiu com tranquilidade, sem falhas.

Harmonia
Neguinho da Beija-Flor se despede da Marquês de Sapucaí repetindo o que mais fez nessa avenida, colocar um samba no bolso. Grande desempenho dessa legenda da história do Carnaval, bem auxiliado pelo carro de som da escola. Componentes cantaram muito o tempo inteiro, e quando a bateria fez um paradão sustentaram com muita força no gogó, uma harmonia excelente da Beija-Flor.

Samba
Um samba que fala ao coração do nilopolitano, com um espetacular refrão principal. O rendimento foi excelente, um samba de muita garra e uma letra emocional que fizeram a obra passar com muita força durante a totalidade do desfile. A parte final a partir do verso “eu vou seguir” emocionou.

Salgueiro

O Salgueiro foi a terceira escola a entrar na avenida nesta segunda noite de desfiles do Grupo Especial, apresentando o enredo “Salgueiro de Corpo Fechado”, dividido em seis setores, 26 alas, três tripés e seis alegorias.

Comissão de frente
A comissão coreografada por Paulo Pinna representou o terreiro ancestral do próprio Salgueiro. Uma coreografia dividida em dois atos bem realizados, com um jogo de luzes na segunda parte da coreografia que valorizou o efeito do fogo acendendo e apagando. No último módulo uma das componentes demorou pra subir a rampa para o inicio do segundo ato, mas não atrapalhou a sequência da comissão

Mestre-sala e porta-bandeira
Sidclei e Marcella Alves vieram vestidos “De Corpo Fechado” e fizeram uma apresentação consistente. No primeiro e terceiro módulos o desempenho foi irrepreensível. No segundo e quarto módulos a fluência do bailado de Sidcley caiu um pouco, mas sem tirar o bom nível de uma apresentação azeitada do casal.

Evolução
Salgueiro evoluiu com fluidez e vigor pela Marquês de Sapucaí, com um bom ritmo imposto pela direção da escola e puxado pelo andamento do samba. Mais uma evolução que não apresentou problemas de preenchimento da pista, sem abrir buracos mesmo com um ritmo forte, e encerrou com tranquilidade o seu desfile.

Harmonia
O carro de som do Salgueiro foi correto, com boa condução do samba pelo Intérprete Igor Sorriso. A harmonia da escola fez um bom trabalho com os componentes que cantaram com gana o samba da escola. Na parte final a força do canto teve uma leve queda no pique.

Samba
O bom samba da agremiação começou fortíssimo, com uma pegada contagiante. Com o passar do desfile alguns trechos tiveram algum arrefecimento, como a primeira parte, mesmo com a bateria comandada por Guilherme e Gustavo. No cômputo geral, o samba do Salgueiro cumpriu bem o seu papel, principalmente o envolvente refrão principal

Vila Isabel

A Unidos de Vila Isabel foi a quarta e última escola a desfilar na segunda noite de desfiles do Grupo Especial do Rio de Janeiro, com o enredo “Quanto mais eu rezo, mais assombração aparece!”, dividido em cinco setores, 30 alas e seis alegorias.

Comissão de frente
A comissão comandada por Alex Neoral e Marcio Jahú trouxe um trabalho batizado de “O homem que enganou o diabo… virou assombração!”, com um tripé representando o inferno. Nos dois primeiros módulos todos os efeitos funcionaram, mas após a apresentação na segunda cabine o drone que levantava a abóbora fantasma caiu, causando a ausência do efeito na terceira cabine de jurados, onde a solução para a finalização da coreografia foi empurrar a abóbora para o chão do tripé. Na última cabine a abóbora voltou a subir.

Mestre-sala e porta-bandeira
Marcinho e Cristiane Caldas desfilaram com uma fantasia representando o olho grego, espantando o mau-olhado e protegendo os passageiros do trem fantasma que viria a seguir no abre-alas. A apresentação foi claudicante nas duas primeiras cabines, muito por causa do vento que atrapalhou a condução da bandeira por parte de Cristiane. No primeiro módulo a bandeira chega a dobrar em um determinado momento, e na última pegada de Marcinho na bandeira o movimento foi feito com alguma dificuldade. No segundo módulo a apresentação foi mais limpa, porém Cris voltou a ter dificuldades com a bandeira e após um giro a bandeira enrolou rapidamente. Nos dois últimos módulos Marcinho e Cristiane realizaram excelentes apresentações, com dinamismo e boa técnica.

Evolução
Muito boa a evolução da Vila Isabel por todas as cabines, com um ritmo constante e uma escola pujante. Apesar do samba ter arrancado num ritmo alucinante e minutos depois diminuído o andamento, as alas não tiveram oscilação no avanço pela Sapucaí, seguindo firme até a linha final de desfile.

Harmonia
O povo de Noel defendeu com energia o samba da Vila, principalmente nos primeiros 20 a 30 minutos de desfile, onde algumas alas gritavam o samba. Com o avançar da escola, o canto caiu por parte de alguns componentes, passando pelos setores finais de forma mais morna. Tinga mais uma vez teve um desempenho de muita empolgação levantando o samba e o sustentando o tempo todo.

Samba
A proposta da Vila Isabel foi por um samba animado e de fácil assimilação com o público e componentes. E essa proposta funcionou até certo ponto, com uma escola empolgada em seu início, uma arrancada com muita pegada e um ritmo acelerado por parte de Tinga e a bateria de Macaco Branco. O andamento logo foi acertado pro padrão que se seguiu no desfile e aos poucos o samba foi apresentando suas lacunas, tendo um desempenho regular ao final da apresentação da Vila.

Mocidade

A Mocidade Independente de Padre Miguel abriu o último dia de desfiles trazendo o enredo “Voltando para o futuro – Não há limites para sonhar”, dividido em cinco setores, com 24 alas, dois tripés e cinco alegorias.

Comissão de frente
A comissão liderada por Marcelo Misalidis veio com uma apresentação batizada de “IA, venida Matrix do Samba, o futuro é aqui”, com alguns elementos de rodas mas sem um grande tripé.A coreografia tinha um grande robô e os elementos viravam painéis exibindo imagens de fogo. Na parte final da apresentação surgem um robô pequeno e dois cães tambem articulados como robôs. Tudo funcionou a contento nas quatro cabines, em uma boa apresentação.

Mestre-sala e porta-bandeira
Diogo Jesus e Bruna Santos vieram com uma fantasia representando “Supernova, A Grande Explosão”, um fenômeno que ocorre com estrelas de grande massa, formando outras estrelas através de suas partículas. O casal teve dificuldades com a bandeira em algumas cabines. Nas duas primeiras a bandeira chegou a dobrar, sendo que na segunda de forma mais sutil. Na terceira cabine a apresentação foi limpa e o casal pôde demonstrar toda a sua categoria. No quarto e último módulo num dos últimos movimentos da apresentação do casal a bandeira esbarrou no rosto de Diogo.

Evolução
Excelente a evolução da Mocidade, com uma escola passando empolgada e organizada, com um ritmo linear sem aceleração excessiva ou mais travada em algum momento. Nas quatro cabines a escola evoluiu com força, sem abertura e espaçamentos e passou com tranquilidade na Sapucaí

Harmonia
Um canto forte que se manteve até o fim da apresentação, tendo boa comunicação com o público, o que impulsionou os componentes da escola a seguirem no ritmo até o final. Muito bom desempenho da harmonia da Mocidade nas quatro cabines. No carro de som as vozes femininas foram o destaque, com boa sustentação para o samba.

Samba
Um samba dolente que traz até uma melancolia em alguns trechos, mas que neste desfile mostrou ser um samba de força e impulsionou o canto da escola. Mesmo com o andamento mais pra trás característico da bateria “Não existe mais quente” o samba não amornou e não perdeu rendimento durante o desfile.

Paraíso do Tuiuti

A Paraíso do Tuiuti foi a segunda escola a desfilar nesta terça-feira, última noite de apresentações das escolas do Grupo Especial. A escola trouxe o enredo ” Quem tem medo de Xica Manicongo?” dividido em seis setores, com 28 alas, cinco alegorias e dois tripés.

Comissão de frente
A comissão comandada por Claudia Mota e Edifranc Alves representava o “Transpasssado e transfuturo”, mais uma comissão dividida em dois grupos de dança. No primeiro módulo o efeito do fogo no açoite das componentes não funcionou. Nos demais módulos todos os elementos funcionaram bem.

Mestre-sala e porta-bandeira
Raphael e Dandara vieram vestidos de “Kimbandas”. O desempenho do casal foi de ótimo nível, com uma dança de bastante desenvoltura e entrosamento, bailado elegante de ambos. No último módulo a bandeira de Dandara quase pegou em Raphael, que teve que se desvencilhar.

Evolução
O grande calcanhar de aquiles da Tuiuti. A escola teve problemas com o abre-alas e o quarto carro que estavam passando lentos pela pista, por isso ficou parada em vários momentos na avenida para não abrir espaços, só que isso matou qualquer fluidez na evolução e fez a escola demorar muito pra chegar no fim da pista, apenas com 56 minutos a comissão de frente atravessou a linha final. A partir daí o que se viu foi uma imensa correria, com abertura de buracos, alas se abrindo todas e desespero para evitar o estouro de tempo, o que a Tuiuti conseguiu passando em 80 minutos, porém comprometeu em definitivo uma evolução ruim desde o início.

Harmonia
No que tange ao carro de som, Pixulé mostrou mais uma vez o grande intérprete que é. Atuação soberba, com afinação, impostação de voz e sustentação do samba o desfile inteiro. Em relação ao canto dos componentes, foi um desempenho satisfatório da maior parte das alas, com algumas destoando um pouco e só reforçando o canto no trecho “eu, travesti”.

Samba
O samba da Tuiuti impulsionado pelo brilhante desempenho de Pixulé passou com força pela Marquês de Sapucaí, apesar de uma queda na parte final do desfile. Os trechos em que a letra é mais direta esquentavam o samba, que mostrou uma boa variação melódica.

Grande Rio

A Acadêmicos do Grande Rio foi a terceira escola a passar na terceira e última noite de desfiles com o enredo “Pororocas Parawaras – As Águas dos Meus Encantos nas Contas dos Curimbós”, dividido em cinco setores, com 24 alas, cinco alegorias e três tripés.

Comissão de Frente
Hélio e Beth Bejani elaboraram uma comissão com o significado de “quatro contas”, utilizando um tripé para o primeiro ato da comissão e depois um outro elemento para o efeito final, sendo que no segundo ato a comissão veio no chão. Uma comissão longa, porém muito bonita, a mensagem e a coreografia deixaram a apresentação dinâmica e todos os efeitos funcionaram nas quatro cabines.

Mestre-sala e porta-bandeira
Daniel Werneck e Taciana Couto vieram com uma fantasia batizada de “As Águas dos Meus Encantos”. E encantaram com uma grande apresentação, de extrema elegância, sintonia e leveza. Um casal que fluiu muito fácil na pista, em todas as cabines, mostrando um entrosamento de veteranos.

Evolução
A Grande Rio teve uma evolução firme, porém com alguns momentos onde oscilou o seu ritmo, em boa parte por conta da terceira alegoria que estava um pouco lenta na pista. Quando a alegoria evoluía mais rapidamente, a escola acompanhava e ficava mais solta. Na frente da bateria na apresentação no segundo módulo os guardiões do segundo casal de mestre-sala e porta-bandeira deixaram um espaço maior para a bateria, mas logo foi arrumado. Na reta final de desfile a Grande Rio acelerou um pouco o passo.

Harmonia
Os componentes cantaram forte o excelente samba da escola, com ápice em vários trechos, como nos refrãos e nos versos “e foi assim, suas espadas têm as ervas da Jurema, novos destinos no mesmo poema”. Um canto que não arrefeceu em nenhum momento do desfile da Grande Rio. O carro de som liderado por Evandro Malandro teve ótimo desempenho.

Samba
O samba que despontou como destaque do ano desde sua escolha mostrou toda sua qualidade nesta noite, com um desempenho onde passou extremamente gostoso de ouvir, melodioso e com uma letra que envolve por sua poesia, todas as qualidades realçadas pela levada que mestre Fafá e Evandro Malandro imprimiram ao samba. Um grande desempenho desta excelente obra.

Portela

A Portela fechou o desfile do Grupo Especial com a homenagem a Milton Nascimento, “Cantar Será Buscar o caminho que vai dar no Sol – uma homenagem ao Milton Nascimento”, dividido em cinco setores, 27 alas, cinco alegorias e dois tripés.

Comissão de Frente
A comissão coreografada por Léo Senna e Kelly Siqueira trouxe “Vou Partir em Procissão”, dividido em três cenas. A coreografia no chão teve mais impacto, enquanto a finalização no tripé acabou não acrescentando tanto à apresentação e entendimento da comissão. As apresentações nas quatro cabines ocorreram sem erros técnicos.

Mestre-sala e porta-bandeira
Marlon Lamar e Squel vieram com a fantasia “é feito uma reza, um ritual”. O casal realizou uma apresentação superior ao do ano passado, mostrando mais entrosamento. Alguns desencontros ainda ocorreram, como na última cabine onde Marlon terminou um giro muito antes da Squel e ficou parado esperando o complemento da coreografia.

Evolução
Portela apresentou uma evolução irregular, com abertura de alguns espaços como na primeira cabine, onde duas alegorias avançaram com lentidão e abriram espaços já que as alas da frente não pararam para segurar a sequência da escola. Um dos espaços foi significativo, gerando um buraco na frente do módulo de jurados. Em termos de andamento, a Portela seguiu um ritmo um pouco melhor, apesar de ter ficado travada em alguns momentos.

Harmonia
Um quesito que funcionou na águia de Madureira, a harmonia da Portela rendeu um bom trabalho pra escola. O canto dos componentes foi bem linear, sem grande explosão mas com todas as alas cantando bastante o samba inteiro, não apenas com força nos refrãos. O carro de som foi muito bem e Gilsinho fez uma grande apresentação, conduzindo o samba com maestria.

Samba
O samba portelense de característica mais melódica teve um rendimento satisfatório no desfile da agremiação. O casamento com a voz e condução do Gilsinho fez o samba passar de forma agradável, mesmo sem maior explosão, a obra não apresentou uma queda significativa durante o desfile.

‘Foi um desfile para entrar para história da Grande Rio’, declara mestre Fafá

Por: Juliana Henrik, Rhyan de Meira e Raphael Lacerda

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Foto: Allan Duffes/CARNAVALESCO

A Grande Rio levou o Pará para a Sapucaí com o enredo “Pororocas Parawaras – As Águas dos Meus Encantos nas Contas dos Curimbós” e terminou o desfile com uma das grandes candidatas ao título. As fantasias, conjuntos alegóricos, comissão de frente, bateria e carro de som estavam impecáveis. A escola de Caxias saiu da avenida ovacionada pelo público, que entoou gritos de “é campeã!”.

Começando pela comissão de frente coreografada por Hélio Bejani e Beth Bejani, que intitulada Quatro Contas, foi inspirada na música de Dona Onete e na tradição do Tambor de Mina, trazendo para a avenida a história das princesas Mariana, Jarina e Herondina. A apresentação contou com um belíssimo tripé, mas, diferentemente da maioria das comissões de frente, o ato principal da narrativa ocorreu no chão, o que trouxe um charme adicional à encenação.

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Foto: Allan Duffes/CARNAVALESCO

“Nós tentamos inovar e fazendo todo o andamento da avenida em cima do tripé, o jurado no chão e ainda desacoplamos o carro na frente da cabine. Foram muitos riscos, mas estamos felizes por ter entregue o nosso melhor”, disse Beth.

“Saiu tudo como planejamos. Estamos com a mesma equipe há 16 anos. O segredo é fazer uma equipe que todo mundo se escute, aceite as ideias do outro e todos querendo que a coisa dê certo”, completou Hélio.

O desempenho musical da Grande Rio é destaque ano após ano, a sintonia entre mestre Fafá e o intérprete Evandro Malandro segue evoluindo. A dupla executou com maestria o elogiado samba da escola, a bateria destacou pela cadência precisa e pelo equilíbrio entre os instrumentos.

“A Grande Rio precisava pisar nessa avenida com todo mundo cantando muito. A Grande Rio está te parabéns por todo caminho que percorreu e entregamos o que imaginávamos. A Sapucaí explodiu. Sobre a parceira com o Fafá, eu e ele temos uma conexão muito grande. Nós estamos sempre juntos nos shows, ensaios, reuniões e essa conexão se dá por conta de toda parceira que nós temos”, disse Evandro Malandro.

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Foto: Allan Duffes/CARNAVALESCO

“Foi mais um desfile para entrar para a história da Grande Rio. Não tenho palavras para descrever tudo o que a bateria fez na avenida. Eu amo o Evandro e nossa conexão é maravilhosa”, declarou Fafá.

O andamento da escola foi perfeito. A Grande Rio estava leve e feliz na avenida, o que facilita para que o trabalho da harmonia saia perfeito. “Foi um desfile ímpar. Um trabalho de meses, onde conseguimos trazer para avenida a ideia que nos propusemos a fazer. É um trabalho em conjunto, não é um trabalho individual. O trabalho da harmonia foi incansável. Fizemos um trabalho primoroso”, falou Jefferson da direção de carnaval.

‘Não teve correria’, afirma diretor de carnaval do Tuiuti

Por: Rhyan de Meira e Juliana Henrik

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Foto: Allan Duffes/CARNAVALESCO

Com o enredo “Quem Tem Medo de Xica Manicongo?”, o Paraíso do Tuiuti trouxe uma importante história ignorada pelos livros e um manifesto contra a transfobia e o preconceito. Sob a responsabilidade do carnavalesco Jack Vasconcelos, a escola trouxe um belo conjunto de fantasias e alegorias, mas precisou apertar o passo na reta final para não ultrapassar os 80 minutos permitidos de desfile. Segundo o diretor de carnaval André Gonçalves, a agremiação tinha tudo sob controle e que o importante foi passar no tempo.

“O Tuiuti fez um trabalho sensacional. Durante o ano viemos lapidando, ajustando as coisas e conseguimos abrilhantar essa avenida. Vimos a Sapucaí toda cantando e interagindo. Sobre a evolução, não tivemos problemas. Não teve correria. Passamos no tempo e isso que é o importante. No final sempre dá aquele nervosismo, mas foi tudo correto”, disse André ao CARNAVALESCO.

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Foto: Allan Duffes/CARNAVALESCO

Na parte musical, o samba foi muito bem recebido pelo público. “Tinha certeza que a Sapucaí ia corresponder essa entrega da escola, essa entrega do carro de som e da bateria. A Sapucaí abraçou o Tuiuti e isso é gratificante, não tem dinheiro que pague”, afirmou Pixulé, intérprete da escola.

Cláudia Motta e Edifranc Alves, coreógrafos da comissão de frente levaram para avenida um balé formado exclusivamente por mulheres transexuais. Essa é a primeira vez que algo assim acontece na história do Carnaval carioca. O ponto alto da coreografia foi quando Érica Hilton aparece com a faixa presidencial, momento de maior animação do público que ovaciona a comissão.

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Foto: Allan Duffes/CARNAVALESCO

“O Jack Vasconcellos nos ajudou em toda a pesquisa. Nada mais justo que a comissão fosse formada por trans porque o enredo é para elas. Falamos sobre o direito humano essencial, o direito a vida. A gente precisa de muito amor para trazer esse enredo para a venida, ouvir sobre a história de vida das meninas onde todas elas puderam trazer sua essência para esse trabalho”, declarou os coreógrafos.

HudBurkc, destaque do Tuiuti falou sobre a emoção e o carinho que recebeu da escola. “Estou muito grata. Foi um dia de vitória. Desde quando fui convidada para representar Xica no abre-alas, fui muito bem recebida pelo presidente Thor e por toda comissão de carnaval. Sou muito grata pela oportunidade de representar essa mulher que abriu todo os caminhos para que eu estivesse aqui”, declarou.

 

‘Mocidade enverga, mas não quebra’, afirma diretor de carnaval

Por: Rhyan de Meira e Raphael Lacerda

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Foto: Allan Duffes/CARNAVALESCO

A Mocidade Independente de Padre Miguel abriu a última noite de desfiles do Grupo Especial com um carnaval que resgatou sua própria essência. Sob a assinatura de Renato Lage, a escola da Zona Oeste afastou as desconfianças e entregou uma apresentação que reconectou a agremiação com sua identidade.

“É sensacional sentir um pouco daquele emoção que sentíamos nos anos 80. Falei que íamos resgatar um pouco daquela atmosfera. A Márcia está sempre do meu lado. Ela era minha bússola”, disse Renato Lage para o CARNAVALESCO.

Mauro Amorim, diretor de carnaval da escola, destacou a felicidade da comunidade com o orgulho e respeito resgatado. Além disso, deixou um recado para quem acha que a Mocidade havia perdido sua essência.

“A gente precisava trazer uma Mocidade com cara e coração de Mocidade. A Mocidade passou sendo a Mocidade, com seu povo cantando e sendo feliz.  O maior elogio que recebemos no período pré-carnavalesco foi que a comunidade estava feliz. O carnaval tem que ser alegria, tem que ser prazeroso para todo mundo. A Mocidade enverga, mas não quebra. Enquanto tiver um coração independente nesse mundo, a Mocidade vai resistir,” declarou o diretor.

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Foto: Allan Duffes/CARNAVALESCO

O samba já anunciava: “O Mago vai recriar a Mocidade”, e, de fato, o Independente se reconheceu na Avenida. O brilho de Márcia Lage, que nos deixou neste ano, esteve presente na paleta de cores vibrante e bem trabalhada da escola, como fez questão de lembrar a porta-bandeira Bruna Santos.

“Conseguimos realizar tudo o que foi ensaiado perfeitamente. Mesmo ventando muito, conseguimos manter o pavilhão firme. Essa fantasia é um presente da Márcia Lage. Ela desenhou essa fantasia com muito carinho e amo”, afirmou a porta-bandeira.

A Mocidade fez um desfile que deixou a comunidade e o torcedor feliz como não se havia a alguns anos. Além do belo trabalho de Renato Lage, a comissão de frente coreografada por Marcelo Misailidis, trouxe a apresentação “IA.venida Matrix do Samba, o futuro é aqui…”, e um robô articulado que levou o público ao delírio.

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Foto: Allan Duffes/CARNAVALESCO

“Acima de tudo foi um ato de ousadia trazer uma comissão com características retrô para falar de modernidade. Esse era o nosso grande desafio. Nós queríamos mostrar que o carnaval em algumas características profissionais ainda tem muitas possibilidades, basta as pessoas acreditaram e apostarem para que a gente não fique tendo que ficar limitado a uma alegoria. A alegoria na comissão pode ser um apoio necessário, mas não pode ser uma totalidade porque se não o quesito desaparece”, declarou Misailidis.

Voz da escola, Zé Paulo Sierra falou da emoção de ver a Sapucaí cantar o samba e falou sobre as críticas que recebe. “Vê a Sapucaí cantar o samba da Mocidade depois do Caju é sensacional porque ninguém dava nada por esse samba e, arrisco a dizer que foi o samba que mais se comunicou com a Sapucaí, das pessoas cantarem. Falaram muita coisa. O Renato provou que é o Renato, teve o resgate da Mocidade, muita gente se encontrou novamente com a Mocidade, aquela Mocidade dos anos 90 com muita leitura de carnaval.”

“Amo o que eu faço. Muita gente critica, eu respeito, mas eu amo o que eu faço. Faço do meu jeito e se eu tiver que perder vai ser dessa forma, se tiver que ganhar vai ser dessa forma. Estou muito feliz de ver o que a Mocidade fez”, finalizou Zé Paulo.

BEIJA-FLOR CONQUISTA O ESTRELA DO CARNAVAL GUANABARA DE DESFILE DO ANO

Com a homenagem para Laíla, a Beija-Flor de Nilópolis conquistou o prêmio Estrela do Carnaval Guanabara 2025 na principal categoria “Desfile do Ano“. A escola ainda fatura mais duas categorias: “Harmonia” e João Vitor Araújo em “Carnavalesco“. Em breve, vamos divulgar o local e data da festa de premiação. A divulgação dos vencedores da Série Ouro será na manhã de quinta-feira.

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Foto: Dhavid Normando/Divulgação Rio Carnaval

A dupla Phelipe Lemos e Rafaela Theodoro, da Imperatriz Leopoldinense, como casal de “Mestre-sala e Porta-bandeira“. A Mocidade Independente venceu como melhor “Bateria“. A Verde e Branco da Zona Oeste ganhou como melhor ala de “Passistas“.

casal estrela
Foto: Dhavid Normando/Divulgação Rio Carnaval

A Grande Rio conquistou o prêmio em “Samba-Enredo“. A escola de Caxias receberá também em “Conjunto de Alegorias” e “Conjunto de Fantasias“. Evandro Malandro venceu como “Intérprete“.

alegoria estrela
Foto: Dhavid Normando/Divulgação Rio Carnaval

A melhor “Comissão de Frente” foi para Viradouro. A escola de Niterói também ganhou “Originalidae” pelo holograma na alegoria.

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Foto: Dhavid Normando/Divulgação Rio Carnaval

Evelyn Bastos, da Mangueira, foi eleita a “Rainha de Bateria de 2025“. A Unidos da Tijuca faturou o prêmio em melhor “Ala de Baianas“. O Paraíso do Tuiuti foi premiado em “Enredo“.

Veja abaixo todos os vencedores do Grupo Especial do Rio

Desfile do Ano: Beija-Flor
Samba-Enredo: Grande Rio
Mestre-sala e Porta-bandeira: Phelipe Lemos e Rafaela Theodoro (Imperatriz)
Comissão de Frente: Viradouro
Bateria: Mocidade
Baianas: Unidos da Tijuca
Passistas: Mocidade
Alegorias: Grande Rio
Fantasias: Grande Rio
Harmonia: Beija-Flor
Rainha: Evelyn Bastos (Mangueira)
Intérprete: Evandro Malandro (Grande Rio)
Enredo: Paraíso do Tuiuti
Carnavalesco: João Vitor (Beija-Flor)
Originalidade: Holograma em alegoria da Viradouro
Revelação 2025: carnavalescos da Vigário Geral

Portela tem destaque na parte musical, mas peca em evolução e no conjunto alegórico

A Portela conseguiu realizar já na madrugada da quarta-feira de cinzas o grande ato de proporcionar a Milton Nascimento a glória de ser aclamado na Sapucaí. Para um artista com tamanha história e importância para a cultura brasileira, estar na Sapucaí é certamente uma bênção para quem aplaude e para quem é aclamado. Mas a sensação que ficou é que poderia ter sido muito melhor. Ainda que a parte musical da Portela tenha se destacado, conseguindo tirar o máximo do samba, com canto forte da comunidade portelense, a escola errou muito em evolução devido à dificuldade de manobras com o abre-alas, abriu buracos e foi irregular, tanto na forma como apresentou a homenagem a Milton na Sapucaí, quanto no acabamento e apuro estético de algumas fantasias. O casal passou bem, mas a comissão de frente teve problemas na execução por questões com um drone. Já as fantasias tiveram bom acabamento e qualidade visual. Com o enredo “Cantar será buscar o caminho que vai dar no Sol – Uma homenagem a Milton Nascimento”, a Portela encerrou o seu desfile com 76 minutos.

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portela 25 07

Comissão de Frente

Comandada por Leo Senna e Kelly Siqueira, a Comissão de Frente “Vou partir em procissão” se apresentou dividida em três cenas baseadas em música, amizade, liberdade e responsabilidade. A música foi o fio condutor de uma cena para outra. Os bailarinos “filhos do sol” representaram pessoas iluminadas e transformadas pelas canções de Milton Nascimento. A primeira cena é um encontro em uma procissão festiva, com o grupo celebrando a amizade. Na segunda cena, tem-se outros grupos chegando para a celebração e os tambores de Minas trazendo a regionalidade.

A escolha coreográfica foi reverberar cada toque do tambor de Minas nos corpos dos bailarinos, com as trombetas chegando para avisar o nascer de um novo tempo. A última cena da apresentação tem duas crianças nascendo nas flores das Torres do Tripé, que representavam um relicário, no sentido de guardar as preciosidades encontradas pelo caminho.

* LEIA AQUI: Maria, Maria… É preciso ter sonho sempre: a força feminina e a ancestralidade na Ala das Baianas da Portela

A comissão dançou no chão e fez interação com o tripé. Bem montada, mas sem um grande ápice. E teve um problema com o drone, que só subiu no primeiro módulo. Na última cabine, a falta desse elemento comprometeu o sentido da parte final da apresentação. O figurino tinha na cabeça asas da imaginação e, nas costas, pinturas com o estandarte.

Mestre-sala e Porta-bandeira

Marlon Lamar e Squel Jorgea apresentaram a fantasia “É feito uma reza, um ritual”, trazendo o guerreiro santificado e a sagrada rainha, mostrando o amor do portelense pelo seu símbolo maior e pela luz do Sol, como fiéis da festa do divino. Fantasia na tonalidade do branco e da prata, que terminava muito bem com uma coroa na cabeça de cada um. Na dança, buscaram um bailado mais tradicional, com boa intensidade de movimentos e duração de giros da Squel, sempre com a dupla fechando de maneira limpa e em sincronia.

Enredo

“Cantar será buscar o caminho que vai dar no Sol – Uma homenagem a Milton Nascimento” passou na Sapucaí dividido em cinco setores, tratando cada parte como uma metáfora de um período do dia. A ideia foi muito criativa, mas acabou embaralhando a própria homenagem a Milton, não destacando muito de sua vida e tirando o foco da obra do cantor, que passou a ser pano de fundo para uma narrativa que focava mais na amizade e na vida de um homem do interior de Minas.

* LEIA AQUI: Ala dos Passistas da Portela retrata a chegada da exuberância negra à romaria em desfile que homenageia Milton Nascimento

A primeira parte do desfile, denominada “Aquela manhã”, foi justamente a Majestade do Samba saindo em procissão. Trouxe alguns aspectos do subúrbio, a Portela se enfeitando para sair nessa grande procissão, grande travessia para encontrar o homenageado.

No segundo setor, “Sol a pino”, entre a manhã e a tarde, foi uma parte que tratou sobre emoções à flor da pele, sobre esses momentos, sobre a emoção de ouvir e de relacionar as canções de Milton Nascimento com as próprias vidas, com as baianas fazendo referência a “Maria Maria”, os encontros, por exemplo, em “Duas Sanfonas”, “Vendedores de Sonhos”.

Depois, em “Entardecer”, a Portela falou da relação com a Terra de maneira geral – nos diversos sentidos: tanto como matéria física, território, pertencimento, identidades, povos originários, ribeirinhos, quilombolas –, terminando o setor com a alegoria que faz referência à relação de Milton com Oxalá e com a própria Terra.

* LEIA AQUI: A águia da Portela: símbolo de fé, paixão e identidade no Carnaval Carioca

O quarto setor, “Noite”, representou os períodos mais difíceis, de repressão, explicando como a música de Milton Nascimento ajudou as pessoas a passarem por esses momentos, trazendo canções que foram trilhas dessa resistência. A noite foi usada como metáfora para os momentos difíceis, e o setor terminou com a alegoria sobre o milagre dos peixes e a esperança de encontrar o sol após essa noite.

No ato “Amanhecer”, a Portela fechou o desfile com a procissão chegando a Minas Gerais, sendo recebida pelos festejos locais: de Três Pontas, da Folia de Reis, tambores, as memórias do próprio Milton e ele sendo encontrado em um grande altar dourado, o sol.

Alegorias e Adereços

Em seu conjunto alegórico, a Portela trouxe cinco carros e dois tripés. Pode-se dizer que este conjunto foi bastante irregular em termos de qualidade, com algumas alegorias de ótimo nível, como a que trazia o homenageado (“O altar do sol”), e outras nem tanto, como o segundo carro, que trazia o setor da noite. Algumas alegorias também demonstraram problemas de acabamento, como o carro “Ser farol e continuar”. Trabalho irregular e inferior às fantasias.

Em um tripé no início do desfile, a águia veio no azul da Portela com tons de dourado e, no contexto do enredo, colocou-se à frente da procissão. O abre-alas “A procissão do samba” representou o cortejo da Portela saindo em procissão para encontrar Milton. Majesticamente, a alegoria trouxe um grande andor, com o chão de caquinhos e azulejos, ostentando estandartes que se destacavam entre fitas e iluminações de “gambiarra”, destacando personagens importantes da Majestade do Samba. Com quatro cavalos (dois na frente e dois atrás), além do chassi, a alegoria teve dificuldades no deslocamento pela Marquês de Sapucaí.

No segundo carro, apareceu a crença das pessoas na força dos sentimentos que cada uma trazia, de um povo feliz e brincante que exibia, orgulhoso, os discos de Milton e as marcas que letras e melodias deixaram em cada um daqueles peregrinos. No carro, a imagem de um andor carregado por diferentes tipos de pessoas, representadas por figuras como reis, ciganas, trabalhadores, crianças etc. Todos estavam liricamente carregando seus sentimentos até Milton. Carro colorido e com muita altura, ainda que boa parte de baixo fosse o pano azul com girassóis. Na parte de cima, era bem detalhado, mas com excesso de informação visual.

A terceira alegoria fez referência à relação de Milton com Oxalá e com a própria Terra, trazendo em sua base os igbin (caramujos) de Oxalá. Já o quarto carro falava da noite, das dores que vinham nos versos de Milton como acalento de esperança. Nesta alegoria, o andor era erguido pelo povo e conduzido por sete anjos, que traziam as sete chaves citadas em “Canção da América”.

O último carro, “O altar dourado sol”, encerrou o desfile da Portela trazendo o homenageado sentado em um grande trono como santo preto e solar, encantado, magistral. O milagre da música brasileira, o radioso herói. Na alegoria, as referências se misturavam entre o barroco mineiro, as fitas e as bandeiras dos folguedos do interior. No altar, também foi revelada a figura do sol, ícone da narrativa do desfile. Como merecia o homenageado, foi o melhor carro do desfile: de muita qualidade e apuro estético.

Fantasias

O trabalho de André Rodrigues e Antônio Gonzaga buscou um formato parecido com o do ano passado, gerando colorido e leveza com signos que pudessem despertar a emoção a partir do olhar dos figurinos. E, no geral, a dupla conseguiu, com os primeiros setores trazendo muito colorido, tentando mostrar na paleta de cores a proposta do enredo, da parte do sol da manhã. Porém, como único ponto a ser citado, alguns figurinos deste setor tiveram pouca consonância e dialogavam quase nada com aquilo que vinha depois, criando alguns conflitos visuais.

Mas, a partir do terceiro setor, há uma melhora considerável, com boas fantasias como “Cavaleiro negro que viveu mistérios”. E, a partir deste setor, há uma utilização das cores de forma bem interessante, principalmente no setor “A Noite”, com tons de roxo contrastando. No final, “Amanhecer”, os tons pastel contrastaram com outras cores, e o dourado se fez presente. Foi um trabalho de fantasias elogiável, com boa leitura e acabamento.

Harmonia

Impulsionada pelo intérprete Gilsinho, a Portela, que já vinha cantando muito nos ensaios, voltou a dar um banho na pista, muito graças ao excelente trabalho do carro de som. O intérprete é capaz de levar sozinho, pelo vozeirão que tem, a energia e o controle do trabalho harmônico. Mas, apoiado por vozes de apoio também de qualidade, conseguiram espremer tudo que o samba poderia render, aliás, até mais. O quesito, talvez, tenha sido o que melhor a Portela apresentou na avenida, ajudando a manter um clima positivo para a homenagem até o final do desfile.

Samba-Enredo

A obra de Samir Trindade, Fabrício Sena, Brian Ramos, Paulo Lopita 77, Deiny Leite, Felipe Sena e JP Figueira tem uma característica mais melodiosa, uma vibe de nostalgia, também presente nas músicas de “Bituca”, bastante ilustrativa, fazendo algumas referências ao repertório do artista. A obra também se adequou à proposta dos carnavalescos de usar os momentos do dia como metáfora para marcar a parte temporal do enredo e a vida e obra do homenageado. Isso é visto em trechos como “Manhã, alvorada das nossas lembranças”, “noite apaga o rebolado” e “dorme a maldade”.

Com um andamento um pouco para trás, o samba permitiu um ritmo muito “gostoso” para a “Tabajara do Samba”. Como pontos altos, podemos destacar as fortes palavras do refrão principal “Iyá chamou Oxalá, preto rei pra sambar…”, ainda que um pouco repetitivas, mas dentro da homenagem. Outro ponto forte está no “Quem acredita na vida”, bis presente na segunda parte do samba, que é cantado com grande vigor pelos componentes. Passou bem, ainda que não deva gabaritar, e se apresentou melhor do que o esperado, muito graças ao carro de som e à comunidade.

Evolução

O quesito também foi problemático. A Portela teve uma evolução irregular pela pista: no início, com muita dificuldade para colocar o enorme abre-alas na pista, que, além de extenso, tinha composições como os cavalos, visivelmente pesados e difíceis de manobrar. Com isso, já no primeiro módulo de julgamento, a ala logo à frente andou, e o carro não acompanhou, gerando um buraco. O fato se repetiu na segunda cabine de julgamento. Depois que a primeira alegoria saiu da pista, a escola tentou imprimir maior ritmo, mas voltou a ter problemas de buraco, desta vez no quarto setor, entre a ala 21 e a quarta alegoria “Ser Farol e Continuar”, na primeira cabine. Fora esses momentos mais complicados, diversas vezes o que se viu foram espaçamentos um pouco maiores entre as alas, não demonstrando uma escola compacta. Já próximo à terceira cabine de julgamento, as duas últimas alas do desfile quase se embolaram, com alguns integrantes da última ala entrando no grupo da frente. Evolução bem fraca da Majestade do Samba, que pode custar alguns décimos.

Outros Destaques

A bateria “Tabajara do Samba”, comandada por Mestre Nilo Sérgio, veio com figurinos que faziam referência àqueles que batucavam e incorporavam o Cristo Negro. A rainha Bianca Monteiro veio como a “Santa Preta de Palmares”. As baianas trouxeram um figurino que homenageava a força feminina presente na música “Maria, Maria”, com véu, ostensório e estandartes, colares e babados das mães do samba. No esquenta, o intérprete Gilsinho cantou “Portela na Avenida”, mexendo com o público, além do excelente samba de 2024. No alusivo, o canto de “Maria, Maria” de Milton trouxe alegria para a plateia.

Grande Rio faz desfile brilhante, encanta a Sapucaí com visual esplêndido e entra na briga pelo título

A Acadêmicos do Grande Rio foi a penúltima escola a pisar na avenida na última noite de desfiles do Grupo Especial. A tricolor de Caxias encantou o público com um conjunto visual deslumbrante, evidenciando o talento da dupla de carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora em cada detalhe apresentado. O apuro estético se destacou em todas as alegorias, com uma riqueza de detalhes impressionante. Cada carro possuía uma composição visual tão minuciosa que era impossível desviar o olhar sem perder algum elemento. Além disso, a grandiosidade e a volumetria das alegorias ampliaram o impacto cênico do desfile, tornando-o ainda mais imponente.

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grande rio 25 14

No aspecto musical, a escola também brilhou, com um desempenho excepcional da dupla Evandro Malandro e Mestre Fafá. O desfile da Grande Rio foi sólido, vibrante e visualmente esplêndido, garantindo uma forte comunicação com o público. Os quesitos foram defendidos com maestria, com destaque para o bailado do primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Daniel Werneck e Taciana Couto, que mais uma vez brilharam na avenida.

O único senão ficou por conta da evolução, que apresentou momentos de irregularidade ao longo do desfile.

A Grande Rio levou o Pará para a Sapucaí com o enredo “Pororocas Parawaras – As Águas dos Meus Encantos nas Contas dos Curimbós”, encerrando sua apresentação aos 76 minutos e saindo ovacionada pelo público, que entoou gritos de “é campeã!”.

Comissão de Frente

A comissão de frente da Acadêmicos do Grande Rio em 2025 foi coreografada por Hélio Bejani e Beth Bejani. A apresentação, intitulada Quatro Contas, foi inspirada na música de Dona Onete e na tradição do Tambor de Mina, trazendo para a avenida a história das princesas Mariana, Jarina e Herondina.

* LEIA AQUI: Segundo carro da Grande Rio explora a fertilidade e a potência criadora dos igapós

A narrativa mostrou as três “Belas Turcas” embarcando em um navio para fugir das guerras santas. No mar, elas enfrentam uma tempestade, mas são guiadas pelo Encantado Tói Averequete, uma entidade ligada às águas, que as conduz ao Mundo do Encante. Assim, as princesas não experimentam a morte, mas se transformam: encontram Jurema e tornam-se caboclas, enquanto os turcos da embarcação se convertem em “mineiros” e entram em um transe espiritual. Essa transição foi representada de forma orgânica, sem grandes truques cenográficos, mas executada com extrema precisão e impacto visual.

* LEIA AQUI: A Magia da Pororoca: baianas da Grande Rio celebram o encontro das águas

A apresentação contou com um belíssimo tripé, mas, diferentemente da maioria das comissões de frente, o ato principal da narrativa ocorreu no chão, o que trouxe um charme adicional à encenação. A iluminação cênica da Sapucaí foi utilizada para compor a atmosfera do espetáculo, com grande parte da coreografia realizada sob luzes baixas. Embora esse recurso tenha criado um efeito dramático, em alguns momentos comprometeu a visibilidade. O grande ápice ocorreu quando a parte de trás do tripé se virou para o júri, revelando uma mandala que simbolizava os rios e igarapés do Pará, inspirada no desenho presente no piso do Theatro da Paz.

Mestre-sala e Porta-bandeira

O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da Acadêmicos do Grande Rio, Daniel Werneck e Taciana Couto, representou a força e a magia das águas encantadas com a fantasia As Águas dos Meus Encantos. O figurino, em tons de verde-água, esmeralda, tiffany e turquesa, remetia às profundezas dos rios e mares encantados, com detalhes que imitavam pérolas, conchas e escamas.

* LEIA AQUI: A Nobreza Submersa: A Lenda das Princesas no Abre-Alas da Grande Rio

Inspirados na fluidez das águas, Daniel e Taciana bailaram com leveza, encantando o público com uma apresentação marcada pela elegância e pela sincronia. A dupla incorporou passos de carimbó à coreografia, agregando ainda mais autenticidade à dança. Além do refinamento técnico, demonstraram grande segurança ao longo de toda a avenida, mesmo quando um imprevisto ocorreu.

Ao avançarem para a apresentação na cabine três dos jurados, a parte de trás da fantasia de Taciana se abriu inesperadamente. Rapidamente, a equipe de apoio entrou em ação, resolvendo a situação com eficiência. O público, que acompanhou o momento com apreensão, celebrou aliviado quando tudo foi solucionado sem comprometer o desempenho do casal.

Enredo

O enredo da Acadêmicos do Grande Rio em 2025 foi “Pororocas Parawaras – As Águas dos Meus Encantos nas Contas dos Curimbós”, desenvolvido pelos carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora. A escola propôs um mergulho em águas encantadas, narrando uma saga que entrelaça a mitologia amazônica e a tradição da Tambor de Mina, religião de matriz afro-indígena presente no Pará e no Maranhão.

A história foi conduzida pela lenda das Princesas Mariana, Herondina e Jarina, conhecidas como “Belas Turcas”, que fugiram das guerras santas na Turquia e encontraram nas águas amazônicas o caminho para o Mundo do Encante. No percurso, passaram por um processo de transformação espiritual, conectando-se com o universo das caboclas e dos encantados.

A narrativa do enredo foi fortemente influenciada pelas músicas de Dona Onete, principalmente a canção “Quatro Contas”, e explorou a fusão entre elementos islâmicos e a cultura amazônica. A estética do desfile misturou a sofisticação dos mosaicos turcos e a arte islâmica com a vibrante identidade visual do Norte do Brasil, trazendo referências a palácios otomanos, ao carimbó e às tradições ribeirinhas. O enredo foi traduzido com clareza nas fantasias e alegorias, sem grandes dificuldades de entendimento do mesmo.

Alegorias e Adereços

A Grande Rio apresentou um conjunto visual impressionante, composto por três tripés e cinco carros alegóricos, alinhados ao enredo. As alegorias refletiram o que há de melhor no trabalho da dupla de carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora. A fusão entre a cultura amazônica, o Tambor de Mina e as influências islâmicas, resultando em um desfile de forte apelo simbólico.

O apuro estético se destacou em todas as alegorias, com um nível de riqueza de detalhes impressionante. Cada carro trazia uma composição visual tão rica que era impossível desviar o olhar sem perder algum elemento. Além disso, a grandiosidade e volumetria das alegorias reforçaram o impacto cênico do desfile, tornando-o ainda mais imponente.

No entanto, um problema pontual comprometeu a execução perfeita do conjunto alegórico. Um dos balões do carro abre-alas, que fazia parte da cenografia, apresentou instabilidade desde o início do desfile. Ele já estava mais baixo do que os demais e, ao se aproximar da cabine três, acabou despencando. Apesar desse contratempo, o impacto visual do desfile da Grande Rio permaneceu marcante, consolidando a força plástica da escola na Avenida.

A escola iniciou sua apresentação com o tripé “A Mesma Lua da Turquia”, representando a conexão entre a cultura islâmica e a tradição amazônica. O elemento cênico trazia uma imponente lua crescente sobre um mar simbólico, remetendo à jornada das Princesas Turcas e seu destino no Mundo do Encante. Logo depois, o abre-alas “Travessia e Realeza Submersa”, dividido em dois chassis, simbolizou o naufrágio das princesas e sua transformação no reino encantado. O carro misturava criaturas marinhas e mosaicos islâmicos, criando um cenário de transição entre dois mundos.

Dando sequência à narrativa, o segundo tripé, “Portais da Encantaria”, marcou a passagem definitiva das princesas para o universo mítico do Tambor de Mina, com referências a ritos e símbolos desse culto afro-indígena. Em seguida, veio o segundo carro, “Quem é de Barro, no Igapó, é Caruana”, que exaltou a cerâmica marajoara e tapajônica, representando a ancestralidade amazônica e a conexão espiritual dos Caruanas com as águas e a natureza.

No meio do desfile, a escola trouxe o terceiro carro, “Tambor de Mina: O Sultanato Caboclo”, uma representação grandiosa do palácio encantado, onde as entidades espirituais transitam entre diferentes culturas, unindo influências africanas, indígenas e islâmicas. Logo depois, o terceiro tripé, “Venham Ver as Três Princesas Baiando no Curimbó”, celebrou a fusão da dança e dos ritos do carimbó com o universo encantado, reforçando o sincretismo presente no enredo.

O desfile se encaminhou para o fim com o quarto carro, “Aparelhagem Astral”, que destacou a relação entre espiritualidade e musicalidade paraense, trazendo elementos das festas ribeirinhas, aparelhagens e a energia dos batuques do Tambor de Mina. Para fechar a apresentação, a escola trouxe o quinto e último carro, “Noite de Festa: A Felicidade Está Me Esperando, A Felicidade Mandou Me Buscar”, exaltando os grandes festejos populares do Pará e a devoção às águas sagradas, encerrando o desfile em clima de celebração.

Com esse conjunto alegórico, a Grande Rio construiu um desfile visualmente rico, marcado por forte identidade cultural.

Fantasias

O conjunto de fantasias da Grande Rio esteve à altura do que se viu nas alegorias, refletindo o apuro estético característico da dupla de carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora. A identidade visual dos artistas foi evidente, mantendo sua assinatura sem cair na repetição, trazendo novidades dentro de suas características marcantes.

As cores foram muito bem aplicadas ao longo do desfile. O início, dominado por diferentes tons de azul, chamou atenção e criou um efeito visual impactante. Conforme os setores avançavam, a escola se transformava em um espetáculo vibrante e multicolorido, reforçando a presença dos elementos do Pará e da estética amazônica.

O único ponto negativo foi o peso de algumas fantasias, que comprometeu o desempenho de alguns componentes. Vários desfilantes precisaram ser carregados por paramédicos, evidenciando o desgaste causado pelo figurino. Um caso mais crítico ocorreu na ala 7, “Aguaguaras”, onde um componente passou mal em frente à cabine três e teve sua fantasia arrastada.

Apesar dessas dificuldades, o conjunto visual foi belíssimo, com destaque para as alas iniciais e para as baianas, que brilharam com a fantasia “Joias d’Água”, um verdadeiro espetáculo de riqueza e acabamento.

Harmonia

O desempenho musical da Grande Rio é destaque ano após ano, a sintonia entre mestre Fafá e o intérprete Evandro segue evoluindo. A dupla executou com maestria o elogiado samba da escola, a bateria destacou pela cadência precisa e pelo equilíbrio entre os instrumentos, também foram inseridos tambores de Mina, curimbós e maracas para valorizar ainda mais o trabalho dos ritmistas, foi um show. O canto da comunidade foi uniforme, apesar de não ser explosivo, os componentes cantaram de forma exemplar, isso ficou evidente durante uma falha do som da avenida em que o canto foi perceptível.

Samba-Enredo

O samba, composto por Mestre Damasceno, Ailson Picanço, Davison Jaime, Tay Coelho e Marcelo Moraes, foi apontado no pré-carnaval como um dos grandes destaques da safra. Na Avenida, a obra confirmou seu valor, mostrando-se envolvente e musicalmente exemplar. A combinação de uma letra forte com uma melodia cativante garantiu um belo desempenho, impulsionando o canto da comunidade de Caxias, que se manteve firme e uniforme ao longo de todo o desfile.

Sem dúvida, o verso que antecede o refrão principal e o próprio refrão foram os momentos de maior destaque, conquistando o público e ajudando a sustentar a força do desfile.

Evolução

A evolução da Grande Rio teve alguns contratempos ao longo do desfile. Nenhum deles foi grave, mas comprometeram a plena fluidez da apresentação. Os principais problemas ocorreram durante as apresentações da bateria nas cabines de julgamento.

Na primeira cabine, o segundo casal de mestre-sala e porta-bandeira e um grupo cênico avançaram antes do tempo, enquanto os ritmistas demoraram um pouco para acompanhar. O desencontro foi breve, mas perceptível. Já na segunda cabine, o erro ficou mais evidente, pois o espaçamento entre a bateria e os demais segmentos foi maior, comprometendo momentaneamente a harmonia do desfile.

Nas demais cabines, não houve registros de problemas similares. No entanto, ao longo da apresentação, a escola alternou momentos de fluidez com outros mais travados, o que impediu um deslocamento completamente uniforme. Por outro lado, um ponto positivo foi a organização dos componentes dentro das alas, garantindo um visual coeso e bem distribuído na Avenida.

Outros Destaques

Um dos momentos mais marcantes do desfile foi a passagem de Paolla Oliveira à frente da bateria Invocada. Em sua última apresentação como rainha, a atriz desfilou com emoção visível e foi ovacionada pela Sapucaí inteira, reforçando a forte conexão que construiu com a escola e o público ao longo dos anos.

Além disso, a Grande Rio manteve sua tradicional aposta em um time estrelado de musas, trazendo para a avenida diversas personalidades famosas que abrilhantaram ainda mais o desfile.

Casal brilha, enredo é bem desenvolvido, samba funciona, mas evolução ruim atrapalha o Paraíso do Tuiuti

Ao passar pela Sapucaí para apresentar uma importante história ignorada pelos livros e um manifesto contra a transfobia e o preconceito, o Tuiuti consegui entregar a partir do olhar de Jack Vasconcelos um bom conjunto estético, um enredo com boa leitura e bem desenvolvido. Mas os problemas de evolução que incluíram deslocamento pela pista muito lento no início, correria do meio para o final, carro se chocando com as grades e até mesmo buraco podem comprometer a situação do Paraíso do Tuiuti. A evolução ruim impactou inclusive em um canto ruim da comunidade, apesar de um excelente trabalho do carro de som. Casal passou bem, assim como a comissão, apesar de uma falha pirotécnica em um dos módulos de julgamento. Samba e Pixulé também fizeram desfile muito correto e tranquilo. Com o enredo “Quem Tem Medo de Xica Manicongo?”, o Paraíso do Tuiuti encerrou seu desfile com 80 minutos cravados.

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tuiuti 25 05

Comissão de Frente

Comandada por Claudia Motta e Edifranc Alves, a Comissão de Frente do Paraiso do Tuiuti “Transpassado e Transfuturo” trouxe uma mensagem de otimismo, frente à realidade histórica de perseguição. Nela, Xica Manicongo e seus Ngangas (antepassados cultuados na quimbanda) acompanham a evolução de um grupo de travestis que, marginalizadas pela sociedade, trabalham nas ruas para sobreviver e são alvos dos “perseguidores” que desejam suprimir suas existências. Estes representam a intolerância, o preconceito e a violência que a comunidade trans e travesti sofre há gerações.

* LEIA AQUI: Ala de Passistas do Paraíso do Tuiuti adota figurino agênero e celebra a inclusão no Carnaval

Em seguida houve uma investida desses personagens contra Xica Manicongo para anular sua feminilidade, controlar seu corpo. Mas as travestis vencem os opressores e eles que na verdade são queimados em um efeito pirotécnico. No momento seguinte, travestis sobem a partir de um elevador e Érica Hilton aparece com a faixa presidencial, momento de maior animação do público que ovaciona a comissão e em seguida elas dançaram vogue, como na cultura ballroom. Único porém foi o efeito de fogo quando as componentes eram açoitados que não funcionou na primeira cabine. Comissão sem um investimento astronômico, mas que sintetizou o enredo e mais uma vez a dupla apostou em chocar o público pela emoção e menos pela pirotecnia.

Mestre-sala e Porta-bandeira

Raphael Rodrigues e Dandara Ventapane vieram de “Kimbandas”, curandeiros, sacerdotes feiticeiros que se comunicavam com o além, detentores de poderes xamânicos com os quais curavam. Fantasia muito bonita em tons de palha, marrom, contrastando com o alaranjado e preto. Na coreografia, a dupla, mais uma vez, apostou em um dança mais tradicional, confortável ao seus estilo, mas muito bonita.

* LEIA AQUI: Ala Rainha das Rainhas – representatividade e resistência trans no desfile da Paraíso do Tuiuti

Dandara fez giros com muita graça, com postura muito bonita e sempre em consonância com Raphael. A proximidade do casal nas mesuras e a doçura nestes momentos também chamou atenção. Não se identificou nenhuma falha nas apresentações nos módulos. Passaram muito bem.

* LEIA AQUI: O Traviarcado Brilha na Avenida

Enredo

“Quem Tem Medo de Xica Manicongo?”, desenvolvido pelo carnavalesco Jack Vasconcelos, homenageou a primeira travesti não indígena do Brasil, Xica, que foi escravizada no Congo e trazida para Salvador na Bahia. Segundo o carnavalesco colocou na justificativa do enredo o desfile veio ser um manifesto político- espiritual da ancestralidade travesti, em sua importância para a consciência de pertencimento e construção de memória para a comunidade trans. E, mais uma vez Jack Vasconcelos conseguiu entregar um enredo com início meio e fim, com uma mensagem importante no final com maior leitura nos carros, e nas fantasias, na maioria, satisfatória.

Dividido em seis setores e uma abertura, o Tuiuti começou o seu desfile introduzindo na comissão de frente o tema e contextualizando o recorte do enredo. No primeiro setor a escola trouxe a busca pela transcestralidade de Xica Manicongo, ainda em terras bantus com o culto aos ancestrais.

Em seguida, o Tuiuti apresentou o cenário no qual Xica seria inserida em sua terra natal antes da escravização e anulação de sua identidade imposta pelos portugueses. No terceiro setor o desfile mostrou a escravização pelo homem branco até a chegada ao Brasil, na capital da colônia portuguesa, Salvador, onde Xica foi vendida como Francisco Manicongo. Logo depois, a narrativa trouxe o contato com a mata brasileira e com os tupinambás, que mostraram a Xica, o acolhimento, dividiram com ela os segredos do catimbó indígena, transformando sua vivência nas terras brasileiras.

No penúltimo setor, o Paraíso do Tuiuti trouxe que a demonização da cultura africana, e dos povos submetidos, no geral, é um reflexo do regime escravocrata e da catequização cristã colonial que abarca heranças de moralidades e temores europeus criados desde a Idade Média. Neste setor, Xica Manicongo foi perseguida por esse juízo preconceituoso.

Jack Vasconcelos encerrou o desfile mostrando a resistência, com o cenário de intolerância, preconceito e perseguição prossegue, mas com a luta continuando. Neste setor foi lembrado as perseguições do mundo moderno à comunidade trans, mas também foi enaltecido as que lutaram, e lutam, por dignidade e justiça. Ótima mensagem no final e um enredo que passou correto e coerente com o que foi prometido.

Alegorias e Adereços

O conjunto alegórico do Paraíso do Tuiuti era formado por cinco carros e dois tripés. Ainda que com alguns problemas de acabamento, a estética serviu muito bem ao enredo, com criatividade e leitura. E, o principal, foram diferentes de tudo que passou pela Sapucaí nestes dias, com personalidade própria. Trabalho muito superior plasticamente ao do ano passado.

Antes do Abre-Alas, o tripé “O Maioral” representando o Exu Maioral”, um ser andrógeno, chamou atenção pelo tamanho e porque a escultura levantava e fica de pé erguendo o tridente. O único detalhe negativo foi o acabamento da escultura que tinha problemas como nas asas e na cintura da escultura.

No Abre-Alas, Jack significou “curandeiro(a)” e a expressão Mwene Kongo, senhor(a) do Congo. As duas, respectivamente, originaram os termos Quimbanda e Manicongo. A alegoria trouxe à sua frente uma escultura do exu de duas cabeças com Xica Manicongo em seu ventre. Crânios e ossos representam o culto aos antepassados, aos desencarnados, unidos à vitalidade oferecida dos animais divinizados. A segunda parte da alegoria ilustrou poeticamente Xica como uma sacerdotisa kimbanda invocando Nkisi Ngo, a força e o poder do leopardo do Reino do Kongo. Alegoria com boa qualidade visual e com estilo visual bem diferente do que passou pela Sapucaí, estilo próprio e legal, isso, apesar de ter apresentado problemas com uma parte da alegoria caindo ainda no Setor 1.

O segundo carro mostrou Xica Manicongo na Bahia. A alegoria apresentou uma visão lúdica de como seria essa mistura cultural que moldou o caráter social da cidade, porém, dominada e influenciada pela Igreja Católica. Na frente o marco de fundação de Salvador. Duas grandes esculturas representando Exu, protetor dos mercados, finalizam a alegoria. O papagaio pousado na escultura de Exu simbolizou o encontro da natureza brasileira com a cultura africana. Alegoria de boa qualidade estética.

A terceira alegoria representou a transcendência da alma feminina de Xica Manicongo proporcionada pelo encontro das suas raízes africanas com a espiritualidade indígena tupinambá através do catimbó. A escultura do rosto de Xica Manicongo veio com pintura facial afro-indígena ostentando um cocar de folhas representando a absorção da espiritualidade indígena brasileira pela ancestralidade africana de Xica. Na alegoria, a presença de cerâmicas ritualísticas reproduzindo corujas, simbolizando sabedoria e o vaso redondo, a mãe terra. Boa utilização de cores e contraste.

Em seguida, o quarto carro do Paraiso do Tuiuti, trouxe Xica Manicongo desencarnada, acolhida pela agregora e pomba-giras. A alegoria fez uma ilustração lúdica com exemplos do uso do pajubá no cotidiano e em objetos, como as garrafas de “Marafo” (aguardente) e os maços de “Xanã” (cigarro).

A última alegoria do Paraiso do Tuiuti encerrou o desfile com a era do Traviarcado buscando um futuro mais inclusivo e acolhedor com todas as existências, corpos e vivências. Na frente da alegoria a representação escultórica de Xica como uma NGanga de estética “queer”, “assentada” na frente do movimento traviarcal. Distribuídas pelo centro da alegoria, vieram vinte e nove personalidades trans e travestis de diversas áreas da sociedade brasileira. Apesar do colorido, a alegoria teve um pequeno problema de iluminação em um das coroas vazadas da lateral. Problemas de acabamento também estiveram presentes na parte de trás.

Fantasias

Jack conseguiu aproveitar bastante aquilo que o enredo lhe permitia em relação a paleta de cores e aquilo que o carnavalesco mais gosta de produzir para carnavais, mais colorido e cores quentes. O carnavalesco soube usar as nuances a partir do que cada setor pedia. No primeiro mais ancestral, a presença maior do marrom, vermelho e palha. No terceiro setor, mais indígena, o verde bem utilizado. O acabamento também foi de boa qualidade e a utilização dos materiais, foi igual. Destaque para as primeiras alas “Exu Marioral”, “Exus primordiais” que usaram de forma bastante interessante a combinação entre o preto, alaranjado e o vermelho. Outros destaques foram as baianas, vieram com a fantasia “pombagirada”, fazendo alusão aos momento em que Xica desencarnou e se viu livre finalmente para rodar a sua saia e gargalhar ativamente. Excelente uso do vermelho.

Harmonia

Pelo segundo ano consecutivo defendendo o samba do Paraíso do Tuiuti em desfile, o intérprete Pixulé mostrou novamente estar bem a vontade a frente dos microfones da Amarela e Azul de São Cristóvão. E , neste desfile, Pixulé, inclusive, mais do que no ano passado, conseguiu ter o termômetro certo para fazer as suas vocalizações e cacos e a parte em que gosta de empossar mais a voz, até pela potência vocal que tem. Foi bem, inclusive, quando a escola já vinha com problemas de evolução na pista, mantendo o clima. No carro de som, excelente trabalho das vozes femininas que ajudaram bastante o canto, dando um contraste legal ao grave do Pixulé. Em relação ao canto da comunidade, já era tímido no início ainda que não tão problemático, mas diminuiu consideravelmente depois que a escola precisou correr.

Samba-Enredo

O refrão principal tem um colocação de palavras que ainda torne a letra um pouco simples, tem musicalidade. A cabeça do samba é valente, para frente e na musicalidade consegue dar o tom da profundidade da letra que toca em temas sensíveis e tem muita força de enfrentamento à transfobia, ao preconceito. “Faz tempo que eu digo não, ao velho discurso cristão“ tem um balanço melódico bem interessante que permitiu a bateria fazer algumas convenções. A grande virada melódica vem “Eu travesti” e é o momento melódico, desse verso até o final da segunda estrofe, que possui maior riqueza melódica. A obra passou de forma tranquila na Sapucaí, em um andamento que nem deixava o samba acelerado e nem corria risco de arrastar. Passou bem pela pista.

Evolução

O quesito foi o ponto mais preocupante do Tuiuti neste desfile. Os problemas aconteceram em todos os módulos, já que após uma evolução extremamente lenta no início do desfile, com a comissão encerrando a sua última apresentação com cerca de 45 minutos, a atuação do meio para o final foi extremamente corrido e problemático. A quarta alegoria ainda se chocou com a grade próximo ao módulo de jurados entre os setores 6 e 7. E, para terminar, a escola ainda abriu buraco no campo de visão da segunda cabine de jurados entre o quarto carro e a alegoria que estava logo a frente. No final, a entrada da bateria também foi complicada com indecisões entre a harmonia da escola e a ala, se iriam entrar ou não, visto que a escola já estava enrolada com o tempo na pista. Situações que devem trazer dificuldade na apuração.

Outros destaques

A rainha Mayara Lima foi ovacionada quando o apresentador Vanderlei Borges citou seu nome na ficha e veio como “Luz da lua” representando o conhecimento que Xica teve sobre a importância dos astro para a cultura tupinambá com um led acima da cabeça. Já a bateria Supersom, de mestre Marcão, veio de “curupira”, elemento protetor das matas e dos animais que Xica conheceu em seu transe alucinógeno. A deputada Erika Hilton, que veio na comissão de frente da escola, em seu discurso antes do desfile lembrou que o número expressivo de mortes em uma sociedade racista e transfóbica e foi ovacionada pelo público quando mandou um salve para os travestis e as mulheres trans. No esquenta, Pixulé cantou o samba de exaltação em honra ao padroeiro da escola junto com a obra que embalou o vice campeonato de 2018.