Início Site Página 132

Freddy Ferreira analisa a bateria da Viradouro no ensaio técnico na Sapucaí

Um ensaio técnico muito bom da bateria “Furacão Vermelho e Branco” da Unidos do Viradouro, comandada pelo lendário mestre Ciça. Um ritmo com andamento confortável, bom equilíbrio e pressão sonora de uma afinação mais pesada de surdos. Tudo ainda complementado pela musicalidade de bossas potentes e bastante musicais.

* Seja o primeiro a saber as notícias do carnaval! Clique aqui e siga o CARNAVALESCO no WhatsApp

Na cabeça da bateria da Viradouro, um bom naipe de chocalhos tocou de forma correta, acompanhado por uma ala de tamborins consistente, que executou um desenho rítmico bastante elaborado com precisão e eficiência, adicionando valor sonoro à parte da frente do ritmo. Um naipe de cuícas bem acima da média fez um trabalho precioso, ajudando no preenchimento musical das peças leves com inegável qualidade musical. As cuícas ressoaram de forma uníssona por toda a pista de desfile, com o toque diferenciado marcando o samba para os demais instrumentos.

A parte de trás do ritmo da “Furacão” contou com a primeira fila de atabaques, que vieram ajudando preenchendo a sonoridade da cozinha, além da contribuição privilegiada em bossas, junto de um ritmista tocando Cowbell, uma espécie de agogô com um som diferenciado e somente uma campana (boca). Uma boa e pesada afinação de surdos foi percebida, dando pressão sonora ao ritmo da escola do bairro do Barreto, inclusive em bossas. Surdos de primeira e segunda tocaram com firmeza, mas de modo seguro. O balanço envolvente dos surdos de terceira contribuíram tanto em ritmo, quanto nas paradinhas. Repiques consistente tocaram junto de uma ala de caixas de guerra com boa ressonância, com seu tradicional toque em cima contando com a tradicional levada de partido alto.

Galeria de fotos do ensaio técnico da Viradouro na Sapucaí para o Carnaval 2025

Um conjunto de bossas que se aproveitou da pressão sonora permitida pela afinação pesada de surdos para consolidar seu ritmo. Destaque para a paradinha iniciada na segunda do samba, que contou com uma levada de maracatu sublime, conectando a sonoridade da bateria da Viradouro ao enredo da escola. Nesse mesmo arranjo, antes do estribilho, tem um floreio em conjunto dos naipes de certa complexidade, antes de consolidar o toque afro com os atabaques, que também eram acompanhados por ritmista tocando Cowbell, esbanjando versatilidade rítmica. A bossa extensa ainda encerra com um balanço único na segunda passada do refrão principal, terminando com os atabaques subindo o ritmo na retomada. Uma construção musical de rara felicidade, altamente conectada ao que samba-enredo pede, atrelando a sonoridade da “Furacão” ao grande enredo da agremiação de Niterói.

Uma apresentação muito boa da bateria da Viradouro, dirigida por mestre Ciça. Um ritmo que misturou equilíbrio e consistência, com pressão sonora de bossas potentes e dançantes. Uma exibição que mostrou uma bateria “Furacão Vermelho e Branco” no caminho certo para mais um grande desfile.

bateria viradouro
Foto: Dhavid Normando/Divulgação Rio Carnaval

Freddy Ferreira analisa a bateria da Imperatriz no ensaio técnico na Sapucaí

Um excelente ensaio técnico da bateria “Swing da Leopoldina” (SL) da Imperatriz Leopoldinense, comandada por mestre Lolo. Um ritmo equilibrado, consistente e com potência sonora de uma afinação com distinção soberba entre os timbres dos surdos. Tudo isso foi impactado por uma musicalidade destacada das bossas intimamente ligadas ao enredo da escola.

* Seja o primeiro a saber as notícias do carnaval! Clique aqui e siga o CARNAVALESCO no WhatsApp

Na parte da frente da bateria “SL”, ritmistas com atabaques ficaram perfilados no início do ritmo durante o primeiro recuo, adentrando o corredor e desfilando do meio para o final da bateria pela pista. Uma ala de cuícas ressonante demonstrou sua inegável virtude sonora. Um naipe de chocalhos de grande técnica musical tocou no interligado a um naipe de tamborins extremamente acima da média, mostrando um entrosamento de grande destaque entre ambos. Simplesmente incrível o desenho simples, mas profundamente eficiente dos tamborins da Imperatriz. Convenções assim fazem cair por terra aquela máxima de que desenho complexo e difícil de executar segura e mantém bons ritmistas! O desenho rítmico da Rainha de Ramos era funcional e bastante intuitivo, tendo sido executado de forma impressionante, com carreteiro uníssono e volumoso por toda a Sapucaí.

Na cozinha da bateria da Imperatriz Leopoldinense, uma afinação de surdos primorosa embalou o trabalho destacado de todos os graves. Marcadores de primeira e segunda foram firmes e seguros durante todo o cortejo, assim como os surdos de terceira proporcionaram um balanço envolvente tanto fazendo ritmo, quanto executando as paradinhas. Um trabalho de imenso destaque com a boa acentuação perceptível, graças à excelência envolvendo a afinação e a boa distinção entre os diversos timbres. Repiques com apuro técnico tocaram de forma consistente junto de um bom e ressonante naipe de caixas de guerra. Uma cozinha da bateria que fez um ritmo potente e equilibrado.

A musicalidade das bossas da “Swing da Leopoldina” era simplesmente impressionante. A boa pressão sonora envolvendo a afinação privilegiada de surdos se traduziu em potência rítmica no momento de executar os arranjos, que ainda contaram com um trabalho merecedor de menção musical envolvendo as caixas. Sublime a escolha dos arranjos, assim como a adequação ao tema de vertente africana da escola. Os detalhes das terceiras nas bossas eram encantadores. O toque privilegiado dos atabaques eram acompanhados por agogôs de duas campanas (bocas), dando a sonoridade da “SL” um autêntico clima de terreiro de Candomblé. Destaque para a construção musical de alto nível do refrão do meio, que ainda contava com três gritos de “Hey!” de todos os ritmistas, arrancando aplausos do público e garantindo interação por onde foi exibida.

Galeria de fotos do ensaio técnico da Imperatriz na Sapucaí para o Carnaval 2025

Uma apresentação excelente da bateria da Imperatriz Leopoldinense, dirigida por mestre Lolo. Uma “Swing da Leopoldina” com uma poderosa afinação de surdos, mostrando um encaixe musical único com o samba-enredo da agremiação e suas bossas, repletas de musicalidade ímpar. O ótimo balanço das terceiras e um trabalho estupendo dos tamborins merecem reverências, diante de uma exibição fascinante de ambos os naipes. Um ensaio que mostrou uma bateria “SL” da Imperatriz dirigida por mestre Lolo pronta para brigar pela nota máxima do quesito no desfile oficial.

bateria imperatriz
Foto: Eduardo Hollanda/Divulgação Rio Carnaval

Freddy Ferreira analisa a bateria do Salgueiro no ensaio técnico na Sapucaí

Um ótimo ensaio técnico da bateria “Furiosa” do Acadêmicos do Salgueiro, sob o comando dos mestres Guilherme e Gustavo. Um ritmo potente, com a afinação de surdos mais pesada, característica da escola com quadra de ensaios na rua Silva Telles. Outro ponto de imenso destaque da bateria do Salgueiro foi um conjunto de bossas extremamente acima da média. A musicalidade das paradinhas da Academia levantou o público, energizando a passagem da bateria por toda a Avenida.

* Seja o primeiro a saber as notícias do carnaval! Clique aqui e siga o CARNAVALESCO no WhatsApp

Na cabeça da bateria do Salgueiro, uma ala de showcalhos executou um trabalho extremamente diferenciado, parecendo um só tocando por toda a pista. Um naipe de cuícas competente mostrou boa técnica musical, auxiliando na sonoridade das peças leves. Tamborins executaram um desenho rítmico com certa complexidade de modo eficiente e ressonante. O bom entrosamento entre tamborins e chocalhos foi notado, sendo um dos pontos altos da parte da frente do ritmo salgueirense.

Na parte de trás do ritmo da “Furiosa”, uma afinação de surdos bem pesada, plenamente inserida no DNA musical da escola foi percebida. Marcadores de primeira e segunda foram firmes e precisos, tanto ditando o andamento, quanto fazendo bossas com eficiência. Os surdos de terceira simplesmente brilharam, seja fazendo ritmo ou executando com brilhantismo as paradinhas salgueirenses. Um bom naipe de caixas tocou mesclado a uma ala de taróis de virtude musical, preenchendo os médios junto de repiques eficientes. A cozinha da bateria da escola branca e encarnada do morro do Salgueiro ainda contou com atabaques que deram um molho único nas bossas, além de alguns ritmistas do repique, que desfilaram carregando Cowbell, um instrumento semelhante ao agogô, mas com somente uma única campana (boca).

As bossas salgueirenses trouxeram um brilho de valor sonoro incalculável para a bateria “Furiosa”. Todos os arranjos seguem o que solicita o próprio samba da escola. É possível dizer que a influência musical em cada trecho segue linhas distintas, de acordo com o que a obra pede. No trecho “sou herança dos malês” o ritmo consolida um toque que remete ao Norte da África. Enquanto no refrão do meio, sobre a fé no Sertão, existe uma boa mescla entre Baião e Maracatu, num arranjo bem musical que ainda termina com uma frase rítmica atrevida dos tamborins. Já no verso “Salve Seu Zé”, a bateria Furiosa transportou o clima da Avenida direto para um terreiro de macumba, numa bossa de construção musical bem contemporânea, além de refinada. Todas as paradinhas se aproveitaram das nuances da melodia, bem como da pressão sonora envolvendo a afinação privilegiada dos pesados surdos salgueirenses. Destaque para os arranjos envolvendo as terceiras do Salgueiro, sempre dando uma luxuosa contribuição.

Galeria de fotos do ensaio técnico do Salgueiro na Sapucaí para o Carnaval 2025

Uma ótima apresentação da “Furiosa” do Salgueiro, dirigida pelos mestres Guilherme e Gustavo. Bossas profundamente conectadas à letra e a melodia do samba salgueirense foram exibidas, sempre com boa precisão na execução. Um trabalho equilibrado, consistente e bastante potente garantiram um treino impactante da bateria da Academia do Samba.

bateria salgueiro
Foto: Eduardo Hollanda/Divulgação Rio Carnaval

Mestres Rodrigo Explosão e Taranta Neto revelam os segredos da bateria da Mangueira e prometem surpresas na Sapucaí em 2025

Em entrevista ao CARNAVALESCO, os mestres de bateria da “Tem que respeitar meu tamborim”, Rodrigo Explosão e Taranta Neto, compartilharam detalhes sobre a experiência de comandarem o ritmo da Verde e Rosa.

mestres bateriamangueira
Foto: Juliana Henrik/CARNAVALESCO

“Estamos representando a nossa raça, a nossa ancestralidade, o povo bantu, originário do Congo e de Angola. Um povo que sofreu e fez tudo pelo Rio. Essas são as heranças que eles nos deixaram e que cultivamos hoje.  Portanto, estamos representando nossa comunidade, o Morro da Mangueira”, declarou Taranta Neto.

Quando questionados sobre como tem sido essa parceria de sucesso e se há algum segredo para manter a harmonia, a resposta foi dada com clareza:

“É muito trabalho! Acredito que a presidente Guanayra acertou ao unir eu, Urso, Marquinho, Douglas, Digão e Vitor. Temos uma conexão muito boa no trabalho, principalmente durante a escolha do samba, quando estamos mais reunidos. É nesse momento que integramos as partes musicais – cordas, canto e bateria. Tudo isso se reflete agora, mas começa a ser construído desde outubro, para que a partir de agora possamos colher os resultados”, afirmou Rodrigo Explosão.

É fundamental destacar como está sendo a integração entre a escola mãe e a escola mirim na bateria. O mestre Rodrigo expressou sua satisfação:

“Para nós, a maior gratificação da Mangueira é a existência da Escola Mirim, que nos formou. Hoje, ela tem uma representatividade significativa dentro da nossa escola. Eu, Urso, Douglas, além da Evelyn e do Matheus, somos exemplos de que esse investimento dá frutos. Todas as escolas deveriam investir nessa base, pois é dela que nascem os novos talentos”, disse o mestre Rodrigo, emocionado.

Já o mestre Taranta Neto garantiu que a escola trará surpresas para o desfile oficial e adiantou que parte delas foi apresentada durante o ensaio técnico na Sapucaí:

“Surpresas sempre existem! Fizemos uma amostra no ensaio técnico, mas para o desfile estamos preparando algo especial que irá surpreender a todos. Aguardem uma bateria da Mangueira com ritmo cadenciado, repleta de novidades e com a Estação Primeira na disputa pelo título!”, exclamou Taranta, empolgado.

A escola de samba Estação Primeira de Mangueira desfilará na Marquês de Sapucaí no domingo, 2 de março de 2025, entre 2h e 2h20, na primeira noite dos desfiles do Grupo Especial do Carnaval do Rio de Janeiro.

Artistas, ativistas, lideranças e intelectuais visitam barracão da Mangueira na Cidade do Samba

Diversas personalidades se reuniram no barracão da Estação Primeira de Mangueira, na Cidade do Samba. Intelectuais, artistas, lideranças e ativistas estiveram com parte da equipe responsável pelo enredo da Verde e Rosa para conhecer de perto detalhes de tudo aquilo que será mostrado na Avenida e que o restante do público ainda não conhece. Eli Ferreira, Ivanir dos Santos, René Silva, Ana Paula Oliveira, Patrícia Oliveira, Bruna Benevides, Lígia Batista, Flávia Oliveira, Átila Roque e Clara Monecke estarão na Marquês de Sapucaí no domingo (a Mangueira é a última escola a desfilar), para mostrar ao Brasil e ao mundo o por que o Rio de Janeiro é Bantu, com o enredo “À Flor da Terra: O Rio da Negritude Entre Dores e Paixões”.

* Seja o primeiro a saber as notícias do carnaval! Clique aqui e siga o CARNAVALESCO no WhatsApp

personalidades mangueira
Foto: Divulgação/Mangueira

Série Barracões: Vigário Geral promete desfile colorido e luminoso para homenagear o cronista Vagalume

A Acadêmicos de Vigário Geral, da Série Ouro, apresenta esse ano o enredo “Ecos de um Vagalume”. O CARNAVALESCO esteve no barracão da escola e conversou com os carnavalescos Alex Carvalho e Caio Cidrini sobre o misterioso tema do desfile e o que esperar da Vigário em 2025.

* Seja o primeiro a saber as notícias do carnaval! Clique aqui e siga o CARNAVALESCO no WhatsApp

vigario barracao25 3

“O título é meio abstrato e eu gosto desse mistério. As pessoas pensam no Vagalume inseto, não sabem quem é o Vagalume, mas quando sentam para ouvir a gente falar, olham a sinopse, ouvem o samba, se surpreendem com a história dele”, disse Caio.

Conhecido como Vagalume, o cronista Francisco Francisco Guimarães documentou o estilo de vida e festividades da população preta e periférica da Cidade Maravilhosa no final do século XIX e início do XX.

“Quando o Francisco, nosso Vagalume, foi convocado a ser repórter no Jornal do Brasil em 1894, na primeira coluna dele, que foi a reportagem da madrugada, a expectativa era que ele cobrisse casos de polícia, violência, acidentes, incêndios. Ele fez o oposto: começou a cobrir as práticas de lazer e cultura daquela população que durante o dia estava trabalhando no Porto ou na casa das pessoas ricas. É isso que a gente traz um pouco para o nosso desfile”, disse Caio.

vigario barracao25 8

“A gente fala muito que o Vagalume jogava xadrex lutando capoeira, porque sendo um homem negro num ambiente completamente elitizado, no jornalismo, trazendo questões sociais e pautas de que se tinha um extremo preconceito, ele era um cara com um jogo de cintura muito, muito bom. Um cara extremamente inteligente e ligado ao povo”, enalteceu Alex.

Embora tenha vivido em uma época anterior ao surgimento das escolas de samba, Vagalume mergulhou na cultura do carnaval e dos folguedos populares do Rio de Janeiro. Acabou noticiando, ao final de vida, concursos entre blocos e ranchos carnavalescos, no que daria origem ao maior espetáculo da Terra. Respeitado pela comunidade carnavalesca de sua época, o cronista recebeu a alcunha de rei do samba e do carnaval.

‘Hoje, somos ecos do Vagalume’, resumiu Alex

“É um encontro de dois dos maiores cronistas e intérpretes da cultura carioca, senão brasileira: o Vagalume e a escola de samba. Todo ano a gente aprende muito, a gente vê o mundo através da escola de samba. Os desfiles ensinam, criticam, fazem refletir. Poder promover esse encontro na nossa estreia na Sapucaí é motivo de alegria, de felicidade”, expressou Caio.

vigario barracao25 1

A dupla criativa encontrou o enredo ao folhear o livro Dicionário da Literatura Afro-Brasileira, de Nei Lopes. O verbete “Vagalume” lhes chamou a atenção. Eles apresentaram a ideia, jamais performada na Sapucaí, à presidente da Vigário, Betinha, que aceitou de primeira.

O objetivo, no entanto, não é falar sobre toda a carreira do talentoso jornalista. Na contramão do que se espera de um enredo biográfico, Alex e Caio escolheram destacar, nos três setores da escola, temáticas específicas da vida do escritor. São elas a boemia noturna carioca, a ligação com religiões de matriz africana e o carnaval em si. A decisão se deu em prol da fácil leitura e identificação visual do desfile, por parte do público.

vigario barracao25 6

“Uma das questões que a gente traz muito é o discurso popular, já que o Vagalume falava de uma forma acessível. A gente procurou trazer uma linguagem de fácil leitura para quem estiver na arquibancada, assistindo pela televisão ou desfilando compreender o desfile”, ressaltou Alex.

Além disso, os artistas priorizaram o trabalho plástico de cor e volumetria. “As pessoas podem esperar cores bem escolhidas, um tapete de cor bonito, que faz sentido. A gente sempre tentou levar a cor de uma fantasia para a ala seguinte. Por exemplo, se essa fantasia aqui tem azul, vermelho e roxo, a gente vai pegar uma dessas uma dessas cores e na próxima ala a gente vai querer usar isso”, adiantou Caio.

“A gente gosta dessa unidade de cor. A cabeça da escola vem toda na cor da escola. Eu gosto muito de trabalhar essa paleta, de fazer o chão, a ala da frente e levando para o carro, dar essa unidade”, complementou Alex.

vigario barracao25 7

Nas fantasias, especificamente, eles destacaram o uso não só de costeiro, mas também de adereços de mão e cabeça para criar volume de forma original. A decisão de produzir a própria estamparia é outra particularidade da Vigário neste ano.

Ainda nas indumentárias, a dupla elegeu as baianas como o ponto alto de seu trabalho à frente da Vigário.

“Elas trazem o elemento do malandro na frente, um desenho que é uma estampa que a gente fez; a bandeja na cabeça com a cerveja, o copo de cerveja; o leque que remete à cabaré, à noite, ao bar. Elementos que você olha e entende o que aquela fantasia representa. Tudo isso nas cores da escola: azul, branco e vermelho”, desenvolveu Caio.

Nas três alegorias, o volume também foi pensado, sobretudo através da utilização de múltiplas esculturas.

vigario barracao25 10

“Uma escolha que a gente fez, em questão de alegoria, foi ter mais uma quantidade maior de escultura, só que menores, para distribuir esse volume pelo carro. A Vigário tinha um certo costume de comprar poucas esculturas, mas muito grandes. A escola acabava jogando uma escultura no meio e o carro não tinha outras esculturas distribuídas. Esse ano a gente procurou distribuir essa volumetria. Quando você olha no conjunto parece que tá muito mais volumoso do que uma escultura só grande”, revelou Alex.

“A gente tentou trazer carros preenchidos mas ao mesmo tempo vazados. São carros que você vai perceber que ele não é uma caixa, mas sim ele tem esculturas bem distribuídas e entre elas um certo espaçamento”, reforçou Caio.

A iluminação cênica, que ano passado foi destaque de desfiles no Grupo Especial, será, este ano, mobilizada pela Acadêmicos de Vigário Geral no intuito de fornecer um espetáculo grandioso e potente.

vigario barracao25 5

“O enredo já pede. A gente está falando de um de um homem que se auto-intitulava Vagalume. Não teria como a gente não brincar com a luz. A gente usa ela principalmente na cabeça da escola: comissão de frente, baianas, segunda ala e abre alas. Vai ter uma brincadeirinha com a luz para trazer um pouco dessa carnavalizada, dar essa carnavalizada com o vagalume inseto. A gente também faz esse paralelo de ser um inseto que produz sua própria luz e o Vagalume cronista jogar luz sobre questões e pautas que merecem ter visibilidade”, garantiu Alex.

Os artifícios são vários. Muitos deles, a despeito do déficit orçamentário da Série Ouro. Na segunda divisão do carnaval carioca, as dificuldades financeiras exigem criatividade e trabalho redobrado para serem superadas, quando comparada à competição principal.

“Requer malandragem, no bom sentido da palavra. Sagacidade de trazer soluções que sejam práticas, baratas, que tenham um visual, uma estética bonita. Como a gente falou no início, sobre o Vagalume, é jogar xadrez lutando capoeira. É sempre ter esse jogo de cintura de saber em que material investir, para saber se vai chegar a tempo, que vai trazer uma solução rápida”, abordou Alex.

vigario barracao25 4

“Não é segredo e nem vergonha nenhuma saber que a gente usa esculturas que a gente compra, até porque nosso espaço nem dá para fazer tanta escultura. Eu acho que esse tipo de maturidade só veio porque a gente já fez carnaval sem dinheiro nenhum. Vendo os diferentes cenários por onde a gente passou, a gente conseguiu agora ser capaz de tomar soluções, tomar decisões mais assertivas, de saber onde gerenciar melhor as nossas escolhas”, enfatizou Caio.

A dupla de carnavalescos ingressou no carnaval através de workshops da Pimpolhos da Grande Rio, escola-mirim da tricolor de Caxias. Foi lá que se conheceram, durante aulas ministradas pelo artista Clebson Prates. Depois, comandaram juntos o desfile da Chatuba de Mesquita (Série E, última divisão) e, mais tarde, o da Independentes de Olaria (Série Prata – terceira divisão), ambas na Intendente Magalhães. Foram, e são até hoje, assistentes de Lucas Milato, carnavalesco de escolas da Série Ouro como Inocentes de Belford Roxo e Unidos de Padre Miguel, pela qual ascendeu ao Grupo Especial em 2024, ingressando na competição principal em 2025. Como autores principais, este Carnaval marca a estreia de Alex e Caio na Marquês de Sapucaí.

“É uma missão, uma responsabilidade vestir tantas pessoas, fazer três alegorias. É toda uma expectativa de uma comunidade, de pessoas do carnaval, admiradores, torcedores. Ao mesmo tempo, é muito gratificante e emocionante quando dá certo. E até agora está dando muito certo. As fantasias estão saindo de uma forma que a gente almeja e as alegorias são estão saindo dentro dos nossos planejamentos”, disse Alex.

vigario barracao25 9

“Tem dia que eu fico ansioso, que me dá vontade de chorar, mas ultimamente, vendo o trabalho do barracão, vendo a equipe, recebendo as pessoas, eu estou bastante tranquilo. A gente tá com um ritmo bacana no barracão. O suporte que a escola dá com os diretores de Carnaval novos, a própria Betinha, que é uma mãezona, também me tranquiliza”, compartilhou Caio.

Com o Carnaval se aproximando, e, com ele, os desfiles das escolas de samba na Marquês de Sapucaí, onde Caio e Alex estreiam, fica a torcida para que os vigaristas se satisfaçam com um belo desfile. Ano passado, com o enredo “Maracanaú: Bem-Vindos ao Maior São João do Planeta”, a Vigário fez um bom começo de desfile, com destaque para a comissão de frente e primeiro casal, mas pecou em quesitos como Harmonia e, sobretudo, Evolução. Com equipe renovada, entre ela novos carnavalescos, espera-se que os percalços sejam reduzidos, mantendo-se a força da comunidade.

“Vagalume vai brilhar na avenida. A gente tem certeza que ele tá do nosso lado. A direção, o enredo… É um conjunto de fatores que acaba somando para que a Vigário este ano, com as bênçãos do Vagalume, entre lindíssima, aguerrida e vestida da forma que ela gosta e merece”, prometeu Alex.

“Claro que a gente faz Carnaval para ser campeão, para conseguir transmitir a mensagem que a gente quer, deixar a nossa identidade artística, a nossa linguagem ali, mas não tem nada melhor do que você receber um abraço, um tapinha nas costas, ver gente chorando com seu desfile, falando que foi lindo. O povo de Vigário pode esperar um desfile pelo qual eles vão se orgulhar de lembrar”, finalizou Caio.

Entenda o desfile

Em 2025, a Vigário Geral conta com cerca de 1.400 componentes, divididos em três setores. Há três alegorias, uma por setor, além de um elemento cênico na comissão de frente. Os carnavalescos Caio Cidrini e Alex Carvalho contam a seguir os detalhes.

Setor 1: Caio: “A gente abre o desfile com a noite carioca, com a boemia, com uma estética de circo popular, de cabaré, de teatro de rua, que foi a porta de entrada de Vagalume no jornalismo, através de sua coluna noturna. Na primeira coluna, ele já escreve “Sejamos todos notívagos””. Alex: “A gente trabalha muito, nessa primeira parte, com as cores da escola: azul, vermelho, branco, muito dourado”.

Setor 2: Caio: “Na segunda parte, com as alas do meio e segunda alegoria, a gente parte para uma estética das religiões afro-brasileiras, em referência à coluna Mistérios da Mandinga, que o Vagalume escreveu nos anos 20. Vagalume trata as religiões de matriz afro com respeito, de forma diferente do que era feito na época. As crônicas do João do Rio são relevantes, são importantes para a história do Brasil, mas tinham uma visão mais bárbara, exótica”. Alex: “No setor afro, a gente trabalhou muito as cores cítricas. É o setor em que mais nos distanciamos das cores da escola. Brincamos com tons de laranja, verde limão e também mesclando com o rústico do afro, trazendo a palha e a madeira. Tem muito preto também”.

Setor 3: Caio: “O desfile termina com um grande baile exaltação dos antigos carnavais, bem clássicos. Vagalume teve uma coluna chamada Clubes e Foliões no jornal A Crítica por quase 30 anos. Foi o trabalho dele mais duradouro”. Alex: “No último setor, a gente volta com umas nuances de azul, de vermelho, mas brincando com rosa, brincando um pouquinho com dourado. A gente também tem amarelo. A gente começa o desfile na cor da escola, mas com dourado, e, no final, o prata, substituindo o dourado pelo prata. Começamos e terminamos com a cara da Vigário Geral”.

Série Barracões: Inocentes de Belford Roxo promete espetáculo com grito de cura na Sapucaí

A última participação da Inocentes de Belford Roxo no Grupo Especial ocorreu em 2013, com o enredo “As sete confluências do Rio Han – 50 anos de imigração da Coreia do Sul no Brasil”. Agora, a Caçulinha da Baixada promete levar um grito de salvação à Amazônia para o Carnaval de 2025. Em entrevista ao CARNAVALESCO, o carnavalesco da escola, Cristiano Bara, compartilhou detalhes sobre o enredo deste ano, que será uma reedição do Carnaval de 2008: “Ewe, a cura vem da floresta”, que na época foi produzido por Jorge Caribe.

* Seja o primeiro a saber as notícias do carnaval! Clique aqui e siga o CARNAVALESCO no WhatsApp

inocentes barracao25 1
Fotos: Divulgação/Inocentes de Belford Roxo

“Por se tratar de uma reedição, eu participei do projeto com o Caribe em 2008. Eu elaborei os protótipos e já trabalhava na Inocentes. Estive envolvido em todo o processo, inclusive, guardo figurinos daquela época. Para mim foi relativamente tranquilo aprofundar alguns aspectos e dar uma nova roupagem ao enredo. É um tema bastante atual: precisamos preservar as florestas. O ecossistema não se resume apenas a incêndios ou chuvas intensas. Precisamos abordar a questão de que, se não tivermos floresta, de onde virão a essência e os recursos para a produção dos medicamentos que conhecemos, como a Novalgina e a penicilina? Esses remédios têm origem em folhas e, se não preservarmos a floresta, em diversas entrevistas já mencionei que o planeta é nossa casa. Não podemos simplesmente fechar a porta e nos enclausurar, pois, ao fazermos isso, o planeta também sucumbirá e nós juntos. Se não cuidarmos das florestas e do ecossistema da Terra, não haverá mais lugar para vivermos, e o futuro das próximas gerações estará comprometido. A mensagem principal deste enredo, que adaptamos ao final, é um alerta sobre a importância da preservação. O carnaval, como expressão cultural, é uma ferramenta poderosa. Através das histórias dos orixás, conseguimos narrar desde tempos remotos até os dias atuais, sempre destacando a possibilidade de salvação. Na última alegoria, apresentaremos uma escultura representando o ossam, segurando uma folha e clamando: ‘Salvem as florestas!’, pois, sem elas, não teremos cura para as futuras gerações e o progresso da humanidade estará em risco”, afirmou Cristiano.

Questionado qual será o grande destaque do desfile, o artista compartilhou sobre o tema.

“O grande destaque é o humano, que trará à vida toda a história que estamos preparando em alegoria, fantasia e arte. Acredito que, sem o humano, não temos trunfo algum. Pode haver a melhor alegoria ou a fantasia mais elaborada, mas é o humano que tornará tudo isso realidade, conforme imaginamos”, disse.

A escola apresentará a narrativa de Ossain e o conhecimento das ervas, revelando como elas podem produzir cura por meio das folhas. Essa abordagem mostrará todo o processo africano que chegou ao Brasil, iniciando um diálogo sobre a fé no país, abordando a Umbanda e as tradições dos pretos-velhos. Além disso, serão exploradas as contribuições dos indígenas e o conhecimento dos pajés, que preparam bebidas e realizam rituais com folhas voltados para a cura e o espiritual. Assim, a proposta é enfatizar a cura tanto do corpo quanto da alma. No final, o enredo falará sobre renovação e um futuro promissor.

inocentes barracao25 2

“A cada passo que a escola der, compreenderemos de forma clara o enredo, que começa com a origem africana, avança pela religiosidade e culmina na união de todo esse conhecimento com a história, incorporando a modernidade da biomedicina para promover a cura da humanidade. Assim, será evidente que começamos e terminamos com o sangue, dando um grande grito de alerta em defesa de nossas florestas e do nosso povo, para que compreendamos a importância de cuidar do planeta”, afirmou Cristiano.

Na entrevista com o carnavalesco Cristiano Bara ficou a curiosidade sobre o que significa para ele revisitar o enredo que foi apresentado em 2008. Sem hesitar, ele explicou que, como praticante do candomblé e com mais de 20 anos de vivência na religiosidade, além de cultuar seu pai de santo, ele compreende a profunda importância das ervas e de um enredo tão potente quanto esse.

inocentes barracao25 3

“É fundamental cultuar o conhecimento da ancestralidade. No início do desfile, apresentamos uma ala que aborda essa temática. Para mim, isso é extremamente gratificante, pois é uma religião à qual me dedico. É o começo da nossa história e me proporciona um contexto para observar tudo o que acontece em outras culturas, como a indígena, e em outras práticas, como a Umbanda. Eu não sou umbandista, mas frequentei a Umbanda quando criança, acompanhando minha madrinha. Portanto, essa experiência me permite aprofundar meu entendimento e percepção, o que é essencial para respeitar o próximo, independentemente de cor, raça ou crença. Isso se reflete no enredo e me leva de volta à inocência, especialmente após minha experiência no ano passado. Participei do projeto com o Caribe, foi um desfile que nos consagrou campeões, com um samba muito envolvente que a escola adora. Para mim, foi um prazer reviver tudo isso, contar essa história com um olhar renovado, imerso pelas transformações do carnaval e do espetáculo, entendendo de forma diferente que é um grito de alerta para que possamos salvar a humanidade no futuro”, comentou Cristiano.

O carnavalesco acrescentou que, apesar de ser um enredo conhecido, ele o considera tranquilo, pois já fez parte do projeto anterior.

“Não se trata apenas de pegar um enredo de outra pessoa, mas de se apropriar de toda a criação. Eu criei todos os protótipos e figurinos. O Caribe supervisionou e aprovou, e essa interatividade foi muito gratificante. Reviver algo do passado e retornar a esse momento traz um sabor especial. Tenho fotos em casa com o troféu daquela época, e ele está em um porta-retrato na minha casa. Revisitar tudo isso em um momento tão importante é significativo, já que sou apaixonado pelo carnaval. Amo essa festa, pois é a celebração do meu pai Exu, que cuida tanto de mim!”, afirmou Cristiano.

Cristiano recorda um momento marcante do Carnaval de 2008: “Era uma fantasia do olho que tudo vê. Hoje eu fiz algumas modificações, mas quem assiste logo compreende”.

“Lembro-me bem de uma fantasia inspirada no olho que tudo vê, um ritual indígena que envolve o chá das folhas em busca do terceiro olho, o olho da espiritualidade. Recriei essa fantasia, mas de uma forma que permite uma compreensão mais rápida por parte do público em comparação com a época anterior. Naquele tempo, tínhamos recursos mais limitados. Hoje contamos com diversos artifícios que nos permitem aprimorar a apresentação. O figurino original está guardado, e fiz a nova versão com base nele. Essa ideia ficou gravada na minha memória, o que me levou a preservar esse figurino, pois o nome é muito sugestivo: o olho que tudo vê. Mantivemos essa fantasia, agora com uma nova interpretação da minha equipe e da escola de samba. Embora houvesse pessoas que a apreciavam e outras que não a entendiam, encontramos uma forma de apresentar que agradasse a todos. É uma nova perspectiva do olho que tudo vê!”, disse o carnavalesco.

Cristiano contou suas experiências ao lidar com os desafios da Série Ouro.

“Acredito que a chave está em reunir toda a equipe, garantindo uma integração efetiva. Costumo dizer que somos como um relógio: todas as engrenagens devem funcionar em harmonia, sempre colaborando umas com as outras para que possamos respeitar o tempo do espetáculo, que possui dia, hora, minuto e segundo determinados. Vejo a equipe como pequenas engrenagens interconectadas, essenciais para produzirmos um espetáculo de qualidade, mesmo quando temos que superar limitações financeiras ou estruturais. A montagem é extremamente complicada: os barracões, a altura dos carros, tudo exige uma montagem cuidadosa e precisa. No dia do desfile, os carros são transportados em caminhões e muitas vezes desmontados, pois não dispomos da altura necessária para testes adequados. Esta semana, por exemplo, precisamos colocar o carro para fora para testá-lo, uma vez que possui elementos internos que exigem elevação. Essas limitações podem tornar o processo desafiador, mas conseguimos extrair o que há de melhor em nós para entregar um grande espetáculo, pois o público está ansioso para vivenciar isso. E não é apenas o júri que nos interessa; direcionamos nosso trabalho a todos, pois, quando há interatividade com o público, os jurados também são impactados e, consequentemente, podem nos conferir a sonhada nota 10”, declarou Cristiano.

inocentes barracao25 4

O artista garante que podemos esperar das alegorias da Inocentes para 2025 um toque de modernidade aliado a um conteúdo significativo.

“As alegorias da Inocentes possuem um toque de modernidade, transmitindo uma rica carga de informação. O carnaval se transforma em uma experiência que deve ser cantada, vista e ouvida, demandando um entendimento profundo do que acontece diante de nós. Muitas vezes, nos deparamos com belíssimas representações durante o Carnaval, mas, como profissionais desse universo, há momentos em que não conseguimos compreendê-las plenamente. Embora sejam deslumbrantes, nos questionamos: o que significam? Por isso, é fundamental atentar para as informações visuais e sonoras que nos são oferecidas. Trata-se de um espetáculo audiovisual; é necessário escutar as canções e observar as imagens para captar a narrativa que se desenrola. Sem isso, corremos o risco de nos perdermos. Eu, que considero ter um bom entendimento do carnaval, às vezes me deparo com cenas que não compreendo. Por exemplo, ao falar sobre o Mico-Leão-Dourado, é imprescindível deixá-lo claro e visível, para que o público possa entendê-lo como parte da história que estamos contando. É importante fazer esse ‘jogo de identificação’ para facilitar a compreensão do enredo. Assim, ao visualizarmos as alegorias, conseguiremos entender a ligação entre o samba, a alegoria e a fantasia. Vamos cantar, brincar, ouvir, observar e absorver a totalidade do enredo que está sendo apresentado, com as fantasias e alegorias organizadas da melhor forma possível para criar um grande espetáculo. É crucial que tanto os participantes da escola quanto o público — seja na televisão, no sambódromo, na arquibancada ou no camarote — se envolvam intensamente com a apresentação. O objetivo final é transmitir uma mensagem significativa. A mensagem que buscamos comunicar com nossas alegorias e fantasias é um grande alerta à humanidade: precisamos cuidar da nossa casa, que é o planeta!”, explicou Cristiano.

O carnavalesco ainda abordou as inovações que está implementando no carnaval da Inocentes, tornando as fantasias mais leves tanto para o corpo quanto para o bolso, uma vez que as vestimentas de antigamente eram muito pesadas e onerosas.

“Estamos utilizando materiais bastante interessantes. Introduzimos o etafon, um material leve que permite criar volumes e confeccionar saias, evitando o uso de palha, que é mais caro. Isso representa uma estratégia para compreendermos que o visual é importante, mas não dependemos de materiais sofisticados. Fazemos uso de alternativas que possibilitam representar o que precisamos, alinhando o conceito ao nosso orçamento. É aquela velha máxima: tirar da cabeça aquilo que não temos no bolso”.

Entenda o desfile

A Inocentes de Belford Roxo apresentará um espetáculo com 19 alas, três carros alegóricos, um elemento cenográfico para a comissão de frente e 1.800 componentes.

“Não podemos mais utilizar o tripé, pois isso foi restrito. Acredito que essa decisão foi positiva, pois nos permitiu uma divisão melhor; quando tínhamos o tripé, acabávamos nos dividindo demasiado”, comentou Cristiano.

Setor 1: “O primeiro setor aborda a herança ancestral africana. Neste segmento, focaremos na rica flora africana e nas curas proporcionadas pelas folhas. Iniciaremos com a sabedoria ancestral e a figura do babaegum, representando os espíritos ancestrais que nos guiam em nossa jornada de saúde e cura. Em seguida, apresentaremos árvores majestosas da floresta africana, das quais extraímos essências para produzir remédios que promovem a cura da humanidade. Serão abordados fundamentos relacionados a Xangô e Iansã, curandeiros africanos, além de guerreiros de Ossain. Haverá uma ala em homenagem aos babaloçães, os coletores de folhas. Este primeiro setor será encerrado com a alegoria que simboliza a floresta africana, o legado de Ossain. Assim, trazemos à tona toda a riqueza da cultura africana, incluindo as tradições Jeje, Nagô, e Keto, entre outras”.

Setor 2: “No segundo setor, discutiremos a cura através da fé. Apresentaremos fantasias que retratam rituais de cura, destacando as beberagens feitas com folhas e as práticas dos rituais indígenas. Este segmento contemplará a figura dos pretos velhos, enfatizando a cura por meio de chás e outras infusões. O objetivo é retratar a cura promovida pelas folhas, mediada pela fé nas espirituais que nos guiam e nos espíritos indígenas”.

Setor 3: “O terceiro setor abordará a esperança de cura. Focaremos no papel dos biomédicos, a preservação da natureza e a sabedoria transmitida pelo samba. Discutiremos como o conhecimento ancestral, aliado à expertise dos biomédicos, gera novos remédios para combater as doenças que surgem na humanidade. Para encerrar este segmento, apresentaremos um carro alegórico que servirá como um grande alerta, com os sães segurando uma última folha e clamando pela proteção das nossas florestas, essencial para garantir a cura da humanidade e das futuras gerações”.

Freddy Ferreira: ‘Saudade das baterias pesadas, com timbre grave de fazer o chão tremer’

Atenção! Essa coluna possui doses exageradas de saudosismo. E como é bom poder lembrar tempos nostálgicos, ainda mesmo que não vividos, com saudade. Alguns desfiles atemporais seguem na lembrança de quem sequer vivenciou, por livre e espontânea fascinação audiovisual. Ritmos de baterias pertencem ao imaginário coletivo num lugar afetivo bastante especial, principalmente de cariocas ou não que tiveram a experiência inestimável de ver de perto um ritmo de bateria de escola de samba pela Avenida.

* Seja o primeiro a saber as notícias do carnaval! Clique aqui e siga o CARNAVALESCO no WhatsApp

sambodromo
Foto: Divulgação/Riotur

O fascínio coletivo popular com as baterias faz parte de uma verdadeira identidade cultural do povo carioca. Mesmo alheio a nossa cultura, cada espectador que tem a experiência sensorial de acompanhar ao vivo o ritmo de uma bateria pela Sapucaí fica estupidamente encantado. A sincronia dos mais diversos naipes fazendo ritmo ao mesmo tempo costuma ser seguida de suspiros e aplausos. E o que dizer do pulsar da marcação podendo ser notado pelos pés, diante da vibração da estrutura de concreto da arquibancada? Simplesmente mágico!

Lembro como se fosse ontem a primeira vez que vi e ouvi os ritmos dos setores finais (Apoteose) do Sambódromo. Os olhos brilharam de modo genuíno e todo o encantamento rítmico dominou meu ser em forma de meta: virar ritmista de bateria de escola de samba. Sim, o pulsar firme das marcações decretou instantaneamente meu desejo obstinado de aprender um instrumento e pertencer ao ritmo de uma bateria carioca. A arquibancada respondendo a vibração energética da pressão sonora dos surdos cativou eternamente meu coração, que vez ou outra também apresenta o mesmo brilho no olhar fascinado dos tempos de moleque.

Talvez até para uma própria adaptação ao regulamento, as baterias tenham buscado o caminho de ficarem gradualmente mais leves. Com uma bateria mais leve, por exemplo, é bastante provável que os naipes médios (caixas e repiques) ressoem melhor, assim como os naipes agudos (tamborins, chocalhos, cuícas e agogôs) se propaguem mais dentro da conjugação dos sons das diversas peças. Entretanto, o charme da sonoridade que mescla um groove puxado para o timbre grave com peso dos surdos, intercalando boa consistência dos médios, além de um contraste musical com agudos de qualidade é de uma complexidade rítmica genuína e se configura em um poderoso artifício para demonstrar potência musical.

Deixando de lado a questão técnica e focando em como o povo absorve, recebe e se contagia com os ritmos, não há a menor dúvida que baterias mais pesadas possuem um poder de comunicação que costuma gerar interações humanas mais intensas. É como se a própria força sonora contida no peso dos surdos atingisse em cheio os corações populares. Difícil encontrar quem não fique arrepiado diante de um ritmo bem pesado.

É possível afirmar que menos da metade das baterias do grupo especial do carnaval carioca são pesadas. Ainda que a coluna não especifique, para não tratar cada caso de modo individual e sim do tema de forma geral, a dedução imediata é que poucos ritmos se atrevem a ir para a Avenida bastante pesado. Todos os que fazem defendem um legado musical e cultural vinculado a herança rítmica de longa data em suas respectivas agremiações. Ou seja, é uma característica identitária que está sendo preservada e defendida graças a um DNA rítmico da própria bateria. Ai que saudade do peso dos surdos!

Vai-Vai levanta o público com atuação vibrante da ala musical em seu terceiro ensaio técnico

Por Lucas Sampaio e fotos de Will Ferreira (Colaboraram Gustavo Lima, Naomi Prado e Nabor Salvagnini)

O Vai-Vai realizou na última sexta-feira seu terceiro ensaio técnico no Sambódromo do Anhembi em preparação para o desfile no carnaval de 2025. O espetáculo apresentado pelo carro de som comandado por Luiz Felipe, que levantou o público que compareceu em peso em pleno dia útil, foi o grande destaque do ensaio da comunidade do Bixiga encerrado após 59 minutos na Avenida. A Saracura será a sétima escola a se apresentar no sábado de carnaval pelo Grupo Especial com o enredo “O Xamã devorado y a deglutição bacante de quem ousou sonhar desordem”, em homenagem ao diretor Zé Celso, assinado pelo carnavalesco Sidnei França.

* Seja o primeiro a saber as notícias do carnaval! Clique aqui e siga o CARNAVALESCO no WhatsApp

O Quilombo Saracura encerra sua participação nos ensaios técnicos colhendo trunfos importantes, mas ainda apresentando quesitos que carecem de atenção até o dia do desfile oficial. O último treinamento geral, porém, comprovou a determinação da comunidade em fazer um grande espetáculo na Avenida e que ainda há tempo da escola corrigir as falhas observadas. O diretor de harmonia, Paulo Melo, fez um balanço geral do ciclo do Vai-Vai neste pré-carnaval.

“Nós viemos em uma crescente. Nós viemos trabalhando desde o primeiro ensaio técnico, o segundo ensaio técnico e esse terceiro foi justamente para ajustar todos os pontos que encontramos, a questão do canto a questão da evolução, o andamento da escola. A escola está grande, maior do que o que foi visto aqui. O Vai-Vai vem próximo, se não mais, do que 3000 pessoas e está com uma metragem mais ou menos compacta de 700 metros. A pista tem 530 metros e a escola está com mais de 200 metros a mais. Nós estamos fazendo a lição de casa, trabalhando bastante ensaio de canto durante a semana, de final de semana no Uirapuru, que nós estamos ensaiando lá na quadra. É um trabalho de crescente e de renovação, nós renovamos muita coisa e estamos o quê? O Vai-Vai está pulsando, está respondendo, nós estamos resgatando muita coisa que precisávamos, aquele orgulho de ser Bixiga, orgulho de ser Vai-Vai e é isso que vamos demonstrar na Avenida. Viremos com essa força, esse orgulho”, avaliou.

Ala com Chapeu

Paulo demonstrou que o planejamento da escola para entrar na Avenida está rigoroso de modo a garantir que a cronometragem não será um problema durante o desfile.

“Vou falar para você. A questão de tempo, nós temos um planejamento muito tranquilo. O que aconteceu? Como ficou toda aquela euforia na concentração, nós deixamos a ala de compositores solta e planejamos o quê? Vamos soltar em cima do samba, esse foi o planejamento. Nós temos todo o planejamento de andamento. O andamento da escola ele é sentado, não tem como correr até mesmo por causa do tamanho dos carros, a proposta do desfile é essa. Nós saímos perto de 62 minutos mais ou menos. No meu cronômetro está 59, mas eu diria para você que o planejamento é para 63 minutos no máximo, até mesmo porque nós viremos aí também com uma ala de convidados bem fora do comum, do que se vê em outras escolas. É uma ala grande, diria que ela vem perto de 500 pessoas, significa quase cinco alas de 100 pessoas. Mas nada mais é o que é, são os amigos, colaboradores, a própria comunidade vindo festejar esse enredo. É maravilhoso, o trabalho do Sidney é excelente. Comissão de carnaval, executiva, bateria. A comunidade que eu falo, que é a nossa pulsação e é em cima dessa pulsação que nós falamos”, afirmou.

Comissão de Frente

Comissao de Frente 1

Ensaiada pelo coreógrafo Sérgio Cardoso, a comissão de frente do Vai-Vai realizou uma apresentação com duração de três passagens do samba e contou com um grande elemento alegórico. É inegável que se trate talvez de uma das apresentações mais polêmicas já feitas por uma escola no quesito, o que a torna perfeita para homenagear Zé Celso, um diretor que como o próprio título do enredo diz, “ousou sonhar desordem”. A expressividade dos componentes e as interações entre si impressionam, mesmo que ainda seja difícil definir tudo que o quesito pretende apresentar, ainda mais com a gigantesca alegoria, que faz referência ao Teatro Oficina, estando quase toda coberta por plásticos pretos. O quase carro alegórico – sendo um modo de dizer, pois não conta como um na pasta de julgamento – possui dois andares com muito espaço para coreografias, causando um grande impacto visual mesmo ainda descaracterizado.

A coreografia do quesito, porém, encara um desafio já apontado em outras agremiações que optam por uma apresentação em três passagens do samba. Como a alegoria começou a se movimentar sem que os componentes começassem a atuar, iniciando apenas na passagem seguinte, foi registrado que o terceiro ato não é concluído diante do primeiro módulo de jurados, e até por conta do enorme tripé, torna a visualização do próprio público muito complicada de ser acompanhada na íntegra. É cedo para afirmar se o Vai-Vai sofrerá consequências de uma aposta tão arriscada, mas a performance em si, como já mencionado, é um deslumbre para quem aprecia a verdadeira ousadia que só o carnaval pode proporcionar.

Mestre-Sala e Porta-Bandeira

O primeiro casal do Vai-Vai, formado por Renatinho e Fabíola, chamou a atenção pela colorida fantasia com a qual participaram do ensaio técnico. A dupla demonstrou muita simpatia e soube interagir com o público como representantes dignos da comunidade do Bixiga. Vale notar, porém, que se percebeu algumas falhas de sincronia diante do segundo módulo de jurados, em especial na hora do posicionamento para a apresentação do pavilhão, mas que não se repetiram nos demais em que foram observados.

Casal

Fabíola fez uma avaliação do desempenho do casal neste terceiro ensaio técnico no Sambódromo do Anhembi. “Sempre positiva. Acho que nós tivemos realmente uma evolução do primeiro para esse terceiro ensaio. Podemos não estar 100% porque o 100% vai ser sempre dentro da Avenida. Estamos curtindo esse momento, vendo os prós e os contras e nós somos sempre muito positivos, acreditando sempre na nossa dança e vamos entregar com certeza 100% na Avenida”, analisou.

Renato afirma que o casal passou por um ciclo de superação para o carnaval de 2025 e está confiante de que conseguirão um grande resultado para a escola.

“Superação, muita superação porque o ano passado já tivemos que evoluir muito mais. Esse ano estamos mais cientes, mais calibrados. Ser Vai-Vai é sentir o peso da comunidade, a alegria da comunidade, sua raça, sua fibra de querer acertar sempre, mas o que nós temos é que estar prontos. Agora vamos para casa, vamos sentar, rever os lances igual a um jogador de futebol, mas com certeza no dia nós vamos poder falar para vocês que vai ser um gol”, afirmou.

Harmonia

A comunidade do Vai-Vai está empolgada com o samba e ganha um gás notável com as constantes evocações do intérprete Luiz Felipe em seus cacos. O canto da escola está forte, sendo um ponto de destaque pela elevação da intensidade ao longo do ciclo de ensaios técnicos da escola. A maior preocupação que havia para o quesito, porém, persiste: há muitos componentes errando ao cantar os versos “Vai no Bixiga pra ver, só no Bixiga pra ver” e todo o refrão do meio, com seu jogo de palavras “Pois Zé”, “Ôh Zé”, “É Zé” e “Zé” nos quatro versos. Os erros de canto, especialmente nas alas da frente da escola, são facilmente perceptíveis e o tempo é curto para corrigir isso nos ensaios que a escola ainda fará fora do Anhembi. Que seja dada uma atenção especial para essa observação.

Carro de Som

Evolução

O contingente que o Vai-Vai levou para o ensaio conseguiu cumprir o seu papel em 59 minutos marcados, descontando o esquenta alongado e sempre marcante feito pelo carro de som. Levando em consideração que a estimativa da escola é levar 3000 desfilantes, há uma margem ampla para conseguir lidar sem maiores problemas no dia do desfile. Os componentes estavam soltos na maioria das alas e brincando o carnaval de forma descontraída, assim como o saudoso homenageado gostaria que fosse. Uma preocupação que há, porém, é com a separação entre a alegoria da comissão de frente e o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira. Enquanto a dupla se apresentava no segundo módulo, houve uma abertura de mais de dez grades em dado momento, e durante alguns momentos do ensaio a escola sofreu o chamado “efeito sanfona”. Com a cronometragem sendo um ponto forte para a escola, ainda há tempo para acertar a comunicação entre os responsáveis pelo quesito.

Ala Especial

Samba-Enredo

Luiz Felipe já é uma realidade entre os intérpretes do carnaval de São Paulo e não é de hoje. Mais uma vez, LF e sua ala musical fizeram do ensaio técnico um verdadeiro espetáculo vibrante para o público, que foi em um número até que significativo em se tratando de um dia útil com só duas escolas ensaiando. Mesmo sendo um samba com versos complexos, o cantor não falha na pronúncia e abrilhanta a obra com cacos que já se tornaram sua identidade.

Encerrando o ciclo de ensaios técnicos do Vai-Vai no Anhembi, o intérprete fez um balanço geral do desempenho da escola e do seu trabalho na Avenida.

“O balanço geral que fazemos é de uma crescente muito boa. Evolução, samba-enredo, esse é o balanço positivo. Chegamos aqui com algumas dúvidas no primeiro ensaio técnico e fomos sanando ao longo deles. Acho que hoje eu fiz como se fosse o desfile. O primeiro e segundo ensaios foram mais descontraídos e hoje mais sério, mais reto, mais ligado em tudo. O último é o teste final. Hoje a minha evolução foi essa”, avaliou.

Ala de

LF aproveitou a oportunidade para falar sobre o trabalho desenvolvido pela bateria da escola ao longo desse ciclo. “O mestre Tadeu junto com o mestre Beto estão sempre inovando. As pessoas antigamente não faziam muito, porque lá no Vai-Vai é breque. Nós temos mentes pensantes lá”, comentou.

Outros Destaques

A corte da bateria “Pegada de Macaco” brilhou no terceiro ensaio técnico no Anhembi. A Rainha Madu Fraga, a princesa Giuliana Silva e a madrinha Luciana Gimenez levantaram o público por onde passou e embalou os ritmistas comandados pelos mestres Tadeu e Beto. A bateria do Vai-Vai é uma das com características mais clássicas na atualidade do carnaval de São Paulo, mas cada vez mais aposta em bossas criativas que ajudam a motivar o canto dos componentes na Avenida.

Mestre Tadeu

Ao final do ensaio, mestre Tadeu comentou sobre o desempenho da escola e sua expectativa para o desfile oficial. “Foi bom, a comunidade vem em peso, graças a Deus. A escola veio grande e agora vamos nos preparar para fechar o sábado de carnaval. Nós estamos confiantes e se Deus quiser faremos um grande desfile“, comentou.

Luciana Gimenez e Giuliana Silva

Outro ponto que chamou atenção foi o “arrastão” do público que desceu das arquibancadas para acompanhar o cortejo da escola. Característica marcante dos encerramentos de desfiles no carnaval do Rio de Janeiro, existe a possibilidade de que essa manifestação popular ocorra em São Paulo no ano de 2025, onde o próprio Vai-Vai encerrará as apresentações do Grupo Especial, prometendo assim um momento icônico para a história da folia paulistana.

Veja mais fotos do ensaio

Torcida Sidnei Franca na Velha Guarda Segundo Casal Ritmista Punho Pro Alto Passista Mais Uma Passista Luiz Luciana Para a Aquibancada LF Giuliana Silva Giuliana na Dispersao Corte Mirim 1 Componente Componente Feliz Carro II Baianas 1 Ala de Branco