Para comemorar o Dia Nacional do Samba, por mais um ano a Liesa e a RioCarnaval realizaram os minidesfiles das escolas de samba do Grupo Especial. Na primeira noite, sexta-feira, se apresentaram Acadêmicos de Niterói, Imperatriz Leopoldinense, Portela e Estação Primeira de Mangueira. Também nesta noite, a Liga apresentou o novo sistema de som para o Carnaval 2026 aos foliões.
Apesar da intensa chuva que caiu na cidade do Rio de Janeiro antes dos minidesfiles, os sambistas compareceram e festejaram suas escolas. Além de elogiar a organização e os serviços oferecidos, o público presente admirou a estreia da sonorização. A única dificuldade mais perceptível aos espectadores durante o primeiro dia de espetáculo foi a falha no começo do minidesfile da Mangueira, que precisou recomeçar seu esquenta.
O professor portelense Marcos Gomes, de 44 anos, revelou que ficou surpreendido com a qualidade sonora.
Professor portelense Marcos Gomes, de 44 anos, revelou que ficou surpreendido com a qualidade sonora
“Está surpreendente, viu? Eu gostei muito, o som está muito bom! Se conseguirem levar essa qualidade para a Avenida, eu acho que vai ser um som muito bom”, declarou o portelense.
Pela primeira vez no minidesfile, Emily Cardoso, de 45 anos, desfilou pela comunidade da Imperatriz. A desfilante gostou do que ouviu durante a noite e notou que, apesar do problema técnico na Mangueira, tudo correu bem.
Emily Cardoso, de 45 anos, desfilou pela comunidade da Imperatriz
“Pela maluquice que foi a chuva, eu acho que ficou ótimo. Estava achando até que pudesse cancelar e, no final, deu tudo certo. Eu nunca estive nesse evento, mas gostei do som. Nós [Imperatriz] não tivemos problema, embora tenha acontecido o problema técnico com a Mangueira. Mas foi resolvido e ficou tranquilo para escutar”, declarou Emily.
A passista da Acadêmicos de Niterói Ana Flavia Batista, de 29 anos, exaltou a ambientação do sistema de som e identificou melhorias em relação aos outros anos para os minidesfiles dessa sexta-feira.
Passista da Niterói Ana Flavia Batista, de 29 anos, exaltou a ambientação do sistema de som
“Eu achei maravilhoso porque abrange a Cidade do Samba toda. Antigamente, ficava mais concentrado ali no meio e agora nós conseguimos interagir com todo mundo até o final. Consigo ouvir limpo a bateria e os intérpretes. É um avanço com certeza. É uma preparação para os nossos desfiles e ensaios técnicos. A evolução está muito grande”, celebrou Ana Flávia.
Acompanhada de seus amigos, Rayane Ávila, portelense de 26 anos, gostou do que viu e ouviu neste primeiro dia. Elogiou o novo sistema de som e pontuou que os melhores desempenhos foram os da Imperatriz e da Portela.
Rayane Ávila, portelense de 26 anos, gostou do que viu e ouviu
“Foi ótima a sonorização de todas as escolas, inclusive. A Imperatriz e a Portela, por exemplo, estavam lindas. O som e o canto foram maravilhosos. Em comparação com o ano passado, acho que o efeito sonoro melhorou bastante”, opinou Rayane.
A Unidos da Tijuca encerrou a segunda noite de minidesfiles trazendo uma nova energia para a escola. Há um sentimento de confiança de que a agremiação possa retomar seu nível de desfiles até meados da década passada, e essa confiança se refletiu em uma comunidade aguerrida e uma escola organizada.
O enredo sobre Carolina Maria de Jesus é um dos mais fortes do ano e foi bem explorado pela azul e amarelo em alas coreografadas que transmitiram a luta e a garra da homenageada. A comissão de frente veio carregada de teatralização, assim como algumas alas que se comunicaram bem com o público, o que gerou um crescimento no rendimento à medida que a escola avançava na pista. Foi uma apresentação agradável e forte.
COMISSÃO DE FRENTE
Foto: Thais Brum/Divulgação Rio Carnaval
Ariadne Lax e Bruna Lopes montaram uma apresentação muito competente, com coreografia de impacto retratando o grito contra as agruras de todas as próximas Carolinas. O forte desempenho da comissão, em conjunto com uma imagética interessante, recebeu aplausos do público presente. Uma comissão emocional, de uma força incrível.
MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA
Matheus André e Lucinha Nobre exibiram um bailado correto e com uma dança mais aproximada entre os dois, em uma apresentação marcada por algumas coreografias, como a valsa na segunda parte do samba.
Foto: Thais Brum/Divulgação Rio Carnaval
Junto dessas coreografias, o casal mostrou um bailado mais tradicional e obteve um bom resultado. Em seu terceiro ano juntos na Tijuca, é nítida a evolução e o maior entendimento entre ambos.
EVOLUÇÃO
Foto: Allan Duffes/CARNAVALESCO
A Tijuca apresentou uma melhora no ritmo da evolução com o passar do minidesfile, já que a receptividade do público foi esquentando à medida que a escola explicitava seu enredo. No início, a evolução ocorreu de forma mais arrastada, o que foi corrigido ao longo da apresentação. Um destaque no quesito foi a organização da agremiação, com espaçamentos bem definidos entre as alas.
HARMONIA E SAMBA
A escola viveu em harmonia e canto o mesmo processo observado na evolução: quando se assentou, logo explodiu, após um início fraco, também porque, nos primeiros minutos, o microfone de Marquinho Art Samba apresentou falha de som e sua voz ficou baixa, logo voltando ao normal.
Dentro da normalidade, a agremiação mostrou um canto forte, como um clamor, devido à história de Carolina de Jesus. E potencializando esse desempenho, um excelente samba, um dos melhores do ano. Muitos trechos inspirados de narrativa, como:
Foto: Allan Duffes/CARNAVALESCO
“Me chamo Carolina de Jesus, dele herdei também a cruz, olhem em mim, eu tenho marcas, me impuseram sobreviver, por ser livre nas palavras, condenaram meu saber, fui a caneta que não reproduziu a sina da mulher preta no Brasil”.
Uma letra de altíssimo nível e uma melodia aguerrida construíram essa grande obra.
OUTROS DESTAQUES
Foto: Eduardo Hollanda/Divulgação Rio Carnaval
A rainha Mileide Mihaile esteve presente no minidesfile e monopolizou atenções à frente da bateria “Pura Cadência”, exibindo samba no pé e carisma.
Como já é de costume, mais uma grande apresentação da bateria comandada por mestre Casagrande, com bossas mais convencionais e total manutenção rítmica em todo o minidesfile.
A Viradouro mostrou, já na madrugada de domingo, que mais uma vez não está para brincadeira. Mesmo em um desfile que promete ser muito marcado pela emoção, recheado de sensações, o minidesfile na Cidade do Samba também serviu para lembrar que a escola nunca deixa de lado a competência, a técnica e o bom gosto. De componentes muito bem fantasiados e maquiados, com trajes bem acabados e materiais de ótima qualidade, a escola trouxe também ótimo entendimento entre bateria e carro de som, com um samba melodioso, já bem assentado no andamento escolhido, e com a certeza de que ainda pode crescer muito pela competência do ótimo time de vozes comandado por Wander Pires.
Em outros quesitos, pôde-se observar uma comissão que nunca deixa de trazer algo que surpreenda e emocione, mais uma apresentação forte de Julinho e Rute, além de evolução e harmonia bem trabalhadas sem se tornarem engessadas. Foi uma das grandes noites que a “trupe do caveira” promete levar até o dia do desfile oficial. E o melhor de tudo: além de toda a qualidade apresentada pela agremiação, ainda pôde-se ver o brilho nos olhos de mestre Ciça.
Em 2026, a Viradouro será a terceira escola a desfilar na segunda noite de desfiles do Grupo Especial com o enredo “Pra Cima, Ciça”.
COMISSÃO DE FRENTE
Foto: Eduardo Hollanda/Divulgação Rio Carnaval
Comandados pelos coreógrafos Priscila Motta e Rodrigo Negri, os componentes trouxeram um figurino muito interessante, com roupas de sambistas da antiga: na frente, o vermelho com uma máscara de caveira; na parte de trás, o branco com o rosto inconfundível do “mestre caveira”. Detalhe: a fantasia tinha até os óculos do sambista. Os integrantes dançavam com liberdade, em um estilo elegante e malandreado. A fantasia gerou ótimo efeito e surpresa. Uma excelente sacada, que teve grande interação do público. Já o grupo mostrou bom entrosamento e muita dança.
MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA
Foto: Eduardo Hollanda/Divulgação Rio Carnaval
No dia do tetra rubro-negro, Julinho e Rute Alves chamaram a atenção pelas vestes que traziam a cruz de malta e a identidade estética do arquirrival Vasco da Gama, time de coração de mestre Ciça. Na dança, o casal apostou em uma coreografia mais tradicional, focada nos passos clássicos de mestre-sala e porta-bandeira, não querendo entregar muitos segredos, mas com um “molhozinho” no trecho da segunda do samba “Atabaque mandou te chamar”, no qual a dupla faz um passo mais discreto de dança afro. No geral, o que se viu foi a qualidade de sempre dos dois, com a correção e a postura de Julinho e a técnica apurada e a força de Rute.
HARMONIA E SAMBA
Comandado pelo intérprete Wander Pires, o carro de som se aproveitou de um samba melodioso, bem ao gosto do cantor, para explorar as nuances presentes na obra, principalmente na parte da cabeça do samba e na reta final da estrofe de baixo, permitindo ao artista vocalizações e o bom uso de terças. Os refrãos também tiveram bom desempenho, apesar de não serem tão explosivos. O andamento da bateria ajudou a não deixar a obra ficar arrastada.
Foto: Eduardo Hollanda/Divulgação Rio Carnaval
No canto da comunidade, aconteceu um fenômeno parecido com a evolução: já começou bom e mostrou crescimento interessante durante a apresentação, principalmente depois que a bateria entrou na pista.
EVOLUÇÃO
Foto: Allan Duffes/CARNAVALESCO
A escola já apresentava desde o início uma boa evolução, sem buracos ou grandes espaçamentos, além de imprimir um ritmo adequado, sem correria, mesmo com o grande contingente levado para o minidesfile. Mas, quando o homenageado entrou na pista com a Furacão Vermelho e Branco, a evolução teve um crescimento exponencial, e a interação com o público foi muito maior pela vontade que a Cidade do Samba tinha de homenagear ou interagir com o mestre. Boa apresentação do quesito e um final de desfile com clima muito positivo.
Foto: Thais Brum/Divulgação Rio Carnaval
OUTROS DESTAQUES
A rainha Juliana Paes esbanjou simpatia, entrosamento e muito carinho com mestre Ciça. Nem parece que ficou tanto tempo fora do cargo. Com a beleza de sempre e muita elegância, interagiu bastante com o público, com os ritmistas e, claro, mostrou samba no pé.
Foto: Eduardo Hollanda/Divulgação Rio Carnaval
No esquenta, a escola relembrou o samba de 2025, que não trouxe o título, mas ficou no coração do torcedor da Viradouro, além de outros sambas da agremiação e alguns refrãos da Estácio de Sá, escola original do homenageado.
Antes da apresentação, o diretor-executivo Marcelinho Calil fez um discurso forte e emocionado sobre mestre Ciça, citando que a história do comandante da Furacão Vermelho e Branco se entrelaça com a história das escolas de samba, agradecendo pelo legado e relembrando sua relação com Ciça, que vinha desde quando o dirigente ainda era criança.
O presidente Almir Reis, durante seu discurso antes do desfile, declarou que era um dia de festa, e os componentes da Beija-Flor fizeram jus às suas palavras. A escola de samba foi a segunda a se apresentar na Cidade do Samba na noite de sábado. Com o enredo “Bembé”, Nilópolis vai levar para a avenida a tradição do Bembé do Mercado, em Santo Amaro.
A comissão de frente de Jorge Teixeira e Saulo Finelon e o casal Claudinho e Selminha Sorriso estão entre os destaques positivos do minidesfile, assim como o canto forte e a organização da escola.
COMISSÃO DE FRENTE
Foto: Thais Brum/Divulgação Rio Carnaval
A comissão de frente coreografada por Jorge Teixeira e Saulo Finelon se apresentou com bastante vigor. O tripé de flores secas com uma componente performando foi de impacto e beleza. Já os integrantes que evoluíram no chão contaram com um ótimo efeito causado pelos panos que compunham a roupa. O sincronismo e a precisão do grupo são inegáveis.
MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA
Foto: Thais Brum/Divulgação Rio Carnaval
Claudinho e Selminha Sorriso bailaram lindamente com um traje branco simbólico para o candomblé. A apresentação foi segura e bem executada, e houve acréscimo de movimentos de terreiro que combinam com o enredo. Era notável que o 1º casal estava se divertindo durante a noite.
EVOLUÇÃO
Foto: Allan Duffes/CARNAVALESCO
A escola fluiu com bastante empolgação, apesar de ser formada por muitas alas coreografadas. Uma característica tradicional da azul e branca é a organização, e ela esteve presente durante toda a sua passagem.
SAMBA E HARMONIA
O samba, resultado de uma junção, se provou na Cidade do Samba. Considerado um dos melhores da safra, a Beija-Flor arrebatou o público com os refrões “Isso aqui vai virar macumba” e o principal, que sucede esse trecho. Nino do Milênio e Jéssica Martin demonstraram entrosamento entre si e com a bateria do mestre Rodney. Já os componentes mostraram-se capazes de cantar essa composição de ponta a ponta e elevar a qualidade do minidesfile.
Foto: Eduardo Hollanda/Divulgação Rio Carnaval
OUTROS DESTAQUES
O carisma de Lorena Raíssa mostrou-se peça importante para o desfile da Beija-Flor. Por onde passou, ela arrebatou o público e interagiu com os presentes, além do samba no pé impecável.
A Mocidade pisou na “avenida” da Cidade do Samba querendo mostrar que o astral está realmente diferente, leve, pulando carnaval, com novidades como o intérprete Igor Vianna, mas ainda baseada em pilares que sustentaram a escola nos últimos anos. E nada mais forte para representar essa força do que a Não Existe Mais Quente, de mestre Dudu, sempre muito forte em eventos desse porte, destaque nos últimos desfiles oficiais da Mocidade e que, nesta apresentação, foi fundamental para a escola mostrar leveza, canto e musicalidade.
Com uma levada muito gostosa de se ouvir e evoluir, os ritmistas ajudaram o alegre samba da Verde e Branca da Zona Oeste a cair no gosto do público e ter um grande rendimento no minidesfile. O carro de som, mais uma vez repleto de vozes femininas, abrilhantou ainda mais a obra e deu um bonito contraste e “molho” à voz de Igor. Casal e comissão passaram bem e o canto da escola foi bom, principalmente se pensarmos que a agremiação teve a responsabilidade de abrir a noite. A evolução foi alegre, espontânea e sem erros aparentes.
Foto: Allan Duffes/CARNAVALESCO
Com o enredo “Rita Lee — A Padroeira da Liberdade”, em 2026, a Mocidade vai abrir a segunda noite de desfiles do Grupo Especial.
COMISSÃO DE FRENTE
Comandada por Marcelo Misailidis, a comissão de frente trouxe os vampiros/roqueiros retratados pela homenageada na música “Doce Vampiro” e apresentou também esse lado “ovelha negra” que Rita tinha no levar da vida. Os componentes se utilizaram de uma das estruturas que a escola levou para o último carnaval, no enredo sobre a tecnologia, mas agora sendo utilizada ora como uma espécie de caixão para o vampiro, ora como mesa.
Foto: Eduardo Hollanda/Divulgação Rio Carnaval
Em diversos momentos, os integrantes subiam e faziam uma coreografia que também trazia muita sensualidade e irreverência, marcas presentes nas músicas de Rita Lee. No final, a bandeira da Mocidade era representada nos LEDs desse equipamento, no grande clímax da apresentação.
MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA
Foto: Thais Brum/Divulgação Rio Carnaval
Diogo Jesus e Bruna Santos conseguiram, como sempre, mesclar sua dança tradicional com movimentos que remetem ao enredo. Em uma das partes do samba, trouxeram aquela “esfregadinha” dos sapatinhos do casal no chão em um passo meio boogie-woogie, lembrando a coreografia presente nos rocks mais antigos. Em outro momento, fizeram uma coreografia mais irreverente usando as mãos no trecho do samba “no céu, no mar, na lua…”. No mais, a mescla de sempre entre vigor e delicadeza. Giros muito precisos e cravados e a bandeirada fantástica de Bruna no final da apresentação.
HARMONIA E SAMBA
Neste ano mágico para Igor Vianna, agora à frente do carro de som que já foi do pai, ele passa por muitas “primeiras vezes”. Desta vez, o minidesfile marcou a estreia em um ambiente que não é terreno apenas da Mocidade, com torcedores de diversas escolas e público geral que gosta de samba. Foi uma estreia muito boa, com domínio do carro de som e contando com as vozes femininas para abrilhantar a apresentação. Bastante leveza e irreverência, marcas do samba da Mocidade para o Carnaval de 2026, estavam presentes também no carro de som da escola.
Foto: Thais Brum/Divulgação Rio Carnaval
Já o canto da comunidade, ainda que fosse a primeira agremiação da noite, não se negou mais uma vez a mostrar força na voz, carregar a Mocidade com potência e correção, mas também muita alegria.
EVOLUÇÃO
Foto: Thais Brum/Divulgação Rio Carnaval
Com muita espontaneidade, a escola passou de forma leve, com os componentes mostrando muita alegria, evoluindo com fluidez. Em um desfile que traz muita musicalidade, também foi fácil reparar em muitos componentes dançando e em algumas coreografias mais marcadas e desenvolvidas por alguns grupos. Na parte técnica, não se observou nenhum problema, como buracos, grandes espaçamentos ou correria. Apesar de leve, espontânea e livre, a escola manteve boa organização.
OUTROS DESTAQUES
Foto: Allan Duffes/CARNAVALESCO
A escola trouxe uma alegoria que chamou atenção pelo colorido, pelos LEDs e pelo tamanho. Na parte de cima, uma sósia da homenageada. Logo atrás dela, aquele robô grande que fez sucesso na comissão de frente da Mocidade em 2026, agora tocando guitarra. À frente da bateria, Fabíola Andrade desfilou com uma peruca laranja, uma das cores que Rita Lee já usou no cabelo. No esquenta, o “Caju”, samba de 2024, teve boa interação com o público.
A primeira noite dos mini-desfiles, realizada na última sexta-feira, na Cidade do Samba, começou sob o impacto das fortes chuvas que atingiram a Região Metropolitana do Rio. Mesmo com alagamentos e atrasos, componentes e torcedores enfrentaram a tempestade para acompanhar o início da preparação das escolas rumo ao Carnaval 2026. O CARNAVALESCO ouviu quem esteve ali até o fim e, segundo os relatos do público presente, Imperatriz, Mangueira e Portela foram os destaques da madrugada.
A reportagem conversou com torcedores de diferentes escolas e reuniu impressões sobre três pontos: quais sambas mais renderam, o que mais agradou em cada apresentação e o que surpreendeu na primeira noite. O resultado revela um recorte direto da arquibancada, sem análise técnica, mas com a força da sensação imediata de quem viveu o evento.
Niterói abre com enredo político e recebe reações distintas
A Acadêmicos de Niterói abriu a noite apresentando um dos enredos mais comentados do ano: a trajetória de vida do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Por abordar um personagem central da política nacional e mobilizar discussões que vão além da Sapucaí, a escolha do tema já gerava expectativa, refletida nas reações diversas do público.
O professor paulista Fernando de Oliveira, de 35 anos, torcedor da Beija-Flor, destacou a facilidade do samba. “O samba me surpreendeu. Não tinha escutado antes e aprendi aqui. Fácil de acompanhar”, declarou.
O contador Anderson Moreira, de 47 anos, também torcedor nilopolitano, avaliou que o tema tende a gerar engajamento: “A Niterói trouxe um enredo de perfil político que deve atrair bastante o público”.
Já o mangueirense Gabriel Santiago Sá, de 24 anos, sentiu menor resposta no público presente na Cidade do Samba. “Ouvia mais a escola dentro do que o povo fora. Faltou esse comum de comunidade”, afirmou.
Imperatriz surpreende pela resposta do samba e pela coerência visual
Para boa parte dos torcedores ouvidos, a Imperatriz Leopoldinense apresentou um rendimento acima do esperado. Sem euforia, mas com comentários convergentes, o público avaliou que o samba ganhou corpo ao vivo e se beneficiou do canto da escola.
Fernando de Oliveira contou que tinha uma impressão “morna” da gravação, mas viu outra coisa na Cidade do Samba. Para ele, o samba cresceu com a resposta dos componentes e com a vibração ao redor: “Achei que era um dos sambas mais fracos quando ouvi antes, e aqui funcionou muito bem”.
O contador Anderson Moreira reforçou que o rendimento surpreendeu pela coletividade do canto: “Me surpreendeu o funcionamento do samba. Não esperava tanto”. Segundo ele, a Imperatriz conseguiu “conquistar a arquibancada” gradualmente, sobretudo em momentos de refrão.
Já o mangueirense Gabriel Santiago Sá destacou a coerência visual do conjunto apresentado. Para ele, samba, tripé e adereços dialogaram com fluidez com o enredo:
“Os adereços, o tripé e as fantasias estavam muito bem distribuídos e conectados com o enredo.”
Mangueirense Gabriel Santiago Sá
Gabriel também mencionou a comissão de frente, cuja estética remeteu, para ele, ao universo performático de Ney Matogrosso: “A comissão com a referência à Ney Matogrosso me surpreendeu mesmo”.
Portela empolga torcedores com canto forte e energia comunitária
Entre os torcedores ouvidos, a Portela apareceu como uma das escolas que mais mobilizaram o público na primeira noite. As falas convergiram para o samba, que respondeu bem ao vivo, especialmente nos trechos de refrão, e provocou uma reação instantânea na Cidade do Samba.
O viradourense Lucas Rosa, de 32 anos, destacou o rendimento mesmo sem ser torcedor da escola: “Foi a que mais juntou, mais animou, mais agitou a galera”. Ele relatou que, conforme o cortejo avançava, o volume do canto na arquibancada aumentava, criando momentos de coro forte.
Viradourense Lucas Rosa, de 32 anos
O portelense Anderson Macedo ressaltou o empenho da comunidade, especialmente após a forte chuva que antecedeu o evento: “Me surpreende a vontade das pessoas estarem aqui. Mesmo com muita chuva, todo mundo veio dar o melhor”.
Para ele, o desempenho do samba e o canto firme dos componentes revelam uma base comunitária mobilizada neste início de ciclo.
Já o contador Anderson Moreira, torcedor da Beija-Flor, comentou o peso tradicional da torcida de Oswaldo Cruz e Madureira: “Portela e Mangueira têm isso: a torcida já leva a escola.” Segundo ele, mesmo quem não é da escola acaba sendo puxado pelo volume da arquibancada quando a Portela passa.
No conjunto das falas, a Portela aparece como uma escola que iniciou o período pré-Carnaval com força de canto, presença comunitária e energia constante, apesar das adversidades climáticas.
Mangueira reforça potência comunitária e ganha elogios pelo canto
A Mangueira surgiu com frequência nas entrevistas como uma das escolas de melhor rendimento da noite. A comunidade, o canto e a força coletiva do samba foram os principais pontos mencionados.
O portelense Anderson Macedo apontou o samba da Verde e Rosa entre os que mais renderam, ao lado da Portela: “Gostei muito. É um samba potente, uma escola que arrasta multidões”.
Portelense Anderson Macedo
Para ele, mesmo ouvindo o samba pela segunda vez, sua força ao vivo ficou evidente. Já o mangueirense Gabriel Sá destacou a relação entre comunidade e canto como elemento central do desempenho da escola: “Mangueira apresentou sua comunidade. A galera estava muito junto, cantou muito”.
Gabriel afirmou que essa presença conjunta, dentro e fora do desfile, dá ao samba uma densidade emocional que independe de grandes efeitos visuais, mas nasce do engajamento comunitário.
A Estação Primeira de Mangueira fechou o primeiro dia de minidesfiles do Grupo Especial em grande estilo, com uma bela apresentação que mostrou a força de seus quesitos. A verde e rosa apresentou um samba poético e gostoso de ouvir, uma bateria dando um banho de ritmo, um casal azeitado e uma comissão de frente bastante promissora. Destaque também para uma evolução mais solta entre as alas, com componentes trocando de posição sem tanta rigidez. Foi uma apresentação que misturou leveza e energia. A Mangueira encerrará o domingo de Carnaval mostrando o enredo “Mestre Sacaca do Encanto Tucuju – O Guardião da Amazônia Negra”, que será desenvolvido por Sidney França em seu segundo ano na agremiação.
A comissão se apresentou inspirada no desfile de 1996 da verde e rosa, “Os Tambores da Mangueira na Terra da Encantaria”, que também retratava saberes ancestrais. Ensaiada por Lucas Maciel e Karina Dias, trouxe um tronco de árvore onde o preto velho, elemento central da coreografia, pilava suas ervas, cercado pelos marabaixeiros com uma bonita fantasia rosa com detalhes verdes. Uma coreografia forte e de bastante beleza, muito bem elaborada pelos coreógrafos e executada pelos componentes com enorme precisão.
MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA
Matheus Olivério e Cintya Santos vivem um momento de muita maturidade como casal, realçando as melhores características de cada um e as casando de forma afinada. Cintya segue sendo um furacão de energia visceral, porém dosando com momentos de maior leveza. Matheus ajuda Cintya a brilhar e brilha junto com ela. Foi uma excelente apresentação.
Foto: Thaís Brum/Divulgação Rio Carnaval
EVOLUÇÃO
A Mangueira foi a escola com a evolução mais solta da noite no que diz respeito à movimentação dos componentes dentro das alas. Vieram soltos, sem militarização, brincando e se divertindo. Até as alas coreografadas desfilaram com muita energia, sem a sensação de engessamento, contribuindo para uma passagem empolgante da escola pela pista. A preocupação com o preenchimento de espaços foi menor, o que até gerou um espaçamento entre a bateria e a ala que vinha atrás, também bastante solta.
SAMBA E HARMONIA
Se não é um samba tão explosivo, a poesia e a beleza da letra o tornam bastante agradável de ouvir, e, no minidesfile, obteve um rendimento muito satisfatório. Dowglas Diniz e a bateria comandada pelos mestres Rodrigo Explosão e Taranta Neto encontraram a levada ideal para a obra, e o resultado é um samba que passa com força sem perder sua qualidade melódica.
A Mangueira foi mais uma escola com um belo canto por parte de seus componentes, apesar de uma pequena queda em trechos como “as folhas secas me guiaram ao turé, pintada em verde e rosa, jenipapo e urucum”, onde alguns componentes apresentaram maior dificuldade em acompanhar a letra na ponta da língua. De resto, os integrantes da verde e rosa levaram o samba com garra e entusiasmo, como no refrão de cabeça e na subida do trecho “defuma, folha, casca e erva… saravá”.
OUTROS DESTAQUES
O tripé trazendo o sapo verde e rosa foi outra homenagem ao desfile de 1996 da escola, assinado pelo carnavalesco Oswaldo Jardim, que trouxe um enorme sapo na segunda alegoria daquele ano. Evelyn Bastos, como de costume, roubou a cena e mostrou por que é uma das maiores e mais queridas rainhas de bateria do Carnaval carioca. Tem o público na mão.
A Imperatriz Leopoldinense foi a segunda escola a pisar na pista na Cidade do Samba na primeira noite dos minidesfiles do Grupo Especial, e comprovou a brilhante fase que a escola vive desde seu retorno à elite do carnaval carioca. Com um canto vibrante, evolução, entrosamento impressionante entre carro de som e bateria, além de um casal em um momento espetacular, a escola mostrou o seu nível habitual. O samba animou e alcançou uma bela comunicação com o público, sendo bem cantado. Uma energia condizente com o seu homenageado, Ney Matogrosso. A verde e branco desfilará no domingo de carnaval, sendo a segunda escola da noite, apresentando o enredo “Camaleônico”, em mais um desfile assinado por Leandro Vieira.
O coreógrafo Patrick Carvalho trouxe uma comissão que sintetizou todas as características do artista Ney Matogrosso: irreverente, debochada, performática, sensual, provocativa. Todos os integrantes vestidos como Ney teatralizaram corporalmente o artista e alcançaram um belo resultado. Uma comissão forte, de fácil comunicação com o público, arrancou aplausos de quem esteve na Cidade do Samba.
Foto: Thaís Brum/Divulgação Rio Carnaval
MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA
Phelipe Lemos e Rafaela Theodoro mostraram todo o talento e o momento exuberante que vivem, em mais um desempenho irrepreensível. Um casal que se complementa, que alcançou um extraordinário entrosamento e que dança com muita uniformidade, com precisão, ritmo e leveza semelhantes. Uma apresentação mais solta, com poucas coreografias e essas muito bem encaixadas com o samba. Outra noite com a assinatura de um dos melhores casais da atualidade.
Foto: Thaís Brum/Divulgação Rio Carnaval
EVOLUÇÃO
Uma escola que evolui com naturalidade, que desfila feliz, com prazer de estar ali. Essa é a atual Imperatriz, que mostrou uma evolução fluida, animada e vibrante durante toda a sua passagem pela pista da Cidade do Samba, com algumas alas desfilando com extrema energia. Mas o maior destaque ficou para a ala final, com os componentes soltos, brincando carnaval, encerrando a apresentação em alta.
SAMBA E HARMONIA
A direção musical de Pedrão vem trazendo um padrão de excelência para a escola no quesito, e não foi diferente neste minidesfile. Se o samba não foi abraçado pela bolha carnavalesca de início e inspirava algumas dúvidas, a cada dia ele vem sendo melhor trabalhado e potencializado pelo conjunto formado por carro de som e bateria.
Pitty de Menezes e Lolo formam uma dupla de craques, e o resultado é um samba com ótimo rendimento em toda a sua passagem, com pontos altos como os dois refrãos em sequência na cabeça do samba e o trecho “canto com alma de mulher”, bem cantados pelo público presente. O ótimo carro de som formado pelos apoios de Pitty dá o molho final.
Em relação ao canto dos componentes, foi muito forte na totalidade da apresentação, com vários momentos de explosão. Em nenhum momento o canto caiu; inclusive, na reta final do ensaio, o canto foi impulsionado pela reação do público, que abraçou o samba.
OUTROS DESTAQUES
A rainha de bateria, Iza, exibiu toda a sua beleza e simpatia à frente dos ritmistas. A bateria deu mais um show sob o comando de mestre Lolo, com inúmeras bossas que deixaram o samba com um desempenho sempre forte. A presidente Cátia Drumond mostrou muita empolgação, interagindo com público e componentes durante a apresentação da agremiação.