A Estácio de Sá realiza na próxima sexta-feira, dia 1º de agosto, a final de samba-enredo para o Carnaval 2026. Quatro parcerias estão classificadas. A escola levará para Sapucaí “Tata Tancredo – O Papa Negro no Terreiro do Estácio”, que será desenvolvido pelo carnavalesco Marcus Paulo. Abaixo, você pode ouvir os sambas.
O carnaval carioca é, antes de tudo, um organismo vivo, em constante transformação. É uma mistura de tradição, arte, emoção, competição e inovação. E, como todo grande espetáculo, exige cuidado com seus bastidores. Nos últimos anos, a Liesa tem promovido mudanças importantes nas regras dos desfiles. Algumas delas têm potencial para aprimorar o espetáculo. Outras levantam dúvidas e acendem o sinal de alerta. Para 2026, o Grupo Especial vai encarar uma nova leva de alterações que, mais uma vez, mexem fundo na lógica do julgamento e na maneira como as escolas se apresentam na Avenida.
A principal novidade, a mais chamativa, é a chamada “cabine espelhada”, que será instalada simultaneamente nos setores 6 (par) e 7 (ímpar). Já as outras duas paradas seguem nos setores 3 e 10. Será que o efeito é positivo? Em 2025, as quatro paradas implementadas impactaram diretamente o quesito Evolução. O ritmo dos desfiles ficou travado, artificial, e a fluidez das escolas foi prejudicada. Agora, com três paradas, espera-se mais equilíbrio. Mas ainda há dúvidas sobre como isso afetará o conjunto da apresentação. Além disso, as cabines espelhadas podem trazer distorções, por exemplo, o julgador de Fantasias, do lado ímpar, tirar dois décimos por algo que viu, e, do outro lado, o jurado dar nota 10 e elogiar. Vale citar que agora até a nota 10 será justificada, o que acho uma ótima medida.
Outra mudança que promete impactar profundamente a dinâmica do julgamento é a nova composição do corpo de jurados. Serão 54 avaliadores no total (6 por quesito), mas com um formato inédito: apenas 36 deles serão definidos após os desfiles. Esses sorteados terão suas notas consideradas válidas para a apuração na quarta-feira de cinzas. A intenção da Liesa é evidente, proteger o processo de eventuais pressões externas, reduzir a possibilidade de favorecimentos e tornar o julgamento mais técnico. A proposta, no entanto, é polêmica e levanta questionamentos legítimos. Bons julgadores podem acabar ficando de fora, e as notas atribuídas por aqueles que não forem sorteados para o grupo final não poderão ser divulgadas em nenhuma hipótese, antes ou depois da apuração. Resta saber, na prática, se o novo modelo trará os resultados esperados.
O Manual do Julgador também passará por ajustes. O discurso é o de sempre: mais clareza, objetividade, critérios bem definidos. E isso, claro, é essencial. Mas quem acompanha o carnaval de perto sabe que o problema, muitas vezes, não está no papel, mas sim na interpretação de quem julga. A subjetividade é parte do jogo. Estamos falando de arte, emoção e sensações. Mas até a subjetividade precisa de limites. Um manual bem estruturado tem que ser bússola, não passaporte para decisões arbitrárias.
Aliás, desde 2025, a avaliação deixou de ser comparativa. Isso significa que o julgador analisa a escola de forma isolada, sem levar em conta o desempenho das demais. À primeira vista, parece uma medida justa, até ética. Mas o carnaval é competição. E a ausência de comparação entre escolas traz um efeito colateral perigoso: notas infladas, muito parecidas entre si, que esvaziam o peso do mérito e criam distorções na classificação final. Ainda em 2025, tivemos outra novidade importante: os desfiles foram realizados em três noites, e os envelopes com as notas foram lacrados ao fim de cada dia. Um avanço em termos de segurança e lisura do processo. A mudança foi bem-vinda, mas precisa de mais um ano de prática.
O fato é que o carnaval não pode parar no tempo. Inovar é preciso. Melhorar a competição é necessário. Mas tudo isso precisa ser feito com diálogo, com escuta e, especialmente, com respeito a quem faz o espetáculo acontecer, como os artistas, dirigentes, componentes e o povo que ocupa as arquibancadas e vibra com cada escola. Urge, inclusive, uma escuta ativa com o mundo do samba. Uma pesquisa de campo real, com quem vive esse universo na prática.
A Liesa dá um passo importante ao tentar aperfeiçoar o julgamento. Mas justiça, no carnaval e na vida, só existe quando há clareza, coerência e, acima de tudo, confiança. O Carnaval de 2026 será o grande teste desse novo modelo. Que a modernização não sacrifique o encantamento. Porque no samba, quando se perde a confiança, perde-se também o chão.
Sambistas de todas as escolas terão entrada gratuita no Tributo a Rosa Magalhães, que acontece neste sábado, 26 de julho, no Andaraí. A homenagem marca um ano da morte da carnavalesca que revolucionou o Carnaval e eternizou sua arte na Sapucaí. Para participar, basta apresentar a carteirinha de qualquer agremiação.
Rosa Magalhães deixou um legado único, com enredos que misturavam história, poesia e encantamento. Sua criatividade transformou os desfiles em verdadeiras obras-primas e o barracão em espaço de arte. Mesmo após sua partida, seu trabalho segue vivo na memória afetiva de quem ama o samba.
O evento será realizado na Rua Silva Teles, 104, a partir das 20h30, reunindo apaixonados pelo Carnaval em uma noite de saudade e celebração à genialidade de uma das maiores artistas da folia brasileira.
Serviço – Tributo a Rosa Magalhães no Salgueiro
Local: Quadra do Salgueiro – Rua Silva Teles, 104 – Andaraí, Rio de Janeiro
Data: Sábado, 26 de julho
Horário: A partir das 20h30
Atrações: Ensaio show do Salgueiro e homenagens especiais
Ingressos:
Pista: a partir de R$ 30,00
Jirau: a partir de R$ 40,00
Mesa para 4 pessoas: a partir de R$ 200,00
Camarote lateral para 12 pessoas: a partir de R$ 700,00
Camarote frontal para 12 pessoas: a partir de R$ 900,00
Entrada gratuita para sambistas com carteirinha de qualquer escola de samba.
Vendas online: guicheweb.com.br
Um dos grandes destaques do Carnaval 2025, o intérprete Evandro Malandro conquistou o prêmio Estrela do Carnaval, concedido pelo CARNAVALESCO, como melhor intérprete do Grupo Especial. Reconhecido por sua voz, carisma e capacidade de comandar a Sapucaí com energia contagiante, o artista comemorou a conquista.
“Estou radiante. É um prêmio pelo qual venho batalhando desde que cheguei ao Rio. Sempre soube que esse dia chegaria. Com muito trabalho, esforço e responsabilidade, consegui o tão sonhado Estrela do Carnaval. Estou muito, muito, muito feliz!”, declarou o intérprete, emocionado.
Foto: Allan Duffes/CARNAVALESCO
A apresentação arrebatadora da Grande Rio reafirmou o protagonismo da escola, que encerrou a temporada como vice-campeã. Na voz de Malandro, o samba “Pororocas Parawaras” ecoou forte na Sapucaí, embalado por um carro de som entrosado e pela entrega total da comunidade caxiense.
“Foi maravilhoso, superamos todas as expectativas. Ficamos muito felizes com o trabalho e o empenho total da Grande Rio, não só do núcleo artístico, mas também da nossa comunidade, que se entregou de corpo e alma a esse samba”, afirmou.
Ao comentar a performance da escola, Evandro também destacou o esforço coletivo para alcançar a nota máxima nos quesitos dos quais participou: “Este ano, todos nós do carro de som, incluindo nosso professor Pedro Lima. que jamais posso deixar de mencionar. nos preparamos intensamente para alcançar os 80 pontos na apuração. Trabalhamos muito. A escola batalhou de verdade”.
Em entrevista ao CARNAVALESCO, a nova presidente da Unidos de Padre Miguel, Lara Mara, falou com firmeza e sensibilidade sobre as escolhas para o próximo carnaval.
“Já era uma vontade minha trazer a temática indígena para a escola, porque um dos meus carnavais preferidos da UPM é o de 2018, que foi o Eldorado. Nessa minha gestão, eu quero trazer enredos que contem histórias de quem a gente não vê, que não tem notoriedade nas outras escolas. Tem histórias que precisam ser contadas”, revelou.
Lara Mara é a presidente da Unidos de Padre Miguel. Foto: Carolina Freitas
A escolha da personagem também coincidiu com o novo momento de liderança da escola, agora sob seu comando. “Querendo ou não, é um enredo muito feminino. A gente saiu de um enredo feminino, que exaltava Iyá Nassô, e estamos indo para outro. E casou comigo entrando na presidência este ano. Todo mundo da minha equipe gostou, estamos muito felizes, graças a Deus”.
Sobre a mudança de grupo e a consequente saída da Cidade do Samba, Lara tratou o assunto com pragmatismo e serenidade: “Sair da Cidade do Samba, para mim hoje, é só uma consequência do rebaixamento. Graças a Deus, temos uma estrutura de barracão boa, que a nossa escola nos proporcionou”.
Mesmo assumindo oficialmente a presidência agora, Lara revelou que continua aprendendo com o pai, o diretor de carnaval, o pai Cícero Costa. “Ainda tenho muito o que aprender, mas eu tenho escutado muito o meu pai. Ultimamente, tenho preferido me calar um pouco mais sobre algumas coisas para não causar tanta polêmica, mas agora acho que o principal direcionamento que o meu pai me deu, que tem sido o foco geral de toda a equipe, é esquecer o passado, olhar para 2026 e fazer um belo carnaval”.
A presidente também comentou com emoção o impacto que o samba-enredo de 2025 teve após o desfile. Mesmo sendo retirada do Grupo Especial, “Egbé Iyá Nassô” se tornou um fenômeno. “Não parece, mas eu sou chorona pra caramba, e toda vez me emociono quando as pessoas me marcam em postagens que mostram isso, ou quando comentam. Porque, independentemente do resultado, o importante é o legado que a gente deixa. Acredito que daqui há 10 anos ainda vão estar cantando ‘Vila Vintém é terra de macumbeiro’. Será que o samba de quem ficou no Especial vai ser cantado daqui a 10 anos? Pois é. Fica a pulga atrás da orelha”.
Questionada sobre o que o público pode esperar da Unidos de Padre Miguel na Sapucaí em 2026, mesmo na Série Ouro, Lara foi enfática: “Com certeza, manteremos o alto padrão, com muita força e muita garra. E vamos embora. Eu vou ficar quietinha para morrer velhinha, mas vamos que vamos, porque acho que a Unidos de Padre Miguel não tem como descer o nível”.
Por fim, a presidente lamentou algumas limitações do Grupo de Acesso: “O que me deixa triste hoje é que não vou conseguir colocar todos os meus componentes na avenida, pela redução do número de integrantes imposta pela Série Ouro. Mas faz parte, vamos lutar para, no ano que vem, voltarmos ao nosso lugar de direito”.
Ao apresentar o enredo “Lonã Ifá Lukumí” para o Carnaval 2026, o Paraíso do Tuiuti confirma sua posição como uma das escolas mais engajadas em narrativas de matriz africana no Grupo Especial. Sob a assinatura do carnavalesco Jack Vasconcelos, a escola de São Cristóvão direciona seu olhar para Cuba, especificamente para a região de Matanzas, onde a tradição iorubá, levada por africanos escravizados, floresceu na forma do culto Lucumí.
A sinopse do enredo, revelada com riqueza histórica e lirismo característico de Jack Vasconcelos, propõe um desfile que ultrapassa os limites da estética para oferecer uma experiência de fé, resistência e ancestralidade. Ao escolher abordar o sistema oracular de Ifá, o Tuiuti mergulha num campo simbólico denso, onde o destino é traçado pelos búzios, pelos signos de Ifá e pela sabedoria ancestral dos babalaôs.
A escola segue o caminho já trilhado em carnavais recentes, como nos enredos “O Salvador da Pátria” (2018) e “Xica Manicongo” (2025), apostando na construção de uma identidade própria, marcada pelo resgate histórico e pela denúncia das injustiças sociais, raciais e culturais. Em 2026, no entanto, o foco se expande além do Brasil, fazendo da diáspora africana seu grande enredo.
A escolha de figuras como Carlota Lucumí, líder de revoltas contra o regime escravocrata cubano, e Remígio Herrera (Adechina), sacerdote fundamental na estruturação do culto Lucumí em território estrangeiro, confere densidade e protagonismo a personagens muitas vezes esquecidos pela historiografia oficial. A abordagem do Tuiuti repara silêncios e reposiciona essas figuras no centro da narrativa.
Outro ponto de destaque é a relação entre o sagrado e o comunitário. A sinopse propõe o desfile como um grande ritual coletivo, onde o samba ocupa o papel do cântico litúrgico e a avenida se transforma em templo. O oráculo de Ifá, interpretado na tradição cubana, passa a ser símbolo não apenas da religiosidade afroatlântica, mas também de um destino coletivo, forjado na luta e na resistência cultural.
Visualmente, o enredo abre caminho para um universo rico em cores, formas e símbolos. A musicalidade pode flertar com os toques dos tambores batá, tão presentes nos ritos cubanos. Alegorias podem representar os cabildos, as casas-templo, os rituais de iniciação, os objetos sagrados como o obí e os idefás. É um terreno fértil para a criatividade cênica e para o impacto sensorial.
O desafio está lançado. Jack Vasconcelos é um artista experiente no campo e terá a missão de entregar um enredo que una forma e conteúdo, reverência e inovação. Com o samba-enredo já encomendado a Cláudio Russo, Gusttavo Clarão e Luiz Antônio Simas, a escola indica que quer seguir com consistência e coerência de discurso. A expectativa é por uma composição que traduza o espírito do enredo com beleza poética e fidelidade cultural.
O Tuiuti caminha, mais uma vez, na contramão da superficialidade. Aposta no enredo como motor de identidade, como espelho de um Brasil plural e de uma herança africana que transcende fronteiras. “Lonã Ifá Lukumí” não é apenas um título. É uma convocação. Uma chamada à memória, à fé e à afirmação de um povo que, mesmo arrancado de sua terra, nunca perdeu o caminho.
Em 2026, o destino da escola parece traçado: a avenida será palco de um ritual. Que os orixás estejam presentes e que o público esteja pronto para escutar o chamado dos atabaques.
A dançarina e rainha de bateria do Paraíso do Tuiuti Mayara Lima deu início às atividades do projeto social da escola mirim Netinhos do Tuiuti para o ciclo do Carnaval 2026. A primeira aula marcou o lançamento da nova turma do projeto Educação em Ação, que oferece oficinas gratuitas de samba no pé para crianças e adolescentes de sete a 17 anos no Morro do Tuiuti.
Criada na escola mirim e hoje símbolo da comunidade, Mayara destacou o orgulho de retornar ao seu território agora como educadora: “Meu objetivo é trabalhar o samba desde cedo na vida dessas crianças, resgatar a essência do samba no pé da nossa comunidade e trazer isso para dentro da nossa quadra. Estou muito feliz em poder contribuir não só como rainha de bateria, mas também como educadora. É algo que me enche de orgulho. Poder transmitir meu conhecimento através da minha arte e da minha cultura, que é tão rica, é uma missão. Toda criança precisa fazer parte desse mundo, dessa magia que é o Carnaval”, afirmou.
Para a rainha, projetos como esse são essenciais visto que Carnaval vai muito além de uma festividade. “O samba tem o poder de mudar vidas — e eu sou prova disso. Vim da escola mirim e o Carnaval transformou a minha história. Quero que essas crianças entendam, desde cedo, que o samba pode ser um pilar de mudança para elas, assim como foi para mim”, completou.
Cumprindo mais uma etapa fundamental em sua caminhada rumo ao Carnaval de 2026, a Unidos de Vila Isabel promoveu, no palco do Teatro Liceu de Artes e Ofícios, a audição interna dos sambas concorrentes ao enredo “Macumbembê, Samborembá: Sonhei que um Sambista Sonhou a África”. O momento, reservado à diretoria, segmentos e equipe de carnaval, foi marcado por muita emoção, energia positiva e profunda conexão com a proposta artística da escola para o próximo desfile. O evento reuniu 17 parcerias de compositores.
Foto: Divulgação/Vila Isabel
A audição prévia foi descrita pelos organizadores como uma “gira de sonhos, vozes, batuques e esperanças”. Em cada samba, pôde-se perceber a entrega dos autores em traduzir a força poética e simbólica da temática idealizada por Gabriel Haddad e Leonardo Bora, carnavalescos da agremiação, que homenageia Heitor dos Prazeres e sua visão de África através da arte, da música e da fé.
A diretoria da escola agradeceu às 17 parcerias inscritas e ressaltou a importância da escuta atenta e coletiva neste momento do processo. A escolha do samba que embalará a Vila Isabel em 2026 será definida ao longo das próximas etapas da disputa, que promete ser acirrada e de alto nível.
O sonho da Vila está só começando. E, como dizem os versos que ecoam no bairro de Noel: “Macumbembê, Samborembá”… vem samba forte por aí.
Trocas de comando são sempre momentos delicados para qualquer instituição. No mundo do carnaval, é claro, não seria diferente. Após os desfiles de 2025, tal momento chegou para a Estrela do Terceiro Milênio. Eleito vereador da cidade de São Paulo nas eleições de 2024, Silvio Antonio de Azevedo, popularmente conhecido como Silvão Leite, deixou a carga para Gilberto Rodrigues, o Giba. Para conhecer um pouco mais do novo (ou melhor, do retorno) de Giba ao mais alto cargo da agremiação da Zona Sul, o CARNAVALESCO conversou com o presidente da instituição, que falou um pouco sobre diversos assuntos.
Antes de mais nada, a reportagem queria saber, com mais detalhes, como se deu o retorno de Giba à presidência da Estrela do Terceiro Milênio. Ele não se fez de rogado: “Com a eleição do Silvão para vereador da cidade de São Paulo, ele não poderia continuar como presidente de uma escola. Juntamente com o nosso presidente de honra, Milton Leite, me chamaram para uma conversa e, daquele jeito delicado, em uma conversa muito demorada, eles me disseram que só tinham eu e que a comunidade gostava de mim. Eles me pediram ajuda”, lembrou.
A resposta já é conhecida de todo o mundo do samba: “De imediato, não tive como falar não. Já estava afastado há três anos do carnaval e, para ser bem sincero, na minha cabeça não teria essa volta. Mas… um pedido do Silvão e do nosso presidente de honra eu não tive como negar. Vamos embora para mais um carnaval”, disse.
O retorno de Giba foi anunciado em plena festa de aniversário da escola de samba, no qual Silvão destacou que estava saindo do cargo porque “ não teria como estar próximo da escola do jeito que ele ” por conta da vereança.
Estilos e mudanças
Há um motivo pelo qual Giba é querido pela comunidade da Estrela do Terceiro Milênio: ele já foi presidente da agremiação – mais precisamente, no período entre 2016 e 2022. Gilberto trabalhou na agremiação no antigo Grupo 1 da União das Escolas de Samba Paulistanas (UESP), que era o terceiro escalonamento do carnaval paulistano na época, e saiu deixando uma agremiação com o então até acesso inédito ao Grupo Especial. Foram, ainda, três títulos no currículo: além dos conquistados nos primeiros e últimos anos do mandato, outra taça em 2019, no segundo ano do terceiro pelotão da folia de São Paulo com o nome do Grupo de Acesso II.
Se, no primeiro mandato, Giba primeiro recolocar a Estrela do Terceiro Milênio nos trilhos, agora o papel é pelo topo. E, apesar de começar falando que não é necessário mudar algo, ele deixou escapar algo que quer aperfeiçoar: “Eu não vejo uma mudança no estilo como necessidade. Eu vejo um pouco mais em relação à valorização da comunidade: são eles que fazem acontecer tudo. Eu costumo sempre dizer que nós podemos ter a melhor fantasia e carros alegóricos de ouro; mas, se não tiver a comunidade, se não tiver o povo, a gente não chega em lugar nenhum”, comentou.
Giba segue: “Eu acredito que, cada vez mais, a gente tem que valorizar a comunidade. O componente é o povo que faz acontecer. Eu acho que eu preciso melhorar um pouco mais, trazer mais esse povo para mais próximo da escola. As escolas de samba estão perdendo um pouco disso. Você vê as dificuldades, hoje em dia, das escolas trazerem para dentro da sua quadra o povo. Eu acho que a gente tem que acolher mais para ser melhor. São os componentes que fazem acontecer – e, se não tiver eles… eu acho que, se eu trabalhar um pouquinho mais nisso aí, consigo melhorar um pouquinho mais esse contato”, ponderou.
Admiração
Se, ao falar da primeira gestão dele próprio, Giba destacou que pode ser melhor na segunda oportunidade que tem, ele acredita que o antecessor fez um trabalho irrepreensível: “Falar do Silvão é difícil… o Silvão é o coração dessa escola. Ele é o fundador da escola, é uma paixão enorme. É um cara que, se para dar a vida, ele dá pela escola. Tem os seus erros, como eu tenho, como nós temos os nossos erros. Mas eu não vejo nada para melhorar tirar nem tirar nem. É seguir o trabalho, apenas. A A escola chegou no Grupo Especial e se consolidou, com acertos em todos os departamentos – e sabemos o que está no caminho certo”, comentou.
Vale destacar que, assim como Giba neste momento, Silvão teve dois mandatos à frente da Estrela do Terceiro Milênio. Como dito pelo atual mandatário, ele foi um dos fundadores da agremiação e foi o escolhido para ser o primeiro presidente da instituição, em um mandato que começou em 1998 e foi até 2001.
Vida dedicada
Ao ser questionado sobre a sensação de retornar nos braços do povo grajauense, Giba fez questão de relembrar a própria história na instituição do Extremo Sul paulistano: “Cheguei perdido na escola, fui para ajudar e queria o que precisei, não sabia o que fazer Saí empurrando carro, como merendeiro, em 2009, e peguei uma paixão imensa. na presidência”, recorda com orgulho.
Ele fez questão de frisar que sentiu muita sinceridade em relação a cada cumprimento que recebeu ao voltar com o mandatário da instituição: “Em relação a essa volta, fiquei muito feliz, principalmente pelo acolhimento do povo, pela recepção a minha volta. Quando eu cheguei na quadra, quando eu fui anunciado, eu sinto aquele carinho – e verdadeiro. Cada abraço que eu ganha, cada beijo… isso me emociona e me dá mais força para batalhar por esse povo, colocar sob o braço. É rumo ao título, Desfile das Campeãs. Vamos brigar para esse povo, colocar sob o braço. isso”, finalizou.
Para voltar bem
Em 2026, a Estrela do Terceiro Milênio conduziu para a avenida o enredo “Hoje a poesia vem ao nosso encontro: Paulo César Pinheiro, uma viagem pela vida e obra do poeta das canções”, em homenagem ao compositor que está no título da apresentação, em desfile idealizado pelo carnavalesco Murilo Lobo.
O presidente destacou que, a priori, foi reticente em relação à proposta do carnavalesco, mas passou a ser um ferrenho defensor da temática: “Essa confusão é do Murilo! O Murilo gosta dessas confusões. Ele apresentou esse enredo e mais alguns para a gente. De imediato, não me chamou a atenção. Quem era ele? Busquei entender. E, no primeiro livro que eu peguei, nas três primeiras páginas que eu li, eu me encantei. Não é possível que esse cara tem mais de mil e duzentas músicas, compôs não sei com quem. A gente escuta tanta música, eu já chorei com tanta música desse cara e não sabia que era ele. Não quero nem ver o enredo em si, mas vai ser esse aqui.
Em 2026, o Império Serrano vai transformar a Sapucaí em página viva da literatura de Conceição Evaristo. Com o título “Ponciá Evaristo: flor do Mulungu”, o enredo desenvolvido pelo carnavalesco Renato Esteves é mais que uma homenagem: é um mergulho coletivo no conceito de escrevivência, criado pela escritora mineira para nomear sua escrita atravessada por raça, gênero e classe, que, agora, atravessa também o carnaval.
“Foi uma confluência de interesses”, disse Esteves em entrevista ao CARNAVALESCO. “Eu já queria muito falar da Conceição. Dona Conceição é muito especial na minha vida e agora vai ser muito especial para o Império Serrano”, afirmou.
A escolha de homenagear Conceição Evaristo, uma das vozes mais potentes da literatura brasileira contemporânea, nasce, segundo o carnavalesco, de um encontro marcado pela escuta. “No nosso primeiro encontro, ela falou quase seis horas. Ali ela deu o enredo pra gente. Todos os caminhos vieram dessa conversa”, lembrou.
Com delicadeza e reverência, Esteves conduz o desenvolvimento do desfile respeitando um pedido essencial feito pela escritora. “Ela pediu pra gente ler os livros, mas não a biografia. Disse que a biografia dela é de uma mulher preta comum, com todos os sofrimentos que isso carrega — e que a potência dela está nas obras”, revelou.
A escolha evidencia uma das premissas centrais da escrevivência de Conceição Evaristo: é a partir das experiências cotidianas, da oralidade, do corpo e da memória, que se constrói uma escrita que é, ao mesmo tempo, íntima e coletiva. É justamente essa perspectiva que guia o fio narrativo do enredo.
“O Império Serrano é uma escola fundamentada nas mulheres pretas. Já tem a sua própria escrevivência. Então a gente tá se usando desse conceito para desenvolver o desfile e, a partir desse ponto, trazer as vivências da Dona Conceição”, afirmou Esteves.
O desfile será não apenas sobre Conceição, mas com ela, e, também, com o próprio Império, sua história e sua comunidade. Durante o processo de pesquisa, o carnavalesco se viu impactado pela força e atualidade das obras da autora.
“É uma escrita que vai direto ao ponto. São histórias que ou a gente viveu, ou conhece alguém que viveu, ou ouviu alguém contar. Eu me encontrei muito na literatura dela. É literatura, mas também é memória social”, declarou o artista.
Para o Império Serrano, a homenagem vem em forma de afirmação histórica: a cultura negra, as narrativas silenciadas, o corpo feminino e periférico não apenas desfilam, mas escrevem, ou melhor, escrevivem, suas próprias existências no carnaval.
“A gente vai divulgar a cultura, vai divulgar a leitura. É um passo muito importante que o Império está dando, em defesa das bandeiras que ele já levanta desde sempre”, destacou Esteves.
Na avenida, a flor do mulungu — símbolo de resistência e ancestralidade na literatura de Conceição — deve florescer em alas, alegorias e versos. “É uma responsabilidade muito grande falar de Dona Conceição Evaristo. Mas também é um prazer imenso. Eu transformo essa responsabilidade em honra. E eu acho que tinha que ser no Império Serrano”, finalizou.
No desfile de 2026, cada passo será palavra, cada ala será parágrafo, cada batida de tambor será um grito de vida. Uma escrevivência coletiva que atravessa tempos, corpos e saberes — e que fará da Sapucaí um grande livro aberto à luta e à poesia.