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Técnico e quente, Salgueiro impressiona no canto e na performance dos demais quesitos

Por Lucas Santos (Colaboraram Allan Duffes, Freddy Fereira, Luiz Gustavo, Guibsom Romão, Juliana Henrik, Gabriel Radicetti, Marielli Patrocínio, Matheus Vinícius e Rhyan de Meira)

Já passavam das 20h de domingo quando o Salgueiro pisou em uma Sapucai lotada e com uma torcida apaixonada. Na temática, parecia uma continuação da lavagem,trazendo a energia da religiosidade e da busca pelo corpo fechado. Quente, a escola se mostrou extremamente feliz com o enredo e samba, retribuiu não só no canto, mas na organizaçãoda escola e no cuidado para nao errar. Se o canto foi potente e destaque, não se pode ignorar a excelente apresentação de alguns outros quesitos. Aliás, em alguns segmentos, como o primeiro casal, já era muito esperado esse destaque, mas a escola também teve mais uma vez uma apresentação completa e bem feita da comissão de frente, além de alto rendimento do samba. A Academia demonstrou força e jorrou expectativas de voltar a fazer desfiles que briguem efetivamente pelos primeiros lugares.

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“A gente tem uma escola que está se notabilizando por dar show. O Salgueiro dá show nos seus ensaios, um samba cantado por toda essa Sapucaí, acho que deve ter umas 80 mil pessoas aqui e todo mundo cantando com a gente. É uma sensação boa. Ao mesmo tempo, a gente tem a técnica. As paradas para apresentações foram todas perfeitas. A gente está pronto”, avaliou Wilsinho Alves, diretor de carnaval.

Comissão de Frente

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Paulo Pinna, mais uma vez, investiu bastante para o ensaio técnico. Com a temática voltada para o refrão do meio, e o figurino impecável dos componentes baseados na figura de Lampião, a comissão trouxe dança, elemento cenográfico e surpresas. Na segunda parte do samba houve uma troca de elenco quando os cangaceiros entram dentro de uma espécie de enormes jarros. Como é costume nas comissões de Paulo Pinna, os componentes demonstraram muita vontade e energia, inclusive, fazendo uma ótima coreografia de deslocamento. No final a bandeira do Salgueiro tremulava ao lado de Lampião ladeado pelas figuras que sugiram das garrafas. Ótima utilização da iluminação cênica também.

Mestre-sala e Porta-Bandeira

Primeiro é importante falar da elegância do figurino, isso na simplicidade, porque não era uma roupa super trabalhada em elementos, mas extremamente elegante. Sidclei no terno preto e com o costumeiro bastão na mão, enquanto Marcella estava com um vestido vermelho com alguns detalhes mais escuros. A saia do vestido, aliás, foi muito bem utilizada pela porta-bandeira em seus diversos giros. Impressionante como ela realiza tantos giros seguidos, na velocidade em que faz e mantém sempre a firmeza no pavilhão, mesmo em um momento que ventava bastante no Sambodromo. Surreal, a perfeição! E, Sidclei, acompanhava também com tamanha intensidade. Em um bailado mais clássico, até bastante comum par a dupla, o casal soube pontuar com alguns passos e gestos que se relacionavam com o samba. Já no fim, no refrão de baixo, após mais uma grande rodada de rodopios, Marcella com toda a classe saúda a cabine de julgadores com movimentos mostrando o pavilhão. Performance de nível alto.

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Fotos: Eduardo Hollanda/Divulgação Rio Carnaval

“A energia foi a mesma do último ensaio. A gente tem o canto muito forte da escola, mas claro que com o som fica muito mais fácil, você tem o som da bateria que é muito importante. Foi um ensaio maravilhoso, estamos prontos para semana que vem fazermos mais um desfile, já fizemos dois, que venha o terceiro”, disse o mestre-sala.

Harmonia

O carro de som do Salgueiro veio bem equilizado permitindo que Igor Sorriso pudesse comandar através de sua voz, com os apoios em um volume e equalizacão que pudesse ajudar ao intérprete sem aparecerem de forma exagerada. Livre e solto, o cantor, que é um intérprete com chamadas características, gosta de ir ao público e mexer com o componente, esteve sempre à vontade no samba, mas não esqueceu ou deixou de lado a necessidade de cantar com correção e intensidade a obra. Chamou a comunidade a responsabilidade que foi atendida de forma potente. O Salgueiro cantou bastante o samba durante todo o ensaio e tornou o clima quente, mostrando que nao era um ensaio somente para a tecnicidade.

“A gente fica com o som muito centrado no carro de som, não percebemos tanto a diferença num todo, mas foi um ensaio muito positivo. Mais um. Ajustando os detalhes, Salgueiro vem para buscar a vitória. Sabemos que a concorrência é grande, é muito difícil ganhar o carnaval, mas estamos preparados e vamos fazer um desfile maravilhoso”, comentou o cantor Igor Sorriso.

Samba

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O samba é muito valente e tem características muito intrínsecas ao estilo que o Salgueiro gosta de levar para a Sapucaí. Melodia de fácil assimilação, com alguns molhos como o refrão do meio que tem algumas características únicas. O andamento é para frente como gosta a “Furiosa”, mas permitiu que as batidas “bem macumbadas”, “de curimba”, pudessem fazer com que a obra ficassem ainda melhor, como em algumas bossas no refrão principal, no “macumbeiro, mandigueiro”. A obra, por ter bem do DNA do Salgueiro, impulsionou inclusive o rendimento de outros quesitos como harmonia e evolução. Muita interação, principalmente, com o público que também cantava das frisas.

Evolução

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O Salgueiro, mais uma vez, foi muito bem e o samba ajudou. Com pouquíssimas alas coreografadas, exceto a já característica do “maculelê”, coordenada por Carlinhos, e uma ala no final com bastões, a escola apostou na relação do salgueirense com o enredo. O que pode se ver foi uma agremiação muito livre, solta, mas correta, sem apresentar problemas de grandes espaçamentos ou alas emboladas. E, no deslocamento foi uma escola feliz, brincando carnaval e curtindo o samba. Muitos adereços, principalmente, nos primeiros setores, coisas leves que permitiam uma boa fluência do desfilante. Foi muito técnica também nos momentos que são mais críticos como apresentação de comissão e casal, além de saídas e entradas da bateria no recuo.

Bateria e Outros destaques

Uma bateria “Furiosa” do Acadêmicos do Salgueiro com sua afinação tradicionalmente mais pesada, inserida no DNA musical da branca e encarnada da Tijuca. A parte de trás do ritmo contou com um bom naipe de caixas, repiques coesos e taróis eficientes, que junto do balanço envolvente das terceiras deram um molho furioso à cozinha da bateria. Atabaques desfilaram em meio ao ritmo, tendo participação relevante em bossas. Na cabeça da bateria do Salgueiro, cuícas sólidas auxiliaras peças leves. Assim como tamborins tocaram com eficiência interligados a um naipe de showcalhos bem acima da média, que parecia um só por toda a pista. Bossas baseadas no que solicitava o samba, tanto em letra quanto em melodia, foram percebidas. São construções musicais refinadas e contemporâneas. Grande participação das terceiras nos arranjos. A bossa iniciada na segunda do samba terminada no final do refrão principal é uma grande elaboração musical, que culmina num solo de atabaques com ritmistas do repique tocando Cowbell, mostrando um dinamismo sonoro impecável. Uma “Furiosa” com um conjunto de bossas de intenso brilho sonoro, além de versatilidade rítmica. Uma bateria do Salgueiro preparada para a briga pelo gabarito, quiçá sonhando com premiações.

A rainha Viviane Araújo veio com a fantasia “Salve a malandragem” com chapéu de malandro e com fantasia cravejada em pedras preciosas, e claro, vermelho e branco nos tons. A fantasia também brilhava com o led quando a luz da Sapucaí diminuía. No esquenta, a escola cantou “Malandro Batuqueiro” e o icônico “Explode Coração”. O mascote “Sabiá” puxou o início do ensaio. Os componentes traziam nas mãos luzinhas que produziam um efeito de vela, funcionando com as luzes apagadas. Parecia uma grande procissão salgueirense.

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“A gente manteve a mesma consistência do ensaio passadob e o que tem feito nos ensaios, tanto de rua, como setor 11, e no outro ensaio técnico. É isso que a gente preparou pra esse ano, esperar agora segunda-feira pra colocar em prática tudo que a gente ensaiou. Esteve tudo aqui hoje, sem nada guardado”, citou mestre Guilherme.

“Depois de hoje, aqui, eu vou dormir a semana inteira tranquilo. Está tudo no lugar. Tudo que a gente ensaiou ao longo desses oito meses. Até antes de escolher o samba. Após a escolha do samba conseguimos encaixar as bossas e hoje foi pra sacramentar que a Furiosa está pronta para o carnaval”, completou mestre Gustavo

Segundo recuo de bateria da Sapucaí é batizado em homenagem a Monarco

Considerado um dos maiores sambistas da história, Hildemar Diniz, o Monarco, ficará ainda mais eternizado no carnaval. O saudoso presidente de honra da Portela agora dá nome ao segundo recuo da bateria, em iniciativa da Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Liesa). O nome do espaço foi oficializado no último domingo, durante o último dia de ensaios técnicos da temporada.

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Foto: Eduardo Hollanda/Divulgação Liesa

“Agora a Sapucaí ficou ainda mais completa, com o primeiro recuo levando o nome de Jamelão, um dos maiores intérpretes da história, e o segundo, de mestre Monarco, sambista brilhante”, destacou o presidente da Liesa, Gabriel David.

O local, considerado um templo sagrado dos ritmistas, que entram com as baterias para aguardar a passagem do restante da escola, até o momento de retornar à pista e finalizar o desfile, recebeu a visita da família de Monarco. Entre eles, o filho Mauro Diniz.

‘Aos campeões, o desconforto!’ Viradouro encara com garra a pressão para conquistar o bicampeonato no Carnaval 2025

Faltam poucos dias para os desfiles oficiais das escolas de samba na Sapucaí, as expectativas em torno da Viradouro só aumentam. A atual campeã do carnaval carioca se prepara para buscar o bicampeonato apostando no enredo “Malunguinho, o Mensageiro de Três Mundos”, que celebra a força cultural afro-indígena e a luta por liberdade. Nos últimos anos, a escola de Niterói ganhou fama por elevar o patamar de excelência na avenida, se tornando uma forte adversária para as escolas do Grupo Especial e se consagrando com o título em 2024.

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O CARNAVALESCO conversou com alguns componentes da Vermelha e Branca para saber como eles estão lidando com a pressão para superar o desfile campeão. Nas palavras do Mestre Ciça, comandante da bateria Furacão Vermelho e Branco, a Viradouro “elevou o sarrafo lá em cima” no quesito competição, mas ele deixa o ego de lado e encara isso como uma forma de aprimorar seu trabalho, com muita humildade.

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Foto: Eduardo Hollanda/Divulgação Rio Carnaval

“Temos a consciência do nosso alto padrão de qualidade, mas temos que ter pé no chão. As outras escolas também estão vindo fortíssimas, e assim nossa responsabilidade só aumenta. Sabemos que fizemos um bom carnaval ano passado, mas em todo carnaval se ganha e se perde. Vamos ensaiar muito e cumprir as exigências da escola, porque aqui é desse jeito, o que a gente combina, o que a gente faz. É muita dedicação. Mas me considero uma pessoa abençoada, porque a Viradouro tem um samba espetacular esse ano, que ajuda muito a bateria. Viremos com um ritmo forte, sem correria, com batidas
precisas, e com letras que interagem com o público. ‘O rei da mata que mata quem mata o Brasil’ vai ser um boom na avenida. Faremos um grande desfile da bateria”.

Tarcisio Zanon, carnavalesco responsável por desenvolver o enredo, acredita no poder do processo criativo interno para fazer uma boa apresentação, sem comparações com outras escolas ou desfiles passados.

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Foto: Carolina Freitas/CARNAVALESCO

“Estamos trabalhando duro e estamos muito confiantes. Tem até um termo que aprendemos com o nosso enredo, que se chama a miração, que significa olhar para dentro de si mesmo. É o que a gente faz. Todo ano olhamos para dentro e tentamos melhorar nossas técnicas, até porque, cada ano é uma página em branco. Temos feito um trabalho em equipe, com união e troca, buscando dar mais conforto aos componentes para facilitar o processo de construção das alegorias e fantasias, e isso tem feito toda a diferença no resultado final. Sem contar que temos um projeto que fala de uma entidade, um universo muito mais masculino, que tem tudo a ver com esse momento da Viradouro, de se posicionar em realidades. Estamos trazendo um grande líder quilombola que enfrentou um sistema. E a Viradouro não está vindo para comemorar apenas um título, ela está vindo para fazer a diferença e para lutar por esse bicampeonato. Espero que esse ano consigamos contemplar o público com um grande carnaval”.

A porta-bandeira Rute Alves enxerga todo desfile como uma oportunidade para trazer novidades: “A cada ano buscamos fazer um trabalho mais rebuscado, visando agradar os jurados, incluindo os novos, mas sem perder a nossa essência”. Enquanto isso, para seu parceiro de dança, o mestre-sala Julinho Nascimento disse: “Cada ano é um ano, e independentemente do resultado, sempre buscamos superar o anterior. Por mais que 2024 tenha sido um ano de êxito, e que tenhamos conseguido entregar a nota que a escola precisava, agora o frio na barriga e as responsabilidades são novos”.

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Foto: Carolina Freitas/CARNAVALESCO

Rute faz questão de citar uma frase usada pelo diretor de carnaval da escola, Alex Fab, que diz “Aos campeões, o desconforto!”, para ressaltar a importância de sempre dar o seu melhor na disputa pelo título, pois, segundo o casal, a partir do momento que se faz a curva na entrada da avenida, todas as agremiações estão competindo igualmente.

Foto: Carolina Freitas/CARNAVALESCO

Falando nele, Alex comenta sua relação com a cobrança pela perfeição. “Trabalhamos para sempre entregar um projeto bem feito, sem pensar em níveis de superação. Procuramos nos manter entre as melhores para, no final, termos a sensação de dever cumprido. Tudo o que nos propomos a fazer envolve muito respeito e verdade. Nesse ano nosso carnaval vem grande, com energia e carregado de sentimentos, respeitando a história da religiosidade. Mas quem vai definir qual desfile foi melhor que o outro é o público e seu gosto pessoal”.

O ex-presidente e atual diretor executivo, Marcelinho Calil, afirma que o motivo de sua escola vir forte esse ano é não se apoiar na ideia de favoritismo para montar o desfile. Ele ainda reforça ser contra a fala que diz que “a Viradouro não comete erros”.

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Foto: Carolina Freitas/CARNAVALESCO

“Nunca vou concordar com isso, porque se eu concordasse, seria uma soberba enorme. Jamais. A escola trabalha muito, vem corrigindo tudo, se aprimorando sempre. Favoritismo é algo que vem 100% externamente para cá, internamente nem falamos esse tipo de coisa. Não falamos nem em ganhar carnaval no dia a dia, muito menos em ser favorito. Mas, aceito essa cobrança, sem hipocrisia nenhuma. É importante para uma escola que busca títulos, ser pressionada, afinal, isso é do jogo. E a Viradouro vem forte novamente, podem confiar, mas não precisamos superar 2024. Nosso papel é reescrever uma nova página e tentar ser novamente a melhor do ano, e não necessariamente ser melhor que
nós fomos no ano anterior. São enredos diferentes, com histórias diferentes. Já temos a missão de competir com outras escolas, não precisamos adicionar o peso de tentar ganhar do nosso próprio desfile”.

Já Wander Pires, intérprete da escola pelo terceiro ano consecutivo, encara o favoritismo como algo positivo.

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Foto: Carolina Freitas/CARNAVALESCO

“Para nós, esse pensamento do público é maravilhoso. Usamos isso como forma de incentivo para melhorar o nosso trabalho e conseguir atender às expectativas da nossa comunidade, da nossa escola, e do público que nos acompanha. E dá resultado, pois sinceramente, eu trabalhei em várias escolas, mas até me assustei com o quanto a Viradouro é perfeccionista. Faremos um desfile grandioso”, afirma o cantor, que é muito amado pela comunidade.

Comunidade da Imperatriz revela expectativa por desfile marcante no Carnaval 2025

Para o Carnaval de 2025, a Imperatriz Leopoldinense apresentará o enredo intitulado “Ómi Tútu ao Olúfon – Água fresca para o Senhor de Ifón”, elaborado pelo carnavalesco Leandro Vieira. O desfile contará a jornada de Oxalá ao reino de Oyó para visitar Xangô, enfatizando valores como humildade e respeito. A última vez que a Imperatriz abordou um orixá como tema central foi em 1979, com o enredo “Oxumaré, a Lenda do Arco-Íris”. Agora, quase cinco décadas depois, a escola resgata suas raízes afro-brasileiras, celebrando a rica mitologia iorubá.

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Foto: Eduardo Hollanda/Divulgação Rio Carnaval

Os membros da comunidade da Imperatriz estão profundamente engajados nos preparativos, participando de ensaios técnicos e eventos na quadra da escola, situada em Ramos, Zona Norte do Rio de Janeiro. A expectativa é de um desfile marcante, que exaltará a cultura afro-brasileira e conquistará o público na Marquês de Sapucaí.

Em função dessa expectativa, o CARNAVALESCO entrevistou alguns integrantes para saber como se sentem após a escolha de um enredo amplamente solicitado e de grande representatividade.

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“É de suma importância que a Imperatriz, após tantos anos, traga um enredo que aborda os orixás e a nossa afro-brasilidade, resgatando e trazendo essa cultura para o nosso contexto. A comunidade se sente representada e o território da Leopoldina, incluindo o Complexo do Alemão, Ramos e Bonsucesso, está cada vez mais próximo da escola. Enredos como esse aproximam a comunidade da escola, e creio que esse é também o objetivo da atual diretoria: reforçar essa relação”, disse Rene Silva, 31 anos, fundador do Voz das Comunidades e morador do Complexo do Alemão.

A componente Aretuza expressou entusiasmo ao relatar que a escola finalmente aborda um enredo afro que homenageia nossos ancestrais.

imperatriz componentes aretuza

“A escola fala sobre o enredo afro da nossa ancestralidade, trazendo alegria ao abordar nossa diversidade e a cultura africana. Isso é fundamental, pois precisamos valorizar a cultura do povo africano e de nós, negros. Somos uma mistura rica. Nossa religião é linda, e estou muito feliz. Como assistente responsável pela ala das crianças, fico contente por vê-los representando algo que, por muito tempo, foi tratado com preconceito. Agora, eles estão mais felizes ainda!”, afirmou Aretuza, 46 anos, moradora do Complexo do Alemão.

Michel comenta sobre a importância do reconhecimento da mitologia africana, que antes era pouco conhecida.

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“Estou adorando, porque o enredo não se limita a um orixá específico; ele abrange uma mitologia que poucas escolas estão explorando. Quando você pesquisa, começa a entender melhor a história de Oxalá, as funções de Exu, o que Xangô pode fazer ou não. A representatividade em relação a essa mitologia é muito relevante, pois muitos conhecem o Candomblé ou a Umbanda com foco em cada orixá individualmente. Eu, pelo menos, não tinha conhecimento desses mitos mais amplos. Para mim, isso é uma grande oportunidade de representatividade para todos os componentes da Imperatriz!”, disse Michel Teixeira, 26 anos.

Maiara, passista da escola, ressalta a importância desse enredo para a comunidade, considerando-o uma verdadeira aula de história que frequentemente permanece inaudita.

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“É de extrema importância abordar um tema tão delicado e essencial para nossa cultura. A escola precisava desse enredo, e a comunidade sonhava com isso. Acredito que isso trouxe um novo ânimo, garra e força. A escola vive um momento incrível e ficamos arrepiados apenas ao ouvir o samba, ao compreendê-lo. Isso nos leva a querer saber mais, pois o carnaval tem essa capacidade de trazer culturas e nos ensinar sobre elas. Para mim, tem sido uma experiência impressionante, surreal e mágica. Não sigo a religião, mas tenho aprendido muito sobre a cultura afro e sua religiosidade. Para mim, tem sido um aprendizado incrível, especialmente após 18 anos como passista na escola!”, compartilhou Maiara Simões, 34 anos.

A Imperatriz Leopoldinense desfilará no domingo, 2 de março de 2025, sendo a segunda escola a se apresentar na Marquês de Sapucaí, com o desfile programado para ocorrer entre 23h20 e 23h30.

Magia, surpresas e encantaria: coreógrafos da comissão de frente da Grande Rio adiantam detalhes do desfile 2025

O CARNAVALESCO conversou com os coreógrafos da Grande Rio, Hélio e Beth Bejani, que, desde 2019, ano em que ingressaram na escola, conquistaram dois Troféus Estrela do Carnaval, de Melhor Comissão de Frente, pelos desfiles do Exu e Onça.

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“A gente vai fazer uma inovação com o tripé esse ano. Uma coisa que nunca foi feita. Estamos sendo até bastante audaciosos. Tem um risco grande, mas a gente está ensaiando bastante para que tudo dê certo e aconteça perfeitamente como a gente pensou e tem ensaiado”, revelou Beth.

“É através do tripé que a gente consegue criar magias, sonhos”, explicou Hélio.

Em 2025, a Grande Rio leva à avenida o enredo “Pororocas Parawaras: as Águas dos meus Encantos nas Contas dos Curimbós”, sobre a lenda de três princesas turcas que naufragaram no encontro de um rio paraense com o mar e viraram entidades hoje cultuadas na região.

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Fotos: Gabriel Radicetti/CARNAVALESCO

“O tema Pará é muito abrangente, mas os carnavalescos (Gabriel Haddad e Leonardo Bora) conseguiram seguir por uma linha, trazer um enredo bem específico, bem determinado, contando uma lenda que existe lá. Uma coisa que eles (povos da região) acreditam, que envolve tambor de mina e carimbó, falando das três princesas turcas que naufragaram na pororoca e foram ajuremadas pela jurema. O enredo tem um conteúdo específico, o que é bem legal”, disse Hélio.

“É um enredo muito rico, cheio de encantaria, cheio de magia. É uma honra a gente poder representar o Pará aqui no Rio, no carnaval, essa cultura tão incrível. Vocês podem esperar um momento mágico”, garantiu Beth.

O desfile de 2025 promete consolidar o sucesso da tricolor de Caxias. Desde 2020, com a chegada dos jovens carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora à Grande Rio, a escola sempre voltou para o desfile das campeãs, além de ter ganhado o seu primeiro campeonato do Grupo Especial, em 2022, com o enredo “Fala, Majeté! Sete Chaves de Exu”.

“O Léo e o Gabi são muito queridos. A gente entrou na escola um ano antes deles. Foi um casamento perfeito. Eles são muito queridos, a gente se deu super bem. A gente tem muita troca para desenvolver a comissão de frente, dentro do enredo, dentro da proposta que eles pensam para o Carnaval como um todo. Consideramos que somos micro dentro do macro que eles desenvolvem. Eles são geniais”, elogiou Beth.

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“A gente interage de uma forma muito tranquila porque antes do trabalho, antes do profissionalismo, vem a nossa amizade. A gente tem uma empatia muito grande já desde o primeiro carnaval com o Gabriel e o Leo. Fica muito fácil trabalhar assim”, detalhou Hélio.

No ano passado, a comissão de frente da Grande Rio foi uma das mais elogiadas. Parte do enredo “Nosso destino é ser onça”, a apresentação explorou o mito tupinambá da criação do mundo e brincou com a iluminação cênica da Sapucaí, consagrando-se como uma das imagens mais marcantes do Carnaval 2024.

“A gente sempre veio trabalhando a iluminação aqui na Avenida. Desde o Tata Londirá, onde nem tinha iluminação da Avenida, a gente já conseguia trabalhar uma iluminação no nosso próprio espelho d’água, no nosso próprio carro. Agora a gente soma a nossa luz à iluminação da Avenida, que é o melhor dos mundos. A gente vai fazer algo muito diferente do que a gente apresentou o ano passado. É uma proposta totalmente diferente em termos de iluminação, mas é uma proposta que a gente tenta aproveitar também da melhor maneira todo o equipamento da Avenida”, adiantou Beth Bejani.

“A gente trabalha a iluminação de acordo com o que a gente vai apresentar na avenida. Tem os efeitos necessários que vão contar a história. A gente não ilumina por iluminar, a gente não faz efeito por fazer. Tudo que a gente faz procede. Tem que estar alinhado com o enredo. A gente está trabalhando a iluminação da mesma forma que a gente trabalhou no passado, para atender a acima de tudo a apresentação, contar a história do enredo e trazer um clima diferenciado. Que o grande barato da iluminação da Avenida, na minha opinião, é isso: criar um ambiente especial para a comissão se apresentar”, explicou Hélio.

Uma trajetória tão premiada, no entanto, atrai altas expectativas da comunidade e do público. Para Beth, a pressão de se superar a cada ano existe, mas não é novidade.

“Desde o Tata Londirá, onde quando a gente inovou trazendo um espelho d’água onde os bailarinos dançavam e a Grande Rio foi vice-campeã, que a gente teve que se superar ano a ano. Logo depois, veio Exu e foi outro desafio ser pelo menos tão grandioso quanto. Aí vem a Onça e agora vem Pororocas Parawaras. Eu espero que a gente consiga manter o nível ou até mesmo nos superarmos com essa nova proposta”, relembrou Beth.

Segundo a coreógrafa, o trabalho de 2025 da dupla tem como principal referência uma apresentação que assistiram durante as pesquisas do enredo. O nome do espetáculo, no entanto, permanece um segredo.

“A comissão de frente a gente vem com uma diferença de formato, até porque o enredo pede isso. A gente apresenta bem especificamente a narrativa do enredo. Ele está todo ali”, afirmou Hélio.

“É uma performance muito dançada. Ela tem uma parte muito forte de chão, de avenida, de carnaval, de tudo que é sempre muito pedido. Tem uma surpresa, claro, mas ela não é movida por um momento especial. Ela é toda uma encantaria”, encerrou Beth.

Carlinhos Salgueiro: a história do artista que transformou o samba no pé em legado

Às 23h de uma quinta-feira, na encruzilhada das ruas Maxwell e Uruguai, um grande personagem do carnaval carioca atravessou a linha de chegada de mais um ensaio. Seu nome é Carlos Borges – o Carlinhos Salgueiro, assim como o Brasil e o mundo conhecem o coreógrafo e diretor artístico da vermelho e branco do Andaraí. Ao fim do ensaio de rua, ele seguiu a pé até a quadra da escola, localizada na rua Silva Teles, sendo calorosamente saudado pelos integrantes da agremiação. Cada passo dessa caminhada era um reflexo de sua trajetória: dos becos do Morro do Andaraí aos palcos do mundo. Carlinhos trocou abraços, pousou para fotos e relembrou momentos de sua trajetória de 25 anos no Salgueiro.

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Conhecido pela irreverência e seriedade de seu trabalho, Carlinhos Salgueiro abriu as portas para que os passistas das gerações mais novas tivessem mais liberdade em seu samba no pé. No percurso que fizemos juntos até a quadra do Salgueiro, Carlinhos falou ao CARNAVALESCO sobre os desafios de ser um artista preto, gay e favelado na sua trajetória, o reconhecimento profissional internacional e os sonhos que ainda deseja realizar no carnaval.

Abertura de portas para a diversidade

“O Salgueiro deu a oportunidade para um cara gay, preto e favelado romper barreiras. Se hoje temos passistas da diversidade, passistas não-binários, é porque eu abri a porta para essa galera. As pessoas só viam cabrochas e malandros. Eu rompi a barreira do preconceito”, declarou o artista, relembrando o conselho que recebeu no início da carreira de sua madrinha Aldione Sena: “Seja você!”.

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Fotos: Marcos Marinho/CARNAVALESCO

Se as encruzilhadas da vida reservam encontros imprevisíveis e cheios de sorte, em nossa caminhada tivemos o privilégio de cruzar com outros dois personagens fundamentais na trajetória de Carlinhos Salgueiro. O primeiro deles é Clair Basílio, diretor de bateria da vermelho e branco, que foi quem trouxe o jovem coreógrafo do Morro do Andaraí para a escola de samba. Na época, Clair estava disputando samba na Alegria da Passarela, a primeira escola mirim do Salgueiro, e convidou Carlinhos e seu grupo de dança para fazer parte da torcida. “Como o irmão dele era meu amigo, chamei o Carlinhos para participar. Só que a mãe dele não deixava, então fui até a casa deles pedir permissão”, contou o diretor de bateria, mais conhecido como Mané Perigoso.

Carlinhos reconhece que foi Clair quem conseguiu amolecer o coração de sua mãe para permitir que ele dançasse na escola mirim. “Eu era louco pra dançar na escola de samba, e minha mãe já sabia que eu era uma menina; ela não deixava. Ele foi lá em casa, porque minha mãe era muito rígida. Fui com meu grupo de dança para torcer. O samba dele perdeu na segunda levada, e quem ganhou foi o Dudu Nobre, que me zoa até hoje”, relembra Carlinhos, que estreou aos 11 anos na escola mirim. Esse foi o primeiro passo de uma longa caminhada que o levaria a se tornar um ícone do carnaval.

Outro personagem que abriu caminhos para o artista foi Sidclei dos Santos. Na entrada da quadra, o mestre-sala e o diretor artístico do Salgueiro se encontraram e relembraram momentos do início da amizade. Carlinhos contou que, no início da carreira, desmontava os figurinos de Sidclei e aproveitava as pedrarias das roupas do amigo para fazer os seus trajes. “Eu cheguei aqui, e o Sidclei me apadrinhou. No início, eu não fazia parte do grupo da diretoria, e ele me contava quando tinha alguma apresentação e mandava eu levar uma roupa”, contou Carlinhos, que chegou a dançar no programa de televisão Xuxa Park por exigência do mestre-sala: “Não estava nada escrito lá, e ele falou: ‘Se ele não dançar, eu não danço’. Só ia dançar ele e as meninas. Foi graças ao Sidclei que me tornei o primeiro passista da escola”, revelou Carlinhos, que concretizou com Sidclei uma grande parceria e amizade. “A gente se trata como irmãos”, afirmou.

Salgueiro, uma escola de oportunidades

Enquanto seguíamos em direção à quadra, Carlinhos refletiu sobre sua trajetória artística e profissional no mundo do samba, destacando o papel transformador que a escola de samba teve em sua vida. Para ele, o Salgueiro é uma “escola de oportunidades”. Foi por meio da agremiação que o artista se profissionalizou, conquistou reconhecimento internacional e viajou para 34 países, levando o seu samba no pé para o mundo. Sua dedicação e talento o levaram a ser condecorado como rei na Austrália e na Inglaterra, além de ser nomeado embaixador do carnaval na Alemanha. “Eu nunca imaginei que um cara da comunidade fosse ter a oportunidade de ir para fora com a bandeira do samba”, declarou orgulhoso de cada passo dado em sua trajetória rumo à expansão do legado do samba.

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Quem atesta o prestígio internacional do trabalho do coreógrafo é o bailarino Thálisson Montanari. Recém-chegado da Inglaterra, especialmente para a pré-temporada do Salgueiro, ele conta que Carlinhos é referência lá fora. “O nome da ala de passistas do Salgueiro é referência em Londres”, confirma o gaúcho, que começou a sambar no projeto do artista. “O Carlinhos provoca que a gente saia da nossa zona de conforto. Não é somente o passista sambar, não é isso. É interpretação, é show. Ele trata a gente como artistas”, afirma Thálisson.

Ala Maculelê e o desfile de corpo fechado

A ala Maculelê é uma parte fundamental da caminhada de Carlinhos Salgueiro. Além de desfilar no Salgueiro, a ala também é uma companhia que realiza apresentações fora do carnaval. Alguns de seus integrantes, inclusive, atuam em comissões de frente de outras escolas. Demerson D’Alvaro, o Exu da comissão de frente da Grande Rio em 2020, já integrou a ala. Essa troca de experiências e talentos reforça a importância da ala Maculelê como um celeiro de artistas que transcendem as fronteiras das agremiações.

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Para o desfile de 2025, Carlinhos adianta que a ala Maculelê será um dos grandes destaques do Salgueiro, com um elemento cênico que promete emocionar o público. “Vamos mostrar a diversidade que o Morro do Salgueiro tem. Eu estou muito feliz “, declara o coreógrafo, que ressalta o trabalho intenso de ensaios, já em andamento há três meses. “Tem um elemento cênico muito grande. É realmente um espetáculo”, completa, deixando claro que o público pode esperar uma apresentação grandiosa e “babadeira”.

Samba em transformação

Completando 25 anos no Salgueiro, Carlinhos também avalia a caminhada do samba. Adaptando-se às novas tendências culturais e tecnológicas, o tradicional samba no pé tem passado por transformações significativas ao longo dos últimos anos. Recentemente, a apropriação do samba para as “dancinhas” do TikTok tem gerado debates entre os amantes do gênero. O coreógrafo expressou sua visão sobre o fenômeno: “A minha linha não é essa. Por mais que eu goste de coreografia, eu sou oriundo do samba antigo, do samba de quadril, do samba de malandragem. Eu fico feliz que os meus não foram nessa linha, mas eu não vou criticar quem se sente bem em fazer isso”.

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Carlinhos Salgueiro destaca que a vivacidade do samba implica em transformações: “O samba tem uma vivência, passa por transformações. Hoje as pessoas criticam, de repente pode ser a nova tendência. Não é a minha”. Ele também lembrou das críticas que enfrentou no começo de sua própria trajetória, afirmando: “Como eu fui muito criticado, não posso agora criticar porque eu sei o que eu passei”.

Sonho de Carlinhos: um intercâmbio cultural de samba no pé

Ao final da caminhada, chegamos ao palco da quadra do Salgueiro, onde Carlinhos posou para fotos com sua habitual alegria e irreverência. De lá de cima, ele olha para frente e compartilha um desejo que ainda gostaria de realizar em sua trajetória como artista do carnaval: um projeto de intercâmbio com as alas de passistas das escolas do Grupo de Acesso. “Eu viajo o mundo, sou remunerado por isso, mas queria ir para Belford Roxo, Campo Grande, Caxias… Gostaria de transmitir meu conhecimento para as escolas do acesso”, revelou o coreógrafo, que mencionou a falta de recursos financeiros como um obstáculo para concretizar o projeto. “É muito bonito eu fazer isso lá fora. Mas algo me motiva a fazer isso aqui também. O que falta é ter essa oportunidade”, afirmou. Ele ainda contou que o presidente da Liesa, Gabriel David, prometeu uma conversa para entender melhor a proposta. Esse é mais um passo que ele deseja dar em sua jornada.

Carlinhos do Carnaval

“Eu não sou mais Carlinhos do Salgueiro, eu sou Carlinhos do Carnaval”, declarou ele. “O Salgueiro entende isso e fica com receio. Eu não me vejo só como Carlinhos do Salgueiro. Eu vejo que muita gente aprendeu comigo, mesmo que indiretamente, mesmo sem reconhecer, alguém pegou alguma coisa”, afirma.

Ao final da nossa caminhada, Carlinhos deixa claro que sua trajetória não se limita ao Salgueiro, mas se estende a todo o carnaval, como um legado de resistência, diversidade e amor ao samba. Cada passo que ele dá é uma inspiração para quem vem depois, mostrando que o samba no pé é uma jornada sem fim.

Eugênio Leal: ‘Três escolas devem brigar pelo título após grande noite do Grupo Especial de Vitória’

Chegou o que Faltava, Mocidade Unida da Glória e Independentes de Boavista fizeram desfiles de alto nível e devem decidir ponto a ponto quem ganha o título. Sete agremiações desfilaram no Sambão do Povo numa noite que teve momentos de chuva forte. Confira como foi cada apresentação.

Unidos de Jucutuquara

A Unidos de Jucutuquara falava das emoções, mas foi o nervosismo que marcou seu desfile. Ele já começou cinco minutos depois de o relógio ser disparado. Ao longo da pista algumas alas estavam com fantasias incompletas e o acabamento das alegorias, especialmente da última, deixou a desejar. Um problema que também afetou o tripé da Comissão de Frente, que pareceu deslocado do resto da coreografia.

O primeiro casal, formado por Marina Zancheta e Marcos Paulo, foi um dos destaques positivos do desfile, embora tenha perdido parte da indumentária na primeira cabine. O intérprete Edu Chagas, ainda assim, conseguiu se comunicar bem com o público e a arquibancada respondeu.

A bateria teve problemas para se apresentar em todos os módulos devido à condução confusa da evolução, que também fez os componentes acelerarem exageradamente o passo após a saída do primeiro casal.

Chegou o que faltava

Impecável. A escola de Goiabeiras jogou o sarrafo lá no alto com o enredo “Da lama sai muito barulho”, do carnavalesco Vanderson Cesar. Trabalho estético do mais alto nível desde a paleta de cores, passando pelo acabamento perfeito e luxuoso de todos os elementos visuais e, claro, incluindo a criatividade e a pertinência de cada fantasia e alegoria.

Mesmo sob forte chuva a “Chegou” fez um desfile de evolução fluente e não teve intercorrências ao longo da pista. Tudo sob a voz firme de Igor Vianna cantando o belo samba de Júnior Fionda. Chegou chegando.

Unidos da Piedade

A Piedade soltou a criança que existe dentro de casa um de nós num desfile feliz, sorridente e sonhador para o enredo Ibeji. Escola raiz que é, pisou o Sambão do Povo com um “chão” invejável, que cantou e dançou com muita vontade embalado por um samba que facilitou o desempenho dos componentes.

O enredo foi bem desenvolvido, mas o visual estava apenas correto, sem grande brilho. A bateria fez o povo pular enlouquecidamente no “Setor E” das arquibancadas ao final da sua apresentação, marcada pelo caminhar lento do último carro.

Mocidade Unida da Glória

Em busca do tricampeonato e da décima estrela, a MUG pisou forte na avenida para apresentar o enredo “Jorge do povo brasileiro – o cavaleiro da capa encarnada”, do carnavalesco Petterson Alves. O recorte era a relação do povo brasileiro com o santo da Igreja Católica e seu correspondente no Candomblé, Ogum.

A escola fez um desfile mais uma vez muito competente, sem intercorrências e com todos os quesitos corretamente defendidos, deixando a avenida com a certeza de que vai brigar pelo título.

A bateria comandada pelos mestres João Henrique e Lucas mostrou o melhor ritmo da noite até então (com a melhor execução dos instrumentos e entrosamento entre eles) e fez bossas dentro da melodia do samba. E o vozeirão de Ricardinho da MUG ecoou pelo Sambão do Povo garantindo uma condução segura e vibrante do bom hino da escola.

O visual cumpriu o esperado sobre o enredo e trouxe fantasias com riqueza de detalhes, sempre despertando os olhares curiosos do público. Fogos de artifício simularam a alvorada de São Jorge e o papel picado da última alegoria ajudou a criar um clima de empolgação ao final da apresentação.

Novo Império

A bateria foi o destaque da Novo Império. Chamado de “Orquestra capixaba de percussão” , o time de Mestre Vinícius Seabra fez uma bossa com alto grau de dificuldade marcada pela conversa entre caixas e surdos que parava para que entrasse um ritmo de pagode quando o samba falava na mesa de bar.

O carro de som comandado por Danilo Cezar também chamou atenção pelo jogo de pergunta x resposta entre o cantor e seus acompanhantes no refrão de meio do samba. Danilo brincou de cantar samba-enredo.

O Novo Império fez um desfile marcado pela simplicidade nas fantasias e alegorias que, apesar disso, traduziram com boa leitura o enredo “As voltas que a vida dá”, do carnavalesco Osvaldo Garcia. A fantasia da ala das baixanas, representado a noite, foi uma das mais criativas.

A escola não deve brigar pelo título, mas brincou seu carnaval com leveza e alegria, sem atropelos.

Boavista

Ao amanhecer do domingo a Independente de Boavista brindou o público que continuava no Sambão do Povo com mais um belo desfile que briga pelo topo da classificação.

Com o enredo “Os Olhos do Mundo – Assombros de Sebastião Salgado”, do carnavalesco Cahe Rodrigues, a escola deu uma aula de carnaval em todos os quesitos. Do enredo, claramente desenvolvido; Alegorias e Fantasias de facílima leitura e excelente qualidade; bateria “reloginho”; Comissão bem coreografada e usando o elemento cenográfico como apoio da apresentação; casal entrosado, ensaiado e lindamente vestido; samba totalmente em sintonia com o enredo; evolução tranquila e correta.

Não foi empolgante devido ao avanço da hora, mas vai ser difícil tirar ponto dela. Briga.

Imperatriz do Forte

A campeã do Acesso de 2024 terá dificuldades para permanecer no Especial. A Imperatriz do Forte desfilou com apenas 16, das 30 baianaa exigidas pelo regulamento e perderá um décimo por cada uma que faltou.

O desfile também teve problemas visuais, especialmente nas alegorias, fruto provável de problemas financeiros. Mas a Imperatriz também teve seus méritos. O casal de Mestre-sala e Porta-bandeira formado por Thiaguinho Mendonça e Amanda Poblete fez uma das melhores apresentações do quesito na noite. O cantor Dodô Ananias conduziu o belo samba da escola com talento e comunicação. A criatividade do carnavalesco Rodrigo Meiners para o enredo “Só quem sabe onde é Luanda saberá lhe dar valor” apareceu em algumas fantasias com assinatura própria e paleta de cores bem diferente.