Na tarde da última quinta-feira, o Presidente da Portela Junior Escafura, foi homenageado com o título de Benemérito pela Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Liesa). A honraria foi recebida pelo reconhecimento de sua contribuição e dedicação ao carnaval carioca, fruto de todos os anos de atuação e apoio às escolas de samba.
Mesmo com apenas três meses à frente da presidência da Portela, Escafura tem se destacado pelo seu compromisso com a maior campeã do Carnaval. Ao receber o título, ressaltou a importância da homenagem.
“Receber o título de Benemérito da Liesa é o reconhecimento de uma trajetória construída com respeito, paixão e dedicação ao Carnaval. Hoje estou na presidência da Portela, mas minha caminhada no samba começou há muitos anos, passei por Direção de Carnaval, Harmonia e diversos outros segmentos. Assim como tantos outros sambistas, sei que essa homenagem não é apenas pessoal, ela representa também a força da comunidade portelense e de todas as agremiações das quais eu tive oportunidade de passar. Só agradecer por mais um passo dado!”, declara Junior Escafura.
A cerimônia foi realizada na sede da Liesa e reuniu dirigentes das escolas de samba e outros beneméritos reconhecidos pela mesma honraria.
A Unidos da Tijuca realizou mais uma eliminatória de samba-enredo nesta quinta-feira, 28 de agosto. Caminhando para a reta final, a quadra da escola foi palco da apresentação das cinco obras que disputam a escolha do hino de 2026 da Amarelo e Azul do Borel. O CARNAVALESCO acompanhou a última etapa e traz abaixo a análise das apresentações. Foi notório que a comunidade está bem engajada na disputa: havia passistas que sambaram e cantaram junto com a torcida de todos os sambas apresentados na noite.
Parceria de Gabriel Machado: Com Charles Silva no microfone, a parceria de Gabriel Machado, Júlio Pagé, Robson Bastos, Miguel Dibo, Serginho Motta, Orlando Ambrósio, Jefferson Oliveira e Lucas Macedo fluiu bem durante a apresentação. A performance foi acompanhada por uma mulher interpretando Carolina Maria de Jesus, utilizando livros e pedaços de papelão, remetendo a objetos marcantes da vida da escritora. O fim do refrão, com a volta da cabeça do samba, funciona bem e mantém a obra em alta. O trecho “Em versos eu falei com Deus / Ensinei aos filhos meus / O alfabeto da alforria” — em especial o início — potencializa o samba.
Parceria de Totonho: A parceria de Totonho, Júlio Alves, Dudu, Cláudio Russo, Chico Alves, Jorge Arthur, Machado e Fadico contou com a condução no microfone de Pitty de Menezes e Tinga. O verso “Maria de Jesus e dos Brasis / Não há amarra que vá nos fazer parar / Um livro aberto fala mais que mil fuzis / Abre a porta social pro meu Borel entrar” é potente e carrega um tom de manifesto. Em suma, o samba teve boa performance na quadra, conduzido de forma magistral pelos intérpretes. O trecho “Ê Canindé, cada um com sua cruz / Ê Canindé, eu também sou de Jesus” apresenta melodia atraente e impulsiona a obra.
Parceria de Leandro Gaúcho: A parceria de Leandro Gaúcho, Anderson Benson, Maia Cordeiro, Clairton Fonseca, Fogaça, Davison Jaime, Manoel, Alemão, Paulo Marrocos e Ailson Picanço contou com Wantuir e Wic Tavares no comando do microfone. Amparado por uma torcida aguerrida, o samba foi muito bem defendido por pai e filha, que já possuem forte identificação com a escola. O verso “Um quarto de despejo para quem é Maria” levantou a apresentação na quadra.
Parceria de Arlindinho: Com Igor Sorriso, intérprete do Salgueiro, na voz, a parceria de Arlindinho, Babi Cruz, Diego Nicolau, Adolfo Konder, Luiz Petrini, Luiz Pavarotti, Michel Portugal e Fred Camacho foi o penúltimo a se apresentar. É visível a aderência do samba junto à comunidade. O trecho “Assina: Carolina Maria de Jesus!!!” teve grande efeito na quadra e, por si só, manteve a obra em alta durante toda a apresentação.
Parceria de Lico Monteiro: Com a interpretação de Wander Pires, da Viradouro, a parceria de Lico Monteiro, Samir Trindade, Leandro Thomaz, Marcelo Adnet, Marcelo Lepiane, Thelmo Augusto, Gigi da Estiva e Juca fechou a noite de apresentações. O samba possui uma letra sensível e profunda. Durante sua execução, a obra foi cantada pelas baianas e por integrantes da Velha Guarda presentes na quadra. O refrão “Muda essa história, Tijuca / Tira do meu verso a força pra vencer! / Reconhece o seu lugar… e luta / Esse é o nosso jeito de escrever!” puxou o público e fez o samba ecoar com força.
Com “Mestre Sacaca do Encanto Tucuju – O Guardião da Amazônia Negra”, o carnavalesco vai levar a história mística do Xamã Babalaô amapaense para a Marquês de Sapucaí em 2026. Em uma viagem pela cultura da Amazônia Negra, o carnavalesco Sidnei França conversou com o CARNAVALESCO sobre a ideia do enredo da Verde e Rosa, jogando luz na figura desse brasileiro, na narrativa apresentada e no que espera dos sambas a serem inscritos.
Sidnei contou que a ideia de falar sobre o Mestre Sacaca surgiu a partir de uma pesquisa sobre as efemérides centenárias de 2026, nas quais, com o apoio dos pesquisadores Stefanye Paz e Felipe Tinoco, foi estruturando o enredo.
“O foco central, a chama inicial, foi entender tudo que completaria 100 anos em 2026. E aí a gente começou a pesquisar e achamos, de forma quase acidental, a figura de Mestre Sacaca e começamos a investigar. Pesquisando cada vez mais, ficamos impressionados, eu, Tinoco e Stefanye, com a força desse homem, com a grandeza dessa existência. A Guanayra nos mandou para o Amapá e, de lá para cá, é história, é o desenvolvimento dessa saga”.
O artista também falou sobre a importância de fazer um enredo autoral dentro da Estação Primeira, destacando a ideia de trazer narrativas densas e brasileiras para a Avenida.
“Nunca foi opção na Mangueira não ser autoral, porque a escola tem essa intensidade. Pensar em Mangueira é pensar sempre em histórias densas, brasileiras. Esse enredo vem trazer, mais uma vez, essa assinatura tão identitária do Brasil e, dessa vez, um Brasil não divulgado, que não é comumente conhecido pelas pessoas. Quase ninguém pensa em uma Amazônia Negra”.
Ao falar sobre a narrativa, Sidnei pontuou que o enredo de 2026 da agremiação seguirá por um caminho diferente em relação ao desenvolvimento narrativo do último carnaval, destacando o regresso à ancestralidade como característica marcante do que a Mangueira pretende mostrar na Avenida.
“Não considero que essa narrativa se ampara no que nós fizemos em 2025. O que eu acho que tem de novo é uma tentativa extrema e muito forte de ser claro a cada momento. Agora estou falando das ervas, agora estou falando dos tambores. Isso eu acho que se assemelha a uma busca de um recorte muito definido em cada setor, mas, quanto ao desenvolvimento narrativo, é bem diferente. O último enredo terminava apresentando o cria do morro como uma possibilidade de futuro negro, e agora a gente não vai para o futuro, pelo contrário. Ao transformar o Xamã Babalaô no amapazeiro, ele retorna para a natureza. Isso é um regresso à ancestralidade, não um avanço. São estruturas narrativas diferentes, mas com muita clareza em seus enfoques”.
O artista também ressaltou a importância de a Mangueira trazer à luz a figura de Mestre Sacaca, uma personalidade pouco conhecida nacionalmente, mas que será projetada através da Verde e Rosa.
“Acho isso maravilhoso. Claro que é muito digno exaltar, no carnaval, grandes personalidades, figuras lendárias da cultura brasileira. Mas também é muito honroso, é muito potente, você transformar um nome esquecido, apagado, e apresentá-lo para o mundo inteiro na voz da Mangueira. É motivo de muito orgulho e muita honra”.
Sidnei França concluiu falando dos sambas que concorrem para ser o hino da Mangueira em 2026, enfatizando que o tema é uma rica fonte de inspiração para os compositores.
“Apoteóticos. Vejo nesse enredo elementos muito fortes que transcendem o material e alcançam o campo espiritual. E isso é muito vivo para a proposição de sambas marcantes. Tenho certeza de que temos sambas grandiosos”.
A dupla de intérpretes do Águia de Ouro possui uma identificação imensa com a escola e com toda a comunidade da Pompeia. Se Douglinhas Aguiar também deixou seu nome em outras escolas da maior cidade da América do Sul, Serginho do Porto está intimamente ligado ao azul e branco quando se fala no Grupo Especial de São Paulo. Em entrevista ao CARNAVALESCO, durante o evento que lançou “Mokum Amesterdã: o voo da Águia à cidade libertária”, enredo da agremiação para 2026, o intérprete relembrou sua extensa trajetória na escola, declarou-se torcedor da agremiação e destacou que entrou até mesmo no Guinness Book por conta do Águia de Ouro.
Se Serginho do Porto já é um nome histórico na agremiação da Zona Oeste paulistana, obviamente houve um começo. E o início dessa história foi antes mesmo do primeiro desfile dele como intérprete:
“Eu cheguei aqui antes do Mário de Andrade! Fora a brincadeira, eu vim para cá no dia 08 de agosto de 2000, quando teve o Festival da Globo. A gente veio conhecer a quadra do Águia, que era lá embaixo do viaduto. Vim conhecer os então puxadores Dominguinhos, Preto Joia, Vantuir e o Jackson Martins. Eu não consegui vir no dia 07 porque tinha perdido a minha carteira no teatro. Vim no outro dia, no dia 08. Vim e fiquei!”, destacou.
A brincadeira com o nome do grande modernista, homenageado em “Vou à luta sem pedir licença. Tupy ou não tupi? Sampa é a resposta”, enredo da agremiação em 2002, não é por acaso. Esse foi o primeiro desfile em que o intérprete apareceu creditado como oficial na escola. Outra referência importante é a antiga quadra do Águia, que ficava abaixo do viaduto Pompeia.
Sambas para um sentimento verdadeiro
Ao ser questionado sobre o tamanho do sentimento que possui pela agremiação, Serginho do Porto surpreendeu: “O sentimento é tão grande que a Águia está tatuada no meu corpo”.
A reportagem pediu para ver onde está a tatuagem, e ele logo puxou a calça na parte esquerda, deixando o tornozelo à mostra. Lá estão uma águia dourada e um leão.
O intérprete prossegue: “A gente viveu momentos loucos aqui, momentos muito complicados. Mas, como fala um segundo samba-exaltação, ‘só eu sei porque te quero tanto, eu sei como é gostoso te amar’. Essa coisa se tornou muito grande dentro de mim”, explicou.
Em outro momento da entrevista, Serginho do Porto novamente relembrou sua composição para a escola: “Quando adentrei a escola, a empatia foi muito grande pela semelhança com a Portela, pela lembrança de toda a minha família. Dessa inspiração eu escrevi o ‘Bate Forte Coração’, que se tornou um samba-exaltação do Águia. Já são 26 anos por aqui”, relembrou.
Vale destacar que o intérprete é nascido no tradicional bairro de Madureira, Zona Norte do Rio de Janeiro, e é declaradamente torcedor da Portela – por isso a citação à outra águia azul e branca.
Outros grandes nomes
O intérprete aproveitou para destacar mais duas pessoas fundamentais em sua trajetória no Águia de Ouro: “Hoje, eu falo que tenho duas escolas de samba: aqui é a escola que eu aprendi a gostar, aprendi a amar. Fiquei oito anos, fiquei na frente da escola com o Sidnei, como vice-presidente. Ajudei muita coisa com ele, trabalho com ele direto. O Douglinhas Aguiar, agora, é o vice-presidente da escola. A gente sempre trabalha junto, correndo, sempre para o melhor da escola”, lembrou.
A parceria com Douglinhas Aguiar na escola, por sinal, merece ser destacada. Desde 1991, apenas uma única vez a escola não teve ao menos um dos dois como intérpretes oficiais – em 2005, quando Paulinho Mocidade recebeu a honraria.
No outro lado da Dutra
Serginho do Porto também ressaltou a identificação que possui com outras agremiações da Cidade Maravilhosa:
“E, no Rio de Janeiro, a minha Estácio de Sá… não minto para ninguém. Eu cantei dez anos no Salgueiro. Era para eu ser salgueirense, não era? Eu tenho 26 anos no Águia e tenho 23 anos de convivência com o Estácio. Depois do Dominguinhos, a minha voz tem uma identificação muito grande com o Estácio de Sá, mas muito grande. Eu posso cantar em qualquer outro lugar, mas a identificação com a quadra é única, eu sei cantar todos os sambas”.
Livro Guinness
Em uma conversa prévia à entrevista, Serginho do Porto destacou que as duas escolas pelas quais tem mais admiração o fizeram entrar até mesmo no conhecido livro dos recordes: “Carnaval de 2002: a Estácio era a sétima escola a desfilar na Marquês de Sapucaí e o Águia era a sexta aqui em São Paulo. A gente cantou, pegou o avião, veio para cá e cantou também”, relembrou.
Vale destacar que os desfiles do então Grupo A (equivalente à Série Ouro contemporânea, segundo pelotão do carnaval carioca), à época, começavam ainda com o céu claro.
Anos mais tarde, a situação se repetiu: “Carnaval de 2010: o Águia foi a primeira escola a desfilar, cantando Ribeirão Preto – subimos em 2009 com cinco pontos de diferença para a segunda colocada. Fomos a primeira aqui e a quinta lá no Rio de Janeiro. E agora, em 2026, isso tudo começa de novo a acontecer: o Águia é a segunda escola aqui e a Estácio a quinta lá no Rio de Janeiro”, destacou, afirmando que novamente terá seu nome grafado no Guinness Book.
Na visão de Serginho do Porto, entretanto, tudo é válido pelas escolas e pelos companheiros que fez na Pompeia: “Pelas duas escolas eu faço qualquer sacrifício. São duas escolas que, primeiro aqui, com respeito máximo pelo Sidnei, pela parceria que a gente tem até hoje com o Douglinhas – já que falamos a mesma língua. A gente tem uma coisa muito boa entre nós. Não tem aquela história de deixar para amanhã o que tem que falar hoje. A gente fala, e isso nos dá transparência. É a mesma coisa que a gente tem dentro da Estácio”, finalizou.
Focada nos preparativos do próximo carnaval, a Unidos da Tijuca finaliza nesta quinta-feira, dia 28 de agosto, na quadra do Santo Cristo, o recadastramento da comunidade para o próximo desfile. A ação acontece de 19h às 21h e antecede a terceira eliminatórias do concurso de samba-enredo.
Como iniciativa para retomar o protagonismo do chão da escola, uma força que marcou o período glorioso dos seus campeonatos, a escola implementou a inscrição 100% gratuita para suas alas e, por consequência, o fim das alas comerciais. O comprometimento dos componentes inscritos será o passaporte para o desfile, estruturando o canto e a dança de forma dedicada para atingir as notas máximas. Outra vez, as estrelas do asfalto serão os sambistas, os protagonistas da festa, responsáveis por dar voz ao espetáculo.
Novos componentes
As vagas ociosas do recadastramento serão preenchidas por novos componentes. A agremiação realizará no sábado, 6 de setembro de 10 às 16h em seu barracão de alegorias, localizado na Cidade do Samba, um plantão de inscrição para os interessados em desfilar pela 1ª vez ou retornar. Ao comparecerem ao posto de cadastro da escola, os tijucanos serão inseridos na nova plataforma, que possibilitará a emissão de carteirinha, a tomada de presença via QR Code e a organização dos eventos e da confecção da fantasias de forma mais dinâmica e assertiva.
Para o cadastramento é necessário apresentar RG e cópia do comprovante de residência. Para o recadastramento é necessário apresentar também, o comprovante de devolução da fantasia. A quadra da Unidos da Tijuca fica localizada na Avenida Francisco Bicalho nº 47 – Santo Cristo.
A Unidos de Vila Isabel dá continuidade à disputa de samba-enredo nesta sexta-feira (29). A noite contará com a apresentação dos cinco sambas que seguem concorrendo para embalar o desfile do Carnaval 2026. Além da disputa, o público poderá aproveitar o tradicional show da escola e acompanhar a competição que definirá a nova musa da azul e branca, com nove candidatas disputando o posto.
Em 2026, a Vila Isabel levará para a Avenida o enredo “Macumbembê, Samborembá: Sonhei que um sambista sonhou a África”, desenvolvido pelos carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora, com pesquisa de Vinicius Natal. O tema é um tributo à arte, à ancestralidade e ao samba, celebrando a memória de Heitor dos Prazeres, um dos grandes ícones da cultura popular brasileira.
Serviço
• Data: Sexta-feira, 29 de agosto
• Horário: A partir das 21h
• Entrada: Franca até 23h; após, R$ 20
• Local: Quadra da Unidos de Vila Isabel – Boulevard 28 de Setembro, 382 – Vila Isabel, RJ
O carnavalesco Renato Lage participou do podcast “Chega Junto” e abriu o coração ao falar sobre a perda da companheira e parceira artística Márcia Lage, além de comentar detalhes sobre o enredo da Mocidade Independente de Padre Miguel para o Carnaval 2026, que homenageará a obra e irreverência de Rita Lee. O artista prometeu um desfile que celebra a liberdade e a transgressão.
Renato não escondeu a emoção ao relembrar os mais de 30 anos de parceria com Márcia, falecida em janeiro deste ano.
“É muito difícil. Foram mais de 30 anos de parceria. Você perde um apoio. Ela é uma parceira que a gente dialogava todos os momentos. Tenho que seguir em frente nessa missão que ficou para mim. Tenho que andar com o espetáculo, que não pode parar. Foi muito confortável o carinho de todos. Me senti muito apoiado e agradeciado pelo amor. Foi muito especial na minha vida”, afirmou.
Rita Lee, inspiração e identidade da Mocidade
O carnavalesco revelou que trazer Rita Lee para a Avenida sempre foi um desejo pessoal.
“Sempre tive o pensamento de fazer o enredo da Rita Lee. Sou fã de carteirinha. Não podia ser em qualquer escola. Por ela ser uma artista moderna, cabia muito bem com a cara da Mocidade, que tem o DNA de fazer irreverente e ser vanguarda. A obra da Rita é fantástica, as pessoas se identificam com as músicas e letras. A obra dela é atemporal”, destacou.
Título e a essência: ‘Santa Rita da Liberdade’
Renato também explicou a escolha do título do enredo e a abordagem que será apresentada na Sapucaí.
“A sacada foi que ela achava brega ser chamada de rainha do rock. Ela gostava de ser a padroeira da liberdade. Isso que vai rolar. A liberdade, sem ter direção, padrão, ordem do dia. O carnaval é transgressão. O enredo não é biográfico. É da trajetória artística, as músicas, a época hippie”, concluiu.
Com o enredo “Santa Rita da Liberdade”, a Mocidade Independente de Padre Miguel promete levar à Marquês de Sapucaí em 2026 um espetáculo que une irreverência, ousadia e emoção, marcas tanto da carreira de Rita Lee quanto da história da escola.
Quem chegou à quadra da Portela para a primeira noite de apresentação dos sambas concorrentes notou uma mudança sonora e visual imediata: a Tabajara do Samba, sob o comando de mestre Vitinho, estava posicionada no palco, com seus ritmistas sentados. A alteração, longe de ser um mero capricho, é parte fundamental da nova filosofia da escola para escolher o hino que a levará ao título. Em entrevista ao CARNAVALESCO, Vitinho explicou que a decisão visa, acima de tudo, a qualidade técnica da avaliação dos sambas. O antigo local de apresentação da bateria, segundo ele, comprometia a audição.
“A gente antes tocava num outro local. Há muitos anos, e eu sempre achava que a acústica não ajudava muito pra escolha de um samba. Até porque o músico que não conhece a casa ficava um pouco perdido com a distância que era”, detalhou o mestre.
A solução foi trazer os ritmistas para o centro da ação, em um formato que beneficia todos os segmentos. “Tive a ideia de botar a bateria no palco. Conversando com o Gilsinho, a gente pensou num modo para ser confortável para os cantores que estamos recebendo, para os músicos, cavaco, violão e para a bateria também, que tá ali sentadinha, toca, faz uma apresentação bacana e todo mundo consegue entender o que está sendo cantado”, afirmou.
O mestre, no entanto, esclarece que o formato com a bateria reduzida no palco é específico para esta fase inicial de eliminatórias. Quando a Tabajara vier com seu efetivo completo, a novidade permanecerá, mas com uma adaptação.
“Quando for a bateria inteira, nós vamos tocar na frente do palco. Não vamos mais tocar naquele outro local que era essa distância que sempre não ficava uma acústica legal, a equalização não ficava boa”, decretou.
Disputa sem torcida: a prova de fogo para os sambas
Alinhado com a nova diretoria da escola, mestre Vitinho é um entusiasta do modelo de disputa com portões fechados nas primeiras fases. Para ele, o formato permite uma análise mais pura da qualidade das obras, sem a interferência de torcidas organizadas, que podem criar uma falsa impressão de sucesso.
“É algo legal, porque a diretoria da escola consegue entender quem realmente é forte sem a torcida”, analisou Vitinho, que foi direto ao ponto sobre a influência externa. “Você pega um amigo que é da redondeza, da área, ele consegue botar aqui dentro 300, 400 pessoas na apresentação. Aí fica todo mundo cantando, bola, bandeira e você não sabe se realmente tá mexendo com o termômetro da escola ou da torcida comprada. Não que todo mundo compre torcida, mas a gente sabe como funciona”.
Para o comandante, a metodologia adotada pela Portela é a ideal. “Acho que você pode avaliar todo mundo até as oitavas de final sem torcida e, a partir das oitavas, tá rolando com torcida, porque a gente já consegue entender quem realmente tem força com ou sem torcida”.
Feliz e totalmente integrado à escola, Vitinho celebra a nova fase. “Muito bacana. Estou muito feliz. Dois meses de trabalho aqui na Portela, muito bem aceito pelos ritmistas. Está sendo o trabalho da minha vida. É uma oportunidade que a escola está me dando e eu prometo que vou arcar. Com certeza, 2026 promete muitas coisas boas para a Portela com a bateria da Portela”, concluiu.
O presidente Almir Reis, da Beija-Flor de Nilópolis, está muito feliz com o campeonato de 2025, mas, obviamente, já pensa em todo o caminho para a conquista de 2026, quando a escola nilopolitana levará o enredo “Bembé” para a Sapucaí. Ao CARNAVALESCO, o presidente da Deusa da Passarela deu detalhes de como conheceu o Bembé do Mercado e do que espera das vozes que substituirão Neguinho da Beija-Flor na Avenida em 2026.
Almir falou sobre as expectativas da Beija-Flor em busca do bicampeonato, preferindo encarar a disputa de 2026 como um novo ciclo para a escola. Ele festejou o título de 2025, mas ressaltou a qualidade da competição entre as coirmãs e destacou o quanto o espetáculo tem crescido.
“Ganhamos, estamos felizes, fizemos um carnaval à altura, não desrespeitando nem desfazendo das coirmãs, mas realmente nós fizemos e chegamos o mais próximo possível da perfeição. Agora vamos virar a chave, é um outro ciclo, começa-se um novo. Não vou pensar em 26, em bicampeonato, eu vou pensar no campeonato. Eu vou por esse caminho até para não criar expectativa em ninguém. Uma das coisas que a gente tem visto muito no carnaval é que hoje ele é muito grande, as coirmãs estão cada dia melhores. Acho que o carnaval cresceu muito, temos que pensar em fazer o certo, tentar mais uma vez chegar o mais próximo de tocar a perfeição e disputar o título. Essa é a realidade”, afirmou.
Para Almir, o enredo do Bembé chegou de forma especial para ele e para a escola. O presidente contou que cada integrante da Beija-Flor se identificou com essa manifestação religiosa e cultural, e que a força do tema se mostrou um chamado para a agremiação levá-lo à Sapucaí no próximo carnaval.
“Eu não sabia que o João já tinha visto sobre, porque eu falei para ele: ‘João, tem algum enredo autoral?’ E ele me trouxe três, mas em momento algum o Bembé. Quando acaba o carnaval, vejo o Bembé na internet e, ao mesmo tempo, sou alertado pelo pessoal da comissão de frente, especialmente pelo Saulo, se eu já tinha visto a história do Bembé. Eu falei que era engraçado, porque tinha visto isso na internet ontem, e aquilo me chamou a atenção. Que coisa linda, é a cara da Beija-Flor, é a cara do nosso povo. Fui ao João, e ele falou que estava com isso também embaixo do braço, que ainda não tinha mostrado, mas já estava dormindo e acordando com o Bembé. Ali foi uma convergência entre todos nós e, graças a Deus, foi muito bem aceito. Como eles falam: alafiou. E tem tudo para dar certo. Agora só depende de a gente fazer uma boa obra de samba-enredo. A plástica já está sendo desenvolvida, o barracão está muito bonito, e vamos embora”, contou Almir.
Por fim, o presidente da Beija-Flor comentou sobre a substituição de Neguinho da Beija-Flor. Ele destacou a preocupação com o coração dos vencedores do “A Voz do Carnaval”, concurso que escolheu os substitutos de Neguinho, Nino e Jéssica Martin, e reforçou que os dois precisarão da força da comunidade, lembrada por ele como muito unida, para dar continuidade ao legado do intérprete histórico da escola.
“As pessoas dizem que ninguém é insubstituível, e o Neguinho, realmente, é muito difícil [de substituir]. Vai ser uma responsabilidade muito grande entrar naquela Avenida e cantar no lugar dele. Acho que vão precisar ter muita presença de espírito, muito equilíbrio, porque além da emoção da Avenida, é a emoção de olhar e pensar: ‘Olha o lugar em que eu estou’”, encerrou.
A Unidos do Viradouro, atual quarta colocada do Grupo Especial e líder do ranking da Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Liesa), se notabilizou, nos últimos anos, por apresentar um grande elenco de musas na Marquês de Sapucaí. Uma delas é a carioca Carolina Macharethe, nascida e criada no morro do Turano, na Tijuca.
Em entrevista ao CARNAVALESCO, Macharethe definiu seu atual posto na Viradouro como “a realização de um sonho”. A sambista relembrou sua trajetória no Carnaval e destacou o orgulho de representar uma das mais tradicionais escolas do Rio de Janeiro.
“Eu sou uma menina que veio de escola mirim, passei por alas de passistas, e foi dentro de uma dessas alas que a Viradouro me viu e me deu esse espaço. Para mim, é a realização de um sonho, porque as meninas da comunidade sempre sonham em conquistar esse lugar”, afirmou.
Carolina começou a desfilar ainda criança, aos cinco anos de idade, pelo Império da Tijuca. Ao longo dos anos, passou por outras escolas como Estácio de Sá, São Clemente, Unidos da Tijuca e Império Serrano, até chegar à Viradouro, onde pretende permanecer. “Hoje estou aqui e pretendo ficar o resto da minha vida”, disse.
Quando perguntada sobre a fama do time de musas da Viradouro ser um dos melhores do Carnaval carioca, Carolina Macharethe destacou o elenco da escola.
“Sou muito fã do meu time, claro. Acho que todo grupo tem sua essência e seu diferencial. Não existe melhor ou pior, mas acredito que a Viradouro está, sim, entre os grandes destaques”, declarou.
A Unidos do Viradouro será a terceira escola a desfilar na segunda-feira de Carnaval em 2026. A escola vai levar para a avenida o enredo “Pra Cima, Ciça!”, desenvolvido pelo carnavalesco Tarcísio Zanon.