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Hoje o sol nasceu mais cedo pra te ver! Baterilha homenageia maestro e executa bossa inovadora na Sapucaí

A União da Ilha foi a oitava e última escola a se apresentar no primeiro dia de desfiles da Série Ouro na Marquês de Sapucaí, já na manhã de sábado. O enredo, “BA-DER-NA! Maria do povo”, se debruçou sobre a história da bailarina italiana Marietta Baderna, que viveu grande parte da vida no Brasil e, ao ficar associada às lutas populares, vinculou seu sobrenome injustamente à balbúrdia e confusão. Coração pulsante da escola, a Baterilha encarnou a Orquestra Nacional Brasileira.

“A bateria da Ilha vai homenagear o maestro Giannini, fundador da primeira Orquestra Brasileira, a Orquestra Nacional Brasileira, e marido da nossa homenageada Marietta Baderna A bateria vem fantasiada de orquestra, de banda. Eu vi na apresentação do enredo que, além de estar homenageando o maestro, a bateria referencia também a festa popular, que a Marietta saía com o povo fazendo uma banda fanfarra”, disse o mestre de bateria da escola, Marcelo Santos.

Um dos pontos altos do desfile foi a realização, pelos ritmistas, de uma marcante bossa na Sapucaí, que misturou instrumentos de orquestra, como lira, prato e bumbo, à clássica cadência do samba.

“A bateria hoje vai se tornar uma grande orquestra na Sapucaí. Vai ser uma grande orquestra de 240 ritmistas. Vamos fazer uma bossa justamente que vai lembrar bem uma apresentação de uma orquestra em toda cabine de jurado. A gente vai fazer essa junção. Ela vai começar com a bateria tocando, do nada a bateria para, a banda entra e depois as duas vão tocar junto, fazendo uma grande confraternização de ritmos para fazer essa grande homenagem ao samba e também à banda fanfarra em homenagem ao maestro Giannini”, prometeu Marcelo, pouco antes de entrar na avenida.

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O artifício agradou não só ao público, como aos próprios ritmistas, em suas diversas origens e perspectivas.

“A bossa é de bandinha. O nosso mestre misturou todas as etapas de instrumentos que correspondem à banda. Eu não vou contar direito, porque vai ser surpresa para vocês. Vocês vão ver na realidade lá na frente e vão ficar emocionados”, garantiu a professora do Ensino Fundamental Fátima Tavares, a Fafá do Chocalho, de 67 anos. Com longa trajetória carnavalesca, Fafá já foi coreógrafa de ala da comunidade e caiu na bateria, em suas palavras, por um descuido, ao experimentar de forma despretensiosa tocar um instrumento.

“Fui pra escolinha para curtir. Eles acharam que eu tinha ritmo, fui fazendo teste e consegui entrar para bateria. Eu sou ritmista da Baterilha há exatamente 8 anos”, relembrou.

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“Esse ano a gente vai fazer uma bossa misturando instrumentos de orquestra que quem esteve aqui no ensaio técnico viu que saiu pegando todo mundo”, afirmou o jovem Erick da Paixão, de 22 anos, há 7 anos na Ilha. Erick é insulano e trabalha em uma pizzaria com atendimento ao cliente.

“A sensação de tocar em uma bateria é incrível. É um sonho para todo mundo, ainda mais para as pessoas que olham a bateria passando e pensam ’um dia eu quero estar lá, um dia eu quero desfilar’. Eu comecei a assistir uma final do samba-enredo em 2018, 2018 para 2019. De lá, gostei. Comecei a procurar informações sobre as escolinhas de bateria da ilha. Comecei a fazer a escolinha, depois eu subi. Estou aqui até hoje. É uma bateria que tem muita história e muita tradição. A ilha para mim é tudo”, contou Erick.

Erick

“Fazer parte de uma bateria é muito mágico. As pessoas que veem de fora não entendem o sentimento. Só quem está dentro sabe como é a emoção de ver tanta gente assim vendo o trabalho de tanto tempo sendo realizado. Ser uma menina em meio a tantos homens crescidos é bem desafiador, não é o comum de se ver, mas tem que ser normalizado. Todo mundo pode fazer o que quiser e todo mundo deve experimentar coisas novas. Eu, principalmente, adorei vir para a escola de samba. É um lugar muito acolhedor para mim”, finalizou a estudante de 16 anos Laura de Andrade, cuja primeira experiência como ritmista se deu em 2022, pela Lins Imperial.

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Freddy Ferreira analisa a bateria da União do Parque Acari no desfile do Carnaval 2025

Um ótimo desfile da bateria “Fora de Série” da União do Parque Acari, comandada pelos mestres Erik Castro e Daniel Silva. Um ritmo com uma sonoridade simplesmente ímpar e uma equalização de destaque foi exibido. Impressionante que no segundo ano no grupo de acesso esses mestres já tenham colocado a bateria da Acari entre as melhores da Liga RJ. O grande desfile de hoje culminou para ajudar a chancelar esse pensamento.

Na cabeça da bateria, um naipe de tamborins técnico tocou interligado a uma boa ala de chocalhos. Cuícas ressonantes também auxiliaram no trabalho das peças leves.

Na parte de trás do ritmo, uma afinação extremamente privilegiada de surdos foi percebida, com marcadores de primeira e segunda tocando de modo firme e seguro. Surdos de terceira deram um balanço bastante envolvente ao ritmo acariense. Repiques coesos tocaram junto de um belo naipe de caixas de guerra. É possível dizer, inclusive, que a ressonância dos caixeiros fizeram o instrumento servir como base de amparo musical às demais peças.

Bossas bem conectadas a melodia do samba-enredo foram notadas. A bateria da Acari aproveitou muito bem as nuances melódicas para consolidar o ritmo dos arranjos através das variações, fazendo um trabalho musical intuitivo, além de orgânico. Participação de todos os naipes nas bossas impressionam, pelo conjunto sonoro de raro valor, aliado a boas execuções nos dois últimos módulos.

Uma grande apresentação da bateria da União do Parque Acari, dirigida pelos mestres Erik Castro e Daniel Silva. Uma conjugação sonora de destaque dos mais diversos naipes foi exibida. Um ritmo condizente ao apelido “Fora de Série” foi exibido. Sempre pautado pela classe musical, equilíbrio sonoro, além de uma brilhante equalização de timbres. Um desfile que coloca o ritmo da “Fora de Série” da Acari em nítida evidência, após mais um grande trabalho.

Freddy Ferreira analisa a bateria da Tradição no desfile do Carnaval 2025

Um bom desfile da bateria “Explosão de Elite” da Tradição, na estreia do mestre Thiago Praxedes na Sapucaí. Um ritmo com uma afinação de surdos potente, bossas intuitivas, simples, mas eficazes foi exibido.

Na parte da frente do ritmo do Condor, um naipe de cuícas se exibiu de modo ressonante. Tamborins funcionais deram bom volume às peças leves. Assim como um bom naipe de chocalhos contribuiu no preenchimento da sonoridade da cabeça da bateria da Tradição, junto de agogôs de bom nível, que ajudaram também em bossas.

Na cozinha da bateria “Explosão de Elite”, uma boa e tradicionalmente mais pesada afinação de surdos foi o ponto alto. Marcadores foram seguros, assim como os surdos de terceira fizeram um bom trabalho, inclusive em bossas. Caixas de guerra retas tocadas embaixo foram ressonantes, junto de repiques coesos e um naipe de taróis correto, auxiliando na sonoridade dos médios. Na parte de trás do ritmo também haviam frigideiras, dando um tilintar metálico que casou bem com uma bateria mais pesada.

Bossas baseadas em simplicidade e funcionalidade foram exibidas. Sempre seguindo o que solicitava a obra da azul e branco do Campinho. As bossas também foram bem impactadas pela pressão sonora envolvendo a boa afinação de surdos.

Um bom desfile de estreia de mestre Thiago Praxedes na bateria “Explosão de Elite” da Tradição. Um ritmo mais tradicional, com bossas funcionais e bom trabalho com as terceiras foi apresentado. Mesmo com um tempo apertado no último módulo, a exibição ocorreu sem problema em frente a quarta e derradeira cabine de jurado.

União do Parque Acari Carnaval 2025: galeria de fotos do desfile

Abre-alas da Em Cima da Hora celebra raízes africanas na cultura brasileira com imponência e sutileza

No primeiro dia de desfiles da Série Ouro no carnaval 2025, a Em Cima da Hora trouxe para a avenida o enredo “Ópera dos Terreiros – O Canto do Encanto da Alma Brasileira”, que busca promover o respeito pela diversidade religiosa e cultural do Brasil, por meio do olhar em que a cultura africana foi trazida para terras brasileiras no período da colonização e fincou raízes que perduram até hoje.

Para ilustrar essa mensagem, a escola construiu um abre-alas imponente, mas sutil, chamado “Sob a Proteção de Olodumarê, O Santuário Ancestral”.

“O carro abre-alas representa a travessia de um grande palácio africano em terras brasileiras, para onde Olodumarê (divindade suprema presente em religiões iorubá e afrodescendentes) conduziu seus filhos. Eles foram raptados, mas chegaram aqui com pompa na nossa ideia, e é por isso que o carro não traz tons terrosos. Em vez disso, ele traz o espelho e o luxo, para refletir a ideia de contemporaneidade da cultura negra se enraizando pelo Brasil”, explica o carnavalesco Rodrigo Almeida, em conversa com o CARNAVALESCO.

O artista acredita que o conceito transcendental foi traduzido na cenografia do carro por meio da abstratividade.

“Mostramos esse lugar como um palácio, com guardas o protegendo com espadas. Esse lado transcendental está no místico, no lúdico. Não é um carro perfeitamente descritivo. Ele transmite uma mensagem por meio de uma aura, que as pessoas vão sentir e identificar no desfile”.

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A sutileza citada acima pode ser notada nas cores escolhidas para compor a estética da alegoria, que são azul, branco e prata.

“Essas cores transmitem a ideia de leveza, paz e riqueza, sem perder o tom de imponência que o primeiro carro pede, além de não serem tão habituais para um carnaval afro, trazendo um diferencial para a escola”, pontua o carnavalesco, que afirma que os elementos das culturas africanas trazidos para o Brasil podem ser vistos nas saias e nas esculturas do carro.

O enredo tem como base a obra Ópera dos Terreiros, do Núcleo de Ópera da Bahia, instituição que promove a representação da cultura negra em sua total ancestralidade.

“Salvador é conhecida como a Roma Negra. É o local que tem mais negros no mundo, fora da África. Essa homenagem representa isso. Todo esse palácio transcendental que atravessou o Atlântico e fincou raízes na Bahia está eternizado na nossa cultura”.

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Ao ser questionado sobre a emoção de ver essa grandiosa celebração da ancestralidade tomando conta da Avenida, Almeida revela:

“O carnaval é uma festa preta, ancestral, que vem do batuque, vem da senzala, vem da África. É isso que faz essa celebração ser emocionante, porque aqui na Em Cima da Hora o carnaval do Rio se encontra com o carnaval de Salvador, que são dois dos maiores expoentes da cultura negra brasileira. Poder juntar essas duas vertentes é grandioso”.

“Eu saio há 26 anos na escola e essa é uma das fantasias mais bonitas que a gente já teve”, diz componente da União da Ilha

A União da Ilha do Governador foi a oitava e última escola a se apresentar da Série Ouro na manhã deste sábado. O desfile homenageou a bailarina Marietta Baderna. Em tons de azul escuro, roxo, prata e branco, remetendo à noite estrelada, a décima quarta ala relembrou o costume da artista de banhar-se à noite, à luz do luar, no Rio de Janeiro do século XIX. O tema da fantasia provocou reações diversas dos componentes da ala.

“É até uma questão atual, porque a Baía de Guanabara está começando a apresentar resultados da despoluição e está retomando os passeios. É algo bem atual, que pode fazer com que o Rio de Janeiro comece a melhorar nesse sentido”, disse o árbitro de futebol Alexandre Cardoso, de 35 anos, que desfilou pela primeira vez na Sapucaí neste carnaval.

“Os banhos noturnos na Baía de Guanabara, provavelmente, naquela época, não tinham a violência que temos hoje. Porque, hoje, até de dia é difícil ir à praia, com arrastão, imagina à noite. Naquela época, era outra situação”, surpreendeu-se o militar aposentado Luiz Gil da Silva, de 70 anos.

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Morador de Santa Catarina, Luiz Gil desfila há 26 anos pela agremiação da Zona Norte carioca. Nascido na Ilha do Governador, o ex-integrante do exército mudou-se para outro estado devido ao trabalho, mas nunca deixou de prestigiar a escola do coração.

Em 2025, a União da Ilha se debruçou sobre o legado de Marietta Baderna, artista italiana contratada, no século XIX, pelo governo imperial para dançar para a elite, mas que, ao se deparar com as desigualdades sociais, liderou lutas políticas e tornou-se aclamada pela juventude militante de sua época.

“Pelo que eu entendi, ela era uma dançarina, uma bailarina, se não me engano, da Itália ou de algum país da Europa. Ela era discriminada lá, veio para o Brasil, a princípio para o Rio de Janeiro. Como no Rio ela não conseguia receber, porque era o trabalho dela, ela foi para Pernambuco. ‘Se o Rio não paga, partiu Pernambuco’. E ela foi para Pernambuco. Depois, voltou para o Rio de Janeiro e aqui desenvolveu o trabalho dela. Basicamente, é isso aí”, resumiu Luiz Gil.

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“Ela se revoltou com aquela coisa de bailarina tradicional e foi ficar junto com o povo. É interessante esse tema”, comentou Márcia Teresa Carrocino, de 63 anos, cirurgiã-dentista.

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“Eu não conhecia a Baderna. Conheci através da escola. Esse é um enredo muito político. Ele faz muito sentido e, hoje, inclusive, eu falava nas minhas redes sociais sobre a origem do camarote, criado por uma elite para outra elite. A Marietta Baderna vem justamente na contramão disso tudo. Ela vem mostrar uma forma de resistência para que a gente não deixe que essa festa popular, que essa festa que é nossa, vá para as mãos da elite”, declarou o médico Luís Carlos Rodrigues, de 29 anos, que, após 4 anos de desfile na Sapucaí, estreou como componente da Ilha.

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Aprovado o tema, vestida a fantasia, os desfilantes compartilharam suas expectativas para o grande evento.

Márcia projetou uma passagem alegre e leve pela Passarela do Samba: “A Ilha sempre foi uma escola muito alegre, muito divertida. Todo mundo sabe o samba. É uma característica da Ilha ser uma escola bem alegre”.

Os demais, no entanto, só pensaram naquilo…

“A Ilha há tempos não vinha preparada para voltar para o Especial. A escola está extremamente bem acabada. O Marcus, enquanto carnavalesco, conseguiu desenvolver o enredo de uma forma muito alegre, de fácil leitura. A Ilha está pronta para retornar para um lugar que é dela. É uma grande oportunidade de voltar para um lugar que, quem é amante do Carnaval, sabe que é pertencente a ela”, afirmou Luís Carlos.

“A expectativa é alta, porque é uma escola bem tradicional, logo, merece voltar para o Grupo Especial. Ano passado bateu na trave e agora é hora de tentar conquistar a vaga, a sonhada vaga aí pro pessoal”, torceu Alexandre.

“Eu saio há 26 anos na Ilha e essa é uma das fantasias mais bonitas que a gente já teve. A escola inteira você olha e não tem uma fantasia feia. A escola tem muitas possibilidades esse ano para conseguir subir. De 16, só sobe uma. Tem que ter cuidado com os detalhes mínimos, que é dali que vai sair o campeão. E nós temos esperança, com certeza”, encerrou Luiz Gil.

Tradição Carnaval 2025: galeria de fotos do desfile

Segundo carro da Estácio explora, de forma pouco óbvia, a força de ativistas ambientais como Chico Mendes e Dom Philips

A Estácio de Sá desfilou na Marquês de Sapucaí na madrugada desta sexta para sábado com o enredo “O Leão se Engerou em Encantado Amazônico”, sobre a visita do leão símbolo da escola à maior floresta tropical do mundo. O segundo carro se debruçou sobre a crença nos encantados, entidades espirituais protetoras da floresta.

 

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“Os encantados amazônicos são a força da própria natureza que se ingere em algo ou algum elemento para se auto-proteger. Tem uma fala muito bonita do povo da floresta, de alguns pesquisadores que me ajudaram, de que as pessoas que perdem a vida protegendo a floresta retornam ingeridas em algum desses encantados, em outras formas, para continuar protegendo a floresta. Essa é a mensagem de grandes nomes. Existem centenas, mas os que a gente mais conhece são Dorothy, Dom Philips, Chico Mendes, que perderam a vida pela floresta. Perdem a vida, mas retornam, como encantados, para continuar protegendo a floresta”, compartilhou o carnavalesco da escola, Marcus Paulo.

Quem imaginou, contudo, que a alegoria retratasse com veracidade os ativistas escolhidos se enganou. A proposta foi uma representação estilizada, sobretudo a partir da presença da própria natureza e da utilização de cores fortes e fosforescentes.

“Cenograficamente, é onde está o pulo do gato, porque, como estou falando de Encantados que se ingerem em alguma outra coisa, você não vai ver Dom como é o Dom, Dorothy como é Dorothy, Chico como é Chico. Você vai ver essas figuras sempre ingeridas. Ingeridas em um indígena, num pajé, sucuri, numa sucuriju; ingeridas em algum animal ou em alguma planta. Apesar de eu ter esses nomes fortes defendidos, as pessoas não verão a figura ali literalmente representada”, explicou Marcus.

A visão do artista foi abraçada pela comunidade estaciana.

“Homenagear tantos ativistas ambientais é muito bacana, porque cada vez mais a gente precisa de pessoas que defendam a nossa natureza, que defendam o nosso bioma, o nosso verde e que lutem por essas causas. A gente poder também transformar isso e carnavalizar isso através dessa ideia que o Marcus Paulo está trazendo para a escola é importantíssimo”, declarou o digital influencer Diego Soares, de 39 anos, que administra a página no Instagram @didicasdorio. Experiente na Sapucaí, Diego estreou como componente da Estácio – e foi também sua primeira vez desfilando em um carro alegórico.

“Eu achei o carro e sua proposta maravilhosos. As cores estão lindas. Está bem fluorescente, bem colorido. Esse carro, para mim, tirando o abre-alas, é o mais bonito”, afirmou a responsável pelo delivery de uma pizzaria Flávia Cruz, de 38 anos, que desfila há 13 na Estácio.

“O enredo está lindo. A escola vem para vencer. Através dessas cores, a gente está trazendo a magia da Amazônia, a força, a garra, o espiritualismo. Os ativistas aqui representados vão estar batalhando também nesse carnaval, nesse carro. Tem tudo para a gente voltar para o Grupo Especial”, encerrou a nutricionista Natália Leite, de 39 anos, que completou, neste desfile, quatro anos de Estácio.

Exu Flamenguista: União de Maricá celebra identidade popular brasileira com samba, futebol e religiosidade

A União de Maricá levou para a Avenida um enredo que celebra a fusão entre samba, futebol e religiosidade, elementos centrais da cultura popular brasileira. Com enredo “Cavalo do Santíssimo e a coroa do Seu 7”, a agremiação apresentou diferentes facetas da entidade incorporada por mãe Cacilda de Assis, destacando a figura do Exu Flamenguista, inspirado na marchinha carnavalesca “Exu é Flamengo”, composta a pedido de Seu 7, um devoto flamenguista.

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Os componentes da ala oito da escola desfilaram com um visual que mesclava elementos religiosos e esportivos: capa, cartola, casaca do guardião, short acima do joelho, meião e chuteiras, remetendo a elementos da entidade e ao uniforme dos jogadores rubro-negros dos anos 70. A fantasia, que unia o sagrado e o profano, foi um dos pontos altos do desfile, emocionando o público e os próprios participantes.

Para Jaciara Azevedo, 49 anos, soldadora e torcedora do Flamengo, desfilar na ala foi uma experiência única. “Eu me sinto feliz, realizada. Quando você veste a roupa, incorpora o personagem que a ala te traz e vai embora”, compartilhou. Ela destacou que a história do Exu Flamenguista surgiu a partir da religiosidade, resultando em uma fantasia que impactou muitas pessoas. “Acredito que é um sucesso, e agradeço pela oportunidade de vivenciar esse momento na Maricá”, completou.

William Rodrigues, 56 anos, motorista de aplicativo, também expressou sua profunda conexão com a ala. Para ele, as cores preto e vermelho transcendem o futebol, representando também a religiosidade, especialmente na figura de Seu Zé Pilintra, entidade associada à malandragem. “Desfilar carregando essa identidade é uma experiência intensa e gratificante. Celebro a união entre samba, religião e tradição”, afirmou.

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Kátia Silene, 46 anos, correspondente bancária, ressaltou que a experiência de desfilar na ala vai além do carnaval. “Aqui nós temos Flamengo. Sou vascaína, mas pelo carnaval da Maricá a gente veste a roupa do Flamengo e o vascaíno vai embora pela avenida”, brincou. Ela reforçou que a mistura entre religião e cultura popular é algo que toca profundamente os participantes.

A ala “Exu Flamenguista” se consolida, portanto, como mais do que uma celebração carnavalesca. É um espaço onde a identidade popular brasileira se manifesta em toda a sua complexidade e beleza, unindo samba, futebol e religiosidade em uma experiência que emociona e inspira. Como resumiu William Rodrigues: “É a força do axé e da malandragem, celebrando a nossa cultura e a nossa fé”.

União de Maricá abre caminhos no Carnaval com homenagem a Exus e celebração da cultura afro-brasileira no abre-alas

Pedindo proteção e caminhos abertos para a sua passagem na maior encruzilhada do mundo, a União de Maricá fez de seu abre-alas uma casa de Exus, conhecida no universo das umbandas como tronqueiras. A alegoria exibiu diversas esculturas de entidades exusíacas e uma estética de pontos riscados com predominância do vermelho e preto, desenvolvida pelo carnavalesco Leandro Vieira, que uniu o sagrado ao profano para atravessar a Marquês de Sapucaí.

O CARNAVALESCO conversou com os componentes do abre-alas da Maricá sobre a importância de celebrar Exus e Pombagiras no desfile, a representatividade da cultura afro-brasileira, a luta contra o racismo religioso e a energia que essas entidades trazem para a abertura de caminhos. Os entrevistados destacaram como a alegoria da tronqueira, com suas cores rubro-negras e pontos riscados, simboliza proteção, resistência e a conexão entre o sagrado e o profano. Além disso, falaram sobre a homenagem a Seu 7 da Lira, a celebração da igualdade religiosa e a esperança de que a energia de Exu possa guiar a escola rumo ao título da Série Ouro.

“Abrir o desfile com Exus, Pombagiras, trazer o povo de rua é muito importante, porque é caminho. Não tem como ter nada sem Exu para abrir caminhos”, declarou Ester Domingos, de 25 anos, destaque central da alegoria da Maricá, que, em meio à imensidão rubro-negra, vestiu uma fantasia branca para representar a pureza e a energia positiva dos guardiões.

Se a tronqueira é o espaço estrategicamente localizado na entrada das casas para combater as energias negativas, a alegoria, para Ester, é também uma prece que a Maricá faz ao homenageado, Seu 7 da Lira. “Tomara que Exu possa abrir todos os caminhos para que a gente possa ganhar esse título”, afirmou a figurinista, que se sente fortalecida com o desfile em homenagem ao Seu Sete da Lira.

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Quem também se sente fortalecido é o estudante de Educação Física Paulo Barbosa, de 32 anos, que defendeu que a escola trouxe na alegoria uma celebração da igualdade religiosa. “É uma celebração da igualdade. Estamos falando de representatividade da cultura afro, da cultura do povo de rua, da malandragem que cuida de mim e abre todos os caminhos da minha vida, como Seu Tranca-Rua e Dona Maria Padinha, meu pai e a mulher da minha vida”, disse o estudante de Educação Física. Ele afirma que a escolha da agremiação de celebrar o sagrado na festividade profana do carnaval é uma astúcia para driblar o racismo religioso.

“Precisamos mostrar muito mais sobre a nossa religião, a nossa cultura, de onde a gente vem, para possibilitar mais troca e tolerância entre diferentes crenças”, afirmou.

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Já Vanessa Moraes, de 32 anos, afirmou que a tronqueira da Maricá energizou as pessoas para seguir adiante. “Esse carro é para as pessoas se energizarem mesmo e acreditarem que Exu é caminho e verdade. Não é uma coisa ruim, é algo pra cima. É algo positivo, é algo para a abertura de caminhos, mesmo para essa passagem do ano que a gente está fazendo para o começo do ano, logo depois do carnaval”, concluiu.

A União de Maricá, ao levar para a avenida uma homenagem a Exus e Pombagiras, transformou seu desfile em um ato de resistência, celebração e representatividade. A alegoria da tronqueira, com suas cores vibrantes e simbolismo sagrado, não apenas abriu caminhos para a escola na Marquês de Sapucaí, mas também reforçou a importância da cultura afro-brasileira e da luta contra o racismo religioso.

Ao unir o sagrado e o profano, a agremiação enviou uma mensagem poderosa de igualdade, tolerância e respeito às diversidades religiosas. Com a energia de Exu como guia, a agremiação não só honrou Seu 7 da Lira e as entidades exusíacas, mas também inspirou esperança e fortalecimento para todos que acompanharam seus próximos passos.