O ciclo do carnaval de 2025 tem um significado especial para Marcos Rezende dos Santos Nascimento. Será o trigésimo desfile em que mestre Sombra comandará os ritmistas da Mocidade Alegre, um dos sambistas há mais tempo à frente de um mesmo segmento ainda em atividade. Com o apito na boca e olhar focado, o artista de perfil discreto no dia a dia se transforma na respeitada liderança da ‘Ritmo Puro’ ao realizar a função a qual exerce, com a devida licença poética, maestria há três décadas.
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Enquanto a Morada do Samba se preparava para realizar a gravação oficial para o álbum do carnaval de 2025, o CARNAVALESCO conversou com o artista para conhecer a relação de afeto com a escola, as memórias da trajetória, ambições e a convivência familiar no meio do samba com a esposa, a presidente Solange Cruz e o filho, Carlinhos Sombrinha, que estreará no mesmo cargo que o pai exerce só que pela Pérola Negra.
O que representa a Mocidade Alegre na sua vida?
“Uma escola de samba, uma escola de vida, uma escola de oportunidades. O reconhecimento é total pela oportunidade que a Mocidade Alegre me deu de ser mestre de bateria”.
Como é trabalhar na mesma escola que a presidente Solange Cruz, que é a sua esposa? Tem alguma pressão ou algo diferente na rotina de trabalho?
“A responsabilidade é grande do mesmo jeito, como se estivesse em outro local. Eu acho que o ser humano tem que ter responsabilidade com o compromisso que assume, independentemente de onde seja. Ele tem que ter nome a zelar com o trabalho dele, essa é a primeira coisa. O que pode ser diferente no fato de ela ser minha esposa é que às vezes alguma reunião ou não, não termina simplesmente ali. A gente tem oportunidade de estar falando mais sobre alguns assuntos que se fosse em uma empresa seria só na hora e no local de trabalho, e sendo assim, no nosso caso, não. A gente fala em um final de semana ou em algum lugar alguma coisa que a gente lembra. Tem sempre algum status que pode estar pendente de alguma coisa e a gente está sempre em contato referente a isso. Acho que essa é a grande diferença”.
Como é sua relação com o intérprete Igor Sorriso e com o carro de som da Mocidade Alegre?
“Nós procuramos ser profissionais no trabalho, procuramos ser parceiros, amigos, dentro do que a gente faz, o que acho que é importante. A partir do momento em que você estabelecer rivalidade com o carro de som, você não está querendo que a engrenagem da escola funcione. Pela minha função de gestor eu tenho mais do que obrigação de ter uma responsabilidade com o nosso elenco, tratar bem o nosso elenco, porque o nosso elenco precisa da nossa gestão de forma positiva para que ele surta bons resultados. É o que, graças a Deus, vem acontecendo”.
Seu filho, Carlinhos Sombrinha, assumiu como mestre de bateria na Pérola Negra, mas ele já trabalha há algum tempo com você. Há algum planejamento para que em algum momento ele possa assumir seu trabalho na Mocidade Alegre?
“Não tem planejamento. O primeiro planejamento que tem é de formação, de ganho de experiência. É maravilhoso que ele vá trabalhar na Pérola Negra porque aí ele sai de baixo da nossa asa. Ele vai ter as responsabilidades dele porque até então ele trabalhava comigo em uma função que a responsabilidade é minha, em que todo o trabalho da direção, tudo que é feito, a responsabilidade é minha, e agora ele está tendo. Eu acho maravilhoso isso porque aí ele vai se deparar com as dificuldades que ele vai ter que ter referentes ao trabalho. Ele vai ter que estar trabalhando com outras pessoas que não são da família, que não são do convívio dele desde pequeno. Isso é importante para uma formação de um grande profissional, de um grande diretor de bateria”.
Quanto a sua história no carnaval com a Mocidade Alegre, tem algum desfile que você considere o desfile da sua vida? Por qual motivo em especial?
“Nós passamos por vários momentos de várias emoções. É lógico que tem o primeiro desfile (1995) que foi marcante, e aí você segue uma trajetória. O primeiro título (2004) é marcante, uma sequência de um tricampeonato (2012, 2013 e 2014) é marcante. Agora você vem de novo em um bicampeonato (2023 e 2024), isso vai marcando demais. As situações, a vivência que foi até chegar ao título, até chegar ao resultado final, até chegar à conquista, isso tudo vai marcando. Em uma trajetória longeva como essa tem vários momentos, você não tem como pontuar apenas um momento em especial. Eles vão sendo dias e dias construídos de vários momentos”.
E nessa trajetória tem algum desfile que, se você pudesse, apagaria?
“O de 2011. Em 2011 foi um carnaval que nós poderíamos ter chego ao título, mas com a quebra do carro a gente ficou em sétimo lugar. Foi muito doloroso porque foi um projeto ousado, caro. Foi um sacrifício até chegar lá e o carro não entrar. Esse é o desfile mais triste que eu tenho na história com a Mocidade Alegre”.
Você costuma estar sempre no Rio de Janeiro com a Solange em eventos por lá, frequentando as escolas. Quais seriam aas diferenças das baterias de São Paulo em relação às cariocas? E você já pensou em trabalhar no Rio caso um dia tenha essa oportunidade?
“Eu não penso em trabalhar lá não. Acho que é muita vaidade querer estar longe do meu eixo. É lógico que a gente tem o carnaval do Rio como uma grande referência, mas devido a tantas responsabilidades que eu tenho aqui seria querer abraçar o mundo e deixar a desejar em dois trabalhos diferentes. Eu acho que você tem que pegar um trabalho e fazer com excelência. A partir do momento em que você começa a pegar dois, três trabalhos, você vai começar a dividir o seu cansaço, o seu estresse, a sua responsabilidade. Isso não é legal, isso não é construtivo. Acho que eu tenho que continuar trabalhando em São Paulo. São Paulo me dá muitas oportunidades. Eu já fui palestrante de curso de jurado de bateria durante seis anos na UESP. Agora, a FESEC (Federação das Escolas de Samba e Entidades Carnavalescas do Estado de São Paulo) também me deu a oportunidade de estar fazendo um trabalho, então acho que a sequência do meu trabalho é por aqui no meu habitat, onde eu estou. Lógico, adoro ir ao Rio de Janeiro, tenho muitos amigos lá. E lógico, as baterias têm diferenças na forma de imprimir uma levada de caixa, na forma de imprimir uma levada de terceira. A forma de se vivenciar uma bateria é diferente. A galera que vem para tocar nas baterias também é um pouco diferente, vem de situações e vivências diferentes, tem as suas peculiaridades. Todas tocam samba com excelência. Temos excelentes baterias no Rio de Janeiro e excelentes baterias em São Paulo. Temos exímios mestres aqui também, mas cada um com a sua identidade regional porque se a gente sai andando por aí, o que você fala de bateria, em cada região tem um detalhezinho diferente. Uns mais, uns menos, um pouquinho mais evoluído, outros um pouquinho menos, e assim segue. Eu acho que isso é importante para fazer a diferença e isso torna um elo para você estar sempre aprendendo com todas as vivências, faz o universo da bateria não morrer”.