Tem enredos que já nascem com a alma pronta antes mesmo do samba ser escolhido. É o caso da Unidos da Tijuca para o Carnaval 2026. A escola do Borel resolveu olhar para uma figura que, por muito tempo, o Brasil tentou empurrar para os cantos da história. Mas Carolina Maria de Jesus nunca aceitou o silêncio. E agora, vai ecoar com força na Marquês de Sapucaí. * LEIA AQUI A SINOPSE DO ENREDO

Foto: Reprodução de internet

Com a assinatura de Edson Pereira, que chega ao seu segundo ano consecutivo na escola, a proposta é mais que um enredo: é um chamado à consciência. A Unidos da Tijuca aposta na literatura como instrumento de resistência e na palavra como ferramenta de transformação. E escolhe, com sensibilidade, uma mulher negra, catadora de papel, mãe solo, escritora brilhante e dona de uma voz que o país teimou em não querer ouvir, mas que resiste, em cada página e agora, em cada verso de samba que está por vir.

A sinopse é poderosa. Divide a vida de Carolina em capítulos, como se sua trajetória fosse um grande livro a ser lido na avenida. E de fato é. Tem trechos que doem, outros que inspiram. Em um deles, Carolina é chamada de feiticeira por andar com um dicionário. Em outro, é retratada como uma bandeira viva, feita de palavras e esperança. A narrativa propõe um desfile com cheiro de terra vermelha, com trilhos de ferro, roupas remendadas, páginas rasgadas, barracos e sonhos. Tudo aquilo que o Brasil costuma esconder, mas que Carolina sempre teve coragem de mostrar.

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A escolha também traz uma crítica silenciosa, mas certeira, ao costume de romantizar a favela no carnaval. A Unidos da Tijuca não quer mostrar a miséria como paisagem exótica. Quer exaltar a mulher que escreveu o que viveu e que viveu o que muita gente não teria força nem para descrever.

E a escola tem tudo para fazer isso com grandeza. Para 2025, viveu uma das melhores safras de sambas da disputa, provando que sua ala de compositores segue criativa, inspirada e atenta. Agora, o desafio é transformar essa sinopse em um samba que cante Carolina não como mártir, mas como autora. Não como símbolo da dor, mas como potência criadora. Não como alguém que sobreviveu, mas como alguém que brilhou, mesmo quando tentaram apagá-la.

Mais do que uma homenagem, a Unidos da Tijuca nos convida a reparar uma injustiça. A tirar Carolina do quarto de despejo da história e colocá-la no centro da avenida. Onde ela sempre mereceu estar.

Que o desfile de 2026 seja mais do que bonito. Que seja necessário e verdadeiro. E que, em cada verso a gente ouça a voz de Carolina alta, firme e finalmente respeitada.