
A Beija-Flor de Nilópolis vai voltar à Sapucaí em 2026 com a responsabilidade de quem carrega a faixa de atual campeã do Grupo Especial do Rio de Janeiro. Para isso, ela vai transformar o desfile em um ato de fé, memória e resistência. O enredo “Bembé” mergulha fundo em uma das mais poderosas expressões da cultura afro-brasileira, o Bembé do Mercado, celebração do Candomblé realizada há mais de 130 anos em Santo Amaro, no Recôncavo Baiano.
O título do enredo não poderia ser mais certeiro. “Bembé”. Uma palavra só, curta, mas com uma força ancestral imensa. Quem conhece, sente imediatamente a vibração. Quem não conhece, sente o chamado para saber mais. “Bembé” não precisa de explicação longa. Carrega o peso e a beleza de uma tradição que atravessou séculos enfrentando preconceito, intolerância e silenciamento.
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Mas a Beija-Flor não ficou apenas na ideia. Foi além. O carnavalesco João Vitor Araújo e integrantes da escola foram até Santo Amaro. Estiveram lá, ouvindo histórias, sentindo o chão, compartilhando do axé. Em uma Era em que o carnaval se reconecta com as raízes do povo, essa escuta, esse gesto de respeito, faz toda a diferença. Traz para a narrativa não só consistência, mas verdade.
A sinopse apresentada é quase um convite à emoção. Nos leva entre balaios de flores, perfumes, oferendas às águas e tambores de xirê que chamam os Orixás. O mercado vira terreiro. A rua, templo. O povo preto, protagonista da própria história. A escola promete um desfile que deve emocionar não apenas pelo impacto visual, mas pela alma. Porque o Candomblé não apenas sobreviveu: ele ocupou espaços e construiu caminhos de pertencimento no meio da cidade, no meio da vida.
E é disso que o carnaval também precisa falar. Do Brasil real, profundo, que nem sempre cabe nos livros de história, mas pulsa forte nos terreiros, nos batuques, nas festas de rua. Transformar o “Bembé” em enredo é um gesto potente, simbólico. É dar luz a uma herança cultural que ainda hoje sofre com o preconceito. É dizer, em plena Marquês de Sapucaí: essa fé é nossa, esse canto é nosso, essa rua também é nossa.
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A Beija-Flor mostra que carnaval não é só brilho e pluma. É espaço de afirmação, é ferramenta de resistência. Em tempos tão marcados por intolerância religiosa e racismo estrutural, ver a atual campeã do Grupo Especial do Rio de Janeiro exaltar um culto ancestral negro, coletivo, pulsante, é mais do que arte: é ato político. E necessário.
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