Na noite deste domingo, a Acadêmicos do Tucuruvi escolheu o samba-enredo que representará a escola no Anhembi, no Carnaval de 2026. A final foi cercada de expectativa, pois foi a primeira realizada na nova quadra da agremiação, localizada na Rua Manuel Gaya. Por isso, a comunidade e os segmentos esbanjaram felicidade. A escola agora conta com uma nova casa, ampla e estruturada para receber eventos e ensaios da Cantareira. Quatro sambas-enredo estavam na disputa. Exceto o primeiro a se apresentar (Denis Moraes e cia.), todos os outros levaram torcidas que abrilhantaram ainda mais a festa. A obra campeã foi a última a subir ao palco: o Samba 7, de autoria dos compositores Fábio Jelleya, Maurício Pito, Felipe Mendonça, Matheus Nassar e Newtinho. A apresentação foi marcada por um grande contingente de torcedores, bexigas e bandeiras, com um canto forte.
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A Tucuruvi será a terceira a desfilar no domingo de carnaval, pelo Grupo de Acesso I, com o enredo “Anti-herói Brasil”, desenvolvido pelo carnavalesco Nicolas Gonçalves.
“Não tem nada que explique. Eu sou abençoado. Tenho muita gratidão à escola, porque é o oitavo ano que participo de uma parceria que vai para a avenida, e a construção é sempre em conjunto. Tenho muito agradecimento aos meus parceiros e aos amigos que estão sempre juntos na caminhada. São oito sambas na escola do coração. Cada disputa é nova”, celebrou o compositor Fábio Jelleya, prata da casa e octacampeão de sambas-enredo na Tucuruvi.
Vencendo em casa
Jelleya também destacou o elo da parceria com a escola: “É indescritível. É a escola do coração do nosso time. Foi uma disputa acirrada com parceiros que também são amigos, mas a gente está muito feliz. Acho que conseguimos traduzir o enredo, esse sentimento do anti-herói, que é o mais importante. Só gratidão à escola, à diretoria e à comunidade… Que a gente volte para o nosso lugar”, disse.
Outro nome da parceria campeã, Maurício Pito, comemorou a vitória em casa: “A sensação é maravilhosa, de voltar para a Tucuruvi, que a gente considera nossa casa também. Foi onde começamos, há mais de 15 anos, a compor. Acho que esse momento que a escola está vivendo também é um chamado para quem tem carinho pela Tucuruvi estar aqui. E a sensação é maravilhosa”, afirmou.
Desafios da composição
O tema “Anti-herói” é amplo, mas tem como ponto de partida celebrar o povo brasileiro que vive em meio às contradições do país, utilizando figuras históricas como João Grilo e Macunaíma. A ideia é mostrar que os verdadeiros heróis do Brasil são os anônimos da sociedade. Jelleya comentou sobre o processo de criação do samba.
“Acho que foi um mergulho mesmo. Antes de começar a fazer o samba, ficamos uns 20 dias só estudando a sinopse. Tivemos uma descrição detalhada do enredo pelo Nicolas e pelo enredista Cleiton Almeida para entendermos a alma do anti-herói, porque o objetivo é levar para a avenida esse sentimento anti-heroico que está presente em cada um de nós e que também está ligado à Tucuruvi. São 50 anos de história. Foi um carnaval maravilhoso em 2025, que acabou sendo imperfeito, mas ficou no coração, como diz o refrão, e que a justiça seja feita à nossa emoção”, declarou.
Maurício reforçou que o objetivo foi seguir à risca o tema proposto: “A gente tentou seguir uma linha de entregar, logo de cara e de forma direta, o que é esse enredo: o enredo dos anti-heróis. A Tucuruvi também se coloca, em função do que aconteceu no carnaval passado, nessa posição de ‘anti’ — aqueles que têm um propósito legítimo e, muitas vezes, apesar das imperfeições, se conduzem por esse propósito. A maior parte dos brasileiros se identifica com isso. Acho que o nosso maior desafio é tentar entregar essa mensagem da forma mais clara possível”, revelou.
Pito também destacou seu trecho favorito do samba: “Acho que, a partir do trecho ‘Corre é Mil Graus’, a arquibancada vai reconhecer o herói que há em mim e em você. Porque isso resume muito esse enredo: os anti-heróis, aqueles que, apesar de falhos e de muitas vezes não terem o devido reconhecimento, são pessoas guerreiras e batalhadoras. Acho que essa parte, para mim, é a mais representativa do samba”, disse.
Visão do cantor: escolha certeira
O intérprete oficial da escola, Hudson Luiz, elogiou a capacidade da Tucuruvi de escolher ótimos temas, que resultam em grandes sambas.
“Grandes enredos geram grandes sambas, e acho que isso é natural. ‘Ifá’ em 2024 e ‘Assojaba’ em 2025 foram enredos incríveis, e o ‘Anti-herói’ também é um grande tema. Era natural que a safra fosse muito boa. Tivemos, hoje na final, quatro sambas maravilhosos, de grandes compositores que ganham vários concursos por aí. Fomos fazendo um processo para ver qual se enquadrava mais no nosso projeto, e chegamos à conclusão de que, na disputa, o Samba 7 era o que mais se encaixava. Nós estamos muito felizes pelas grandes obras que recebemos e pela escolha feita”, celebrou.
Hudson afirmou que o samba escolhido combina perfeitamente com seu estilo: “A gente vai estudando aos poucos, mas eu adorei interpretar. Na verdade, eu gravo todos os sambas, e adorei interpretar todos. Cada um com sua peculiaridade e sua característica. Mas fiquei muito feliz e confortável com esse samba, que tem uma melodia maravilhosa, passeia entre o tom menor e o maior, com um refrão do meio muito dançante. Fiquei feliz de poder receber esse samba, que caiu como uma luva para que eu possa fazer mais um bom desfile junto com a escola e, quem sabe, marcar o carnaval”, contou.
Mensagem do enredo sendo passada com sucesso
O carnavalesco Nicolas Gonçalves esbanjou felicidade ao comentar o samba vencedor. Segundo ele, a realização da final na nova quadra simboliza o crescimento da escola.
“É uma felicidade! É um enredo muito denso e complexo, e quando você vê os sambas traduzindo isso para as pessoas e elas se identificando, você sente que a mensagem chegou. Hoje foi bonito ver o povo abraçando esse samba. E o mais legal de tudo é se reconhecerem — e é isso que a gente quer: mostrar para o Tucuruvi que, apesar dos pesares, cada um aqui dentro é um anti-herói. E que está tudo bem não ser o herói campeão, porque às vezes é melhor ser esse anti-herói que faz as histórias acontecerem. É isso que o Tucuruvi vem fazendo. A escola está em uma crescente incrível, e fazer a final na quadra nova já deu uma emoção ainda maior. Agora é preparar o coração, porque vai ser emocionante, vai ser bom demais”, declarou.
Samba correto e um tema incrível
Rodrigo Delduque, vice-presidente e diretor de carnaval da escola, afirmou que todos ficaram satisfeitos com a escolha.
“É um passo bem dado, não só pela estrutura que está sendo mostrada para a comunidade, mas também pela escolha do samba. Um samba diferente do que se esperava, que supriu todas as nossas necessidades. É de uma parceria antiga da escola, que estava distante e agora voltou, conseguindo acertar. Agradecemos também a todas as parcerias que contribuíram. A parte musical da escola aprovou, os segmentos ficaram felizes. Assim, podemos idealizar um carnaval forte e de alto nível, em busca do que tanto almejamos”, disse.
Delduque também exaltou o enredo “Anti-herói Brasil”, idealizado pelo carnavalesco Nicolas Gonçalves, e elogiou seu trabalho.
“O Nicolas me surpreende a cada conversa. Quando ele trouxe o enredo do anti-herói para nós, foi difícil explicar, mas depois entendemos que não era só sobre o momento da escola, e sim sobre o momento do brasileiro. É um enredo extremamente inteligente, desenvolvido por ele e pelo Cleiton, no qual exaltamos o trabalho. O resultado é importante, mas exaltamos também o trabalhador do dia a dia, do nosso universo, que nem sempre volta com a vitória para casa, mas que não deixa de trabalhar e de correr atrás dos seus sonhos”, concluiu.