O Paraíso do Tuiuti promete um dos momentos mais marcantes do Carnaval deste ano com a sua quinta alegoria que celebra o acolhimento, a inclusão e a força do Traviarcado, um termo que simboliza o empoderamento das pessoas trans e travestis na sociedade brasileira. No centro dessa grandiosa alegoria, estarão 29 personalidades trans e travestis de diferentes gerações e áreas de atuação, representando a resistência, a arte, a política, a cultura e o ativismo LGBTQIAPN+.
O carro, que trará uma cenografia imponente inspirada em templos de acolhimento e resistência, será adornado com elementos simbólicos como asas douradas, espelhos gigantes e um grande abraço esculpido, representando a proteção e o amparo da comunidade LGBTQIAPN+. A alegoria reflete a importância da inclusão e da valorização de corpos historicamente marginalizados no Brasil.
‘’Estar aqui hoje é sem dúvidas o melhor momento de uma reparação histórica brasileira. O Brasil é um país que mais assassina a população de travestis e transexuais, mas ao mesmo tempo é o que mais consome a pornografia trans, esse enredo se faz muito necessário, fazer esse momento de visibilidade desse corpo transvestigênero, nesse espaço, que é a maior festa do mundo e que vai estar aí colocando em volta a população de travestis que vive na esquina, que vive na rua e que não tem escolaridade, que não tem empregabilidade e que não tem o nome garantido. Estaremos todas travestis, a maioria assim vários estados, são 28 traviarcas do movimento trans no Brasil que serão homenageadas em vidas. A gente tem o costume de homenageá-las mortas e nesse momento a importância para mim é dizer que eu estou viva para ver uma escola falar sobre a população travesti e transgênero no Brasil’’, declara Mara Cunha, Diretora executiva do grupo conexão G, uma organização que trabalha com a população LGBT de favelas.
Entre as homenageadas, nomes como Isa Silva, estilista brasileira e Monique Reis, a primeira mulher trans a fundar e presidir uma escola de samba no Brasil, a Imperatriz do Morro de Taubaté, primeira jornalista a fazer a cobertura de um carnaval e a primeira historiadora chefe do Jornal do Brasil.
Para Isa Silva, é muito importante estar nesse lugar de destaque em um desfile que faça sobre Xica Manicongo. ‘’O Brasil é o país que mais mata pessoas trans e quando o Tuiuti traz isso para o carnaval está entrando na televisão das pessoas, onde minha avó assistia, onde todas as pessoas assistem e apresentam para a família brasileira quem somos, as nossas travestis. Isso é muito importante, a gente está entrando pela porta da frente na casa das pessoas’’, relata a estilista.
Isa diz estar tão honrada com o convite e muito feliz de estar com outras mulheres nessa alegoria, como cantoras, atrizes, advogadas e ativistas.
Já Monique Reis se emociona ao falar sobre o significado do desfile ‘Minha vida é carnaval, amo carnaval, nunca imaginei estar aqui sendo homenageada, já me imaginei de estar aqui musa, mas sendo homenageada é algo que superou todas as expectativas e eu espero que o traviarcado agora mostre sua força e seja igual a repartição pública, toda escola de samba que tiver uma travesti que coloque uma foto do Jaque no quadro porque ele merece. Estar aqui é o resultado de uma vida. Em 1994, eu estava na minha casa com a minha avó, eu vi a Imperatriz Leopoldinense com os leques do Fábio de Melo e eu decidi amar o carnaval, fundei a escola chamada Imperatriz do Morro, que é a filha da Imperatriz Leopoldinense e já fiz muita coisa, dediquei minha vida por isso. Viva Jaque, viva a Tuiuti, viva o traviarcado e eu sou travesti’’, declara a jornalista.
As fantasias foram desenhadas para refletir a diversidade e a grandiosidade dessas personalidades. Cada uma delas usará figurinos inspirados em divindades e realeza que tem a ver com a origem de Xica Manicongo. ‘’Esse último carro foge um pouco do restante da história da escola para partir mais para a atualidade de realeza e vem as mulheres, mulheres trans, travestis que são importantes para comunidade no Brasil. Ele tira um pouco dessa característica de carnavalesco e coloca mais como realeza com essa despegada mais colorida e com a pegada e representação de cada mulher trans que está vestindo ele’’, relata Samira Fiori, aderecista da escola.
A alegoria retrata uma Xica Manicongo estilizada com uma estética ‘’queer’’ em tons de rosa assentada na frente do movimento traviarcal, onde todas estão super coloridas como se fossem um arco-íris.
O Paraíso do Tuiuti, que já tem tradição em enredos politizados e sociais, escreve mais um capítulo importante no Carnaval carioca. O carro do acolhimento e da inclusão não será apenas uma alegoria desfilando na Sapucaí, mas um símbolo de luta, orgulho e pertencimento.