Uma das maiores obras do mito da Literatura Brasileira, Ariano Suassuna, “O Auto da Compadecida” será enredo no carnaval de 2025. A Unidos de Lucas levará para a Intendente Magalhães “As lambanças de dois cabras da peste, o testamento, alguns tostões e o livramento da Compadecida”, desenvolvido pelo carnavalesco Lucas Lopes.

unidosdelucas2025

“É um enredo que por si só é forte e conta uma história que todos conhecem. Levaremos uma adaptação carnavalesca da grande obra de Ariano Suassuna. As loucuras de Chicó e João Grilo vão encantar a todos mais uma vez e fortalecer essa obra em outro nível artístico. Fico feliz em poder transformar essa obra em carnaval”, revelou o carnavalesco Lucas Lopes.

O Auto da Compadecida representa o equilíbrio perfeito entre a tradição popular e a elaboração literária que ao recriar para o teatro episódios registrados na tradição popular do cordel, foi capaz de envolver a nação brasileira com muita história e humor. Sendo um drama do Nordeste brasileiro, “O Auto da Compadecida” mescla elementos como a tradição da literatura de cordel, a comédia, traços do barroco católico brasileiro e, ainda, a cultura popular e as tradições religiosas e outros regionalismos relativos ao Nordeste.

A Unidos de Lucas desfilará na Intendente Magalhães, pela Série Prata do carnaval carioca.

Confira a sinopse

Enredo: “As Lambanças de Dois Cabras da Peste, o Testamento, Alguns Tostões e o Livramento da Compadecida”

APRESENTAÇÃO DO ENREDO.

O G.R.E.S. Unidos de Lucas apresenta o enredo “As lambanças de dois cabras da peste, o testamento, alguns tostões e o livramento da Compadecida” rumo ao Carnaval de 2025. O tema levará uma versão carnavalesca de “O Auto da Compadecida”, uma das maiores obras do mito da Literatura Brasileira, Ariano Suassuna.

O Auto da Compadecida representa o equilíbrio perfeito entre a tradição popular e a elaboração literária que ao recriar para o teatro episódios registrados na tradição popular do cordel, foi capaz de envolver a nação brasileira com muita história e humor.

Sendo um drama do Nordeste brasileiro, “O Auto da Compadecida” mescla elementos como a tradição da literatura de cordel, a comédia, traços do barroco católico brasileiro e, ainda, a cultura popular e as tradições religiosas e outros regionalismos relativos ao Nordeste.

Esta peça projetou Suassuna em todo o país. Em 2000, inspirou o filme homônimo dirigido por Guel Arraes.

SINOPSE DO ENREDO

Oxente! Espie, que o GRES Unidos de Lucas vem contar uma história que até Deus duvida!
Não, ele não duvida, seu filho presenciou e até a Compadecida se meteu!

Essa história mostra a luta de um povo, a cara do Brasil representado em cordéis, em linguagens e na cultura popular lá do interior do sertão nordestino. Um povo que faz de tudo para vencer na vida! Contra a fome, a miséria, a violência e a pobreza, mesmo que surjam alguns tostões de réis em troca! E que comece o auto!

Dois amigos arretados, Chicó e João Grilo, que adoravam se meter em confusão, caminhando no sertão vai Chicó contar que teve um cavalo que era “bento”. Sua antiga dona afirmava que ele era “bento” mesmo e que era para ter muito cuidado, e Chicó acreditava mesmo! Um dia, ele e o cavalo correram atrás de uma garrota das 06 da manhã até às 06 da noite, sem parar.

Corria atrás de boi, sem reclamar de nada e quando o cachorro da mulher do padeiro estava nas últimas e o patrão queria que o bichinho fosse benzido pelo padre com a esperança que o cachorro melhorasse. Foi João Grilo e Chicó atrás do padre na igreja, pedir para que o cachorro fosse benzido.

O padre, que não gostou nem um “tantinho” dessa história, achou um absurdo e disse que não! João então, teve a ideia de dizer que o bicho era de Antônio Moraes, um major temido por todos. O padre, todo sorridente, começou a pensar melhor na possibilidade de benzer o bichinho, e vendo que não teria mal nenhum em abençoar as criaturas de Deus, estava por um triz de aceitar. Chicó ficou foi assustado com a invenção do seu amigo em acrescentar o major na história, igualzinho como o dono do cachorro para conseguir o fato, e começou a reclamar achando que isso não poderia dar certo. De repente, o major entra na igreja, João Grilo tratou logo foi de tentar se safar do que poderia vir! Inventou para o major que o padre estava louco, querendo benzer tudo! O Major estranhou…

Chicó até tentou fugir, mas João agarrou-o pelo pescoço, obrigando-lhe a ficar! O padre encontrou o major, e foi logo perguntando sobre o bichinho. O major, claro, não entende é nadinha e logo pensa que o padre está falando de sua esposa e se aborrece, mas então João que ali estava quietinho assistindo a confusão se instaurar, intercede pelo padre e pede para que Antônio Moraes vá embora e seu pedido é atendido.

A mulher do padeiro chega desesperada na igreja, implorando para o cachorro ser benzido, mas o padre continua firme com a sua resposta. O padeiro aparece e questiona o padre que se o cachorro do major pode, por que o dele não pode ser benzido?! Ele lembra que é uma figura relevante, pois era o presidente da Irmandade das Almas. João até tenta ajudar os patrões, mas o padre continua com o não na boca. A mulher então se enfurece e diz que vai acabar com as doações que dava para a igreja, cobrando até a vaca que forneceu para dar leite para o vigário! O sacristão chega querendo saber do acontecido e acaba se envolvendo na confusão!

Ao olhar para a porta, o cachorro, tadinho, estava morto, para desespero de sua dona:
“- Ai meu Deus, meu cachorrinho morreu!”.
Chicó confirma a morte do bichano.
A mulher pede para o padre que enterre seu cachorro em Latim.
O padre se espanta e acha um absurdo e diz que não!
O padeiro, revoltado, ameaça cortar o rendimento da irmandade.

É aí que então, João solta no ar um “causo” sobre um testamento que o cachorro deixou, comentando com a patroa sobre a parte em dinheiro doada para o padre e o sacristão.

Curioso, o sacristão pergunta se realmente o cachorro deixou um testamento e João Grilo confirma. É aí que as coisas mudam! O sacristão até se emociona com a boa ação do cachorro e convence o padre a fazer o enterro em Latim do bicho, para alívio dos donos!

O padre, revoltado com João por ter descoberto a enrascada que ele se meteu por culpa dele que envolveu o major Antônio Moraes, encontrou João Grilo e descascou em cima dele! Ai, ai, ai… O bispo acaba descobrindo sobre o enterro do cachorro em Latim e fica furioso! Ameaça suspender o padre e demitir o sacristão!

João tenta limpar a barra dos dois e conta sobre um testamento que o cachorro deixou e inclui o bispo no repasse do dinheiro. Logo, ele muda de opinião dizendo que os animais também são criaturas de Deus, interessado nos tostões que iria ganhar, claro!

Sabe do gato que descome dinheiro? Sabe não?! Mais um plano ardiloso de João para faturar em cima da mulher do padeiro!

Chicó se assusta e pergunta:
– Descome dinheiro, João? Que retruca
– Sim, descome dinheiro, come ao contrário!

João então, pede para Chicó que enfie 10 contos de reis na traseira do gato e pediu para ele aguardar ser chamado. Ele atende o pedido do amigo, visando ganhar algo em troca.

Ao encontrar com a mulher do padeiro, João oferece o gato, afirmando que o gato descome
dinheiro. Ela, curiosa, se anima e pede que João mostre essa faceta diferente de um gato. João chama Chicó e pede para trazer o gato e mostra que o gato descome dinheiro, tirando 5 tostões de reis do bicho.

Incrédula, ela pede para fazer novamente e João tira mais alguns trocados do gato surpreendendo a mulher do patrão que topa ficar com gato em troca de 500 contos e ainda ameaça demitir João caso não aceite a proposta! João aceita e ela sai feliz com a nova aquisição, elogiando o bichinho, achando que tiraria o prejuízo do enterro do outro animal.

Passado algumas horas, o padeiro aparece arretado ao descobrir que o gato não descome dinheiro e que era mais uma trapaça do João Grilo! De repente, ouve-se gritos de desespero e a mulher avisa: “O temido Severino de Aracaju e o seu cabra cangaceiro acabam de chegar na cidade”, para o desespero de todos! A polícia foi chamada, mas correu com medo! É Ave Maria para cá, Ave Maria para lá e então Severino aparece falando alto “Avisa quem correr, morre!”

O Bispo finge desmaio, mas logo é acordado por Severino, mandando-o parar com o chilique, logo após pegar os tostões de todos os presentes.

A mulher do Padeiro então, chega cheia de graça arrastando asa para o capitão que logo avista a aliança no dedo e se estressa por uma mulher casada estar se exibindo para outro dentro da
casa de Deus. Logo, Severino ameaça matar a todos, que sentem suas espinhas gelarem e suas
mortes chegarem!

O primeiro a partir foi o bispo, deixando o sacristão e o padre tremendo de medo: Severino mira o seu rifle, dá um tiro e adeus bispo.

Chega a vez do padre, que tenta jogar o sacristão para ir primeiro. Para não ter briga, Severino decide matar os dois juntos, “casando” os dois com a morte. Dois tiros dados e adeus Padre e Sacristão.

Os próximos? O padeiro e a esposa safada! O padeiro pede um último desejo e surpreende a esposa em pedir para que a mate primeiro. Severino atende o pedido, porém na hora o padeiro abraça a esposa e com um só tiro acerta os dois.

Vem chegando a hora de João Grilo, que já vinha pensando em mais uma para tentar se safar da morte: João oferece um presente peculiar para Severino, uma gaita que que faz morto viver, que seria abençoada por Padre Cícero, ele se espanta soltando um: “- Que conversa é essa? Gaita que cura ferimento de rifle?”. Severino pede para que João o mostre o funcionamento da tal gaita.

João pega o punhal de Severino e diz que vai dar uma punhalada em Chicó que se assusta,

João cochicha tentando lembrá-lo da bexiga com sangue que tirou do cachorro, mas seu amigo não entende e reclama. João então, dá uma punhalada no seu amigo e logo após começa a tocar a gaita. Chicó entende a traquinagem do amigo e após se jogar no chão fingindo estar morto, começa a se mover no ritmo da música e vai se levantando e dançando para espanto de Severino.

Chicó, diz que viu Nossa Senhora e o próprio Padre Cícero no céu e que o mesmo disse que abençoou a gaita, com isso João oferta a Severino a gaita, em troca de ser liberado junto de Chicó. Severino retruca e diz que seria injusto com os outros que já partiram e que não queria ser assombrado por eles. João, esperto, diz que a gaita daria a oportunidade de Severino conhecer o seu santo de devoção e que ainda traria ele de volta a vida. Então, ele sugere que o cangaceiro dê um tiro em Severino, para ele conhecer o santo e que logo em seguida tocaria a gaita para trazê-lo a vida. Severino topa o suicídio, o cabra cangaceiro reluta ao homicídio, porém é obrigado a atirar no capitão que cai morto.

O cangaceiro se desespera e logo pede pra João tocar a gaita, mas João diz para dar um tempo Pra que Severino conhecesse o santo. O cangaceiro logo cai na real sobre a farsa de João e entra em luta com os dois amigos, João então pega o punhal e acerta o cangaceiro. Os dois pensando que tinham se livrado da morte, fazendo planos e tudo sequer percebem que o cangaceiro tinha morrido é nada! Ele aponta a arma e atira em João Grilo, que cai para desespero do Chicó e então João se foi.

Acordando em uma igreja, que servia de entrada para o céu ou purgatório, João encontra os demais mortos em espera de serem chamados para seus julgamentos, quando de repente me aparece o diabo para controlar a hora da verdade. O “encourado”, que quer levar todos para o inferno é questionado, claro, por João sobre o julgamento. João reclama sobre não ter direito a uma apelação e que para o chifrudo condenar alguém, tem que ouvir os condenados. João então, se ajoelha e clama pelo senhor Jesus Cristo para haver um julgamento justo e não só ser entregue para o diabo e como um sonho esfumaçado, Jesus aparece e manda todos se reunirem para começar o julgamento.

O encourado começou a ler as acusações dos mortos:
– O bispo tinha uma lista grande;
– O padre debochou dizendo que não tinha nada, mas o “encourado” desmentiu dizendo que toda a acusação que disse do bispo poderia ser aplicada ao padre e com mais um agravante, a preguiça por deixar tudo nas costas do sacristão resolver;
– O padeiro e sua mulher são julgados por serem os piores patrões que a cidade já teve, além da avareza do marido e dos adultérios da mulher. “Cada um é pior que o outro”;

– Na vez de Severino, o “chifre ruim” ri tamanhas foram as mortes que ele provocou, Severino concorda e não nega;

O Diabo em um suspiro (in)feliz aponta que as coisas estavam feias para todos, causando pânico nos julgados. Jesus então concorda com o “encourado”, pois eram acusações graves.

Eis então que me surge João Grilo se manifestando sobre ainda não ter sido julgado. O “chefe do fogo debaixo da terra”, então começa a dizer as acusações de João:
– Armação das mais variadas trapaças envolvendo todo mundo.

João, não satisfeito, pede licença e começa a clamar por outra santidade, a mãe da justiça, advogada dos pobres, recitando em versos:

“- Valha-me Nossa Senhora, Mãe de Deus de Nazaré! A vaca mansa dá leite, a braba dá quando quer. A mansa dá sossegada, a braba levanta o pé. Já fui barco, fui navio, agora sou escaler. Já fui menino, fui homem, só me falta ser mulher. Valha-me Nossa Senhora, Mãe de Deus de Nazaré.”, quando logo, descendo de uma nuvem branca e afofada, surge reluzente a linda Nossa Senhora!

A compadecida ouve as acusações. Defendeu a todos, tentando convencer seu filho, Jesus, de que todos ali estavam apenas querendo sobreviver com as mazelas de onde vivem. Jesus, tentou, mas acatou ao pedido da Compadecida, mas ainda achando que todos deveriam pagar de alguma forma as coisas ruins que fizeram.

João então se manifesta novamente com uma nova ideia, sugerindo que todos fossem para o purgatório pagar os seus pecados, menos ele, pois queria uma nova chance de voltar a vida. Jesus estranha, mas sua mãe acha uma boa ideia. Todos os julgados concordaram em não ir direto para o inferno e agradeceram a João Grilo. O “encourado” que não gostou de nada, revoltado, tentou atacar João, mas a Compadecida o fez voltar para o inferno arrastado, sem levar nenhuma alma.

Jesus e sua mãe concordam em levar João a vida novamente, que fica todo feliz e agradecido pela nova oportunidade. Pegou seu chapéu e voltou. Chicó já ia levando o corpo do seu amigo, reclamando do peso. Quando ele ouviu um barulho estranho, de alma assombrada.

João ergueu a cabeça e viu seu amigo tremendo de medo, clamando pela Nossa Senhora. Até que João salta e diz: “- Estou aqui, Chicó!”. Morrendo de medo, Chicó não acredita no que seus olhos veem e acha que era a alma do amigo. João dá um tapa em Chicó e pede para que ele aperte seu braço, que acaba acreditando que o João voltou a viver. Os dois comemoram o milagre.

João se lembra do dinheiro de um testamento, Chicó começa a resmungar desesperado e confessa que fez uma promessa para caso o amigo saísse dessa. João sem entender, pergunta o porquê da reclamação e Chicó confessa sua promessa ao amigo que solta: “- Ah, promessa desgraçada! Ah, promessa sem jeito!”. João questiona o amigo informando que não fez promessa nenhuma exigindo que o Chicó pague com a sua parte, mas João estava morto e ele ficou responsável por todo o dinheiro e então prometeu todo o dinheiro.

João volta a reclamar, mas os dois aceitam doar a quantia para a Nossa Senhora pelo milagre que foi a ressuscitação de João.

João agradece a sua “advogada” que intercedeu por ele, mas deu uma bronca no amigo para tomar cuidado com as coisas que ele promete! Lá do céu, Nossa Senhora ri da inocência dos amigos indecentes e abençoa seus caminhos que com certeza serão cheios de “jeitinhos” para sobreviver enquanto os dois vão embora mundo afora.

Se isso tudo é verdade? E você vai duvidar de Jesus, Nossa Senhora e o “Cramunhão”? Eu
não duvido! Se é verdade eu não sei, só seu que foi assim!

Lucas Lopes.
Carnavalesco