A secretária de Cultura do Estado do Amapá, Clicia Vieira Di Miceli, esteve no Rio de Janeiro no início de agosto para visitar a Estação Primeira de Mangueira, o barracão da escola na Cidade do Samba, e acompanhar a Noite dos Enredos, ocasião em que a Verde e Rosa apresentou detalhes de seu enredo para o próximo carnaval: “Mestre Sacaca do Encanto Tucuju – O Guardião da Amazônia Negra”, que levará à avenida a vida e o legado cultural de Mestre Sacaca, uma das figuras mais importantes para a cultura amapaense. O ano de 2026 marca o centenário de seu nascimento.
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Clicia falou sobre como a figura de mestre Sacaca é vista e de que forma foi descoberta pela Mangueira durante as pesquisas para a construção do enredo. Destacou, ainda, a maneira como a escola tem tradição em valorizar grandes nomes da história e da cultura do Brasil, ressaltando que o “doutor da floresta” representa a intersecção entre conhecimentos indígenas e africanos dentro da perspectiva amapaense, além de outros aspectos culturais.
“A Mangueira tem essa tradição de mostrar os personagens e as histórias do Brasil, que a gente sabe que precisam ser contadas e conhecidas por muitos. Nessa busca da escola, chegaram a um dos grandes personagens da cultura amapaense, que é o mestre Sacaca, como fio condutor para traduzir a história do Amapá, porque essa é a história dele. O Sacaca é um homem negro, mas que, como parte da Amazônia amapaense, adquiriu conhecimentos com os indígenas também. Essa herança ancestral africana e indígena o habilitou com muitos saberes, pela intimidade que tinha com as ervas, com a floresta e com a responsabilidade com o ambiente em que viveu. Além disso, ele foi Rei Momo do Carnaval do Amapá por muitos anos, sendo símbolo de vários aspectos da cultura e traduzindo o nosso sentimento e a nossa alma amapaense”.
A secretária também comentou sobre o diálogo entre o Estado do Amapá e a Mangueira, explicando como a ponte foi estabelecida por nomes como o presidente da Embratur, Marcelo Freixo, e o senador Davi Alcolumbre, a partir das pesquisas da escola sobre mestre Sacaca, figura-símbolo da Amazônia Negra presente no estado.
“Nessas pesquisas, chegaram a esse nome e, a partir daí, começou o diálogo entre a Mangueira e o governo do Amapá. Algumas pessoas foram importantes nesse processo, como o Freixo e o senador Davi, que é uma figura pública ligada ao estado. O Freixo, com essa conexão, colocou a Mangueira e o governo do Amapá em diálogo. A partir dessa grata surpresa, temos o Amapá como enredo da Mangueira, porque, quando você lê o enredo, percebe vários elementos que representam o estado. O Encanto Tucuju vai direcionar o Amapá e a Amazônia Negra também, porque o Amapá tem a particularidade de ser o estado mais preservado do Brasil, com mais de 95% de sua floresta em pé. A capital, Macapá, é cortada pelo Rio Amazonas. Todos esses elementos atribuem ao Amapá grande qualidade cultural e ambiental, e o mestre Sacaca traduz toda essa forma de ser do povo amapaense”.
Segundo Clicia, o governo do Amapá já vem auxiliando a Mangueira nos acessos e pesquisas, garantindo suporte para que a equipe da escola compreenda e represente fielmente a cultura do estado pela visão de Mestre Sacaca.
“A partir desse diálogo, houve um empenho total, com conversas que foram avançando e consolidando o desejo de ser o enredo da Mangueira. A partir do momento em que foi consagrado e acordado, começou a pesquisa. A Mangueira já enviou ao Amapá, em várias ocasiões, a equipe de criação, com o carnavalesco Sidney França, juntamente com Sthefanye Paz, Felipe Tinoco e tantos outros, que buscaram entender a cultura desse estado que está dentro da Amazônia, mas que é a Amazônia Negra. Essa imagem de floresta, de rio, de comunidades tradicionais indígenas permeia o imaginário de quem olha para a Amazônia, mas o Amapá também possui uma forte presença de população negra, que guarda memória e tradição, principalmente a cultura do tambor. Esse é o Amapá que a Mangueira vai levar para a avenida, com Sacaca como símbolo e porta-voz, traduzido em alegorias, alas e samba, para falar do estado por meio da cultura e do espetáculo que é o Carnaval do Rio de Janeiro”.
Clicia também destacou a participação das escolas de samba amapaenses na disputa de samba-enredo da Verde e Rosa, como forma de valorização da cultura local e do samba em um estado distante dos grandes polos de Rio de Janeiro e São Paulo. Ressaltou ainda que a realização da etapa da eliminatória no Amapá é fruto direto do diálogo entre a escola e o governo.
“A eliminatória para a escolha de um samba no Amapá, que depois virá concorrer na disputa aqui no Rio de Janeiro, é a prova desse diálogo. A Mangueira abriu essa edição para trazer sambas do Amapá, revelando os compositores locais e a forma como traduzem o estado. Claro que o Rio tem grandes compositores e muitos sambas bons serão produzidos para esse enredo, mas no Amapá também existe essa riqueza. E qual a diferença? É quem vive lá, quem se banha no Rio Amazonas, quem vive nessa floresta, quem tem intimidade com todos esses elementos que Sacaca tanto nutriu: o Carnaval, a medicina da floresta, a relação com os povos tradicionais. Esse samba será construído pelo olhar de quem vive ali, e acredito que isso trará um tempero especial à disputa. Tenho certeza de que teremos um samba amapaense na grande final, e isso é motivo de muito orgulho para nós, amapaenses”.
Por fim, a secretária de Cultura destacou a primeira visita oficial ao Rio de Janeiro e à Mangueira, realizada junto de uma comitiva composta por Armstrong Souza, um dos filhos de mestre Sacaca, pelo presidente da Liga das Escolas de Samba do Amapá, Jocildo Lemos, e pela primeira-dama do estado, Priscila Flores.
“Hoje é a nossa primeira visita oficial em nome do governo do Amapá, e estamos conhecendo a Estação Primeira de Mangueira. É uma emoção enorme chegar e pisar pela primeira vez na escola, podendo fazer uma imersão na produção. A Mangueira é símbolo da cultura brasileira. O Amapá será traduzido por essa grande porta-voz, e viver isso não tinha como não ser especial, com a presidenta Guanayra mostrando todo o investimento, todo o olhar e toda a atenção, já fruto das pesquisas realizadas no estado. Agora, já vemos refletido em protótipos o que a Mangueira levará para a avenida. Já pinta o clima de que a Mangueira será campeã de 2026, levando o Amapá para a Sapucaí com Mestre Sacaca, o Encanto Tucuju e a Amazônia Negra”.