A Acadêmicos de Niterói entrou na avenida como a sétima e penúltima escola a pisar na Marquês de Sapucaí nesta segunda noite de desfiles da série Ouro, com o enredo “Vixe Maria”, sobre a festa de São João de Maracanaú, das maiores do país. E a escola apresentou todos os elementos de uma grande festa junina num desfile de alto nível de fantasias e sobretudo alegorias, dos melhores conjuntos do ano. Tiago Martins foi muito feliz no colorido que empregou em todos os setores da agremiação, assim como na concepção das excelentes alegorias apresentadas pela Niterói. A escola ainda conta com um contingente reduzido de componentes, o que resultou numa evolução rápida com a totalidade da escola chegando no setor final antes do tempo mínimo e dando uma segurada por mais alguns minutos. O canto da escola foi satisfatório, mas algumas alas não acompanharam. Comissão de frente e casal de mestre-sala e porta-bandeira abriram com muita competência o desfile da Niterói, arredondando o conjunto que faz a escola sonhar com sua melhor colocação em sua curta trajetória. Fechando os quesitos de alto nível da agremiação, o samba se mostrou gostoso de ouvir durante o desfile e rendeu muito bem, com desempenho firme do veterano Nêgo.
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Comissão de Frente
A comissão comandada por Fábio Batista apresentou uma grande quadrilha num palco itinerante como um pau de arara. A coreografia foi toda realizada em cima do tripé, e foi uma bela comissão. Efeitos de fogo nas laterais do palco, um sanfoneiro que na parte final da coreografia evoluía na parte de cima da pilastra. Uma comissão alegre e dinâmica que teve boa recepção do público em todas as cabines. No segundo módulo de jurados o led do balão presente no tripé apagou, enquanto nas demais cabines passou normalmente aceso.
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Mestre-Sala e Porta-Bandeira
Vinicius e Jack Pessanha desfilaram com uma fantasia representando os noivos da festa junina, e mostraram todo o entrosamento conquistado após quase três décadas de parceria. No embalo dos 40 pontos obtidos no ano passado, eles se apresentaram com muita firmeza e similaridade rítmica entre ambos, realizando uma dança limpa e fluida, além da elegância nos movimentos. Apenas no terceiro módulo num movimento
de muita proximidade entre os dois, Jack resvalou com a bandeira na cabeça da fantasia de Vinícius. Nos demais módulos a apresentação foi realizada sem erros.
Enredo
Niterói apresentou seu enredo dividido em três setores. No primeiro “A Quadrilha Niterói Chegou!”, representado pela comissão de frente, casal de mestre-sala e porta-bandeira, primeira ala e o abre-alas trazendo uma grande fogueira. No segundo setor “O surgimento da festa junina”, a origem dessa manifestação em festas da alta sociedade europeia, a chegada ao Brasil e suas comidas típicas. No terceiro setor, “Fé na Festa”, a parte de devoção da festa junina, a celebração aos santos e ao Padim Padre Cícero. Um enredo desenvolvido com clareza e de maneira bem amarrada por Tiago Martins falando da história desta manifestação popular, dos seus símbolos maiores e da ligação com a religiosidade, porém o São João especificamente de Maracanaú acabou ficando escondido no enredo.
Alegorias
A escola trouxe três alegorias, a primeira denominada “A grande fogueira”, simbolizando o surgimento deste elemento tão tradicional das festas juninas. Um belíssimo abre-alas, bem iluminado e com muito capricho em cada detalhe da alegoria, das melhores alegorias do grupo neste carnaval, o único senão foi uma das lâmpadas da lateral do carro passar apagada. O segundo carro “Feitos por Maria, a herança do interior da festa”, trazendo quitutes e rendas apostou em muitos componentes nas laterais da alegoria e agradou, porém apresentou problemas mais evidentes de acabamento no topo. A terceira e última alegoria mostrou “A fé junina”, e teve uma concepção mais simples, mas de leitura imediata com muitas velas e esculturas de santos, e este carro passou intacto em termos de acabamento. Pequenas falhas num excelente conjunto de alegorias trazidas pela Niterói.
Fantasias
Se o conjunto de fantasias da Niterói impressionou menos que as alegorias, teve um grande acerto em sua leitura, a grande maioria de captação imediata. Bastante uso de figuras quadriculadas, tradição nas roupas juninas e muito colorido. Algumas alas tiveram problemas de elementos caindo durante o desfile, como a ala 16, “Viva São Pedro” que teve a parte traseira tombando em várias fantasias. Ainda assim, no geral a escola trouxe fantasias bonitas.
Evolução
Enxuta e sem problemas para evoluir na pista, a escola avançou com tranquilidade chegando no setor final com 43 minutos, e passou a segurar o ritmo para não terminar antes do tempo mínimo de 45 minutos. Niterói ficou alguns minutos parada, o que tirou um pouco da fluidez da evolução da escola, terminando sua apresentação em 52 minutos. Foi uma evolução compacta e sem espaçamentos por parte da agremiação azul e branca.
Harmonia
Na maior totalidade de suas alas a Acadêmicos de Niterói apresentou um canto satisfatório, sem maior explosão, mas com os componentes sustentando o samba, sobretudo nos dois refrãos que tiveram força semelhante. Algumas alas deixaram a desejar, fazendo o conjunto ter alguma irregularidade. O número pequeno de componentes também contribuiu para um canto que soou mais morno. A escola acabou tendo mais êxito em sua parte artística do que nos quesitos de chão.
Samba
O samba da Niterói se mostrou bastante funcional na avenida e passou de forma agradável em todo o desfile da escola. A obra de Totonho, Julio Pagé, Osmar Fernandes, Gabriel Machado, Mano Gaspar, Marcelinho Santos, Romeu D’Malandro, Edu Casa Leme, Soares do Cavaco e Flavinho Avellar mostrou força principalmente nos dois refrãos, ambos com uma subida nas notas que alavancou o canto dos componentes, e bem sustentados pelo intérprete Nego que esteve em mais uma boa apresentação de sua carreira, em entrosamento com seus auxiliares do carro de som. Destaque também para o trecho antes do refrão principal, “Santo Antônio dê meu par / Padim Ciço estou de pé / é São Pedro o pai do tempo / guia o povo São José / eis o que vem de berço / devoção à fé junina / visto amor e saio à rua / pra viver a minha sina”.
Outros destaques
Uma das fantasias mais criativas da escola foi da ala das baianas, vestida de plantação de milho, um efeito que funcionou bastante. Todos os destaques de alegorias estavam extremamente bem vestidos, ornando bem com os carros e contribuindo para o ótimo visual da escola.