Por Rafael Soares, Guibsom Romão, Maria Clara, Matheus Morais e fotos de Allan Duffes
O Acadêmicos do Salgueiro foi a terceira e última escola a realizar seu ensaio técnico na noite deste domingo na Sapucaí. E o que se viu foi uma grande apresentação. As arquibancadas e frisas já pulsavam com o esquenta, entoando o icônico samba de 1993, “Peguei um Ita no Norte”, além do samba exaltação do Salgueiro, balançando as bandeirinhas distribuídas pela escola. Logo que o samba-enredo de 2024 começou a ser cantado, a sua força ficou nítida. Uma entrada imponente da agremiação embalada pela obra que é considerada por muitos como a melhor do ano. A harmonia da comunidade salgueirense foi excelente. Um nível de canto muito potente, com grande ápice nos refrões. A evolução se mostrou aguerrida e em ritmo perfeito. Atuações magníficas de Emerson Dias, no microfone principal, e da bateria dos mestres Gustavo e Guilherme, exibindo uma cadência no ponto certo para o desfile da agremiação. A comissão de frente, de Patrick Carvalho, apresentou um belo número, contando até com efeitos especiais, valorizando o sambista presente na avenida. E, como é costumeiro, o casal de mestre-sala e porta-bandeira, Sidcley e Marcella, deram mais uma aula de bailado, mesmo com a pista molhada pela chuva. Uma escola feliz com seu enredo e samba, e forte para se colocar na disputa pelo título do carnaval. * VEJA FOTOS DO ENSAIO
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O Salgueiro será a terceira agremiação a desfilar na Marquês de Sapucaí no domingo de carnaval. A escola apresentará na avenida o enredo “Hutukara”, de autoria do carnavalesco Edson Pereira, mostrando a cultura yanomami e defendendo os povos originários, além da preservação da Amazônia.
“O Salgueiro mostrou que é muito forte. Nosso time tem o Patrick Carvalho na comissão de frente, Marcella e Sidcley como primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, nossa harmonia que foi a única nota 40 no ano passado, uma evolução de respeito, o carro de som com o Emerson, que é um fera do carnaval. Nossa comunidade veio completa aqui. A gente está muito pronto. Temos o samba do ano e um enredo que é um manifesto em defesa dos povos originários”, disse o diretor de carnaval, Wilsinho Alves.
Comissão de frente
O grupo de bailarinos, entre homens e mulheres, comandados pelo coreógrafo Patrick Carvalho, fez uma apresentação muito interessante no ensaio técnico. Poderia muito bem servir a um desfile oficial de grupo de acesso, o que mostra uma grande valorização do público que acompanhou o treino. Os integrantes estavam vestidos com uma espécie de segunda pele, com pinturas de motivos indígenas. Eles também carregavam cadeiras, disfarçadas com folhagens, como se formassem uma mata ao se agrupar. Um dos bailarinos usava vestes pretas, capuz e uma máscara de caveira. Ele também portava uma arma de brinquedo que soltava fogos frios, representando um agente de queimadas. Os efeitos especiais mexeram bastante com o público. A parte dançada não era muito extensa, mas bem característica dos povos originários, com força e sincronia. Ao final do número, os integrantes se organizavam com as cadeiras de tal modo para revelar letras que formaram a frase “Não nos matem”.
“O ensaio foi 100%. Tudo que a gente trouxe a gente conseguiu passar para a arquibancada. Esse enredo do Salgueiro é uma mensagem muito linda, quando saiu o enredo eu falei: ‘estou na escola certa, estou com o enredo certo’. Quando saiu o samba eu falei: ‘eu preciso ser campeão do carnaval com isso’. É isso, o samba me impulsiona, a comissão de frente ela foi montada só depois que saiu o samba, porque era muito importante entender o que o samba iria dizer para a gente trazer para a avenida. E eu estudei cada samba, tinha duas comissões de frente em outro samba, nesse samba era essa que a gente vai trazer. Podem esperar uma comissão de frente para tocar o público aqui na avenida. A nossa tecnologia é o vigor, é a verdade. É isso que a gente vai vir fazer no Salgueiro”, citou o coreógrafo.
Mestre-sala e Porta-bandeira
Apesar da avenida molhada pela chuva forte que caiu logo antes do início do ensaio da escola, o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira do Salgueiro, Sidcley e Marcella, apresentou mais um bailado de alto nível. Mostrando muita segurança e elegância, a dupla realizou uma dança tradicional com alguns poucos momentos coreografados de acordo com o samba. Sorrisos, trocas de olhares, interações e giros perfeitos marcaram o número, que fez uso de um bom espaço da pista. Destaque também para a roupa vermelha dos dois, principalmente para a linda saia de Marcella. Ótima apresentação de um dos melhores casais do carnaval.
“Eu acho que trabalhar na dificuldade é um ponto de vantagem para gente, eu fiquei muito feliz com o resultado. A gente, eu e o Sidclei, somos uma dupla que a gente acha que nunca está bom e sempre tem que melhorar. De tudo que a gente se propôs a fazer hoje com a dificuldade da chuva e do vento, foi muito bom, muito legal. Mas a gente quer chegar no desfile ainda melhor. Hoje foi mesmo em cima do que a gente se propôs a fazer, legal testar na chuva e entender como é que é, que o movimento dá para gente fazer com chuva, dá sem chuva e acho que agora é aperfeiçoar ainda mais para no dia do desfile estar impecável” , disse a porta-bandeira.
“A gente sempre tem um plano B, um plano C, a gente sempre vem preparado para tudo, a gente ensaia no sol e na chuva. A gente sempre vem preparado, porque no desfile tem dia e tem hora, pode estar chovendo. A gente consegue mudar a coreografia até um dia antes do desfile e se bobear até ali na concentração”, completou o mestre-sala.
Samba-enredo
A obra musical salgueirense teve um excelente rendimento, confirmando toda a expectativa gerada em torno do que é considerado o melhor do carnaval para 2024. Isso se deve, em grande parte, a letra que é bastante forte, traduzindo muito bem o mote do enredo. Mas também da melodia, que com suas bonitas variações, impulsiona ainda mais o canto da comunidade. A atuação exemplar de Emerson Dias e da bateria da escola deram uma grande contribuição para o incrível desempenho do samba.
“O samba explodiu. O carro de som deu um problema no início, mas tínhamos confiança na força do samba. Poucas vezes, vimos o ensaio técnico da forma como foi hoje: o povo cantando muito, Sapucaí explodindo com ‘Ya temí xoa’. Sempre tem o que acrescentar, principalmente no quesito emoção. Sempre tem uma nota ou outra para a gente ajustar. Em um todo, está muito bom. O entrosamento entre carro de som e bateria é perfeito. A gente se fala muito, todos os dias. Tem ensaios que é só a gente, porque é importante o casamento entre canto e bateria. Hoje, tivemos o andamento espetacular do samba”, afirmou o cantor Emerson Dias.
Harmonia
Atuação de gala da comunidade do Salgueiro no ensaio técnico deste domingo. Todas as alas passaram cantando o samba, que estava na ponta da língua, em um volume bem alto. Os refrões, principalmente o de cabeça, se mostraram bem explosivos. A harmonia foi bem uniforme em toda a agremiação durante todo o treino, o que mostra um ótimo trabalho de conjunto. Grande destaque para o desempenho de Emerson Dias e seu carro de som na condução do samba. O intérprete oficial mostrou estar muito à vontade ao entoar a obra, afastando qualquer crítica de que não combinava com seu estilo vocal. Ele exibiu bastante garra, chamando a comunidade a todo momento, impulsionando ainda mais a harmonia.
Evolução
Outra aula de como se defender um quesito com maestria. A evolução salgueirense foi perfeita do começo ao fim do ensaio. Nenhum tipo de lentidão ou aceleração indevida foi notada. Assim como nenhum espaçamento anormal foi percebido no cortejo. O ritmo foi constante. Os desfilantes mostraram muita potência e alegria para desfilar, defendendo seu enredo e, ao mesmo tempo, brincando seu carnaval com espontaneidade. A escola terminou seu treino dentro do tempo regulamentar com muita tranquilidade.
Outros destaques
Sob o comando dos mestres Gustavo e Guilherme, a bateria Furiosa do Salgueiro teve um grande desempenho no ensaio técnico. Sem perder seu peso característico, os integrantes deram um show de ritmo ao sustentar a obra musical. O andamento perfeito foi encontrado após alguns testes nos ensaios de rua, impulsionando ainda mais o canto e evolução dos componentes. Além disso, foram apresentadas bossas inventivas e de alto nível técnico, perfeitamente executadas e propícias para o samba-enredo da escola.
“Para mim perfeito, perfeito. Se a gente vier assim no dia do desfile eu estarei totalmente satisfeito, totalmente satisfeito. Conseguimos apresentar totalmente o que a gente quer fazer no dia do desfile. Hoje, infelizmente, a gente pegou esse temporal que danificou um pouquinho a afinação, a gente tomou conta ali, mas aí a gente não deixou rolar também para poder não danificar os couros, porque agora faltam vinte dias para o carnaval, então tem que deixar na manutenção tudo certo, tudo no esquema. A gente optou por não mexer nos surdos, desfilamos com eles assim, a afinação caiu, não é o que a gente pretende mostrar, mas de detalhes de ritmo, de bossa e de tudo para mim foi perfeito. Para mim foi perfeito, é só a gente manter para o dia oficial a gente chegar e quebrar tudo mais uma vez. A fantasia da bateria lembra do Bruno e Dom”, revelou mestre Gustavo.
“A gente teve o problema da chuva. Muita chuva! Mesmo os couros com o plástico, protegidos, a afinação acaba caindo, a gente preferiu não mexer na afinação para não estragar o couro e agora chegar na quadra e tirar todos os couros para ver a situação. E normal, tirando isso tudo foi do jeito que a gente programou. Acho que é seguir, seguir com essa energia, a gente vai continuar trabalhando ritmo, trabalhando as bossas, deixar cada vez mais limpa. Uma bateria com duzentos e setenta ritmistas, a gente sabe que não é fácil. Hoje foi muito bom, mas o dia é o dia, é emoção, é tensão do desfile, sair tudo perfeito, então a gente precisa manter essa energia boa, manter os ensaios, não é porque hoje foi bom, que a gente vai parar e relaxar. Erro, erro, erro a gente não notou, a gente vai seguir trabalhando até o dia oficial”, garantiu mestre Guilherme.