A Águia Altaneira deu seu último voo na Estrada do Portela em 2025. No último ensaio de rua do ano, viu-se uma evolução da maior marca da Portela neste carnaval: a vontade. A vontade do componente de cantar até acabar, a vontade da bateria de dar show, a vontade de Zé Paulo Sierra de honrar o microfone de Gilsinho e a vontade da diretoria de fazer a alegria dos portelenses.
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Neste domingo, a Azul e Branca fez de seu último ensaio de rua do ano um grande estilo, com direito a uma ótima comissão de frente e uma apresentação exuberante do primeiro casal. A Portela será a terceira escola a desfilar, no domingo de carnaval, com o enredo “O Mistério do Príncipe do Bará – A oração do Negrinho e a ressurreição de sua coroa sob o céu aberto do Rio Grande”, desenvolvido pelo carnavalesco André Rodrigues.
“Pode constatar: a Portela está carregada no dendê. Mas ela não está só carregada de dendê, não. Ela está carregada na alma portelense, na força e na alegria dos seus componentes. É muito importante você chegar no último ensaio do ano assim. Estamos aqui em um processo de construção contínua, mas é muito importante ver que o componente está feliz. E, fazendo o componente feliz, a Portela multiplica a sua energia e multiplica tudo que tem a ver com cada um dos seus quesitos. Uma comissão de frente pulsante, com toda a alma que o portelense precisa. Um casal também pulsante. Toda uma escola que respira aquele enredo, respira o trabalho do André Rodrigues, respira o trabalho de cada um daqueles que está construindo o carnaval”, avaliou Junior Schall, diretor de carnaval da Portela.
A Portela de 2026 é a que impressiona Madureira. Primeiro pelo seu samba, um dos melhores do carnaval do próximo ano. Depois, pela potência do canto de uma escola extremamente organizada. A Águia, no que depender de sua comunidade, vai emocionar o sambódromo, assim como encanta a Estrada do Portela. Neste domingo, quem esteve presente viu uma passagem magnífica da maior campeã do carnaval e um desfile de quesitos em alta performance, a começar pela belíssima dança da comissão de frente.
COMISSÃO DE FRENTE

Muito bem coreografada por Cláudia Motta e Edifranc Alves, a comissão de frente da Portela se apresentou com um grande número de integrantes. Ao todo, 25 componentes participaram das passagens pelos módulos de jurados neste ensaio de rua. No desfile, apenas 15 poderão ficar aparentes, uma mostra de que pode haver troca de elenco no desfile oficial. Ainda assim, os 25 componentes deram um volume incrível à dança. Há de se dizer, inclusive, que, em questões de riqueza coreográfica, a dupla Cláudia e Edifranc deu um show em 2025, até então no Paraíso do Tuiuti.
Na dança, muito sincronismo em uma montagem baseada na letra do samba, com bastantes elementos de danças de religiões de matrizes africanas. Um número bem interessante. Para o refrão do meio, quando o samba canta que vai ter xirê, montam-se duas fileiras, com as componentes mulheres de cada lado e, no centro, componentes homens fazem uma roda, na qual um personagem central executa sua performance em destaque. Depois, o grupo se junta novamente para a inversão: homens giram em torno do grupo de mulheres ao centro. Para o final, o grupo forma uma espécie de “pose para foto”, facilitando a explicação, e se separa para fechar a ótima apresentação.
No início, por conta de uma harmonia impecável das alas, os componentes não estavam ouvindo o carro de som, e a entrada do módulo tornou-se confusa na primeira entoada do refrão principal. Coube ao presidente Junior Escafura cantar o samba para que os componentes entrassem em sintonia com as alas da escola. Na repetição do refrão principal, tudo já estava em ordem, e o espetáculo começou.
MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA

Marlon Lamar e Squel Jorgea dançaram conforme outras apresentações. A diferença esteve na comunicação com o público, que deu o tom da garra da passagem do casal pelo módulo de jurados. A deste último ensaio do ano foi digna de nota máxima, sem pensar duas vezes.
Para as cabines de jurados, o casal tem uma coreografia de preparação e entra no módulo no verso “Aláfia do destino no Ifá!”, do samba, partindo com giros de Squel. Marlon a acompanha ao lado, e a porta-bandeira engata uma sequência de giros até o casal desfraldar a bandeira no verso “pra Portela incorporar”.
O casal mostrou uma dança mais clássica, carregada de giros incansáveis de Squel, com pouca coreografia baseada na letra do samba. Uma montagem que favorece a visualização dos dois lados da pista. Apresentação suave, impecável e que mostra o casal firme na busca pelo 10 de todos os jurados novamente.
SAMBA-ENREDO
Em cada apresentação, o excelente samba da Portela vai se firmando como um dos melhores andamentos do Grupo Especial. Em mais uma exibição de alto nível, o cantor Zé Paulo Sierra, os cantores do carro de som e a “Tabajara do Samba”, comandada pelo mestre Vitinho, vão desfilando uma obra musical feita para levantar o público.
É fácil e bom de cantar, ainda mais na voz de um intérprete que sabe interagir e mexer com todos os envolvidos no desfile. A introdução coloca um tempero a mais para o início do ensaio. O esquenta com as músicas “É d’Oxum”, “Nem Ouro Nem Prata”, “Ponto de Xangô” e a introdução de “Maria Maria” deram o tom perfeito para aquecer os portelenses e colocar tudo no prumo para uma grande exibição.

“O clima daqui tem todo um axé que é peculiar da Portela. Uma escola supertradicional, mas que, ao mesmo tempo, está se modernizando. A gente está em um caminho bacana e encerra a temporada de rua hoje com um resultado muito positivo. Vem o mês de janeiro, que é o último antes do carnaval. Então é mesmo para se firmar, para cada vez mais se colocar em um patamar de disputa de título. É isso que a Portela está buscando, com muita humildade e muito trabalho, e é o que a gente vai fazer até o final. O samba dá oportunidades e algumas projeções para que a gente possa fazer algo diferente. Mas o mais importante é que a escola está cantando muito, evoluindo muito. E é bom também ver que a galera que está do lado de fora também está cantando. É um samba que, aos poucos, está incorporando e encorpando também na sua comunidade”, falou o cantor Zé Paulo Sierra após o ensaio.
HARMONIA
Uma escola que sempre carrega um ótimo canto, quando tem um belo samba, dobra o volume de potência. O primeiro casal, por exemplo, dança praticamente ao som do coro dos componentes, e mal dá para ouvir a voz de Zé Paulo no carro de som. Ala a ala, o canto dos portelenses é alto, vibrante e constante.

O trecho “Enquanto houver um pastoreio / A chama não apagará / Não há demanda que o povo preto não possa enfrentar” desponta como o preferido dos componentes e se firma como uma ótima virada para o refrão principal.
“A Estrada do Portela é sentimento, é emoção, é força. E é muito importante quando o terreiro da Estrada do Portela te dá energia e você multiplica essa energia em dobro para eles. Estamos muito felizes porque a escola canta o samba durante muito tempo, em um volume muito bom, entendendo como a bateria e o carro de som propõem o samba. Ou seja, a escola multiplica a sua força de canto”, disse o diretor de carnaval.
EVOLUÇÃO

A evolução é um quesito em alta na Portela, que, a cada exibição, vem se mostrando uma escola organizada, vibrante e fluida. Ainda que com uma curva no meio do ensaio e algumas imperfeições no asfalto, a escola não se perde nem abre buracos ao longo da apresentação.
A ausência de alas coreografadas dá mais liberdade para que todas as alas se movam, evoluindo conforme o samba toca em cada um.
OUTROS DESTAQUES

A bateria “Tabajara do Samba” segue enfileirando espetáculos a cada semana. Nos ensaios de rua, é possível perceber que algo está sendo preparado para o desfile, no que diz respeito à interação com a rainha Bianca Monteiro. Nas apresentações dos módulos, a bateria abre, a rainha passa no meio dos ritmistas e sobe em um palanque para se apresentar. Se for concretizado, Bianca certamente fará o sambódromo sacudir com seu talento, junto à maravilhosa bateria comandada pelo mestre Vitinho.
A Portela voltará à Estrada do Portela no primeiro domingo de janeiro e fará todos os ensaios de rua por lá. Ao final do ensaio, o diretor de carnaval Junior Schall contou ao CARNAVALESCO como a escola deixa o ano de 2025.

“A Portela deixa 2025 feliz. O portelense pode entender que esse é o presente de final de ano: uma escola que crê na sua força renovada enquanto alma e canta alegre, canta feliz. A movimentação física do portelense expressa isso. A expressão corporal do portelense é de felicidade e alegria. E nós ficamos muito felizes com isso.”









