O julgamento dos quesitos comissão de frente e mestre-sala e porta-bandeira no Grupo Especial do Rio de Janeiro passará por mudanças estruturais já a partir do Carnaval 2026. A principal novidade será a inclusão de uma cabine de jurados espelhada no Setor 7, acompanhando a já tradicional cabine do Setor 6. Isso significa que as escolas precisarão agora se apresentar de forma mais integrada, com atenção ao público e aos jurados dos dois lados da Sapucaí, de maneira simultânea. A medida foi aprovada em plenária com os presidentes das agremiações na sede da Liesa, após ser previamente discutida com os artistas responsáveis pelos quesitos, durante um seminário técnico realizado em maio. As outras cabines continuam nos setores 3A, 6 e 10, mas o desfile passará a ter apenas três paradas, em vez de quatro, para apresentações oficiais.
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Segundo o presidente da Liesa, Gabriel David, a proposta visa modernizar e aperfeiçoar a dinâmica do julgamento sem comprometer a tradição:
“Com essa parada a menos, a tendência é que os desfiles sigam com ainda mais fluidez, além de privilegiar mais setores da Sapucaí, uma vez que a avaliação do julgador levará em consideração um formato 360 graus daquela arte, e não mais apenas um lado da avenida”.
Desfile mais dinâmico
O impacto direto da mudança será sentido principalmente pelos coreógrafos das comissões de frente e pelos casais de mestre-sala e porta-bandeira. Para muitos deles, a novidade traz desafios técnicos, mas também abre novas possibilidades criativas.
Patrick Carvalho, coreógrafo da Imperatriz Leopoldinense, que em 2025 obteve nota máxima no Grupo Especial e na Série Ouro, avalia que a adaptação exigirá mais ensaios e novos estudos de linguagem cênica:
“Vamos ter mais de duas ou três coreografias ao longo do desfile, além de alterações técnicas nos recursos alegóricos. A apresentação no meio da avenida, entre as duas cabines, terá que ser simultânea para os dois lados. Isso tira a gente da zona de conforto, mas também abre um novo caminho para a construção do quesito”, disse ao jornal O Globo.
Para Marcelo Misaílidis, da Mocidade Independente de Padre Miguel, a mudança representa um retorno ao espírito original da comissão de frente e melhora o ritmo do desfile como um todo:
“Acho que é uma mudança muito bem-vinda. O público vai ganhar com isso. A apresentação volta a ter um foco mais voltado para quem está assistindo e não apenas para o julgador. Além disso, a escola ganha fluidez. Tínhamos paradas de até cinco minutos que quebravam a energia do cortejo”, contou ao jornal O Globo.
Casal em liberdade para dialogar com a Sapucaí inteira
A porta-bandeira Selminha Sorriso, da Beija-Flor de Nilópolis, revelou que ela e o mestre-sala Claudinho já vinham ensaiando formas de ampliar o diálogo com o público dos dois lados da avenida, mas evitavam implementar isso no desfile oficial por receio de serem mal interpretados pelos julgadores:
“Nos ensaios técnicos, a gente saudou o lado oposto da cabine, como fazemos na quadra ou em Nilópolis. Mas na hora da verdade, ficava o medo de que o jurado não entendesse. Agora esse receio acabou. Quem ama o desfile e está lá para assistir merece ver nossa dança completa. Todos os setores receberão esse presente”, contou Selminha, em entrevista ao O Globo.
O novo formato convida os artistas a pensarem coreografias e apresentações com uma visão mais integrada e cênica da avenida, sem sacrificar a precisão técnica. O Carnaval 2026 já obriga os profissionais a reavaliarem seus métodos. Isso, ao que tudo indica, pode elevar o nível artístico dos desfiles a um novo patamar.