A Portela está de luto. Morreu na noite desta terça-feira, aos 95 anos, o compositor Casquinha, baluarte da Velha Guarda da Portela. Ele estava internado desde o último dia 22 no CTI do Hospital São Matheus, em Bangu, na Zona Oeste, e teve o quadro de insuficiência renal agravado nos últimos dias. A causa da morte foi infecção generalizada.
Otto Enrique Trepte (seu nome de batismo) nasceu em 1º de dezembro de 1922 em Ricardo de Albuquerque, na Zona Norte. Mudou-se ainda criança, após a morte do pai, para Oswaldo Cruz. Ganhou o apelido inusitado na escola depois de ter comido um pedaço de carne que caíra do prato de um colega, como relata o biógrafo João Baptista Vargens, no livro “Casquinha da Portela – Andanças e Festanças”, lançado em 2016.
Meio-campo (“center-half”, como gostava de dizer) talentoso, disputou por diversas vezes a Segunda Divisão do Campeonato Carioca, defendendo, entre outras, as cores do Esporte Clube Oposição e do Brasil Novo. Jogou também no time de futebol da Portela.
Foi bancário durante anos. A convite de Candeia, passou a frequentar os ensaios da Portela, onde despontou como compositor reconhecido e atuante, chegando a ocupar, anos depois, o cargo de presidente da renomada ala de compositores da agremiação.
Em 1959, em parceria com Candeia, Waldir 59, Altair Prego e Bubu, escreveu o samba-enredo “Brasil, Pantheon de Glórias”, com o qual a Portela foi campeã. Na década de 1960, fez parte do grupo Mensageiros do Samba, com Bubu, Arlindão, Jorge do Violão, Candeia, David do Pandeiro e Picolino. Em 1964, Casquinha tornou-se o primeiro parceiro de Paulinho da Viola na Portela, no samba “Recado”, que virou um clássico da MPB, tendo sido gravado por Elza Soares, Nara Leão, MPB-4, Jair Rodrigues e outras estrelas.
Integrante da Velha Guarda da Portela desde o lançamento do primeiro disco do grupo, em 1970, o sambista também é autor de outros clássicos, como “A Chuva Cai” (hit de Beth Carvalho), “Falsas Juras” (feito com Candeia, seu maior parceiro musical), “Maria Sambamba” (eternizada por João Nogueira) e “Coroa Avançada” (gravada por Zeca Pagodinho).
“Preta Aloirada”, “Sonho do Escurinho” e “Gorjear da Passarada” (composta com o saudoso Argemiro Patrocínio) também se destacam na extensa produção musical de Casquinha, que consagrou-se, ainda, como representante do samba sincopado e do partido-alto.
Em 2000, teve intensa atividade profissional com Monarco, Tia Surica, Tia Doca, Serginho Procópio e os demais membros da Velha Guarda por ocasião dos shows de lançamento do histórico disco “Tudo Azul”, produzido pela cantora Marisa Monte.
Fora da Velha Guarda, gravou um disco em 2001, “Casquinha da Portela”, seu único solo, pela Lua Discos. Em 2014, teve sua obra eternizada no DVD “Casquinha da Portela – O Samba Não Tem Cor”.
Em outubro de 2016, na ocasião do lançamento de sua biografia, foi homenageado pelo presidente da Portela, Luis Carlos Magalhães, durante a Feijoada da Família Portelense.
No carnaval, Casquinha brilhou durante anos na tradicional comissão de frente da Portela. Também tinha cadeira cativa no carro que trazia a Velha Guarda e outros portelenses ilustres. Desfilou em sua escola do coração pela última vez em 2017, sendo campeão. Esteve pela última vez na quadra da Azul e Branco em julho de 2017, quando recebeu uma homenagem do Departamento Cultural, na roda de samba Portela de Asas Abertas.
Casquinha deixa três filhos (outros dois já são falecidos).
O presidente Luis Carlos Magalhães e toda a diretoria da Portela lamentam profundamente a morte do compositor e se solidarizam com seus familiares e amigos neste momento de luto. “Casquinha viveu a vida que quis viver, sempre cercado de sambistas formidáveis e se fazendo parceiro de mitos como Paulinho da Viola, Candeia, Monarco e outros mais. Vida longa, bonita e intensa! Compôs “Brasil, Pantheon de Glórias”, para o nosso desfile de 1959, e se tornou personagem importante na Portela. Por isso, terá sempre um lugar especial nesse pantheon que ele próprio ajudou a construir”, exaltou Luis Carlos Magalhães.