Por Ana Júlia Agra e Carolina Freitas
A Mocidade Independente de Padre Miguel transformou a Avenida Ary Franco, em Bangu, em um grande corredor de pulsação verde e branca na noite deste sábado. A comunidade compareceu em peso para prestigiar o último ensaio de rua do ano, que, por conta disso, prometia ser o maior da leva já realizada até então, com altas expectativas. A escola mostrou que o processo de amadurecimento para o Carnaval 2026 vem dando certo até aqui. Afinal, os componentes estavam vibrantes e bem organizados, claramente já sabendo onde se posicionar e o que fazer, facilitando a organização para o pontapé inicial do desfile. Ficou claro, assim, que a Estrela Guia vem apostando mais na ação coletiva do que em arranjos individuais, embora tenha ficado evidente que o segundo também merece atenção. O treino serviu como termômetro diante de um público atento e da presença do presidente da Liesa, Gabriel David, que acompanhou de perto a passagem da escola.

“É um privilégio e uma honra estar aqui. É muito bonito ver a evolução desse ensaio de rua e a troca com o público, não só da comunidade, mas de todos os torcedores presentes aqui. Quero agradecer o carinho e desejar um grande ensaio e um grande carnaval para a família Mocidade”, disse ele, entusiasmado, em seu discurso de abertura do ensaio.
COMISSÃO DE FRENTE

A comissão de frente veio de forma enigmática, vestindo apenas capas pretas por cima das tradicionais camisetas da escola. A escolha, que poderia frustrar os mais curiosos, serviu para instigar. O pano funcionou como elemento central da coreografia, extensão do corpo e ferramenta narrativa. A apresentação foi bem executada, com movimentos limpos e dançarinos em plena sintonia. A proposta atual parece apostar na precisão e na leitura clara dos gestos, sinalizando uma coreografia menos rebuscada, porém bem ensaiada, com claras referências às letras das músicas de Rita Lee e à própria malemolência da cantora ao gesticular no palco.

MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA

O primeiro casal, Diogo e Bruna, mostrou segurança e entrosamento desde os primeiros giros. É clara a experiência deles no cargo. Ambos entraram nos momentos certos ao longo do percurso e, principalmente, na apresentação para a simulação de cabine dos jurados, com passos firmes e domínio do espaço, ela conduzindo o pavilhão com garra. Bruna, em especial, teve papel ativo na comunicação com o público, levantando a galera com gritos que ecoavam pela avenida e devolviam energia ao casal. O resultado foi uma dança vibrante, marcada pela firmeza dos movimentos e pela confiança na execução. Um dos pontos altos da noite, sem dúvida.

HARMONIA
A Mocidade apresentou um ensaio com chão potente. É notável que a agremiação tem uma comunidade forte, formada, em sua maioria, por moradores apaixonados de diversos cantos da Zona Oeste, que proporcionou alas cheias de componentes empolgados, refletindo a boa aceitação do samba pelo público, que estava com ele na ponta da língua. Era possível ouvir pessoas na plateia bradando frases de deslumbre como “caramba, que legal”, “que incrível”, “que lindo”, ao ver os componentes passando enquanto cantavam junto. Ainda assim, apesar da empolgação, o canto geral oscilou em alguns momentos, com alas cantando mais forte do que outras. O conjunto geral mostrou envolvimento e resposta positiva aos comandos do carro de som.

À frente da ala musical estava o intérprete Igor Vianna, que conduziu o ensaio e o público com consistência, firmeza e leitura clara do andamento da escola, segurando o ritmo mesmo nos momentos de variação do canto. Sobre o trabalho desenvolvido até aqui, Igor avaliou o momento como extremamente positivo.

“O saldo até o momento tem sido muito positivo. A comunidade abraçou o samba de um jeito magnífico. A gente postou o vídeo do último ensaio, com a comunidade em peso, cantando”, destacou. O intérprete também elogiou a escolha da diretoria pela mudança do local do ensaio. “Na minha opinião, a vinda aqui para a Ary Franco foi um acerto da diretoria da escola. Pela metragem da rua, tudo direitinho, que se equipara à Sapucaí. Eu acho que, de largura, é até um pouquinho maior”, explicou, ressaltando a possibilidade de distribuir melhor as alas. Igor ainda enfatizou o crescimento do samba dentro e fora de Padre Miguel.
“O samba cada vez mais cresce, não só com a comunidade de Padre Miguel, mas com a comunidade do mundo do samba. O povo aderiu ao samba de uma forma muito forte, e isso passa para a gente uma felicidade tremenda”, afirmou.

Questionado sobre a parceria com a bateria da escola, liderada por mestre Dudu, o cantor foi direto: “Pode esperar o melhor. Minha relação com o Dudu não é de Mocidade, é de vida. A gente se conhece desde moleque. Tem eu, o Dudu e a peça-chave, que é o meu diretor musical, André Félix, que faz a gente se entender da melhor forma. Podem esperar um trabalho feito com muito carinho, com muito amor, pela Mocidade e para o povo de Padre Miguel”.
EVOLUÇÃO

A escola passou sem buracos e dentro do tempo estimado. No entanto, assim como no canto, a empolgação variou entre os setores. Em alguns momentos, a diferença de ritmo entre alas provocou pequenos embolamentos, que eram contornados constantemente pelos diretores, sempre muito atentos. Existe tempo para acertar essa organização dos componentes. Nada grave para o momento, mas que exige ajustes para garantir fluidez total na avenida.

OUTROS DESTAQUES
A bateria “Não existe mais quente” estava muito sincronizada. Sustentou o ensaio com pulsação firme, tendo à frente uma rainha que esbanjou carisma. Além de sambar, Fabíola de Andrade interagiu bastante com o público durante todo o percurso, aproximando e integrando a comunidade ao espetáculo, que, por sua vez, mostrou novamente seu protagonismo, ocupando Bangu com orgulho e pertencimento.


No comando do segmento, mstre Dudu avaliou o treino como um fechamento positivo do ano para a Mocidade.
“O último ensaio do ano, resultado 100%, graças a Deus. É um trabalho de longo tempo, desde junho, começando a ensaiar a retomada de bossas. E, depois que foi escolhido o nosso hino, já começamos a desenhar e trabalhar o samba. Ainda falta um pouco de tempo para o carnaval, mas bastante tempo para ensaiar. A gente tem certeza de que o trabalho que vai ser entregue daqui para frente só vai estar mais fortalecido”, afirmou, demonstrando total confiança no desenvolvimento do conjunto.

Dudu também destacou a parceria com o intérprete Igor Vianna, reforçando o clima amistoso entre os setores. “Trabalhar com o Igor Vianna, para mim, é um tipo de orgulho. É um cara que é de casa, formado em Padre Miguel, filho do saudoso Ney Vianna. Está tudo em casa. Padre Miguel é isso aí. É escola de carinho, escola de irmandade”, disse.
A presença de Gabriel David, presidente da Liesa, deu um peso institucional ao ensaio e reforçou a atenção que a Mocidade desperta nesta temporada. O ensaio da Ary Franco foi mais uma etapa de construção. A Mocidade deixou claro que está lapidando detalhes, ajustando engrenagens e buscando uniformidade.









