Campeã de dois dos últimos três desfiles do Grupo Especial de São Paulo, a Mocidade Alegre realizou a Festa dos Protótipos para o Carnaval de 2026 neste domingo, na Arena Morada do Samba. Todas as alas da apresentação de “Malunga Léa – Rapsódia de uma Deusa Negra”, que será assinada pelo carnavalesco Caio Araújo, foram exibidas. Sempre presente em eventos importantes das agremiações paulistanas, o CARNAVALESCO esteve presente no evento (assim como também compareceu à final de samba-enredo da Mocidade Alegre para 2026) e conversou com alguns nomes importantes da Morada do Samba para trazer um panorama mais amplo em relação às indumentárias – e sobre a festividade como um todo.

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Inspiradora

Não é qualquer pessoa que se torna homenageada em um enredo de escola de samba. Para além do desfile, a carreira de Léa Garcia trouxe uma série de estímulos para Caio Araújo: “A gente recorreu muito ao que a Léa construiu na carreira e ao que ela deixa como herança imagética dessa carreira, também. As nossas inspirações são desde a arte preta produzida na época em que a Léa começa, na década de 1960. O ex-marido dela, Abdias Nascimento, foi uma fonte de inspiração muito forte para a visualidade do próximo desfile da Mocidade Alegre. Manoel Araújo também. A gente foi pescando aqui e ali referências de vários artistas pretos: a gente foi pescando referências do cinema e da televisão para a gente criar um conjunto de figurinos que também é teatral. A Mocidade vem com uma pegada de figurinos teatrais para a gente contar essa história de uma maneira que faça jus ao legado da Léa”, detalhou.

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Cores e materiais

Ao homenagear uma personalidade afrodescendente, nada mais natural que um leque de tons terrosos aparecesse. O que se viu, entretanto, foi algo muito mais diverso: “O público vai, de fato, ver tons de palha e terrosos, mas não vai ser só isso. A Léa mostra para a gente que a arte africana é muito mais do que esse estereótipo que a gente imagina quando isso é colocado de frente para nós. A gente vai ver, sim, palha e tons terrosos. Mas a gente vai ter uma Mocidade Alegre extremamente luxuosa e quente em termos de cor e caminhos de arte afro. A gente vai ter maracatu, a gente vai ter um pouquinho daquele grafismo do Abdias Nascimento – que ele coloca nas obras de arte visual dele. A gente foi para vários lados para a gente criar esse caleidoscópio que a Léa é. Ela fez muita coisa ao longo da carreira e a gente está conseguindo refletir isso na visualidade do desfile”, comentou Caio, em comentário que a reportagem atestou que, de fato, é verídico.

A diversidade não está apenas nas cores. A Mocidade Alegre também utilizará diversas matérias-primas diferentes nas indumentárias da Morada do Samba: “Em 2026, a gente está mesclando muita ousadia e criatividade com luxo. A gente vai ter desde fantasias que a gente está apostando no veludo e na renda até fantasias que vocês vão ver prendedores de roupa, corda de sisal e palha. A gente está mesclando muito esses dois mundos para a gente falar dessa arte preta – que é, sim, também, esse estereótipo que a gente conhece, mas que é muito mais ampla e que percorreu muito mais lugares”, afirmou.

União do útil ao agradável

Escola com diversos superlativos no carnaval paulistano (sobretudo a partir do ano de 2003, período no qual a Mocidade Alegre conquistou oito títulos de lá para cá), Caio também aproveitou para destacar que, apesar da ótima impressão deixada pelos protótipos da escola, o profissional buscou facilitar os movimentos da comunidade do Limão: “O maior desafio na Mocidade é a gente fazer um conjunto de fantasias que seja funcional para o nosso povo. E a gente conseguiu! A gente chegou num resultado de fantasias que são luxuosas e que são impactantes, mas são muito confortáveis para o nosso povo desfilar. Eles merecem conforto na hora do desfile, eles merecem brincar, porque é isso que a Mocidade gosta de fazer na avenida. A Mocidade entra técnica, a Mocidade entra com essa coisa de estar buscando o título sempre, mas é uma comunidade que gosta de entrar feliz, leve e com força. O nosso conjunto de fantasias proporciona isso”, destacou.

Elogios às peças

Diretor de Carnaval da Mocidade Alegre, Junior Dentista teve uma série de comentários positivos em relação aos protótipos da agremiação: “Eu não gostei, eu adorei os protótipos das fantasias, na verdade. A Mocidade é muito técnica, a gente estudou muito o critério de julgamento para 2026. A gente tinha uns pilotos já prontos e mexemos em algumas alas (que ficaram ainda melhores) para se adequar dentro da regra do jogo. O jogo de cores e de formas, aliás, está maravilhosa. A qualidade das fantasias também está maravilhosa pelo que a gente viu aqui. Independentemente de ser diretor de carnaval, a gente tem uma presidente que tem um bom gosto tremendo – e ela não abre mão de ir para a avenida igual os pilotos”, citou.

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Fidelidade ao protótipo

Junior aproveitou para pontuar que, se a execução perfeita dos protótipos é praticamente impossível, a Morada do Samba se compromete a buscar o mais alto grau de detalhe em cada peça: “Tivemos muitos problemas lá atrás por mostrar um piloto e ter outra fantasia na avenida. O componente reclama muito. A Mocidade ainda consegue vender fantasia, a escola não é totalmente doada em relação às peças. A gente consegue fazer um meio termo em relação a essa questão. Já que a gente está mostrando os pilotos para a comunidade e para o mundo do carnaval, esse é um produto que o componente olha e fala que quer comprar. Você tem que fazer a entrega fiel do que mostra. Em 2026, assim como foi no Carnaval passado, a Mocidade vai vir com 99,9% das fantasias iguais aos que foram mostradas hoje”, finalizou.

O evento em si

Iniciado com o Samba dos Compositores, a Festa dos Protótipos da Mocidade Alegre teve uma apresentação da Moradinha do Samba, agremiação mirim da escola. Ainda antes da apresentação das fantasias, a agremiação fez um ensaio geral com os componentes (e com as lideranças no palco) e recebeu a coirmã carioca Unidos de Padre Miguel – que compareceu com personalidades como a presidente Lara Mara; Andressa Marinho (rainha da bateria Guerreiros); mestre Laion Jorge; o intérprete Bruno Ribas e o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da instituição, Marcinho Siqueira e Cris Caldas.