Por Matheus Mattos. Fotos: Magaiver Fernandes
Terceira agremiação a entrar na avenida, a Mocidade Alegre trouxe uma estética indígena através do enredo “Ayakamaé – As águas sagradas do Sol e da Lua”. Logo no início o clima imposto pela agremiação levantou a arquibancada, e os espectadores correspondiam com gritos, aplausos, e movimentação de braços e bandeiras. A coreografia da bateria, harmonia constante, bailado entrosado do casal e comissão de frente com fácil interpretação foram os destaques positivos. Até o minuto 56 a escola apresentava uma pinta de campeã, porém os dirigentes não cronometraram o tempo correto, fazendo que a evolução fosse prejudicada em pelo menos duas cabines de jurados do quesito.
Evolução
A escola demonstrou ter o domínio do quesito no começo, porém sofreu com o tempo. Ainda no minuto 56, a bateria se encontrava no recuo e a última alegoria ainda não tinha cruzado a linha do meio do sambódromo. O andar mais acelerado ocasionou buracos entre as alas e prejudicou também o cantar dos componentes. A entrada no recuo da bateria não comprometeu o quesito.
A ala que melhor mostrou espontaneidade sem perder a organização, foi a “Olhos de Guaraná”, vista logo atrás do segundo casal. A coreografia “vermelho no sangue e na cor” foi feita por toda a escola, com participação direta do público nas arquibancadas. A ala “Pássaros de Arrebol” demonstrou efeito visual agradável ao realizar a coreografia.
Comissão de Frente
A comissão de frente trouxe uma encenação na qual o sambista personificado da Mocidade pedia licença aos Deuses para deslumbrar os mistérios e contemplar as magias que rodeiam o rio amazonas. Os personagens principais, Jaci e Guaraci, foram representados durante a encenação, assim como sua história de amor. O figurino trouxe uma riqueza nos detalhes dos bailarinos complementares, com atenção dada até nas costas. Um grande destaque do quesito foi a atuação do artista que representava o Deus Tupã, ele encarnou o personagem e impressionou pela intensidade do olhar. Os passos se mostraram ser bem elaborados e efetuados de forma correta.
Mestre-Sala e Porta-Bandeira
O casal oficial, Emerson Ramires e Karina Zamparolli, representou os dois principais personagens do enredo tratado, Guaraci e Jaci, que no desenvolver se transformam no Sol e na Lua. O grupo cênico trouxeram e enriqueceram o contexto romântico da narrativa. A fantasia do casal foi uma das mais bonitas do carnaval, além da beleza, volume e uso das cores de forma estratégica, o figurino surpreendeu também pela fácil representação dentro da proposta. A dupla carregou em sua passagem passos minuciosos, olhar constante entre eles, e com um detalhe de falta de sincronismo ainda no minuto 16, mas longe do campo de visão do jurado. Em frente à cabine, ambos mostraram entrosamento necessário, estendo o pavilhão e saudando o jurado da forma que o regulamento pede.
Harmonia
A escola apresentou um cantar constante e uniforme durante praticamente todo o desfile. Assim como nos ensaio técnicos, o 2° setor se destacou pela força imposta e evolução empolgante. O cantar dos componentes foi prejudicada nas últimas alas pelo ritmo acelerado imposto.
Alegorias
O abre-alas “Do Amor e Sol e Luas nasce Ayakamaé – As águas sagradas” trouxe duas base, onde a primeira fazia referência ao sol e a segunda a lua. A segunda “O Santuário da Vida” mostrou movimentação de esculturas de animais marinhos. O terceiro carro, “Sob os ramos da Samaumeira, o poderoso ritual de cura”, chamou atenção pela imagem de um tigre e por dois curupiras, na parte final, também com movimentação. A quarta alegoria teve um destaque negativo, ainda quando estava no setor B, uma escultura caiu, comprometendo o quesito pra agremiação. A última alegoria falou sobre o encontro do sol e da lua, e notou-se uma queda de nível em comparação as outras.
Bateria
A bateria Ritmo Puro, comandada pelo mestre Sombra, representou os Guerreiros Manaós-Ajuricaba, que são defensores leais do território indígena. A ousadia da batucada foi o ponto alto, ainda quando estavam em frente ao setor B, os ritmistas realizaram o tradicional cubo-mágico. Nada mais é que a bateria se divide, uma parte anda e os lados se invertem. O movimento levantou a arquibancada. Outro destaque também foi a bossa baseada no ritual indígena feita no segundo refrão. A rainha de bateria Aline Oliveira chamou a atenção por dois motivos. Coreografia com a ala da frente e por tocar surdo de terceira enquanto a batucada estava no recuo.
Samba-enredo
O intérprete Igor Sorriso cantou de forma solta e com ótima competência musical. O cantor realizava cacos que puxavam a animação da escola, mas em pontos específicos, sem exageros. O samba funcionou de forma clara, sendo cantado até mesmo pelos foliões de fora do desfile.
Enredo
A Mocidade Alegre apostou num tema indígena que conta, de uma forma lúdica e romântica, o surgimento do rio Amazonas. A lenda se inicia com a história de amor entre Guaraci e Jaci, um casal que foi impedido de ficarem juntos. Ao se relacionarem surgiu um cata crisma na terra e Deus Tupã interviu, enviando ambos como astros, um em forma e sol e a outra em forma de lua. A linhagem do enredo começa à partir disso, aprofundando o contexto de como o rio é importante para a região. A leitura da escola foi simples e fácil, um simples conhecedor da lenda entende o desfile de forma clara.
Fantasia
Todas as fantasias demonstraram ótimo acabamento e leitura simples, como as alas “Jacarés” e “Cobra Grande”. A agremiação trouxe muitos componentes com rostos pintados, casando com a proposta da fantasia. A ala “Arraias do encontro das águas” utilizou um material simples e barato, mas ocasionando um efeito visual bacana. No geral, a escola apresentou um dos melhores efeitos visuais do carnaval, cada uma com sua particularidade e com criatividade na cores.
Destaques
A presidente Solange veio logo no início, com uma roupa vermelha e maquiagem de índio. As baianas também cativaram pela cor e quantidade, foram mais e 70 mulheres na ala. A coreografia em praticamente todo trecho do samba enriqueceu a ala dos passistas.