Por Marielli Patrocínio e Marcos Marinho
Era fim de noite na Avenida Mirandela, a principal rua de Nilópolis, quando começava a ansiedade do público pelo último ensaio de rua. De todos os lados, vinham passos apressados, sorrisos ansiosos, vestindo camisas azuis e brancas com o orgulho de quem sabe que carrega no peito mais do que uma paixão: uma tradição. A Beija-Flor ia tomar conta da rua. Após a passagem da Unidos de Padre Miguel, convidada do evento intitulado como “Encontro de Quilombos”, que celebra a comunhão entre as escolas coirmãs, o público, encantado, se misturava ao ensaio da agremiação nilopolitana. Crianças sambavam com sorrisos abertos, senhoras balançavam bandeirinhas com as mãos e os jovens gravavam cada segundo em seus celulares para que momentos como aquele não fossem esquecidos.
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“O povo caiu dentro. Eu também quero parabenizar a Unidos de Padre Miguel, que fez um belíssimo ensaio. O pessoal estava feliz e transferiu essa felicidade pra gente. Foi maravilhoso. Mais um ensaio perfeito, graças a Deus”, comenta Rodney, mestre de bateria da Beija-flor.
Mestre-sala e Porta-bandeira
No meio de um mar de energia, o casal de mestre-sala e porta-bandeira, Claudinho e Selminha Sorriso, roubou os olhares e foi completamente ovacionado pelo público presente. Eles dançavam como se flutuassem, apesar do asfalto duro sob os pés. O mestre-sala Claudinho, desenhava passos elegantes com bastante precisão. A porta-bandeira, Selminha, segurava o pavilhão com muita segurança e leveza de que só quem entende a responsabilidade daquele símbolo pode ter, apresentando seu tradicional bailado acrescentado com curtas coreografias que fazem referência a trechos do samba-enredo. Os dois vestiam trajes em tons de azul.
Harmonia
Em um só coro, como se fosse uma única voz, a harmonia não desafinava e se manteve firme do início ao fim. Não se tratava apenas da afinação entre voz e bateria, mas também estava nos olhares emocionados, nos braços erguidos ao céu e nas palmas sincronizadas.
Evolução
O quesito evolução, que às vezes passa despercebido, brilhou com protagonismo no último ensaio de rua da Beija-flor. Cada segmento da escola avançava em perfeita sincronia, sem atropelos e com muita fluidez. Os componentes tornaram a Mirandela viva e pulsante, principalmente a bateria soberana, comandada pelo mestre Rodney.
“Como sempre, eu sou suspeito em falar, mas hoje foi perfeito. Até o box que a gente tem dificuldade, porque é muito estreito, a gente conseguiu fazer. Sem nenhuma anomalia, sem nenhum problema. A bateria se sustentou o tempo todo. Foi perfeito e é o encerramento dos desfiles na Mirandela”, afirma Rodney, mestre de bateria.
Samba
O samba-enredo fortemente cantado, já encontrava morada nos lábios dos componentes e de quem ali estava. Cada verso era entoado com a força de uma convicção. O trecho “Dobram atabaques no quilombo Beija-flor, terreiro de Laíla, meu griô” foi devidamente colocado em evidência durante as paradinhas da bateria, somente acompanhado pelos sons de atabaques e pelas vozes da comunidade nilopolitana.
“Eu posso falar que Laíla é meu criador. Eu sou uma criatura dele. É muita emoção. Já no ensaio técnico, no primeiro, a emoção tomou conta, não só de mim, mas de toda a bateria. O Laíla merece todas as homenagens da escola, assim como o Joãozinho Trinta, o Neguinho, que vai se despedir, é o último desfile dele. A gente vai com muita emoção, muito carinho, toda a ternura possível pra ele. Nós vamos homenagear todos os sambistas que estão homenageando ele, e a Beija-Flor está fazendo esse papel, homenageando todos os sambistas”, comentou mestre Rodney.
Outros Destaques
Sempre muito esperada na Mirandela, a comissão de frente não se apresentou no último ensaio de rua da agremiação. Porém, o ator Samuel Assis, integrante da Beija-Flor desde 2024, foi um dos grandes destaques da noite. Com muita ginga, samba no pé e na ponta língua, um carisma indiscutível e muita emoção, passou por todo percurso interagindo com o carinho do público que tomou conta das calçadas, sendo aplaudido por toda comunidade nilopolitana.