A ministra da Cultura, Margareth Menezes, esteve nesta quarta-feira, na Arena Carioca Dicró, no Parque Ari Barroso, na Penha Circular, para um encontro que visou dialogar com movimentos e agentes culturais do Rio de Janeiro. Margareth Menezes foi recepcionada pelo secretário municipal de cultura do Rio de Janeiro, Marcelo Calero e logo em sua chegada ao equipamento cultural, a ministra assistiu a uma apresentação do Jongo da Serrinha, em que se deixou ser conduzida a dançar com os jongueiros e o público que acompanhava o evento. Anfitrião do evento, o secretário Marcelo Calero relembrou o retorno do investimento em políticas públicas voltadas para a cultura tanto nas esferas municipal e federal após as dificuldades encontradas pelo setor nos governos de Marcelo Crivella como prefeito da cidade, e de Jair Bolsonaro como presidente do país. O gestor municipal também ressaltou a importância do trabalho realizado na Arena que homenageia um importante sambista e ícone da música e da cultura popular brasileira.

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Fotos: Lucas Santos/CARNAVALESCO

“Vivenciamos o que havia de pior na política nos últimos anos, e agora estamos construindo o que há de melhor. Nesta busca por consensos, nessa busca por convergências, sempre haverá, e é importante que isso haja na democracia, espaço para o debate e a discussão, mas que isso nunca prejudique esse caminho de construção. Estamos em um lugar muito especial, esse equipamento, a Arena Dicró, foi inaugurado no segundo mandato do prefeito Eduardo Paes, e faz parte de uma política de territorialização e democratização. Gostaria de fazer um salve para todos os funcionários, servidores da Secretaria Municipal de Cultura. Nós temos essa responsabilidade de cuidar da cultura carioca, pois a gente sabe que tudo que acontece no Rio, sintetiza o Brasil, e da mesma maneira que sintetiza, acaba amplificando. As políticas públicas que são desenvolvidas aqui, também têm essa responsabilidade de poderem alavancar a cultura”, concluiu Marcelo Calero.

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Após a apresentação do Jongo da Serrinha, representantes de diversos movimentos foram convidados a falar um pouco do trabalho desenvolvido com cultura na cidade e de apresentar os anseios e as necessidades para a ministra. Entre eles, os representantes do próprio Jongo; do Grupo Nós do Morro; Elizabeth Manja, diretora da Areninha de Bangu; William Reis, do Afroreggae; Rene Silva, fundador do Voz das Comunidades; Celso Athayde, da CUFA; além da funkeira Tati Quebra Barraco, da Cidade de Deus. Após as falas, a ministra fez um pequeno discurso e apresentou ao público um decreto sancionado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nesta quarta-feira, que instituiu para 04 de maio, o Dia Nacional de Luta dos Trabalhadores e Trabalhadoras da Cultura. Em seu discurso, inicialmente, a ministra relembrou o início da carreira na Bahia, traçando um paralelo com a luta por representatividade que os agentes culturais realizam diariamente pelo país.

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“Eu venho também da Ribeira, de Itapagipe, um lugar onde concentramos 20 bairros, mais de 200 mil pessoas. E eu na minha caminhada de artista, fazíamos como a gente ouviu aqui. As nossas histórias se parecem muito. Tudo que eu construí na minha carreira foi nesse mesmo ritmo, levando tantos ‘nãos’, transformando esses ‘nãos’ em ‘sim’ e em oportunidades, também pensando em comunidade. Eu venho deste lugar onde conheço as dores nossas, as dificuldades, conheço como é fazer um Centro Cultural como esse, um lugar de favela, porque também lutamos muito lá na minha região para institucionalizar um centro cultural”, contou Margareth Menezes.

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Seguindo o roteiro do secretário Marcelo Calero, a ministra explicou as dificuldades, que encontrou no Ministério da Cultura quando assumiu, deixadas após quatro anos do governo Bolsonaro.

“O desmonte que vinha sendo feito no ministério no último governo era uma coisa muito séria. Fizeram coisas dentro do ministério com uma visão realmente de não deixar as políticas públicas nem chegarem. Primeiro que era só uma secretaria. E é muito difícil com uma secretaria você atender um país do tamanho do Brasil, pela sua população, e que pela última contagem que foi feita, 7,5 milhões de pessoas trabalham com cultura no Brasil. E a cultura é viva, e dentro desse escopo não é apenas uma ação que precisa, é uma série de políticas públicas para áreas diferentes. Hoje vamos ter nesse ministério a oportunidade de termos sessões em todos os estados do país, para atender os menores grupos, para ter ali uma audiência aberta e interagir mais com as necessidades das pessoas, das cidades mais simples”, revela a representante do poder executivo federal.

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A ministra da Cultura também anunciou que o ministério pretende desburocratizar os processos para inscrição de projetos visando o fomento à cultura para pequenos grupos que tenham dificuldade com a parte formal.

“Existiam várias políticas de antes que nós vamos retomar com decretos novos, retomando essas ações que foram construídas com o apelo da sociedade. O ministério existe para atender os apelos da sociedade. Para ver todos os cidadãos brasileiros na mesma régua. É complexo, eu também estou aprendendo algumas coisas neste momento, mas a gente também nesse novo decreto de fomento procura facilitar que as comunidades tenham mais acesso. Colocamos na instrução normativa que os grupos que não tenham uma pessoa que possa escrever o decreto que possam também fazer essa inscrição verbalmente, através de vídeo, falando de seu projeto”, explicou Margareth Menezes.

Em um Rio de Janeiro em que urge a necessidade de valorização cultural do povo preto e de suas tradições, principalmente porque estas fazem verdadeiramente parte da cultura e das tradições cariocas, a ministra explicou a necessidade de políticas públicas para contemplar estes agentes.

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“Nossa cultura, nossa arte foi a primeira forma de transformação social nos lugares mais necessários. O conhecimento faz o desenvolvimento do nosso senso crítico. O conhecimento faz pensar. E cada ser humano tem um talento. E esses talentos, através das ferramentas que o estudo, que o conhecimento traz, faz com que a gente possa potencializar as nossas potências individuais. É por isso que se persegue a cultura, a arte, a ciência, é para podar essa possibilidade de a gente ir mais longe. E com a religião esse respeito é necessário. Porque é preciso ir além deste momento de escravidão que já vivemos, dos 388 anos de escravidão e dos outros tantos anos sem acesso. Isso é apenas um capítulo da história do povo negro na humanidade. Mas a história do povo negro não se resume a isso. Então, nós temos direito ao acesso a nossa maneira de se manifestar, a nossa relação com o sagrado. Respeito ao povo simples, aos povos indígenas, de ter a sua maneira de se relacionar com o seu sagrado. E toda essa fé, essa religiosidade e cultura foi preservada nos terreiros de santo. E hoje nós temos esse DNA do povo negro que veio para cá escravizado. Precisamos desse respeito, desse resgate e precisamos ter acesso às cotas, porque as cotas não são gratuidade, são uma reparação”.

Por fim, a ministra encerrou o discurso e o evento anunciando alguns editais e algumas ações mais direcionadas para a cidade do Rio de Janeiro e outras que também vão contemplar o povo carioca, mas que tem um caráter mais nacional.

“Nesse novo momento do Ministério da Cultura, do presidente Lula, esse governo que é sensível ao povo, queremos ter a possibilidade do diálogo, ter a sensibilidade para ouvir críticas. Vocês podem acompanhar nossas ações também na página do Ministério da Cultura (https://www.gov.br/cultura/pt-br). A gente tem lançado projetos com pelo menos a cota mínima de 20% obrigatório, e permitido para mais dependendo dos estados e municípios. Na Bahia, por exemplo, a cota que era de 20% para pessoas negras, passou para 50%. Respeitando que na Bahia, a grande maioria das pessoas são negras, garantindo realmente. Aqui no Rio nós temos o Projeto Participativo para o Cais do Valongo. Fazemos isso junto com a nossa querida ministra Anielle Franco, com o IPHAN, para a gente fazer essa reparação e contar essa história também do jeito que ela é. Também a criação do Comitê Raça e Diversidade. Para que as ações do ministério tenham essa sensibilidade para todos. Edital Ruth de Souza do Audiovisual, apoio a 10 obras inéditas de cineastas brasileiras, para a realização do primeiro longa-metragem. São R$ 2 milhões para cada mulher produtora de filmes que está produzindo pela primeira vez, com cotas. Outro destaque do Edital, prêmio Maria Carolina de Jesus, são 40 livros inéditos escritos por mulheres no valor total de R$ 2 milhões. Tem muita pouca oportunidade para mulheres escritoras. Isso é uma maneira de equalizar. Edital Pontos de Memória, que tem como finalidade reconhecer e premiar práticas de museologia social e processos museais comunitários, que tenham contribuído com a identificação, registro, pesquisa, promoção de patrimônio material e imaterial de grupos, povos e comunidades representativas e diversas da cultura brasileira. Estão previstos dois pontos de cultura para o Rio de Janeiro, com investimento de R$ 600 mil para cada. São entidades de natureza, ou finalidade cultural, ou educativa, que desenvolvem, acompanham e articulam atividades culturais e outras redes regionais, temáticas identitárias dos pontos de cultura e grupos. O edital do Hip Hop, que será lançado para celebrar 50 anos da cultura Hip Hop no valor de R$ 6 milhões. Edital também em parceria com a Central Única das Favelas também por causa dessa capilaridade que a CUFA tem, para chegar em várias localidades, e com outras entidades também, que tem essa mesma ação. Tem muito mais coisa que o ministério está fazendo, eu peguei só alguns. Isso é para mostrar que nós estamos com essa atenção, estamos em um momento novo”.

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O evento foi encerrado com a bateria da escola de samba Rosa de Ouro, da Série Bronze, e contou ainda com apresentações, além do jongo da Serrinha, já mencionado, do Passinho Carioca com Funk da Antiga, turma de Bate-Bola, e também com a presença do estandarte da Portela que foi beijado pela ministra.