A Festa dos Protótipos dos Gaviões da Fiel para 2026 teve uma presença ilustre: Sônia Guajajara, ministra dos Povos Indígenas, estava presente na sede da Torcida Que Samba, no Bom Retiro, no Centro de São Paulo, para conferir como estavam as fantasias da agremiação. O motivo é pertinente à pasta chefiada por ela: no próximo Carnaval, a escola terá como enredo “Vozes Ancestrais para um Novo Amanhã”, que trata de temáticas ligadas aos primeiros habitantes do país. Presente na apresentação das fantasias da escola para o carnaval do próximo ano, o CARNAVALESCO entrevistou com Sônia Guajajara para falar não apenas sobre o evento, o enredo e o samba-enredo dos Gaviões da Fiel para a 2026: também foi perguntado como a ministra enxerga a profusão de temas indígenas realizados por escolas de samba.

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Foto: Will Ferreira/CARNAVALESCO

Exaltação aos Gaviões

Ilustre visitante, a ministra Sônia Guajajara fez questão de elogiar o enredo da agremiação do Bom Retiro: “É uma forma de trazer o debate sobre a pauta indígena para o centro do debate público. E é, também, uma forma de mostrar para a sociedade como nós somos e como nós vivemos. Infelizmente, ainda somos muito desconhecidos pela sociedade em geral. E, por meio do samba e do carnaval, de forma alegre e descontraída, a sociedade nos conhece – e, assim, passa a nos respeitar mais”, afirmou.

Outro ponto valorizado pela ministra é o fato do desfile dos Gaviões destacar que o universo dos povos indígenas é muito mais plural do que a grande maioria das pessoas acredita: “É uma forma de valorizar a presença e a identidade indígena no Brasil enquanto povos originários desse país. Esse enredo fala da diversidade de povos, já que muita gente ainda acha que ‘é tudo índio’, mas nós somos povos indígenas que têm culturas e tradições diferentes. Esse enredo demonstra isso: essa diversidade de povos, cada um deles com a respectiva cultura”, comentou.

Valorização dos povos indígenas

Alguns dos grandes desfiles de escolas de samba da história do carnaval tinha a temática indígena como pano de fundo. “Lendas e Mistério das Amazônia” (Portela, 1970) e “Pará – O mundo místico dos caruanas nas águas do Patu-Anu” (Beija-Flor de Nilópolis, 1998), mais do que conquistarem o título nos respectivos concursos (no segundo caso, empatado com a Estação Primeira de Mangueira), entraram para o imaginário popular. “Tupinicópolis” (Mocidade Independente de Padre Miguel, 1987) é lembrado não apenas pelo desfile e pelo samba-enredo marcantes, mas pelo delírio de imaginar um mundo em que a cultura dos povos indígenas era majoritária.

Mais recentemente, outros tantos desfiles também tiveram ótima repercussão falando de temáticas ligadas aos primeiros habitantes do país. No Rio de Janeiro, “Guajupiá, Terra Sem Males” (Portela, 2020), “Nosso Destino É Ser Onça” (Acadêmicos do Grande Rio, 2024) e “Hutukara” (Acadêmicos do Salgueiro, 2024); em São Paulo, “Aysú – uma história de amor” (Tom Maior, 2024), “Assojaba – A Busca pelo Manto” (Acadêmicos do Tucuruvi, 2025) e “Krenak – O Presente Ancestral” (Mocidade Unida da Mooca, 2025) são alguns deles.

Sônia Guajajara destacou que valorizar um grupo étnico que, durante tanto tempo, esteve distante das principais pautas levantadas pela sociedade é uma grande vitória: “Para nós, é muito importante, é muito significativo, é muito mais que simbólico. É muito significativo porque, por muito tempo, nós ficamos à margem do processo, sempre fomos marginalizados pelo sistema. E, agora, você vê que muitas dessas escolas referenciam, valorizam os povos indígenas”, comentou.

Logo depois, a ministra destacou um pouco do quanto colocar questões indígenas nas escolas de samba e em outros tantos locais de fala faz com que mais políticas públicas surjam: “Esse reconhecimento crescente por parte da sociedade (algo que as escolas de samba fazem parte) faz com que aumente essa necessidade de se construir políticas públicas de Estado para atender essas distintas realidades. Muita gente ainda pensa que só tem indígenas na Amazônia – e nós temos indígenas no Brasil inteiro, em todos os estados. Por meio do carnaval, a gente vai conseguindo trazer o conhecimento para a sociedade como um todo. Essa valorização e esse reconhecimento facilitam, também, essa aceitação em todos os espaços”, pormenorizou.

Defesa do governo

Para encerrar, a ministra Sônia Guajajara destacou o trabalho que o governo federal faz em prol das causas indígenas: “A gente tem avançado bastante já na ocupação de espaços. Hoje, temos um ministério, nunca existente antes na história. Embora tardio pensando na história do país, o presidente Lula teve a coragem de criar esse ministério de povos indígenas. Em 57 anos de FUNAI, é a primeira vez que temos uma presidenta indígena. É o momento em que, realmente, marca essa mudança de povos indígenas enquanto ocupação de espaço no Estado brasileiro”, destacou.

Além da própria criação do Ministério dos Povos Indígenas, em 2023, também foi citada a mudança na Fundação Nacional dos Povos Indígenas (FUNAI), presidida por Joênia Wapichana.