Por Milton Cunha, Victor Raposo, Thiago Acácio, Reinaldo Alves, Tiago Freitas e João Gustavo Melo

Entrevista realizada para o artigo “TRAVA NA BELEZA: Imaginários sobre o destaque de luxo de escola de samba” publicado no Dossiê da Revista Policromias realizado em parceria com o Observatório de Carnaval do LABEDIS/Museu Nacional da UFRJ.

Para chegar aos núcleos temáticos, fizemos uma série de entrevistas que passamos a publicar no site CARNAVALESCO, duas vezes por semana. Este material acabou não entrando no corpo do texto, por limitação de espaço, e não queríamos deixar de mostrar. É uma homenagem aos esforços destes luxuosos personagens que habitam nossos sonhos de folia! Viva os Destaques de Luxo, mensageiros do glamour.

Entrevistado: Maurício Pina, Acadêmicos do Salgueiro e Carnaval de SP

O que você imagina que a plateia imagina quando te vê passando na avenida durante o desfile?

Maurício Pina: “Eu acho que quem me observa durante um desfile quer ver não um
humano, mas um deus. Os olhares e aplausos são para uma divindade que eu invento para a Avenida. É um jogo! Eu imagino que em desfile eu atraio todas as atenções e, para isso, eu me excedo no brilho, estendo meu corpo com grandes costeiros e trabalho cada material para simular o efeito que a gente quer. Eu penso que a pessoa que está vendo minha passagem acredita que meus pingentes de plástico comprados na 25 de março sejam os mais nobres dos cristais. Que meu rosto pintado de tinta prata reflita a falsa verdade de que eu sou um general de ferro. Que minhas máscaras anulem minha personalidade e eu me torne o personagem proposto. É um pacto que eu faço com a plateia. E eu cumpro esse trato com a arte da minha fantasia para que todos pensem que eu sou o deus bordado, costurado e elevado em triunfo pelo poder transformador do Carnaval”.

Gostaria de saber como surgiu o seu interesse em ser destaque de luxo? Quando
foi o seu primeiro desfile nesse posto? Como e quando foi a sua chegada no Salgueiro? E no Carnaval de São Paulo? Já desfilou em outras agremiações nesse posto? Se sim, quais?

Maurício Pina: Como eu gostaria de ser destaque de luxo? Nasceu na minha cidade
no interior de Getulina, onde eu nasci, que eu já participava dos blocos dos carnavais da minha cidade. E quando eu mudei para São Paulo a minha paixão só aumentou ainda mais
quando eu conheci as escolas de samba. Iniciei no Peruche desfilando em ala e quando eu
comecei a entender mais esse carnaval, esse universo deste carnaval, eu comecei a apreciar as alegorias. E aí nasceu o sonho de um dia eu estar sobre elas, acima delas e participar como um destaque nestas alegorias que me fascinavam. A primeira vez que eu subi no carro alegórico como destaque de luxo foi após a inauguração do Sambódromo de São Paulo que inaugurou em 1991. E aí 1992 eu já me tornei um destaque de luxo do Unidos do Peruche, que desfilei por 17 anos nessa escola e onde vim me tornar o abre alas do Peruche. E aí apareceu os convites para mim desfilar em outras agremiações na qual já desfilei em 13 agremiações em São Paulo no decorrer dessa minha trajetória de 35 anos de carnaval. A minha chegada no Salgueiro foi em 2009. Eu recebi o convite em 2008 pelo Eduardo Pinto. Ele, após ver meu trabalho, já no Rio de Janeiro, que já desfilava em algumas agremiações. Em 2008, desfilei com Paulo Barros na Viradouro, no desfile do Arrepio. Eu fiz uma fantasia de barata para o Paulo na qual foi um sucesso muito grande. E no dia do sorteio no próximo ano, do sorteio da ordem dos desfiles o Eduardo me convidou através da minha amiga Jane Goulart, que cuidava dos meus desfiles no Rio perguntou se eu não gostaria de entrar no time do Salgueiro, de destaque do Salgueiro. Ela me ligou de lá mesmo do Sambódromo, da cidade do samba do Rio de Janeiro e me perguntou: “O Eduardo, coordenador dos destaques do Salgueiro, está lhe convidando a participar do grupo de destaque, se você tem interesse?” “Ah, claro que sim” Foi um convite assim super especial na qual eu me apaixonei pela escola e desfilo no Salgueiro há 11 anos com personagens incríveis que me utilizaram dentro dessa agremiação. E eu sou muito feliz onde estou, né. Muito feliz com essa agremiação que nos valoriza muito, que nos dá todo o prestígio e reconhecimento de uma grande escola para os grandes destaques que estão desfilando dentro dela. Quando eu cheguei no Salgueiro foi muito especial. Em 2009, eu desfilei sobre a segunda alegoria dos ritos africanos, que eram os tambores africanos e a escola foi campeã então eu já cheguei consagrado dentro do Salgueiro, da qual eu saí em vários recortes, vários jornais. Foi fantástica essa estreia no Salgueiro na qual eu me apaixonei e continuo nessa escola por 11 anos. Então, eu fui muito feliz nesse primeiro contato com a escola. Esse primeiro desfile do Salgueiro, para mim, é inesquecível, Tambor de 1999. Não em 2009, desculpa! No Rio, eu já desfilei em várias agremiações. Eu desfilei na Mocidade Independente Padre Miguel por um período também que eu tinha uma identificação muito com o perfil da escola futurista, na qual eu me identificava com esse trabalho de escola. Já desfilei na São Clemente, já desfilei na Caprichosos de Pilares com o
Chico Espinosa, já desfilei na Vila Isabel, já desfilei na Beija-Flor em ala. Primeiro ano que eu desfilei na Beija-Flor foi no ano “Bidu Sayão” numa ala com o carnavalesco Milton
Cunha. Já desfilei em ala na Mangueira. E é isso. Aí depois quando cheguei no Salgueiro foi
arrebatador para mim a minha permanência dentro dessa escola tão incrível. No carnaval de São Paulo, eu iniciei a minha trajetória na Unidos do Peruche desfilando em alas e, como eu disse, em 92 foi onde eu subi no primeiro carro alegórico como destaque e permaneci na escola por 17 anos, depois eu me tornei o abre-alas da escola por um bom período. E aí
começaram os convites das escolas pelo meu trabalho aí eu comecei a despontar em outras
escolas também até que chegar o momento que eu percebia que ser mais um destaque de luxo eu estaria assim tentando ser como os outros, e aí foi aonde que eu tive esta vontade de ser um destaque diferenciado, onde eu busquei mais personalidades, busquei mais destaque performático, acreditar que tudo que reluzia seria ouro, mesmo sendo lata eu acreditaria que aquilo daria certo nas minhas fantasias, onde eu busquei materiais alternativos, busquei personagens busquei um estilo e um DNA Maurício Pina de ser e adaptei dentro das minhas fantasias, dentro das minhas artes na qual hoje é bem reconhecida, mas eu acreditei naquele sonho de ser um destaque diferente, um destaque que tivesse uma identidade própria, na qual hoje ela tem uma assinatura muito by Maurício Pina.

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Como é o seu planejamento para desfilar? Qual o seu papel na concepção e elaboração da fantasia? E como é a relação do carnavalesco nesse processo? 

Maurício Pina: O meu planejamento para desfilar, primeiro começa com o lançamento dos enredos. Aí eu já fico curioso para saber qual é o meu personagem daquele enredo, o que eu vou representar dentro daquilo. Aqui em São Paulo, eu tenho a minha agremiação que a Mocidade Alegre, na qual eu desfilo a 17 anos. Sou abre-alas nessa escola 17 anos e eu participo muito. Como eu sou abre-alas da escola, eu tô muito focado dentro desse enredo, dentro do enredo que a escola se propõe a fazer, como no Rio também. Aí começa o processo de criação e o carnavalesco, às vezes, conversa comigo e fala sobre o meu
personagem, a gente discute, às vezes, cores… E aí começa, quando eu recebo esse protótipo, começa o desenvolvimento do figurino com o ferreiro, depois com a pessoa que forra, que faz forração das partes… E aí aonde que eu entro com a minha caracterização e a minha personalidade de cada fantasia. Porque eu gosto de fazer, de botar a mão para dar a minha identidade, o meu DNA dentro de cada roupa. Em relação ao processo de criação com o carnavalesco… Às vezes tem carnavalesco que te dá a liberdade de você conversar antes, de você saber sobre o seu enredo, sobre o seu personagem do enredo, o que você vai ser… Às vezes têm carnavalescos que discute com você sobre a cor da sua fantasia, sobre o material… Isso é muito bacana porque a gente participa totalmente do processo. Agora, tem carnavalesco que não, que já define, entrega um figurino para você e você, através daquele figurino, desenvolve a fantasia de acordo com seu perfil, e dentro do perfil do que o carnavalesco propôs. Mas é muito legal quando você tem essa flexibilidade de conversar bastante com o carnavalesco antes sobre a cor, sobre o seu personagem, sobre o seu lugar. Porque nem sempre dá certo. Às vezes você é colocado numa posição em cima de uma alegoria que ela não favorece a fantasia. E, ao mesmo tempo, às vezes, você é colocado em cima de uma alegoria que você tapa a alegoria com a sua fantasia. Então, quando o projeto é muito bacana, muito desenvolvido das duas partes, eu acho que dá uma harmonia mais incrível. Tem vezes que você cola no carro, como já aconteceu comigo. Você tem uma fantasia totalmente da cor do carro e sua fantasia some naquela alegoria. Então, tem todos esses detalhes porque o destaque ele tem essa vaidade de ser o destaque do carro. Então, quando ele tem, às vezes, um contraste com o carro ou ele não sai, ele faz uma fantasia com a tonalidade do carro, mas que tem uma moldura, que tem uma uma margem que você descola é interessante. Porque e quando você faz totalmente da cor do carro é muito perigoso você colar no carro, como já aconteceu comigo. Eu já colei algumas vezes e eu não gosto de colar não. Eu prefiro me destacar do que colar no carro, na alegoria.

E em relação ao personagem/papel que você vai interpretar no desfile. Você faz alguma preparação corporal, nos aspectos de gestual e de semblante? Como que você “encarna”; aquilo que está vestindo? Como internaliza as personagens que representa?

Maurício Pina: A minha caracterização gestual para cada roupa, para cada figurino,
para cada semblante eu só defino quando essa roupa está pronta. Geralmente, às vezes, no dia da prova da fantasia, do dia do ensaio fotográfico que que faço antes do carnaval eu consigo me identificar com esse personagem que eu vou representar. E aí eu começo a imaginar, às vezes, dentro do Samba, dentro de situações e aí vem na minha pessoa o que eu posso me expressar, o que eu posso fazer dentro daquele personagem. No ano mesmo do Salgueiro que eu desfilei de Xangô, eu não sabia muito bem como eu representaria Júlio Machado, como que eu iria representar aquela personagem, aquele personagem que seriam de duas pessoas o Xangô e o Júlio Machado interpretado por Maurício Pina. Então, antes de entrar na Avenida eu tava meio me concentrando, mas na hora que chegou muito perto da curva ali e o samba se iniciou com o refrão “Corre Gira, Gira pra Xangô”, nesse momento eu girei no carro alegórico e aí eu descobri que eu teria que dançar muito girar a cada vez que o refrão falava gira para Xangô. Foi a primeira vez que eu desfilei no carnaval eu muito livre, muito solto e girando, eu girava literalmente. Como eu estava com um esplendor nas minhas costas pequeno, eu tinha espaço para fazer a gira. Então, as coisas vão acontecendo, às vezes, de acordo com o enredo, com a força desse enredo…E então, às vezes, eu penso em uma situação, mas às vezes acontece outra. No entanto foi fantástico! Eu dancei muito, eu girei muito nesse enredo de Xangô. E já para o próximo ano, eu fui Marechal de Ferro, já era uma coisa dura, estática. Eu era uma estátua, mas chegou um momento no desfile que eu criei uma desestatificação do Marechal, eu me desestatifiquei. Eu fazia movimentos não de estátua viva, mas movimentos de desistatificação daquele personagem tão duro. Então, as coisas acontecem às vezes na Avenida, às vezes no momento do desfile e às vezes vem na minha casa e eu penso naquilo e eu transformo aquilo para para Avenida, mas eu deixo para o universo me pontuar às vezes em qual momento gestual que eu tenho que fazer. Em relação aos os personagens que eu interpreto nos desfiles, é muito de acordo com o enredo que o carnavalesco imagina e determina para que eu represente. E aí, como a gente recebe com
muito tempo de antecedência, eu começo materializar esses personagens que eu vou criar nas fantasias e apresentar nos desfiles na Avenida, no carnaval. É algo muito bacana porque eu começo a ter uma parceria, começo a ter uma dualidade com esse personagem. E, quando chega no carnaval, eu tô tão íntimo desse personagem e eu levo para Avenida, para o sambódromo da Marquês de Sapucaí ou para o Anhembi e apresento para o mundo esta ligação que eu tenho com esse personagem. Eu o apresento para o mundo. Em relação a apresentação desse personagem no gestual… São situações que eu vou criando de acordo com esse personagem. O que ele vai se apresentar, de que forma ele vai se gesticular, de que forma ele vai se apresentar fisicamente, de que forma essa face tem que ser parecida. Então, eu vou me trabalhando com a identificação de cada personagem. Eu vou criando o gestual, a forma física, a forma corporativa dele e apresento no dia do desfile. É um treino e, às vezes, é um acontecimento, por que acontece e eu me encarno dentro daquele personagem e faço o trabalho em cima de cada personagem que eu apresento. Em relação ao personagem que eu estou representando, eu interiorizo ele de uma forma muito tranquila. Por isso que às vezes eu escolho, ou eu prefiro personagens que tenham lado mais tranquilo, não sejam coisas muito pesadas porque, como eu incorporo muito esse personagem, eu não gosto muito dos lados pesados não, de personagens com peso. Porque às vezes você carrega aquele peso na sua pessoa, interpretando o personagem. Eu já vesti uma serpente que acabou com a minha vértebra, por exemplo. Então eu não gosto de coisas que eu não domine. Eu prefiro coisas que tenha afinidades com a minha pessoa. Eu acho mais tranquilo de se usar, de se desfilar, de se apresentar e de incorporar, porque incorporar algo como uma serpente você fica sem vértebras. Então, cuidado com o que você veste porque você pode se transformar ou você
pode carregar uma carga dentro daquilo que você se propôs a vestir.

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Você tem apego com as fantasias? Como lida com a ideia de que ela será vista em
pouco tempo pelo público?

Maurício Pina: Eu tenho um apego com a minhas fantasias no decorrer da criação dela, de quando eu estou executando, fazendo… Eu tenho esse apego. E até o dia que eu materializo elas na sessão fotográfica. Depois que eu materializei eu já fico mais tranquilo
porque aquela imagem já tá eternizada numa boa foto para você publicar ela na mídia digital ou na mídia impressa. Então, eu digo quando eu fotografo eu eternizo essa fantasia. E aí eu aguardo o dia do carnaval para mim apresentar ela para o mundo e aí pelas câmeras de televisão, pelas câmeras dos fotógrafos que fotografam e eternizam esse personagem. E aí, já com essa eternização fotográfica visual, eu não tenho tanto apego às roupas, assim. Eu sou mais tranquilo em se puder vender, vende. Se puder doar, doa. Se puder transformar em outra coisa, eu transformo. Eu sou um pouco desprendido. Antes eu tinha um apego maior, mas eu vi que é impossível você guardar tanta coisa. É um volume muito grande. Então, eu tenho apego mais no visual, no que eu eternizo na fotografia, e nos vídeos, e nos desfiles que são eternizados pelas escolas de samba. Então, é bem tranquila essa a minha relação com o apego ao figurino. Eu fico apegado ao personagem pela vida toda, mas pela fantasia em si eu tenho esse desapego depois do Carnaval. É como eu falei, eu tenho apego com a fantasia até o momento que eu desfilei com ela. Depois que desfilou, que eternizou nas imagens eu não tenho mais tanto apego não. Eu guardo por um período. Se possível posso até vender. Se não vender às vezes eu transformo em outras coisas ou desmonto para reutilização do material, mas quando eu tenho eternizada ela em uma fotografia e eu não tenho apego não, é mais tranquilo. Em relação em ser vista pouco tempo pelo público, eu acho que é ok para mim. A gente já se acostumou com essa ideia e eu, principalmente, porque eu gosto muito de vestir a fantasia para fotografia. Quando eu termino que eu fotografo eu já fico bem feliz e bem tranquilo. E depois eu apresento ela, como eu já disse, no carnaval, na Avenida, no Sambódromo, enfim na Marquês de Sapucaí ou no Anhembi. E quando as televisões captam um pouco da minha imagem e fica eternizado dentro da agremiação, isso para mim já vale, eu acho muito tranquilo. Eu sou muito realizado. Claro que é muito bom quando você aparece na televisão, num vídeo, e bota o seu nome que tem uma narrativa de um Milton Cunha, de
um Ailton Graça comentando da sua fantasia eu fico lisonjeado com tudo isso e bastante
feliz. E o público que consegue ver, o seu time de fã clube que você tem, de fidelidade de
pessoas que têm com relação as suas fantasias, quando isso aparece para mim é tranquilo. Eu só não gosto de desfilar fora do carnaval, eu não sou muito de me apresentar em eventos, em concursos, em bailes. Eu não tenho esse gracejo de apresentar os personagens fora do carnaval. Porque eu tenho essa incorporação e essa forma tão diferenciada de interpretar muito o personagem que fora do contexto da escola de samba eu não tenho esse gracejo, essa interpretação. Eu só tenho isso no dia do carnaval mesmo.

Pra você, o que faz uma fantasia de destaque se eternizar na mente de quem assiste os desfiles? E o que faz um destaque se distinguir dos demais destaques de luxo do carnaval?

Maurício Pina: O que faz para eternizar na mente de quem assiste um carnaval as
minhas fantasias, é quando você tem um personagem marcante, que você tem fantasia
deslumbrante, que ela realmente está inserida dentro daquele contexto. E tem fantasias que ela acontece mais, uma mais que as outras. Então, é algo que não dá para você passar a receita. Você pode botar amor, você gera aquela fantasia com muito amor, com muito
carinho, com muita dedicação, com materiais bacanas, com uma proposta incrível, mas os
personagens eles se acontecem por si próprio. Às vezes você faz uma fantasia incrível, que
você acha que aquilo vai acontecer e ele não acontece com tanta força, ele não se eterniza.
Como eu já tive vários momentos do carnaval, tanto São Paulo quanto no Rio, eu já tenho
fantasias que eu acreditava, mas ela não aconteceu. E tem fantasias que elas explodem, elas saem do controle e a energia do momento, da situação, da escola, é um todo. E do seu estado de espírito também. Às vezes você acontece no desfile e às vezes não. Então, a gente tem que estar preparado, que não são todos os filhos que nascem com os olhos totalmente azuis né. Tem fantasias que eu digo que tem os olhos azuis, outros verdes, outros pretos brilhantes também, mas fantasias a gente não define. Isso é um acontecimento que eu não sei de onde se explica, de onde que vem essa situação que ela explode. Tem fantasias que eu digo que ela explode e ela sai do seu controle, né. E ela acontece. E tem fantasias que não. Se diferenciar dos destaques de luxo no carnaval é complicado porque tem muita gente bacana, tem muitos destaques incríveis e o luxo é luxo, sabe. Tem pessoas que fazem um luxo de bom gosto. Tem pessoas que fazem um luxo com não tão bom gosto. Depende muito da criação, da concepção. No meu caso, eu digo que o luxo das minhas fantasias são o luxo da minha criação, luxo da minha criatividade, o luxo da minha originalidade, o luxo de eu ser um destaque que eu tenho uma ascensão a todos os lugares, porque não adianta você ser só um destaque de fantasias, você coloca a sua fantasia e você passa no carnaval e queria que você se torne um luxo. Um luxo é você ser amável, respeitável, cumprimentar as pessoas, ser agradável na sua escola de samba, no seu terreiro de samba, dentro do Sambódromo, dentro de um ensaio técnico. É um todo ser um destaque de luxo. É você se vestir adequadamente
para representar sua agremiação, você valorizar as festas as duas escolas, você valorizar as festas nas escolas alheias… Isso se torna um destaque de luxo, eu acredito. Eu tenho como base, por exemplo no meu terreiro na minha escola de samba que é o terreiro do Samba, lá eu sou conhecido por todos. Eu converso com todas as baianas, eu converso com a harmonia, eu tenho relação com o pessoal da alegoria, com o pessoal que faz as fantasias, com pessoal do barracão, com a presidente, com as secretárias, com o pessoal que toma conta do bar, com a menina que toma conta da limpeza da escola… É um conjunto que você faz como pessoa para você ser um luxo de destaque. Porque só botar uma roupa e achar que todo mundo vai te aplaudir e te amar não faz parte não. Eu acho que tem tem algo a mais para você concluir para ser um grande destaque de luxo.

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Tem alguma fantasia ou fantasias por qual você sempre é lembrado (a) ou que tenha se tornado inesquecível para as pessoas? Se sim, por qual motivo isso aconteceu?

Maurício Pina: Uma fantasia na qual eu acredito que seja inesquecível… É a fantasia que eu desfilei na Viradouro no ano do “É de arrepiar”, com Paulo Barros, que eu fiz uma fantasia de barata. E foi assim uma situação muito nova para mim fazer uma barata que o Paulo tinha pedido para mim. Ele me falou que acho que só eu conseguiria fazer uma fantasia
daquele perfil e eu perguntei: “Mas como que é o figurino?” e ele falou: “Não, você desenvolve.” Eu pesquisei uma barata, literalmente, e de uma barata eu comecei a
desenvolver, junto com um amigo Hudson Reis? essa fantasia e o serralheiro Maurício Cruz
que fez aramagem dela nos moldes de uma barata mesmo que nós pesquisamos. E aí foi uma sensação assim realmente de arrepio que causou na Avenida, as pessoas viravam o rosto, ficavam meio horrorizados com a realidade dessa fantasia que ficou realmente incrível. Então, eu acho que essa fantasia é uma das fantasias mais inusitadas que eu fiz nesse meu mundo de carnaval.

Você considera o luxo essencial para a festa? Se sim, por qual motivo?

Maurício Pina: O luxo faz parte do carnaval. Eu digo que no carnaval as pessoas gostam de se fantasiar com roupas de luxo. Às vezes as pessoas não têm a condição durante a vida, mas chega no carnaval ela pode se fantasiar e se vestir de reis, de rainhas, de Nobres, de
fidalgos. Então, o carnaval traz esse sonho das pessoas se sentirem luxuosamente vestidas e, para mim, o luxo do carnaval é eu poder apresentar as minhas obras para o mundo, para esse museu ao céu aberto que é o carnaval. E eu digo que com as minhas fantasias, as minhas artes e exponho elas. Então, isso para mim já é um grande luxo. Eu não vejo o luxo no material, eu vejo luxo na grandiosidade da festa, nos personagens que as pessoas criam, como eu sou um destaque performático eu crio muitos personagens, como tem outras pessoas que criam personagens, personagens luz, personagens originais. Então, eu acho que o maior luxo do carnaval é participar dele. Isso é o que eu sinto de ser um luxo estar dentro deste carnaval grandioso é o nosso carnaval brasileiro.

Antigamente, cada destaque vinha em uma alegoria. Hoje, com a diminuição do número de carros, isso tem sido menos frequente. Como você enxerga essa mudança? É um problema pra você dividir a atenção do público?

Maurício Pina: Com essa mudança do carnaval, com número de alegorias, e tem
escolas que tem muitos destaques ainda… Graças a Deus que eu incentivo que as pessoas
continuem com esta arte para que ela se perpetue eternamente dentro dessa festa popular do Brasil. E em relação a dividir o espaço, não. Eu não tenho problema nenhum de dividir carros alegóricos, dividir alegorias. De repente um destaque embaixo e um em cima, dois laterais, um de cada lado. Eu acho que se é bem distribuído, nenhuma fantasia tampar a outra. Eu acho que não tem problema nenhum. Eu acho que enriquece, engrandece o espetáculo. Eu acho que a gente não pode ter egoísmo de querer estar solto, sozinho numa alegoria onde que está precisando acomodar um amigo seu amigo, da sua agremiação, um componente da escola que precisa estar ali também. Então, eu não vejo essa esse problema. Eu não tenho essa vaidade de ser eu sozinho, porque eu acho que cada um brilha no seu lugar, na sua forma, com a sua roupa. Eu já dividi várias vezes carros com amigos. Inclusive em São Paulo, como eu faço sempre o abre-alas da escola, tem sempre um convidado para estar comigo também junto no abre-alas. Esse ano mesmo eu tive três amigos juntos comigo no abre alas, um acima de mim e dois nas laterais, e mais as composições. Eu acho que faz parte do espetáculo essa composição de pessoas e de que personagens dentro da Alegoria. Então não tenho problema nenhum. É sempre um prazer dividir com pessoas que têm uma boa energia.

Pra você o que a figura do destaque simboliza para os demais componentes da escola? E como é a relação deles com você? 

Maurício Pina: Para mim, a figura do destaque geralmente ele é destacado mesmo, porque ele se prontifica a isso, ele trabalha para isso, e ele faz por isso. E eu vou falar da minha escola, por exemplo, de destaque aqui em São Paulo… Como eu sou abre-alas da Mocidade Alegre a 15 anos, eu tenho um compromisso com a comunidade, no sentido de… Como eu represento, eu faço a abertura dessa escola, eu mesmo sou uma pessoa muito conhecida dentro dessa minha comunidade… Eu tenho relação com todos os departamentos. Quando eu chego, eu vou cumprimentar as baianas, eu tiro foto com as baianas, eu tenho relação com harmonia, e eu tenho relação com a rainha do carnaval, eu tenho relação com o pessoal do bar, eu tenho relação com toda a comunidade que tá ali, com segmentos com os
casais de mestre-sala e porta-bandeiras, eu tiro foto com todo mundo. Eu tenho relação com todas as pessoas porque eu sou uma figura também que representa aquela comunidade. Então, eu tenho que ter uma boa relação com essas pessoas. Então, eu tento me me doar ao máximo para valer a pena essa representatividade que eu tenho de ser o abre-alas dessa escola. E no Rio, como eu saio no Salgueiro, já me tornei também uma pessoa reconhecida, porque eu já estou lá a 11 anos as pessoas já te conhecem… Então, eu tenho uma relação também com todas as pessoas que quando eu circulo pela escola eu tento ser o mais agradável, mais simpático com essas pessoas porque elas que te valorizam como um destaque. Então, você tem que retribuir isso em atenção, em carinho e dedicação a escola que a escola te faz uma alegoria para você expor a sua arte lá em cima. Então, você tem que dar uma maxi valorização disso. Mas isso depende de cada pessoas né, porque tem pessoas que acha que só fazer o destaque, botar uma fantasia e subir na alegoria e pronto! “Estou aqui, já estou!” Não! É um é um todo. É você participar, você se interagir, é você se integrar para que você se torne um destaque reconhecido e amado por muitas pessoas, pela sua comunidade, principalmente. Então eu tento ao máximo ser cordial com aquelas pessoas que fazem você ser um grande sucesso.

O carnaval vem passando por uma crise financeira e muito se fala que as escolas precisam voltar às suas raízes. Você acha que a comunidade se sente representada quando vê vocês nos dias de hoje? Sentiu alguma mudança na relação entre você e a comunidade nos últimos anos?

Maurício Pina: Em relação ao crescimento do carnaval, ele ficou muito grande, ele se comercializou. Mas a minha escola, principalmente aqui a Mocidade Alegre, eu tô falando
da escola que estou muito tempo, é uma escola muito comunidade, a comunidade é muito fiel a escola. Claro que tem mudanças, tem pessoas que entram, de pessoas que saem. Mas, no geral, a gente vai se adaptando às novas mudanças comportamentais das escolas. As escolas se profissionalizaram. Alguma se profissionalizaram e aí elas saem na frente, porque aí elas conseguem patrocinadores, elas conseguem manter a escola para os dias de hoje que requer muitos recursos. Só que a identidade da escola eu acho que ela mantém, por exemplo, para Mocidade Alegre é uma escola que é muito família. Então, eu tenho essa interação com as pessoas e eu não sinto que eu mudei com a comunidade ou que a comunidade mudou comigo. Porque eu vim numa crescente com uma escola… quando eu entrei na Mocidade Alegre era numa escola média, era uma escola que tinha uma média. Hoje é uma escola grande. Então, eu acompanhei esse crescimento da escola. Então, automaticamente, você não percebe muito a diferença das pessoas. Você observa um pouco da mudança, mas no frigir dos ovos a escola está ali, com a sua comunidade, com a representatividade e eu tenho essa comunidade muito forte comigo, é muito muito ok. Eu tenho muitas relações de amizades que eu fiz dentro dessa escola. Então, eu sou muito grato a comunidade da do bairro do Limão, da Mocidade Alegre. E no Rio, no Salgueiro, é uma escola que as pessoas já me conhecem também, vários tempos que eu saio lá. Eu não frequento tanto porque, como eu moro em São Paulo, e no Rio a gente vai quando tem lançamento assistir enredo, na final do samba-enredo, numa outra festa. Então, você começa a já conhecer as pessoas que são mais de setores. Como a gente é destaque, a gente às vezes consegue entrar no camarote do presidente, a gente é sempre muito bem recebido. Então, você fica mais ali no meio do camarote com as pessoas que circulam por ali, o pessoal da boutique que você sempre está ali comprando, as pessoas já te conhecem, quando você chega te recebe muito bem… Então, quando tem uma feijoada do Salgueiro você começa a conhecer as pessoas.. “Ah, eu só te vejo de fantasias!” e geralmente eu tô muito coberto, então às vezes as pessoas nem sabem quem sou eu. Tipo “Ah, eu só conheço você fantasiado” E eu tento me inserir dentro dessa comunidade, dentro desse
contexto para que você não se torne uma pessoa isolada da sua própria agremiação que você escolheu para defender e desfilar, né. Então, eu faço, desta forma, minha parte de sociabilizar com a comunidade de cada agremiação que eu desfilo.

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Você falou, na resposta ao Milton, que as pessoas enxergam em vocês a personificação do papel que estão interpretando. Fale mais um pouco sobre?

Maurício Pina: Essa relação dos personagens que a gente vira deuses, seres aquáticos, seres mitológicos, entidades religiosas, Orixás… Isso daqui é uma situação que acontece muito comigo, assim. Tipo, como eu sou esse camaleão do carnaval que as pessoas me veem de várias formas. Então, eu recebo vários personagens. Tem situações que as
pessoas ficam meio choques, assim. Algumas com o realismo do que eu consigo passar para fantasia. Às vezes a força energética espiritual com aquele personagem tem. E eu tive uma situação onde eu fui Oxalufã na Mocidade Alegre, no ano que falava de “Clara, Claridade”, era um enredo de Clara Nunes…E eu vim no Orum, que eu era Oxalufã e eu estava bem a frente do carro numa posição frente baixa que as pessoas conseguiram chegar perto e muitos componentes que vinham ficavam encantados com aquela com aquela imagem que eles viviam. E teve uma família, que foi muito forte e eu nunca me esqueço dessa cena, que eles vieram e deram me deram a mão, que estava baixo, e eles beijaram a minha mão e o pai mandou os filhos beijar na minha mão também. Então, aquele momento eu percebi que, às vezes, o que você veste as pessoas conseguem enxergar quando você tá bem definido, o que você vestiu aquilo de corpo e alma. Então, esses seres são são eles eles transportam além de uma fantasia para uma devoção das pessoas, por um sentimento que as pessoas olham e sentem, e veem aquele sentimento, aquela imagem de sentimento que elas estão tendo, para com elas, é bastante interessante, bastante impactante, sim. Principalmente eu que criou personagens muito diferenciados é muito bacana. Esse ano mesmo eu no Salgueiro com o Marechal de Ferro, teve um momento que um fotógrafo falou, eu li nos lábios dele, ele chocado, falou: “Meu, está uma estátua perfeita!”. E, tipo assim, ele tirou várias fotos. Inclusive, eu tenho uma foto no dia do desfile das das campeãs, que estava debaixo de uma chuva, e a minha fantasia estava meio intacta porque era uma estátua de bronze, então a estátua não teria problema se desmanchar numa chuva. Foi muito interessante aquilo que o fotógrafo captou vários momentos. E eu tenho até uma imagem do Frota que captou o momento sobre chuva e a fantasia tá belíssima, é uma imagem belíssima porque era uma estátua, realmente. Então, ela podia ser molhada. Então, tem várias situações que acontecem que as pessoas realmente elas visualizam aquele personagem que você está interpretando.

Com quanto tempo de antecedência você chega no sambódromo? Em qual tipo de carro você chega? Quantas bolsas você carrega? Como são feitas essas bolsas? Tem pessoas para dar apoio? Na hora que chega e vê as alegorias desmontadas, de tarde, muito antes de qualquer pessoa, o que você sente? O que você pode contar desse processo de montagem e depois de desmontagem da alegoria? Sente tristeza de jogar lá de cima os plumeiros? Como é essa sensação?

Maurício Pina: Na sequência de chegada no Sambódromo, em São Paulo, é um pouco diferente porque a gente se hospeda no Hotel Holiday Inn que fica dentro do Sambódromo. Quando você se hospeda […] Eu chego por volta das 2h30 da tarde no Sambódromo, dentro do Anhembi. Aí até você se hospedar e tal é umas 4h da tarde. Se o tempo estiver firme você percebe que não chova e sua escola de repente vai sair sei lá meia-noite e quarenta eu tenho uma perua que eu contrato e ela leva a minha fantasia para dentro lá
do Sambódromo. Eu descarrego e aí se o tempo estiver firme a gente começa a fazer a
montagem por volta das 18h, então a gente monta às 18h para umas 19h aquilo tá montado já, se o tempo estiver firme e você não tiver previsão de chuvas. Então, depende muito desse tempo. E eu coloco a minha fantasia, eu monto meu esplendor em cima da alegoria e já você já fica tranquilo. Aí você volta para o hotel, você pode descansar, você pode tomar um banho, aí você pode jantar porque você vai ter tempo de fazer a maquiagem de tudo isso para depois você voltar que ali ao lado mesmo você vai assim a pé dentro do complexo do Anhembi. Aí, quando é faltando uma hora e meia, você vai, você desce já vestido do hotel e você vai para concentração e aí você sobe. É tranquilo. Então é um período assim que começa umas 18 horas para você desfilar meia-noite e quarenta. Agora se você não tem essa hospedagem dentro do hotel, provavelmente você chegaria, se sua escola vai desfilar meia-noite, você chegaria lá por volta sei lá de umas 8h30 a 9h para você subir, montar. Se seu lugar é fácil de subir, você é um lugar baixo, você não tem necessidade de tanta antecedência. É mais tranquilo. Mas se você é em um lugar alto, que você depende de maquinário, você precisa de um tempo bem maior. Para carregar minhas fantasias, eu saio aqui na Mocidade Alegre, eu sou o abre-alas da escola, eu preciso de uma perua Kombi ou de uma van, mas eu tenho um perueiro que está comigo há muitos anos então eu levo, eu sempre contrato essa Perua/Kombi e cabe a minha fantasia toda. Às vezes cabe a fantasia na Kombi, eu e o motorista na frente e mais um assistente e dois atrás, né? Então são três pessoas para carregar a fantasia. Depende, também, de uma fantasia aqui de São Paulo que esse ano era uma fantasia bastante volumosa é um torno de umas 10 bolsas, mas bolsas assim, sacos enormes que são sacos específicos que […] para carregar a pena de pavão comprida, para carregar maçã, para carregar os ferros. Então tem bolsas de vários tamanhos para poder adequar o carregamento dessa fantasia de cada parte. Essas bolsas, eu mando fazer com a pessoa que faz trabalhos para mim que é o Alexandre Pavão. A gente faz com um TNT bem grosso e com alças de […] alças tipo de bolsas, tipo de faixas de algodão grosso, tipo faixa de cinto e velcro para fechá-las. Então são bolsas específicas que a gente cria para carregar essas nossas fantasias alegóricas, né? É para você carregar as fantasias, no mínimo, que você precisa de três pessoas com você. Ainda você carregando também. Depende do tamanho da fantasia. A gente tem três apoios e todo mundo ajuda a carregar porque são pesadas e são bastante volumosas, né? Aqui em São Paulo, a gente tem um acompanhamento das alegorias assim uns 10 dias antes que elas começam a ir para o sambódromo e aqui a gente visita. Então a gente vai vendo o crescimento das alegorias dia a dia, então quando a gente chega no dia elas já estão posicionadas lá dentro do Sambódromo e já estão prontas. A gente não chega com a alegoria ainda desmontada. Ela já tá montada, então o impacto é interessante de ver aquilo tudo construído de uma maestria incrível que eles fazem aqui. A gente acompanha durante a semana o desenvolvimento das montagens das alegorias e vira um evento no Sambódromo. As pessoas vão, dá para a gente ver de todas as agremiações. Assim, então, é um processo de uns 10 dias antes que começa a montagem das alegorias, lá no Anhembi, então a gente acompanha isso e é muito legal você vê em dois […] você já vê as escolas que tem alegorias mais incríveis, escolas que estão menos, escolas […] alegorias que se destacam. Então a gente acompanha isso aqui em São Paulo no decorrer de uma semana mais ou menos. O processo de montagem das alegorias é incrível. Porque você vai vendo o crescimento daquelas alegorias dentro do sambódromo, se tornando grandes alegorias, às vezes alegorias imensas que aqui em São Paulo tem uma grandiosidade, assim, que tem espaço, não tem viaduto, então elas crescem, elas são grandes. E, como o sambódromo é muito aberto, se elas forem pequenas elas meio que somem. Então aqui tem um gigantismo alegórico muito interessante. E quando passa, que aquilo estaciona do outro lado do Sambódromo é interessante. Você olha para aquele estacionamento de alegorias. Agora quando começa a desmontagem é muito triste porque você vê aquele sonho se desfazendo, as peças já indo embora e as pessoas levando-as. As agremiações durante a semana que passou o carnaval, pós-apuração, pós-desfiles das campeãs, eles começam a desmontar e dá uma tristeza de ver todo aquele trabalho sendo desmontado para levar de volta para agremiação ou para eles venderem ou reaproveitarem. E tem escolas que não tem esse cuidado, deixam as alegorias jogadas em um terrenão por muito tempo, deixa suas alegorias lá tomando sol e chuva. Eu acho triste, porque o material que é lindo e precioso e tem valor financeiro. Eu acho que deveria ser mais bem tratado por algumas agremiações que abandonam suas alegorias e as pessoas às vezes destroem. Eu não gosto dessa parte não. É mais interessante o processo da montagem do que de desmontagem. Em relação ao meu sentimento, quando eu vejo a hora, que eu chego que aquela alegoria tá pronta, eu me sinto muito orgulhoso porque é uma alegoria que eu digo que é como um museu que vai ter uma exposição no sambódromo e aquela alegoria é parte do cenário de onde eu vou me apresentar, de onde que eu vou inserir dentro desse museu para que ele passe dentro do sambódromo e as pessoas vão apreciar. Então é muito interessante quando você tem uma alegoria incrível que você se apaixona por ela, que ali você vai voltar sua arte e atravessar o sambódromo para o mundo apreciar esta arte ao museu de céu aberto. Eu acho muito fantástico quando […] principalmente quando se tem uma alegoria deslumbrante. É muito bacana, você se sente muito confiante de atravessar sobre aquela alegoria, principalmente no meu caso que eu desfilo no abre-alas. Aqui os portões se abrem para aquela alegria entrar, então é muito legal. Eu me sinto muito privilegiado de fazer parte deste grande momento do carnaval, né?! Quando termina o desfile e a gente tem que ser muito rápido, porque para você montar você tem horas, para você ir aos poucos, pessoas te ajudando e você sobe e alguém te ajuda a montar, a subir as bolsas, na hora da desmontagem é coisa rápida, você tem que ser the flash porque você tem que descer da alegoria e, se você não descer com a sua fantasia, ela vai para o terrenão e lá você vai ficar um tempo para poder retirar essa roupa. Então, assim que termina a faixa amarela, eu tenho um esquema que eu tenho camarim na minha fantasia. Eu crio camarins. Eu criei um camarim porque eu sofria muito antes com bolsas, com situações para gente carregar tudo aquilo de volta. Então eu criei, eu estudei, analisei e eu mesmo, junto com o serralheiro, desenvolvi um camarim na
coluna da minha fantasia. Eu tenho tipo um closet ali dentro da minha fantasia que eu guardo todos os sacos que eu carrego minhas fantasias para que, na volta do desfile, eu tenha tudo em mãos ali, para poder embalar de novo aquele e carregar até o transporte, até a perua que vai trazer a minha fantasia de volta para minha casa. Então, passou a linha amarela, eu já viro para trás, eu já deixo um saco fácil acesso, eu já puxo um saco e já começo a tirar. Primeiro é a cabeça, depois eu tiro a minhas luvas que a luva atrapalha um pouco para você desmontar. Então eu tiro a cabeça, tiro a luva, tiro os punhos e já vou colocando dentro do primeiro saco. Aí já tiro a gola, já tiro a saieta, os cintos, eu vou desmontando a fantasia do meu corpo primeiro, para mim ter mobilidade de eu desmontar a fantasia, o costeiro lá de cima, o esplendor. Então, o primeiro saco é com essas partes. Então, eu fico só com a base da roupa e vou tirando o máximo de coisas que me atrapalha, para me movimentar e desmontar o restante da fantasia. Eu tiro essa parte do meu corpo e já deixo o saco assim no queijo, na frente do queijo, e já tiro o segundo saco e começo a tirar o que está na minha volta. É base de pluma, carrinho de pluma, situações assim. Eu sou uma pessoa que eu tenho muita praticidade na desmontagem da fantasia, porque como eu já desfilo há uns 35 anos no carnaval, eu fui pegando todos os macetes porque ali não dá para ficar dando close, não. A não ser quando a rede Globo que vê alguém ali na frente do carro e já comunica que: Olha você vai para Globo. Então, automaticamente, meus apoios estão ali perto e já dou […] já grito com eles: Olha eu vou para a Globo, vocês vão ter que subir para desmontar minha fantasia, o esplendor, que eu tenho que descer rápido. Então, enquanto eu não chego lá para o bombeiro me tirar, eu já vou desmontando algumas partes, mesmo com a roupa montada. Tiro só a cabeça, depois eu recoloco na hora de subir na cabine da Globo e eu vou desmontando para facilitar o processo. Porque quando você é convidado para cabine da Globo você tem que ir logo, por causa do timing da gravação, senão você perde esse momento. Quando não, você vai desmontando, que você sabe que você não vai para cabine da Globo. Eu já vou terminando com sonho ali mesmo de desmontagem. Então você tem que ser muito rápido e quando o bombeiro chega para te buscar geralmente sobe um apoio ou se o apoio não sobe você automaticamente vai dando as sacolas para o bombeiro e eles esperam um pouco até você ter finalizado. Mas é uma coisa rápida. Você tem que ser bem prático. Por isso que na hora da criação da ferragem, eu discuto bastante com o serralheiro para que eu monte e desmonte essa ferragem com mais praticidade. Agora tem pessoas que têm ateliês que sobem para desmontar, com todo o processo. Como o meu ateliê é by Maurício Pina, eu
mesmo desmonto as minhas fantasias aqui em São Paulo, né. Já no Rio de Janeiro, a montagem diferente, né? Elas são […] as alegorias vão chegando ali à tarde. Você finalmente tem pessoas que têm livre acesso de ir lá ver as alegorias. Eu vou no timing que a escola me programa. Por exemplo, no Salgueiro, esse ano era a terceira escola, por volta de 11h30/meia-noite. A gente é programado para chegar às 8h da noite. Então eu tento chegar nesse horário, pelo fato de eu ter todo esse período para eu chegar, achar minha alegoria e me posicionar onde ele está e começar a montar minha fantasia. Então eu chego por volta de umas 4 horas de antecedência do desfile. Eu fico, geralmente, naquele hotel ali Vila Galé, na rua Riachuelo. Então ele é próximo do Sambódromo. Então, geralmente, eu divido minha fantasia do Rio de Janeiro em dois táxis, eu consigo parar dois táxis grandes assim tipo Spin e aí eu coloco uma espinha, abaixa-se os bancos, eu coloco toda a minha fantasia nos bancos de trás, porta-malas e banco de trás e eu vou com o motorista na frente. E, o segundo táxi, vai com os meus três apoios. Porque a gente vai numa sequência e quando chega lá para-se um táxi atrás do outro e os meus apoios vem para me ajudar a carregar essas fantasias. Então esse processo que a gente tem feito, que eu tenho feito no Rio de Janeiro para chegar ali na Marquês de Sapucaí, na concentração, ou lado do Balanço ou lado dos Correios. A gente para na avenida ali, atravessa as pontes e já entra dentro da concentração. Então dessa forma que eu resolvo a minha ida para dentro do Sambódromo para o Rio de Janeiro. Quando eu chego lá é muito interessante. Porque no Rio de Janeiro, eu nunca vejo as alegorias prontas com antecedência, né?! Porque a gente mora em São Paulo e a gente vai no barracão antes e elas ainda não estão prontas, para levar os ferros, para ver medidas, essas questões com antecedência. Então quando eu chego é uma surpresa, no Rio de Janeiro, realmente para mim quando vejo alegoria que eu vou estar. E, um caso bastante interessante que eu vi, assim realmente de surpresa, foi a alegoria quando eu desfilei no ano dos Saberes e Sabores, em 2015, que foi a alegoria do diamante. Quando eu cheguei que eu vi aquele diamante que eu iria em cima eu fiquei extasiado com aquilo, eu me senti: nossa demais! Porque era um diamante muito reluzente. Minha fantasia, eu era o diamante também que ia cima do grande diamante. Então, para mim, foi prazeroso receber e visualizar aquela alegoria, pois foi um impacto assim muito grande. Então foi muito bacana quando eu tive essa surpresa muito agradável dessa alegoria. Todos os anos temos alegorias lindas, principalmente na escola que
eu desfilo, o Salgueiro, mas esse ano do diamante como eu não tinha visto nada do carro, eu fiquei bastante impactado. Inclusive, a fantasia foi bastante comentada pelo Milton que, até aquele momento, era a mais bela roupa da noite. Então, eu tenho muita gratidão por este momento dessa fantasia do diamante. E, no Rio de Janeiro, a gente […] é mais complicada a desmontagem. Porque, se você tiver muito alto, você depende do bombeiro e se você não for muito rápido, muito ligeiro na desmontagem, você vai para a rua e lá na rua não tem bombeiro para te ajudar, fica mais complicado de descer, mais complicado […] do tumulto da volta, você tem que tomar cuidado para que ninguém tire uma sacola sua ou tire pena, ou tire as situações. A gente tem que ser mais rápido para não sair para rua, porque fica mais complicada a desmontagem. Então, eu sou mais ninja mesmo, no Rio de Janeiro, na desmontagem da minha fantasia, não dá para bobear não. E, quando você vai para Globo também, então aí é mais rápido ainda, porque tão te chamando e ali é um timing ou você sobe ou você não sobe, fica só olhando de baixo. Quando você é convidado, né, que é maravilhoso. Eu acho que, em todos os anos, tinha que pelo menos um destaque de cada agremiação ser convidado para subir na cabine da Globo, porque isso engrandece a nossa categoria de destaques. Porque todos os segmentos vão e às vezes o destaque fica em falta, né?! Eu acho que cada ano um destaque indo, de cada agremiação, é bacana, legal de nos representar nesse momento de glória do carnaval, né?!

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