Por Milton Cunha, Victor Raposo, Thiago Acácio, Reinaldo Alves, Tiago Freitas e João Gustavo Melo
“TRAVA NA BELEZA: Imaginários sobre o destaque de luxo de escola de samba”, que será publicado no Dossiê da Revista Policromias do LABEDIS, Museu Nacional da UFRJ, com Editoria de Tania Clemente.
Para chegar aos núcleos temáticos, fizemos uma série de entrevistas que passamos a publicar no site CARNAVALESCO, duas vezes por semana. Este material acabou não entrando no corpo do texto, por limitação de espaço, e não queríamos deixar de mostrar. É uma homenagem aos esforços destes luxuosos personagens que habitam nossos sonhos de folia! Viva os Destaques de Luxo, mensageiros do glamour.
Edmilton Paracambi – Viradouro
O que você imagina que a plateia imagina quando te vê passando na avenida durante o desfile?
Edmilton Paracambi: Eles imaginam que somos deuses do mundo do samba. Destaque de luxo é admiração, beleza, empoderamento, determinação, representatividade, amor, glamour, um resplendor de sonhos, prazer e satisfação. É como um pavão ao exibir suas penas, formando um arco resplandecente da vaidade e do belo transmitido. É teatro e criatividade.
Gostaria de saber como surgiu o seu interesse em ser destaque de luxo? Quando foi o seu primeiro desfile nesse posto? Como e quando foi a sua chegada na Viradouro? Já desfilou em outras agremiações nesse posto? Se sim, quais?
Edmilton Paracambi: Há 35 anos atrás conheci um amigo, em Paracambi. Veio de Nilópolis trabalhar aqui. Ele tinha uma ala de fantasias e saia na Beija-Flor e através dele começou meu interesse por me fantasiar. Ele nessa época saia também no Leão de Nova Iguaçu, ai fui ser destaque do Leão de Nova Iguaçu. Meu primeiro desfile foi no ano de 1997. Minha chegada na Viradouro foi através de um amigo que já saia na Viradouro e me levou para lá. Já fui destaque da Beija-Flor, Cubango de Niterói e Império da Tijuca.
Como é o seu planejamento para desfilar? Qual o seu papel na concepção e elaboração da fantasia? E como é a relação do carnavalesco nesse processo?
Edmilton Paracambi: A elaboração da fantasia é sempre o carnavalesco que vê tudo. Depois que ele desenha, me manda a foto e aí vejo se gosto e mudo alguns detalhes. O carnavalesco sempre fala o material que ele quer, a cor da plumagem e vou seguindo a orientação dele. Esse ano, por exemplo, ele pediu que tivesse uma pintura de arte para envelhecer a roupa depois de pronta.
E em relação ao personagem/papel que você vai interpretar no desfile. Você faz alguma preparação corporal, nos aspectos de gestual e de semblante? Como que você “encarna” aquilo que está vestindo? Como internaliza as personagens que representa?
Edmilton Paracambi: Quando venho representando algum personagem sempre procuro ficar parecido, com maquiagens no rosto, perucas e luvas. Faço uma pesquisa do personagem e procuro até dançar como o personagem. Na passagem da avenida incorporo totalmente o personagem.
Você tem apego com as fantasias? Como lida com a ideia de que ela será vista em pouco tempo pelo público?
Edmilton Paracambi: Não tenho apego as fantasias. Já fiz muitas doações de fantasias e tenho algumas guardadas que vou expor aqui na minha cidade. Acho que a cidade do Rio de janeiro teria que ter um local com essas fantasias tipo um museu do carnaval. Muitas roupas lindas já se perderam. Muitas pessoas têm vontade de ver essa arte de perto. O público mesmo que assiste deve ficar imaginando de que material será feito essas roupas. As pessoas que assistem devem ficar passadas com tanta beleza. E deve ficar com a imagem na mente por muito tempo eu mesmo ficava quando ia assistir desfile de fantasias.
Para você, o que faz uma fantasia de destaque se eternizar na mente de quem assiste os desfiles? E o que faz um destaque se distinguir dos demais destaques de luxo do carnaval?
Edmilton Paracambi: Nós, destaques, nos distinguimos pelo material que usamos, tipos de pena, grandiosidade. E na montagem somos artistas diferentes.
Tem alguma fantasia ou fantasias por qual você sempre é lembrado (a) ou que tenha se tornado inesquecível para as pessoas? Se sim, por qual motivo isso aconteceu?
Edmilton Paracambi: Tenho uma fantasia prata e vermelha, em tons de rosa, que na abertura do carnaval aqui de Paracambi usei. Tinha uma máscara na mão, fui muito aplaudido quando cheguei no salão com ela. Todos queriam tirar fotos. E, no outro dia, usei na Viradouro. A cidade toda parou para me ver na televisão com aquela fantasia. Vim em cima de um bonde. Foi incrível e inesquecível.
Você considera o luxo essencial para a festa? Se sim, por qual motivo?
Edmilton Paracambi: O luxo é essencial. Todo mundo gosta de ver luxo e no carnaval existem materiais luxuosíssimos. Todos querem ver.
Antigamente, cada destaque vinha em uma alegoria.
Hoje, com a diminuição do número de carros, isso tem sido menos frequente. Como você enxerga essa mudança? É um problema para você dividir a atenção do público?
Edmilton Paracambi: A mudança de carros alegóricos, para mim, ficou mais grandioso. Os carros alegóricos agora vêm com mais destaques e acho que chamam mais a atenção do público.
Pra você o que a figura do destaque simboliza para os demais componentes da escola? E como é a relação deles com você?
Edmilton Paracambi: O destaque é realmente uma figura de destaque da escola de samba. Queremos ser destacados e investimos muito dinheiro não para ser melhor que ninguém, mas é uma coisa de dentro da gente mesmo, uma vaidade. Em relação aos componentes, tem muito carinho comigo. Eu sempre vou para a quadra, danço. Sou tratado com muito carinho.
O carnaval vem passando por uma crise financeira e muito se fala que as escolas precisam voltar às suas raízes. Você acha que a comunidade se sente representada quando vê vocês nos dias de hoje? Sentiu alguma mudança na relação entre você e a comunidade nos últimos anos?
Edmilton Paracambi: Acho estranho. Todo ano tem crise e as escolas acabam vindo lindas. Acho também que podem usar material alternativo e criatividade, mas isso todas têm de sobras. Na Viradouro, já saio há anos e não sinto mudanças não. É uma escola maravilhosa. Minha segunda família. Amo muito todos.
Você falou, na resposta ao Milton, que as pessoas enxergam vocês como deuses do mundo do samba? Como você se sente ocupando esse lugar de divindade? Existe alguma devoção das pessoas com vocês nesse lugar de deuses?
Edmilton Paracambi: Sim. Existe uma devoção que não tem vínculo com a religiosidade à Deus, aos orixás e outros seres divinais, mas sim com o amor, respeito e admiração ao que fazemos pela arte do samba. No meu caso, tenho pessoas que há décadas acompanham minha trajetória sendo destaque de luxo. E, realmente, me tratam com uma devoção, uma certeza, uma espera, um frenesi, uma torcida e até preces e orações para que meu personagem, meu figurino de destaque de luxo aconteça de forma impecável mais uma vez, mais um ano, mais um carnaval. Sendo cada dia de apresenta-lo, dia da celebração deles, meus seguidores, fãs dos Deuses do carnaval, ano a ano.
Com quanto tempo de antecedência você chega no sambódromo? Em qual tipo de carro você chega? Quantas bolsas você carrega? Como são feitas essas bolsas? Tem pessoas para dar apoio? Na hora que chega e vê as alegorias desmontadas, de tarde, muito antes de qualquer pessoa, o que você sente? O que você pode contar desse processo de montagem e depois de desmontagem da alegoria? Sente tristeza de jogar lá de cima os plumeiros? Como é essa sensação?
Edmilton Paracambi: Eu moro distante, há uma hora do Rio, em Paracambi. Vou com uma Doblô com a fantasia no bagageiro. Chego sempre uma hora da tarde fico com medo do trânsito, carrego 20 bolsas que são feitas de tecido grosso e tenho 5 apoios, fora os da escola. Chego, fico muito feliz e me sinto como se fosse subir em um castelo. Triste no final que tem que retirar tudo e as vezes quebra muitas penas, mas é maravilhoso.