Quando falamos de mestre de bateria em São Paulo, temos nomes que estão há muito tempo ditando o ritmo e construindo uma bonita história no mesmo pavilhão. Um dos nomes mais longevos é o mestre Sombra, da Mocidade Alegre. São 30 anos comandando a “Ritmo Puro”. Com tantos anos de escola de samba e de bateria, passando por diversas transformações, ele revelou os desafios em conversa com o CARNAVALESCO.
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“É uma lição de vida. Você vai lidando com pessoas diferentes, realidades diferentes, vivências diferentes, atualização do mundo moderno e da tecnologia e vamos adequando. É um processo natural, a partir do momento que você está em contato, você não sente tanto a transição, porque você está vivenciando o dia a dia. Vai mudando e você vai se adequando naturalmente com o formato que vai caminhando. É um dos quesitos mais difíceis de ser julgado do carnaval, é o contingente que mais ensaia, é um contingente que mais tem contato com a escola durante o ano todo. E a bateria como já diz o ditado é o coração da escola. Estamos sempre trabalhando para não deixar a máquina parar”.
O que é a Mocidade Alegre para o mestre Sombra?
Mestre Sombra é a cara da Mocidade Alegre, afinal, 30 anos formam uma vida, e tem sua família toda presente na escola. O filho, mestre Carlinhos Sombrinha, é diretor de bateria, a esposa Solange Cruz é a presidente da escola, e o netinho já marca presente com o vovô. Discreto, mestre Sombra e com poucas palavras falou sobre a escola do coração: “A Mocidade é uma escola que eu cheguei aqui, é uma escola, é uma faculdade, muito aprendizado e oportunidades. O resumo de tudo, isso é muita gratidão. A minha vida aí em 30 anos, o resumo de tudo isso é muita gratidão a Mocidade Alegre”.
Dedicação do Mestre Sombra com a Morada
Pouco é falado sobre os grandes personagens do carnaval, das escolas de samba, fora do ambiente que estamos acostumados. O mestre da bateria “Ritmo Puro” falou sobre vivenciar o carnaval quase que 24 horas por dia, mas teve seus desafios profissionais que levaram a escola de samba.
“Sou um cara tranquilo, gosto de trabalhar, sempre que posso estou na quadra fazendo alguma coisa que é o meu trabalho. Estou no barracão, na Arena, estou na quadra, na Fábrica do Samba, eu gosto. Eu sou nascido e criado nesse meio, não tem muita distância disso. Trabalhei fora, em fábrica de cimento e em agência de publicidade. Tenho uma formação fora, profissional. E aí hoje é disso que aprendi fora e eu aplico na escola e vamos trabalhando”.
O que podemos esperar da bateria da Morada?
Em relação a bateria da Morada para 2025, o mestre Sombra mostrou muita tranquilidade para trabalhar e lembrou de um exemplo marcante da sua bateria em 2009.
“Por enquanto nada, acabou de escolher o samba, isso vai acontecendo naturalmente, é no dia a dia. Não fico pensando no que eu vou fazer neste momento não. Primeiro agora é ouvir o samba, ensaiar o samba para depois começarmos a falar o que é a realidade. Eu nunca faço isso. Para você ter ideia, em 2009 que nós fizemos um coração, a ideia saiu faltando trinta dias para o Carnaval, começamos a ensaiar e deu certo. Não fico preso nisso não”.
Refletindo sobre o momento das eliminatórias
Quem vê o mestre Sombra sabe o quão discreto é, e por vezes até mesmo tímido, mesmo com tanto tempo de casa, o respaldo no meio do samba, mas costuma ser homem de poucas palavras. Mas um tema fez Sombra refletir bastante sobre o momento que é a falta de eliminatórias nas escolas de samba, e claro, falando sobre a Mocidade Alegre, sua escola e o modo de definir o samba nos últimos carnavais estar cada vez mais reduzido.
“Eliminatória é uma fase de maturação dos sambas. Quanto mais você tem, mas o samba vai mostrando a sua real identidade para o que ele veio. A bateria vai se encaixando, os intérpretes que defendem vão melhorando a performance, muito bom esse período, porém hoje tivemos que se adaptar à realidade financeira. Você faz uma semifinal e uma final, não é muito bom, você tem um trabalho dobrado. E aí na correria do dia a dia você tem que estar botando o samba no som, mas é samba gravado e a emoção é diferente. É um samba que está gravado no estúdio. O ao vivo é ao vivo, você faz a realidade da vida, do samba, da bateria, da escola, das torcidas cantando o samba. Mas ficamos bem atentos aí para esse novo formato, estamos se adequando e vamos embora e graças a Deus e escolhemos um bom samba”.
Complementou falando sobre o desafio nas eliminatórias e escolha do samba de 2025: “Antigamente fazíamos dois, três meses de eliminatória. Hoje estamos fazendo semifinal e final. Eram 10 ou 12 eliminatórias antigamente, até chegar na semifinal e na final. Então o processo dentro da quadra era o outro. A emoção, bateria tocando, o público, quadra cheia, é outra realidade. Hoje de 10 ou 12, você caiu para duas dentro da quadra, isso dá uma esfriada. Mas faz parte do contexto. Vamos trabalhando e seja o que Deus quiser. Mas também na parte do trabalho, o samba está bem escolhido. Não vai dificultar não em relação ao samba”.
Conexão com outros mestres
É só ir em algum evento de bateria que vemos o mestre Sombra presente, mesmo quando a Mocidade Alegre não está envolvida. Marca presença, discreto, acompanhando baterias das escolas do Rio de Janeiro ou mesmo as de amigos de São Paulo. Sobre o relacionamento com outros mestres, Sombra relatou: “É normal, muita gente que eu vivenciei lá atrás, que eu conheci lá atrás, muita gente que eu vi crescer, é o bastidor de samba. Contato, relação social, um bom relacionamento com todo mundo, graças a Deus procura fazer dentro do que eu sou, um cara mais quietão assim, mas procuro ter um bom relacionamento com todo mundo e vamos seguindo”.
Ao pedir para o mestre Sombra deixar um recado livre, resolveu refletir sobre a mudança com a era das redes sociais. Afinal, o mestre de bateria passou por diversas eras, desde os tempos de jornal e rádio, para a transição das transmissões na televisão, e atualmente no mundo digital nos trinta anos de trabalho.
“Só tenho a agradecer ao CARNAVALESCO pelas coberturas, pelas oportunidades que vocês dão para gente aí de estar mostrando o trabalho da gente e poder estar falando, é muito importante. Antigamente não tínhamos muita oportunidade quando a gente saía uma foto nossa no jornal, alguma matéria, a gente comemorava e soltava fogo. Porque era muito difícil ser divulgado o nosso trabalho, dos bastidores da escola de samba e vocês com as redes sociais, vocês conseguem mostrar isso no dia a dia, estão full time, tudo que acontece e isso é muito importante para o samba”.
A atual bicampeã do carnaval de São Paulo, a Mocidade Alegre, vai trazer como enredo em 2025: “Quem Não Pode com Mandinga, Não Carrega Patuá” e será a terceira escola a desfilar no sábado de carnaval, dia primeiro de março, já entrando no domingo.