Na Mocidade desde os tempos da Estrelinha e à frente da bateria desde 2013, mestre Dudu venceu a desconfiança e a rejeição de alguns jurados para colocar a “Não Existe Mais Quente” entre as melhores do carnaval. Comandante de um ritmo inconfundível, o mestre apostou no legado de seus antecessores e na tradição da Estrela-Guia, para se tornar porto seguro de notas.
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Apesar de Mestre André sempre ter dito que ninguém segurava a bateria da Mocidade, houve um tempo que os jurados resolveram segurar sim. O ritmo histórico e irreverente, havia se perdido no ritmo das paradinhas, vítima de mudanças que fugiram da tradição da escola. A partir de 2012, coube ao herdeiro dos tambores de mestre Coé, a missão de resgatar o legado de tantos carnavais inesquecíveis.
Em 2025, mestre Dudu irá completar 13 anos à frente da bateria da Mocidade Independente de Padre Miguel, agora na figura de garantia de notas máximas e certeza de levantar a Sapucaí. Até o primeiro 10, Carlos Eduardo Arcanjo de Oliveira precisou resgatar um ritmo que já não estava mais no samba do povo.
“Em algum momento a bateria se perdeu no andamento. Alguns mestres, infelizmente, pensam que tem que colocar do seu jeito. Eu já acho que precisa colocar o que é a Mocidade de verdade. Eu sou filho de mestre (Coé) e aprendi aqui dentro. Cheguei na escola com 6, 7 anos de idade. E repito: enquanto eu estiver vivo, vai ser isso e a bateria será desse jeito”. Na fala, Dudu completou explicando que apesar do carnaval ter se modernizado, é possível manter um legado de ritmo.
Dudu foi a aposta da Mocidade em sua própria história e dado a ele tempo para trabalhar a longo prazo, o que fez a escola colher frutos. De quando assumiu a bateria sozinho em 2016, até então de 2012 até 2015, dividiu o comando com mestres Andrezinho e Baréco, a primeira nota máxima veio em 2018. Mas, o 40 mesmo, para encher Padre Miguel de orgulho só veio em 2023. A nota máxima em 2024 (com 9,9 descartado), não foi apenas a consolidação de um trabalho, mas a mudança de patamar para a segurança das notas, uma vez que a Mocidade vem enfrentando dificuldades em outros quesitos, salva pelo brilhante primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Diogo Jesus e Bruna Santos.
Mestre Dudu falou sobre o trabalho apresentado até o carnaval de 2024 e projetou um futuro melhor para a Verde e Branca da Zona Oeste.
“É um trabalho de formiguinha. Quem é mestre de bateria sabe muito bem do que estou falando. É um trabalho árduo e de longo prazo. Eu estou fazendo o meu 13º carnaval com a Mocidade, no comando da bateria, e fico triste ao ver outros segmentos, infelizmente, não gabaritando as notas. A escola não é só a bateria. Mas, eu tenho certeza que o trabalho de 2025 vai ser muito diferente do que a mocidade vinha apresentando”.
A bateria resistiu às mudanças na diretoria da Mocidade nos últimos anos. Dudu se manteve no cargo, mesmo com as trocas na presidência e disputas pelo trono Independente. Ele resistiu a um 9,6 dado por um jurado em 2016 e insistiu no seu trabalho quando, segundo ele, recebeu uma mensagem dizendo que não ganharia 10, enquanto tocasse como a Mocidade sempre tocou.
Para o mestre, chegar ao ponto de ter a confiança da comunidade é resultado de não negociar o legado de mestre André e seu pai mestre Cóe. A “Não Existe Mais Quente”, foi despontuada por ter a batida diferente de outras escolas, canetada na cabine dupla por não ter apresentado bossas, enquanto o jurado ao lado comentou sobre a bossa, na justificativa. Na insistência, a nota veio.
“Já ouvi comentários que eu deveria mudar o andamento, mudar a afinação, colocar a caixa em cima… Não, eu bati no peito e segurei esse legado que o André deixou e aí está o resultado. É um motivo de muito orgulho. Meu pai falava muito para mim que a voz do povo é a voz de Deus, e o povo fala que a nossa bateria é diferenciada. Há uns 8 ou 10 anos, eu recebi uma mensagem, conversando com um jurado de bateria, onde falou para mim que eu não ganharia 10 enquanto a bateria da Mocidade fosse assim. E eu provei para ele e para todo mundo que a nossa bateria é isso que vocês veem hoje”.
A bateria da Mocidade Independente recuperou o seu prestígio, enquanto a escola tenta se alinhar com outros quesitos que ainda não conseguem boas notas. Mestre Dudu atrela isso ao fato de todos terem entendido que só existem duas baterias diferenciadas, a da Mocidade e a da Mangueira. De acordo com ele, apenas essas duas podem ser reconhecidas de olhos fechados. E, então, são julgadas de acordo com suas características e não cobradas por tocarem diferentes.
Para 2025, Dudu promete o mesmo sucesso dos últimos anos, mas com um samba mais a cara de sua bateria, diferente do samba do Caju que, segundo o mestre, era mais para frente que o costume de seus ritmistas e ocorreu uma flutuação no último módulo, onde perdeu 1 décimo, que foi descartado. Ele completou suas falas comemorando que o patrono, Rogério Andrade, entendeu que é preciso fazer mais pela escola e afirmou:
“Por ser uma bateria muito esperada, eu vou trabalhar o samba. E pode aguardar que com as minhas maluquices – uma maluquice para o bem – vamos lutar para gabaritar. Além de entregar um trabalho legal para o independente, que merece esse retorno”
Com o samba já escolhido, a “Não Existe Mais Quente” já pode trabalhar as suas lendárias paradinhas para chegar no desfile da terça-feira de carnaval e a única coisa que irá flutuar será a emoção de quem ouve o toque verde e branco de Padre Miguel.