O personagem imaginário que povoou a cabeça dos independentes durante todo o processo de disputa de samba irá representar a Mocidade Independente de Padre Miguel no desfile de 2019. ‘Olha lá menino tempo, tenho tanto para contar’ irá embalar o enredo ‘Eu sou o tempo. Tempo é vida’, desenvolvendo novamente pelo carnavalesco Alexandre Louzada. A parceria de Jefinho Rodrigues, Diego Nicolau, Marquinho Índio, Jonas Marques, Richard Valença, Roni Pit Stop, Orlando Ambrosio, Cabeça do Ajax saiu aclamada pela quadra e foi escolhida campeã. A Mocidade encerra o desfile do Grupo Especial na segunda-feira de carnaval em 2019.
O compositor Jefinho Rodrigues consolida seu nome na história da Mocidade com mais uma conquista. Autor de inesquecíveis obras da discografia da escola, como 1994, 1996 e 2002, ele chega na sua nona vitória na agremiação, o que o iguala ao lendário Dico da Viola. Marquinho Índio, seu antigo parceiro, obteve a sua sétima conquista. Independente apaixonado, Diego Nicolau ganhou notoriedade primeiro fora de sua escola de coração. Depois de ganhar pela primeira vez em 2012, venceu novamente em 2014 e agora alcança o tricampeonato de samba-enredo na Mocidade. Jonas Marques venceu pela segunda vez e os demais compositores são campeões pela primeira vez.
Sem segurar as lágrimas ainda durante a apresentação de sua obra na quadra, o compositor Diego Nicolau falou ao CARNAVALESCO que sentia que daria para vencer ainda na fase de gravação da obra. Ele acredita que essa vitória tem um sabor especial.
“Olha, não sei se foi a melhor vitória, porque cada uma tem a sua própria história. Mas me deu um prazer muito grande fazer esse samba. Venho chorando desde que essa obra ficou pronta. A cada apresentação eu via no olho da comunidade, de cada segmento a aceitação do nosso samba. A felicidade é extrema. Foi uma final com um nível muito elevado”, afirma o compositor campeão.
“Esse é o segundo samba que ganho com o Diego. Ele é um dos melhores parceiros que trabalhei. Ele é o ‘cara’ da atualidade. Eu não canso de venerar e homenagear o Diego”, Jefinho Rodrigues
A parceria teve uma dupla de ouro na condução da obra. Além do compositor da obra Diego Nicolau, o intérprete da Vila Isabel, Tinga, o mister final, defendeu a composição. A passagem do samba teve um início arrasador com diversas pessoas fora da torcida cantando. O samba conseguiu uma constância em seu rendimento muito bem conduzido pelos cantores. Se mostrou competitivo desde o início com uma avassaladora apresentação que conquistou toda a quadra da Mocidade. A torcida cantou muito forte e cativou nas passadas sem a bateria. A emoção de uma apresentação tão espetacular levou o independente Diego Nicolau a chorar de forma copiosa durante a passagem.
“Estou muito feliz e honrado com essa vitória. Foi uma final emocionante. Feliz por ter empatado (9 vezes) com o Dico da Viola como segundo maior vencedor de samba na Mocidade. Estou aqui desde os 12 anos de idade. Fui aluno de mestre André, ritmista, diretor de harmonia. Nós fizemos um samba que pudesse tocar o coração e na alma do Rio de Janeiro, componentes e torcedores da Mocidade. Eu fui esse “Menino tempo”, a mãe do Richard Valença torcia para meu samba com ele pequeno. Hoje ele é meu parceiro. Venci na Unidos de Padre Miguel e na Mocidade. Não quero mais nada para este ano”, brincou o compositor Jefinho Rodrigues.
Busto para Wander Pires na quadra da Mocidade?
O Maracanã do Samba viveu uma noite de energia mágica na escolha do hino oficial para o Carnaval 2019. Absolutamente lotada, a quadra testemunhou cenas de intensa emoção. A começar pela entrada do pavilhão na quadra, trazida pelos dois casais de mestre-sala e porta-bandeira. Sinal de respeito com o maior símbolo de uma escola de samba.
Apesar de um certo atraso na programação prevista inicialmente, o show com os segmentos foi de arrepiar, iniciado com um esquenta de bateria que levou a quadra ao delírio. Ídolo de dez entre dez independentes, Wander Pires iniciou a viagem no tempo com o samba de 1985, o mais emblemático da história da Mocidade.
Em seguida foram cantados os sambas dos carnavais de 1976, 1983, 1990, 1987, 2017 e a despedida do Carnaval 2018. Detalhe curioso é que na hora de anunciar o samba campeão, o cantor subiu ao palco fumando um charuto. Já passavam das 5h30 quando o samba campeão foi anunciado. Os vencedores receberam o troféu Wilson Moreira, cantor e compositor morto recentemente. Apesar de portelense, o sambista tinha uma íntima relação com a Mocidade, por ter nascido em Realengo. A festa do campeão invadiu a manhã em Padre Miguel.
Perguntado se merecia ter um busto na quadra, como Renato Gaúcho pediu ao Grêmio, após o título da Libertadores, Wander Pires gostou da ideia: “Seria muita honra para mim ter um busto aqui. Ainda falta eu dar muita alegria para o meu povo. Ser campeão na Mocidade é algo que enriquece o currículo. Eu sou um cara muito emotivo. O samba mexe com o Independente e emociona o componente”.
Mestre Dudu revelou que a bateria “Não existe mais quente” está ciente que a responsabilidade em 2019 será ainda maior após o belo desfile de 2018.
“Após a conquista é difícil manter o alto nível. Estamos trabalhando forte nos ensaios para continuar assim. Não teremos mudança em relação ao andamento. Já é uma característica, tradição da escola e a diretoria não quer mudar. Talvez, possamos reduzir um pouco a bateria. Retirar algumas caixas, marcações ou tamborins”, explicou.
Mocidade seguirá usando quadra antiga, afirma Rodrigo Pacheco
O palco sagrado onde nasceu a Mocidade, na Vila Vintém, foi revitalizado este ano e virou a casa da disputa de samba para o Carnaval 2019. O vice-presidente Rodrigo Pacheco afirmou à reportagem do CARNAVALESCO que os planos de usar a quadra histórica permanecem.
“Conseguimos recuperar a energia daquele lugar. É uma vitória para todo independente. Foi uma disputa muito gostosa ali. Eu tenho a intenção de realizar nossas feijoadas e ensaios lá. Quando começarem os ensaios na Guilherme da Silveira vamos encerrar dentro da quadra com um pagode. O nosso Maracanã do Samba fica para os eventos de maior porte”, explica.
Rodrigo Pacheco falou à nossa reportagem sobre a parceria com o designer Hans Donner, que está captando empresas para ajudar a escola no desenvolvimento do enredo.
“O Hans trouxe um tema que é exatamente aquele que estava na cabeça do nosso carnavalesco Alexandre Louzada. Ele tem nos auxiliado com a busca de empresas para nos ajudar. Temos algumas tratativas em estágio avançado. Mais que com o enredo, estou muito feliz com esse projeto. A Mocidade aprendeu com seus erros e vai corrigi-los”, afirmou o dirigente.
Vice-presidente da Mocidade, Pacheco declarou estar muito contente com a safra recebida pela escola, embora tenha revelado uma certa tristeza por ter de descartar outras obras com a mesma qualidade.
“Eu acredito que estejamos colhendo os frutos da semente que plantamos lá em 2015. Eu acho que é função da escola de samba fomentar sua ala de compositores. Mas por outro lado fiquei triste pois outras três obras excelentes ficaram pelo caminho. Sei que no momento do fervor da frustração, podem ficar tristes comigo. Mas espero que daqui a três dias tudo se resolva. O samba é da Mocidade agora”, avisa.
O dirigente preferiu não confirmar se virá a ser candidato a presidente da Mocidade. Mas confirmou que o samba deve ser mexido e aproveitou para celebrar a posição de desfile.
“Eu acho cedo para tratar de política. Acho que o fundamental é seguir com essa gestão que vem recuperando a escola. Essa equipe está muito bem entrosada. O samba sempre sofre ajustes aqui e ali, é natural, mas não vamos modificar a essência. Curioso é que eu havia combinado com a nossa diretoria que se caíssemos para fechar o carnaval não iríamos efetuar nenhuma troca. Isso antes de saber que o regulamento desse ano não iria permitir trocas. Estamos preparados e cientes da responsabilidade que temos”, destacou.
Diretor de carnaval marca início dos ensaios de rua
Com o samba-enredo escolhido, Marquinho Marino já está com a cabeça nos ensaios de rua. O diretor de carnaval contou ao CARNAVALESCO que os treinos agora vão ser realizados aos domingos e não mais na segunda-feira.
“Os ensaios na Guilherme da Silveira começam no dia 11 de novembro. A mudança já era um desejo da comunidade. Nós tínhamos um receio de fazer o ensaio no domingo devido ao dia de descanso. Mas, já que foi um desejo da maioria acabamos aceitando. Serão 29 alas, total de 3500 componentes. Das quais teremos 17 alas para a comunidade. Muda muito encerrar os desfiles de segunda e não de domingo. Desfilando por último temos uma grande vantagem. Se não errarmos não sofremos desconto”.
Casal ainda celebra apresentação de 2018
Os segmentos capricharam no visual para a noite de escolha de samba. A bateria apresentou-se com uma nova camisa. A rainha Camila Silva arrancou suspiros com um figurino ousado que valorizou toda a sua sensualidade. A roupa era toda preta com pedrarias. O principal destaque da Mocidade, Rodrigo Leocádio, exibiu o figurino usado no carnaval deste ano na quadra. O casal Marcinho e Cris Caldas também apostou em uma fantasia temática, assim como já fizera na final do ano passado. A dupla ainda comemora o resultado de 2018.
“O carnaval de 2018 foi o melhor da minha vida. Junto com o Marcinho, agora a gente vai em busca que esse carnaval de 2019 seja melhor ainda que 2018. A gente não pretende alterar nada para 2019. A vibe é essa que foi a de 2018. A roupa é boa pra dançar. A gente aqui tem a flexibilidade de falar. O Louzada nos dar a oportunidade de escolher o que a gente quer usar. Ele sabe que eu não gosto de esplendor, cabeça pequena, e ele vai deixando a gente ir mexendo na roupa. É perfeitinha para gente”, disse a porta-bandeira.
“Ainda não pensamos em nada de coreografia. Já tínhamos dançando juntos antes, em outra escola, mas foi a primeira vez que conquistamos os 40 pontos. Eu achei a roupa de 2019 maravilhosa. É ainda melhor que 2018”, revelou o mestre-sala.
Louzada explica que desfile de 2019 é totalmente diferente dos anos anteriores
Em entrevista ao site CARNAVALESCO, Alexandre Louzada disse como será a colaboração de Hans Donner no enredo da Mocidade.
“O Hans não tem colaboração nenhuma no enredo. Ele é apenas uma feliz coincidência. Nós somos amigos de longa data e, por acaso, o captador de recursos da Mocidade é amigo pessoal dele, e quando deu o enredo, ele falou que o Hans tem um projeto muito parecido, que é o lançamento do relógio da grife dele. A parceria é somente desse lado da contribuição intelectual dele, das coisas que falou da vivência, relação dele com o tempo, que culminou na criação do relógio sem ponteiro e sem tic-tac. É um grande amigo, que opina. Se ele tiver uma brilhante ideia que possa ser aproveitada para o carnaval, logicamente será”, disse o artista.
Sobre a sinopse tão elogiada pelos compositores, Louzada creditou o sucesso a ter dado liberdade para todas parcerias.
“Os compositores tiveram liberdade de criar uma relação da humanidade com o tempo através da música de cada um. Se reparar, os quatro sambas que estavam concorrendo na final, eram completamente diferentes de raciocínio uns dos outros. Eu sou um grande parceiro de todos os compositores. Não tenho nenhuma vaidade de mudar alguma coisa em função de uma grande obra. E assim foi feito nos últimos anos”.
Louzada conta ainda que o desfile de 2019 será totalmente diferente dos espetáculos apresentados em 2017 e 2018.
“Visualmente é bastante diferente das últimas duas atuações da Mocidade. O trabalho está bem redondinho por enquanto, agora falta acontecer. O trabalho no barracão já está acontecendo. Estamos já caminhando para o segundo carro na parte de ferro. Os protótipos já estão prontos e já estamos na fase de reprodução das alas. E nós não vamos fazer festa de protótipos, apresentação. Vamos, possivelmente, gravar um vídeo com as pessoas vestidas com a roupa e soltar na mídia um dia, pra todo mundo saber como vem a Mocidade em 2019”.
Como foram apresentações dos outros finalistas
Parceria de J.Giovanni – O comando do palco ficou com a dupla de cantores Zé Paulo Sierra e Igor Viana. Ambos que levaram as vitórias em 2017 e 2018. Durante a apresentação alguns camarotes agitaram bandeiras em apoio à obra. O destaque da passagem do samba foram os refrões. A apresentação mesclou bons e outros maus momentos, tornando-a irregular no conjunto. Poucas pessoas na quadra, fora a torcida, se envolveram com o samba.
Parceria de Domenil – A obra foi defendida na quadra pela dupla de intérpretes da Unidos de Bangu, Tem-Tem Jr e Luís Oliveira. A parceria apostou em um início onde jogou o canto em alguns momentos para a torcida, que era bastante numerosa. Muitas bandeiras com o símbolo da Mocidade. Entretanto, o restante da quadra não se envolveu com a apresentação. Durante as duas passadas sem bateria a torcida do samba cantou forte a obra.
Parceria de Denilson do Rozário – Os intérpretes da parceria, assim como alguns compositores, vieram do carnaval de São Paulo. Igor Sorriso, da Mocidade Alegre, e Grazzi Brasil, do Vai-Vai. Junto deles as participações de Darlan Alves, da X-9 Paulistana e Leozinho Nunes, da São Clemente. Um time de respeito. A apresentação começou forte com um canto forte dos torcedores. A passagem do samba no entanto foi irregular. Houve uma grande dificuldade de deslanchar e o samba não apresentou um bom rendimento como um todo.
Por Guilherme Ayupp, Eduardo Fonseca e Diogo Cesar Sampaio. Fotos: Allan Duffes