Falar de Xica Manicongo, a primeira travesti do Brasil, é um ato de reparação histórica e acima de tudo, de coragem. É o que afirma Mayara Lima, rainha de bateria do Tuiuti. Em 2025, a agremiação vai levar para a Avenida o enredo “Quem tem medo de Xica Manicongo?”. Em entrevista ao CARNAVALESCO, a professora de samba no pé, que possui mais de um milhão de seguidores em suas redes sociais, exaltou a importância de apresentar ao Brasil uma personagem tão marcante, que teve sua história silenciada durante décadas.

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Foto: Allan Duffes/CARNAVALESCO

“Esse enredo traz um resgate à nossa ancestralidade travesti. É uma reparação histórica da nossa história. Esse tema é muito importante, não só para o Tuiuti, mas até para o carnaval. Destaco aqui uma coragem muito grande (da escola) porque para algumas pessoas esse tema ainda é um tabu, ainda é uma coisa ruim. A gente tem que apoiar, a gente tem que vestir a camisa, assim como a gente fala de tantos outros assuntos que são importantes, eu acho que esse é um dos mais importantes e atualmente um dos mais fortes assuntos que a gente tem aí pra debater e defender”, afirma Mayara que conclui.

“O Tuiuti acertou muito nesse enredo, porque é potente, é forte e vai representar, eu acho que, a maior população do carnaval, que são as pessoas trans, travestis e a comunidade LGBTQIAPN+”.

Ao perguntar se ela está feliz com o enredo que sua escola vai apresentar no carnaval do ano que vem, Mayara arrisca a dizer que toda a comunidade do morro do Tuiuti está animada e ansiosa para falar de Xica Manicongo.

“Acredito que todo componente do Tuiuti está feliz. Acho que foi um presente para o carnaval, de fato, sabe? Acho que o carnaval precisava desse start, desse recomeço, dessa força, dessa garra. A gente tem que debater, a gente tem que discutir e, principalmente, apoiar todas as Xicas do nosso dia a dia”, frisa a rainha de bateria.

Os ensaios de rua ainda não começaram, mas Mayara já está se preparando para os treinos semanais do Tuiuti.

“Fico o ano inteiro fazendo a minha dietinha, meus treinos porque quando chega a época do carnaval eu não consigo, por conta de toda a demanda, de todos os compromissos de trabalho. E aí eu emagreço demais. Aproveito agora para poder me cuidar. Em relação a escola, profissionalmente, eu falo que o carnaval é o meu trabalho, porque estou aqui pra mostrar o meu trabalho, e assim conseguir alunas para as minhas aulas, seguidores. Encorajar outras mulheres… Esse é minha verdadeira função aqui. Escuto a bateria, treino com o Marcão. Tento ser o máximo presente possível nesse momento, para quando chegar no ensaio de rua estar certinha com a bateria, como eu gosto, aliás como todo mundo gosta também”.

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Foto: Allan Duffes/CARNAVALESCO

E por falar em ensaio, durante a festa de lançamento do samba-enredo do Tuiuti, Mayara mostrou entrosamento com a deputada federal, Erika Hilton, mas ela garante que não está dando aulas de samba no pé para a ativista.

“Olha ainda não, mas se ela quiser…Vamos juntas. Amei sambar com ela. Quando a gente viu ela (ali na bateria), os meninos do chocalho, todos ficaram doidos, porque ela é uma grande representatividade hoje em dia, ela tem uma voz forte, e eu acho que isso também traz um encorajamento pra quem tem medo, a se desconstruir ou a se libertar, que é o mais importante”, disse a rainha que finalizou comemorando a possibilidade de contar com a participação de Erika no lançamento do samba-enredo.

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“Foi muito bom estar com a Erika Hilton, que é uma potência enorme. Uma mulher que luta absurdamente pelos direitos das mulheres. Ali me chamou de maravilhosa, disse que me conhecia, que viu meu vídeo que viralizou. Fico muito feliz de ter uma pessoa tão importante atualmente, uma das pessoas que mais luta pelos direitos das mulheres, pelo direito da comunidade LGBTQIAPN+, principalmente pelo direito das trans e travestis. Acho que conforme o carnaval for se aproximando a gente vai conseguir acolher esse galera que vive às margens da sociedade e conseguir acolher essas pessoas e defendê-las de gente ruim. Acredito que o Tuiuti quer que todo mundo vista a camisa, principalmente os componentes. A galera do carnaval quer apoio”.

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