Por Danilo Freitas. Fotos: Magaiver Fernandes
O carnaval é um encontro de gerações. As mais diversas fixas etárias de idade se juntam para festejar, brincar e aclamar o samba. Existem pessoas que fazem dessa grande festa um ofício de vida que é o caso do menino Caio Alexandre Gonze, morador do bairro Barreto, Niterói. Aos 10 anos de idade, ele já desenvolve um papel de extrema importância na bateria da agremiação. Para começar a falar do mascote, é necessário voltar no tempo para saber o ponto de partida de uma trajetória tão nova e evolutiva.
Alexandre Gonze e Cristiane Gonze são membros da comunidade da Viradouro desde muito novos e foi na agremiação que começou o relacionamento que daria fruto ao menino de ouro. Com o nascimento de Caio, a nova família do bairro do Barreto, não deixava de frequentar os ensaios e eventos na quadra da escola. Desde pequeno o menino já os acompanhavam em todos os compromissos de bamba em que seu pai era ritmista e sua mãe integrante da comunidade. Aos seus três anos de idade a brincadeira da criança era batucar nos instrumentos da bateria Furacão Vermelha e Branca, sobretudo, nascia ali um amor incondicional pela percussão.
“Estou na escola desde 1989 e sempre como ritmista. Fui levado pelo meu pai que já era da escola junto com minha madrinha, que era baiana. Acabei conhecendo a mãe dele nos ensaios e tivemos o Caio. Com o nascimento, ele teve que me seguir e a mãe em tudo que acontecia na quadra e acabou seguindo meu caminho em ser ritmista. Com três anos ele ganhou um bumbo de brinquedo e começou a batucar nesse tamborzinho e aí o mestre Pablo, na época comandava a bateria, deu a oportunidade para ele pegar num instrumento pela primeira vez e está até hoje nessa história de amor”, comenta Alexandre.
Com o passar dos anos e a idade avançando, Caio começou a entender perfeitamente que tudo não passava de uma brincadeira e o seu dom em aprender a tocar os instrumentos que compõe uma bateria de escola de samba foi se desenvolvendo sozinho. Segundo ele, nunca frequentou uma aula de música.
“Aprendi a tocar vendo vídeos na internet. Fui aprendendo a tocar e minha mãe foi comprando instrumentos para mim e hoje eu tô aqui na bateria do mestre Ciça tocando repique”, diz Caio.
Sua trajetória em poder desfilar teve início no ano de 2017, quando a Viradouro levou para Sapucaí o enredo “E… todo menino é um rei” tendo a chance de ousar na avenida em grande estilo no desfile da escola de Niterói.
“Há três anos eu desfilava pela primeira vez. Fui o menino Rei do desfile da Viradouro. Agora esse ano eu vou realizar meu sonho que é desfilar tocando na bateria”, afirma.
Para o mestre Ciça, Caio é um garoto bem novo que já possui uma responsabilidade enorme e se comporta como um bom ritmista. E ainda tem a importância em ser mascote da bateria como espelho para outras crianças que querem seguir o mesmo caminho.
“O talento dele é coisa absurda ele. Muito talentoso. Por isso, ele com 10 anos já está na bateria de adulto. É uma coisa que vai incentivar aqueles mais novos que estão dentro da comunidade. Se ele pode por que eu não posso? A bateria da Viradouro tem mais de 40 anos e para ele com essa pouca idade fazer parte de uma bateria histórica é muito bacana para seu desenvolvimento. Quando contratam a bateria para show ele vai com a gente em todas as nossas saídas, quando pode, e ainda criamos um quadro principal feito só com ele. Caio é um garoto que tem boca e não fala e não reclama de nada. Agora, ele vai entrar na escola de música da Villa Lobos. Tem futuro promissor como músico e se aperfeiçoar desde novo é até uma exigência minha para ele continuar na bateria”, diz Ciça.
De acordo com sua mãe, crianças só podem desfilar na Sapucaí dos 8 aos 15 anos de idade e em determinados setores. Porém, com muito empenho e dentro da lei, a administração da agremiação conseguiu a permissão do juizado para que Caio desfile na bateria sem causar nenhum problema.
“Lembro dele pequeno nos ensaios comigo e o pai. Ele ficava brincando dentro da bateria e logo passou a ensaiar com os grandes e como ele já tirava som desde novo às pessoas diziam: ‘deixa o mascotinho aqui. Deixa ele aqui, não tem problema algum ele ficar com a gente. A Raíssa Machado (rainha de bateria) absorvia muito essa ideia do Caio ser mascote da bateria e logo se prontificou em ajudá-lo dentro da escola, além dos mestres de bateria, que foram passando por lá, e hoje ele se tornou esse rapazinho lindo e admirado por todos”, explicou a mãe.
À frente da bateria da Viradouro há exatos 6 anos, a rainha dos ritmistas tem uma relação de amor materno pelo garoto promissor e comenta como tudo surgiu: “Desde a primeira vez que vi o Caio, eu percebi que ele era especial para todos nós. Peguei ele para mim (risos) e virou meu mascote. Conheci ele com 3 para 4 anos, fiquei encantada e paralisada quando ele começou a tocar e era nítido o amor e dedicação dele já desde novo. Caio é praticamente da minha família. Ele vai nos aniversários da minha filha, fica junto comigo onde estou e antes de eu ter a Nicole, tinha ele”, conta Raíssa Machado.
O carnaval é um movedor de sonhos e descobridor de talentos. As crianças que hoje estão nele são os futuros profissionais que farão o maior espetáculo popular do planeta. É preciso que exista vontade em valorizá-las para lá na frente bons frutos serem colhidos.