A Estação Primeira de Mangueira escolheu, na madrugada deste sábado para domingo, no Amapá, o samba-enredo do estado que fará parte da final da disputa do hino da escola para o próximo Carnaval. A composição Verônica dos Tambores, Piedade Videira, Laura do Marabaixo, Antonio Neto, Clóvis Júnior e Marcelo Zona Sul levou a melhor entre os participantes. A disputa entre os seis sambas inscritos foi transmitida ao vivo pelo YouTube da Mangueira.
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“É muito bonito e potente ver a entrega do povo do Amapá ao nosso enredo, ao carnaval, ao samba”, declarou a presidente Guanayra Firmino. “Penso que essa energia diferente que experimentamos aqui tem a ver com a ancestralidade”, declara ela, referindo-se à história do estado e à forte presença de negros escravizados na região.
Cada samba teve direito a três passadas, duas delas com a bateria formada inteiramente por ritmistas locais. Sob o comando dos mestres Taranta Neto e Rodrigo Explosão, cem ritmistas tiveram a oportunidade de compor a bateria Verde e Rosa durante alguns ensaios e uma noite. As parcerias vencedoras vão receber uma ajuda do governo do Estado para financiar os custos da disputa que será realizada no Palácio do Samba, na tradicional quadra da Mangueira.
Apresentações de grupos locais e um show da cantora Karinah, musa e madrinha do programa social da escola e da própria agremiação também fizeram parte da programação que parou a cidade de Macapá.
A Mangueira recebeu 22 sambas concorrentes, sendo 16 do Rio de Janeiro e 6 do Amapá. Todas as obras estão disponíveis no canal oficial da agremiação no YouTube, com as respectivas letras e compositores. O calendário completo e demais informações estão disponíveis nas redes sociais da Verde e Rosa.
A Estação Primeira de Mangueira levará para a Marquês de Sapucaí no Carnaval de 2026 o enredo “Mestre Sacaca do Encanto Tucuju – O Guardião da Amazônia Negra”, que mergulha na história afro-indígena do extremo Norte do país a partir das vivências de Mestre Sacaca. O desfile é desenvolvido pelo carnavalesco Sidnei França e dá início ao triênio do centenário da agremiação.
De origem negra e indígena, cernes da formação do Amapá, Raimundo dos Santos Souza, personagem central da Verde e Rosa, apresenta os encantos que viveu no seu território. Ao ser apelidado como Sacaca, uma titulação xamânica, ele navegou pelos rios que cruzam a região Norte do Brasil, entrando em contato com diferentes populações tradicionais.
Mestre Sacaca tornou-se um personagem brasileiro de profundos saberes sobre o manuseio de ervas, seivas, raízes e elementos que compõem a Amazônia Negra amapaense. Utilizava seus conhecimentos no tratamento de doenças e do cuidado comunitário por meio de garrafadas, chás, unguentos e simpatias. Por isso, também ficou conhecido como “doutor da floresta” em diferentes cidades das terras Tucujus – expressão oriunda de um grupo indígena que habitava essa região, e que atualmente é utilizada para se referir ao povo desse estado.
Seguem os sambas-enredo vencedores da etapa do Amapá
SAMBA nº103
Compositores: Verônica dos Tambores, Piedade Videira, Laura do Marabaixo, Antonio Neto, Clóvis Júnior, Marcelo Zona Sul
Intérpretes: Verônica dos Tambores, Nina Rosa, Juan Briggs
Sacaca escutei uma voz
Era você, no meio de nós
Eu sou mangueira, na magia da floresta
A sabedoria que respeita a terra
O vento sopra o transe do pajé
Rompe a meia-noite, é ritual turé
Fumaça de tawari, o xamã babalaô
Num gole de kaxixi encantos revelou
Maré me leva nas águas do curipi
De quem sempre esteve aqui, waiãpis e caripunas
Pelo jari, esperança em cada olhar
Ribeirinho nunca deixa de sonhar
Entre os furos e buritis
Risca o amapazeiro, põe a seiva na cachaça
Cura o corpo, curandeiro, benzedeira cura a alma!
Preto velho “engarrafou” riquezas naturais
“caboco” não se esqueça dos saberes ancestrais!
Bebericando gengibirra com o mestre
“mar abaixo” “mar acima”, a gente segue
Saia florida,”sá dona”, no curiaú
A fé “encruza” no “em canto” tucujú
“é de manhã, é de madrugada”
“é de manhã, é de madrugada”
Couro de sucuriju no batuque envolvente
Quilombola da amazônia jamais se rende!
Eu vi… Em cada oração o corpo arrepiar
Bandeiras vibrando à luz do luar
Tambores se encontram cantando em louvor
Senti os sabores, aromas e cores
Nas mãos que moldam nossos valores
“meu preto”, da mata és o griô!
Ajuremou, deixa ajuremar
O samba é verde e rosa e guia meu caminhar
Ajuremou, deixa ajuremar
Cuidado, chegou mangueira, na ginga do Amapá
SAMBA nº105
Compositores: Francisco Lino, Hickaro Silva, Camila Lopes, Silmara Lobato, Bruno Costa
Intérpretes: Bruno Costa, Silmara Lobato, Marcelo Stuart, Emerson Luise
youtube.com/watch?v=KO2ndutC7Kw&pp=ygUSbWFuZ3VlaXJhIDIwMjYgMTA1
Turé…
Quem invocou o ritual?
Eu trago a força ancestral Do Povo da floresta
Banzeiro de memórias
Navegam as histórias
Onde meu país começa
Remei, Remei a maré me levou
Pra revelar o que não vês a olho nu
Todo encanto Tucuju
Tem mandinga verde-rosa
Na Estação Primeira
Mangueira vem sambar
Benzi tua bandeira
Nesse “Rio” caudaloso de fé
Desce o morro banhada de axé
Contra todo o mal tem garrafada
Ervas e Flores pra dores curar
Tiro quebranto nas mãos sagradas
Lição de Preto Velho, Saravá!
Xamã, Doutor, Guardião, Babalaô
Saberes vibrando no tambor
Tem Marabaixo no “Encontro” ao luar…
Encantado folião na passarela
Coroado Rei do Laguinho à Favela
Mangueira chamou: “Sacaca!”
Minha voz ecoou na mata!
O meio do mundo é a nossa aldeia
Incorporou! A Amazônia é negra!