Por Gustavo Lima e Lucas Sampaio

A Mancha Verde definiu na noite do último sábado o seu samba-enredo para o Carnaval 2024. O evento foi acompanhado com o seu tradicional ‘arraiá’ de festa julina, e nem mesmo o grande frio de São Paulo afastou o componente da escola para acompanhar a disputa. A decisão foi composta por três sambas (3, 5 e 7). O primeiro a se apresentar foi o da dupla Edinho Gomes e Gilson Bernini e, após, foi a vez do time de Bruno Rodrigues e cia. Para fechar, a parceria de Lico Monteiro e cia foi a última a subir no palco e venceu a disputa. A agremiação será a sexta escola a desfilar na sexta-feira de carnaval.

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Fotos: Gustavo Lima e Lucas Sampaio

Com forte discurso do presidente Paulo Serdan e entrega do pavilhão do enredo para o segundo casal de mestre-sala e porta-bandeira, o intérprete Fredy Vianna deu a voz do samba e os compositores fizeram a festa no palco, onde levaram um grande troféu como premiação pela vitória.

Os responsáveis pelo hino da Mancha para 2024 são: Lico Monteiro, Tinga, Marcelo Lepiane, Leandro Thomaz, Richard Valença, Jeferson Oliveira, Telmo Augusto, João Perigo, Lucas Macedo, Ailson Picanço, Rodrigo Peu, David Gonçalves, Tiago Caldeira e Paulo Sergio

História da obra

Um dos sambas do Carnaval de 2022 e que deu o título para a agremiação é fruto desta parceria. O compositor bicampeão pela escola, Leandro Thomaz, descreveu o sentimento em sair vencedor nesta noite. “É a nossa terceira final consecutiva e o nosso segundo samba na Mancha Verde. É só gratidão pela aposta da escola no nosso trabalho. A Mancha faz parte da nossa história como parceria, porque o jeito em que vivemos a pandemia em 2020 na tela do computador e depois no Anhembi em 2020, foi simplesmente mágico. Foi o meu primeiro ano e de cara a escola acreditou na nossa poesia. Foi a famosa ‘água de benzer’, fiquei muito feliz e lembro como se fosse ontem a arquibancada vibrando com a gente. Isso só nos motivou. Então, estar aqui nessa terceira final consecutiva e vencer, é só uma confirmação da parceria. Uma união de ideias e energias. Que bom que a gente conseguiu retratar o que o André pensou, e principalmente o presidente Serdan que trabalha muito e está sempre no ‘front’ pela escola”. É uma parceria grande que exalta e trabalha em conjunto em prol da Mancha Verde”, disse.

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Leandro ainda disse que, como a parceria é entre São Paulo e Rio de Janeiro, algumas reuniões ocorreram pela internet com o objetivo de colocar a obra em prática. “Foi quase que uma feitura híbrida. A gente fez alguns encontros presenciais, mas sempre trocando pelo Whatsapp, porque é uma parceira Rio e São. Porque como eu falei, fizemos o melhor pela Mancha Verde. Também, por estarmos juntos por quatro anos, nos entendemos uns aos outros. A parte que eu mais é a segunda. Fala justamente da vida do homem no campo”, completou.

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Presidente comenta enredo e hino

O presidente Paulo Serdan, tem papel fundamental em tudo quanto é escolha dentro da Mancha Verde. É um mandatário ativo, toma a linha de frente, tem ideias de desfile, coloca em prática e, desta vez, não está sendo diferente. Assim como em 2023, onde ele levou o “Xaxado” de tema, no próximo Carnaval, Serdan mostrou a ideia do agro para o carnavalesco André Machado desenvolver e, por enquanto, tem dado tudo certo no projeto. “A ideia do enredo surgiu de uma amiga minha conversando comigo. Vendo essa polarização, onde as pessoas estão denegrindo o agro, querer colocar na sarjeta é um pecado. Tem o seu lado ruim, mas isso não pode acontecer. A gente fez uma viagem para Pato de Minas para conhecer a Fundação Brasil Amor e tivemos uma aula absurda do que é ser apaixonado pelo que faz. Não é só dinheiro. A gente saiu de lá podendo fazer mais dois enredos. A nossa vontade é essa, não queremos ficar apontando o lado ruim do agro. Se estamos alimentados, vamos ao mercado, compramos frutas, tanto faz. Ninguém quer saber como acontece. Quando começa-se toda especulação em cima das coisas ruins, que tem em todo lugar, até dentro da minha entidade, eu não posso ser esse cara que vai apontar. A gente quis olhar esse outro lado e acertamos. Foi uma ideia mais ou menos minha e que tem dado muito certo”, explicou o presidente.

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O dirigente também é quem comanda as reuniões com o objetivo de escolher os sambas e transmite opiniões muito claras sobre o sistema. Pelo o que dá a entender, será desse jeito por um bom tempo. “Foi um ano bem gostoso de fazer as eliminatórias. Na verdade, foi o melhor. A gente tinha grandes sambas e foi curtindo. Cada ano que passa o nosso pessoal está gostando da nossa forma de escolher. Vem todos os setores da escola: comissão de frente, harmonia, diretor da ala das baianas, ala da comunidade, pessoal das fantasias e é uma média de 32 pessoas a cada noite de reunião”, declarou.

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A mudança no quesito será feita, mas segundo o presidente, a sinopse foi entregue já pensando nessas questões. “Quando entregamos a sinopse, já fizemos pensando no novo regulamento, mas tem coisas que a gente não tem que ouvir agora para ver se a harmonia de cordas está encaixada ou não. Mas aí é uma parte deles, mas graças a Deus a gente tem um time excelente e escolhe o que se sente melhor cantando e dá nas mãos deles para consertar. Sobre a letra, esse samba não vai mexer em nada na letra. No Carnaval passado a gente já tinha mexido em alguma coisa antes de chegar na final, mas todos estavam absurdamente dentro”,

Se adequar ao samba

Fredy Vianna, intérprete oficial, falou sobre o samba-enredo. O cantor é experiente e está indo para o seu décimo primeiro Carnaval defendendo a Mancha Verde. Vianna parabenizou a escolha da escola “A Mancha tem um método de escola muito coerente. Nós vamos eliminando sambas cantando aqui fazendo dinâmicas imaginando como seria a voz da comunidade. No meu modo de ver é um grande samba, bonito. Claro que quando termina uma eliminatória a gente tem que lapidar e jogar na voz do intérprete, na minha região, mas no geral é um samba belo e diferenciado que a Mancha vai levar para a avenida”, declarou.

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É sabido que o carro de som será julgado a partir de 2024 e é uma novidade para todos os intérpretes. De acordo com Fredy, vale atenção máxima e o estudo do samba será muito importante para contribuir nessa nova regra. “A gente não pode vacilar. Vai ter várias pegadinhas nisso. A gente vai estudar todo o samba para não ter nenhum tipo de falha. Por exemplo, uma ‘cacofonia’ não pode acontecer. Também não podemos deixar escapar de formar uma outra palavra e dar um entendimento errado. Tem um lance de contracanto que a minha ala musical é acostumada a fazer e no próximo ano tem que tomar cuidado. Temos que deixar o samba cada vez mais solto para o jurado não ‘canetar’ a gente”, finalizou.

Sistema de escolha

Paolo Bianchi, diretor de carnaval, falou da importância de como a Mancha tem optado por fazer suas definições. Segundo o diretor, o canto interno é primordial para a decisão dos sambas que vão para as finais.

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“Esse sistema tem sido benéfico porque passamos alguns anos atrás por processos difíceis de escolha. Aprendemos a ouvir a opinião de todos. Entendemos que o samba no CD e no palco tem um efeito, e quando você canta ele quase 25 dias seguidos é outro. Viemos todos os dias na semana praticamente, salvo algumas exceções. Cantamos o samba, sentimos o samba. Experimentamos eles várias vezes e dá para sentir se irá funcionar. Muitos sambas funcionam bem no CD e no palco, mas na avenida ele não funciona. É um processo bom tecnicamente e bom para o clima da escola. Não temos aquela disputa, não permitimos que a própria diretoria entre em uma ‘vibe’ de discussão, vamos harmonizando e sentindo. Fazemos ali na sala uma última reunião para tomar a decisão junto com o presidente, e acho que é o quinto ou sexto ano que a gente tem o anúncio ali, e você não tem frustração. Mesmo aqueles que tinham preferência por outro samba, e respeitamos isso, saem dali felizes. É muito importante para o clima da escola. Daqui pra frente começou o carnaval de verdade, e a diretoria tem que se encaminhar para esse lado. Esse samba cresceu durante o mês de audição que fizemos. Ele retrata muito fortemente o nosso enredo, e tem um ‘swing’ que me agrada muito. A harmonia e a melodia dele me agradavam muito. Juntou as duas coisas, tanto o conteúdo de enredo quanto a melodia, ela é bem diferenciada do que vínhamos trazendo nos últimos sambas”, explicou.

Primeiros passos para o bailado

O casal de mestre-sala e porta-bandeira, Marcelo Silva e Adriana Gomes, opinaram sobre a obra. Obviamente tal escolha reflete em todos os segmentos, mas vale uma atenção especial no quesito de mestre-sala e porta-bandeira, visto que a chance de mudança é muito grande. Embora a dupla não tenha mencionado tanto, vale destacar a importância da coreografia enfatizada por ambos. “Eu acho que é a etapa mais complicada. Depois da escolha do enredo é a escolha do samba-enredo, porque ele se torna vital para tudo que irá acontecer até o dia do desfile. É o desenvolvimento com a bateria, com o time de canto, e para a nossa coreografia e da comissão de frente. Acho que a escolha foi grandiosa e difícil porque temos grandes compositores de samba-enredo no carnaval, e quando eles escolhem fazer um samba na Mancha Verde é uma honra. Acho que devemos respeitar todos que dedicaram seu tempo para fazer suas letras e melodias para a escola. Foi uma festa bonita, e acredito que teremos um grande hino para o Carnaval. Até lá seremos muito felizes, podem ter certeza, diz a porta-bandeira, Adriana.

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“O trabalho que a Mancha Verde faz desde o início, com as audições, acho muito importante. Todos participam, representantes de todos os segmentos. Eu confio na minha escola e em todos que participaram das audições. Acho que em qualquer final de samba-enredo todos os sambas tem condições de ir para a Avenida, mas ela foi feita para perceber os detalhes de cada um em relação ao que a escola está preparando para apresentar na Avenida, como irá desfilar. Seja qual fosse o samba que ganhasse, seria um samba com condições para ir para a Avenida. Os três sambas tinham condições, porém no dia da final essa audição tem que ir além da audição. Imaginar o desfile, o que irá acontecer na Avenida, como será a ordem de apresentação do enredo, e é assim que se chega na decisão. Eu confio na minha comunidade, é um samba bonito e vamos com ele. Agora é a nossa audição, minha e da Adriana, para incorporarmos essa audição na nossa dança”, completou o mestre-sala, Marcelo.

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Escolha certa

André Machado, carnavalesco vice-campeão, ganhou um grande voto de confiança e está indo para o seu segundo ano de Mancha Verde. O profissional também é convocado para ouvir os sambas concorrentes. Machado foi mais um que elogiou a condução de eliminatórias da agremiação e concordou totalmente com a escolha do hino para 2024.

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“O processo de escolha de samba aqui da Mancha é diferente de tudo que já vi, e eu acho muito assertivo. A Mancha convoca todos os diretores para ficarem um mês praticamente trancados dentro de uma sala ouvindo todos os sambas. As duas primeiras semanas ouvindo os sambas através do CD e as duas últimas semanas que antecedem a final a gente vem pra cá para cantar. Primeiro começamos a cantar três passagens de cada samba e por últimos ficamos 15 minutos cantando os três sambas, para podermos avaliar aqueles que são realmente bons para cantar e desenvolver na Avenida. Diferente de todas as outras escolas, o processo gera amizade e união entre os diretores, porque estamos aqui todos os dias para escolher o melhor. Durante essa escolha, uma coisa que eu acredito muito é que estamos em torno de uma mesa, comendo juntos, repartindo o pão. Isso acaba aproximando, criando laços afetivos dentro da diretoria. Não existe rivalidade. Não vou escolher um samba só porque eu quero, vou escolher um que agrade a todos, e isso foi do início ao fim. Os três sambas que foram para a final eles mereciam porque foram os sambas que essa galera escolheu, e hoje o samba campeão foi da mesma forma. Graças a Deus a Mancha foi muito assertiva. É um samba que irá contar de uma maneira muito bacana o nosso enredo, de uma leitura muito fácil. Um samba que eu acredito muito que é escrito de uma forma poética, um tipo de samba que eu gosto e que eu aprendi a gostar. Se tudo der certo, a Mancha tem tudo para ser campeã do Carnaval. Quando você tem um samba que conta bem a história e permite o componente cantar evoluir é meio caminho andado para o campeonato”, opinou.