A Mancha Verde reuniu 110 integrantes na Fábrica do Samba, em outubro, para registrar a reedição de um dos sambas mais emblemáticos de sua história. A gravação da faixa e do clipe mostrou a força emocional da obra, sua importância simbólica para a comunidade e a preparação técnica que sustenta o projeto musical da escola para o Carnaval 2026. Segundo o diretor de carnaval, Paolo Bianchi, a logística foi cuidadosamente organizada para facilitar o deslocamento da comunidade.
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“A gente tem um ônibus nosso, a galera chegou na quadra por volta das 13h30, uma hora e meia antes do início da gravação aqui na Fábrica do Samba. Quem quis, pôde vir de carro direto, eu mesmo vim de carro direto por morar aqui perto. A maioria, porém, foi deixar o carro lá e veio no nosso ônibus, que fez duas viagens”.
Ao todo, 110 pessoas participaram da gravação, entre bateria, elenco teatral e segmentos. Para Paolo, a experiência de regravar o samba traz vantagens técnicas e emocionais. “É um samba que a comunidade adora. E, para o povo do carnaval, esse é um dos sambas mais cantados da Mancha Verde aqui em São Paulo e no Rio de Janeiro também. Quando a gente se apresenta no Rio, o pessoal sabe cantar o samba”.

O diretor lembra que o enredo original marcou um momento de virada da Mancha. “Foi um dos desfiles da gente em que nós entramos de vez no jogo. A gente foi quarto colocado e era a última escola a desfilar naquela noite”. Segundo ele, o samba carrega a identidade espiritual da agremiação. “A Mancha é uma escola muito religiosa, e a gente se conecta demais como entidade com esse samba”.
Embora a obra tenha recebido pequenos ajustes de andamento para 2026, o diretor garante que a essência permanece intacta. “O espírito é o mesmo, e a gente encara isso como uma dupla vantagem: tanto da emoção como da parte técnica”.
Arranjo com assinatura emocional
O arranjador Ricardo Rigolon (Chanel) recorda a origem profundamente sentimental da obra. “Foi um momento especial na minha vida, também. Eu tinha acabado de perder minha avó, tem um sentimento bem especial esse samba… e não tem como, a música sente essa energia”.

Ele destaca o processo criativo com Fredy Vianna e Armênio Poësia. “Lembro que a gente terminou esse samba na casa do Fredy se emocionando. Foram alguns anos assim, se emocionando com esse samba”.
O resultado foi tão marcante que a comunidade elegeu a obra como o maior samba da história da Mancha. “A gente teve a felicidade de ganhar o concurso interno da escola – e, depois, em uma votação na própria Mancha, esse foi eleito o melhor samba da história da escola”.

No campo técnico, Chanel explica que a gravação começa com nuances do Ijexá graças à participação do percussionista Sandro Luiz. “Depois, eu comentei com os mestres que eles podiam fazer alguma bossa para entregar e começar o samba com o povo cantando”.
A integração entre arranjo e bateria foi determinante. “A batucada subiu maravilhosa com as bossas, com uma nova roupagem, muito bacana”.
Ele ainda destaca as diferenças entre gravar em estúdio e registrar tudo ao vivo. “O ao vivo tem uma energia diferente. Tocando junto, tem aquela coisa da troca”.
Bateria busca andamento orgânico e novas bossas
Os mestres de bateria Felipe Cabral e Viny Rezende reforçaram que a prioridade foi respeitar o clima do canto.

Cabral explica: “Hoje a gente usou um andamento mais orgânico. A gente não mediu quanto ao bpm (batidas por minuto), mas mais ou menos mediu 144, no máximo 146”.
Já Viny detalhou a estrutura das bossas para 2026. “A princípio, nós já estamos ensaiando duas bossas, que foi o que a gente realizou aqui. Vai ter paradão, provavelmente e novamente – e o paradão não conta como uma dessas bossas até pelo regulamento”.
Os mestres adiantam que a bateria deve apresentar novas surpresas na Avenida. “A gente acredita que mais uma ou duas a gente vai realizar em algum ponto estratégico”.
O dia da gravação acabou funcionando como mais um teste com a comunidade. “Hoje não deixou de ser o nosso segundo ensaio com a comunidade, já que estávamos horas atrás no aniversário de 30 anos da Mancha Verde”, comentou Cabral.
Viny complementou: “Tudo que a gente ensaiou e que a gente se propôs a fazer a gente conseguiu realizar com grande maestria”.
Fredy Vianna ressalta preparação vocal e devoção ao samba
Responsável pela condução vocal da obra, Fredy Vianna destacou a entrega total que exige do próprio corpo. “Seja nota mais alta ou mais baixa, o negócio é dar alicerce para o samba”.
Sobre a preparação para a gravação, ele explica a rotina intensa. “Para falar a verdade, eu odeio maçã, mas como bastante. Tomo muito suco de maçã por ser um adstringente natural”.

O clima chuvoso também exigiu cuidados extras. “Temos que fazer muito exercício vocal para a garganta abrir – ainda mais num dia chuvoso e frio”.
Fredy reafirma sua paixão pela obra. “De zero a dez, eu gosto cem desse samba”.
Ele lembra que a comunidade escolheu a obra como seu maior ícone musical. “A Mancha fez uma enquete há alguns anos atrás e esse samba ganhou disparadamente como o melhor da história da escola”.
Para 2026, o intérprete acredita novamente na força da obra. “Tenho certeza que, mais uma vez, vamos fazer um grande desfile com esse samba. Segura a Mancha!”.









