O selo Carnavalize relança uma edição repaginada do livro “Escola de samba: árvore que esqueceu a raiz”, de Antônio Candeia Filho e Isnard Araújo. Publicado originalmente em 1978, o livro nasce de uma extensa pesquisa visando a criação do que seria o Museu Histórico Portelense. Antônio Candeia Filho e Isnard Araújo mergulharam na história da azul e branco de Oswaldo Cruz e Madureira, entrevistando grandes baluartes e sambistas, coletando memórias e apresentando pela primeira vez, em um livro, a história da tradicional agremiação.
O projeto para a reedição da obra começou há cerca de um ano, com o lançamento de um financiamento coletivo da Edições Arrabalde, mas o projeto foi incorporado pelo Selo Carnavalize que assume agora a publicação. A iniciativa, aliás, abre um calendário comemorativo do projeto Carnavalize em razão do centenário da Portela, que terá ainda outros projetos.
Na nova edição, quem assina a orelha é a cantora e compositora, Teresa Cristina. A apresentação é assinada por João Baptista Vargens, biógrafo do Candeia; e o posfácio é de Rogério Rodrigues, diretor cultural da Portela. Os novos escritos ajudam a perceber o momento histórico em que a obra foi escrita, já que o texto original não sofreu alterações.
Escrito num momento crucial na história das escolas de samba, nele Candeia e Isnard analisam criticamente o processo de crescimento do Carnaval carioca, com a chegada da classe média, além da entrada de profissionais na produção artística e das transformações causadas no gênero samba-enredo em decorrência do crescimento comercial na venda dos discos. Nesse percurso, são investigadas as causas e as consequências dessas transformações, propondo caminhos para que as escolas sigam evoluindo, sem abrir mão da sua identidade como manifestação cultural negra.
Passados mais de 40 anos de sua publicação, este livro permanece atual, dialogando com o debate sobre os rumos da folia no século XXI, assim como questões estruturais da sociedade brasileira, como o racismo e a desigualdade econômica e social. Por isso, trata-se de um trabalho singular, fruto do trabalho de dois intelectuais orgânicos comprometidos
com a valorização da arte negra, da cultura popular e das nossas escolas de samba, e que vale ser revisitado.
Para a sambista Teresa Cristina, “as informações contidas neste livro deveriam ser do conhecimento de todos os amantes do samba, é material para estar presente nas escolas públicas”. Em seu texto, a cantora considera a obra “um verdadeiro testamento, a anatomia desse terreiro de saberes populares que chamamos Escola de Samba”.
“Escola de samba: árvore que esqueceu a raiz” é a 14ª publicação do Selo Carnavalize, que vem se dedicando a produzir uma bibliografia sobre o carnaval e escolas de sambas. O lançamento é fruto de uma campanha de financiamento coletivo com vários pacotes de recompensa e mais de cem apoiadores totais. O Carnavalize é um projeto multimídia que atua valorizando os aspectos culturais e artísticos da folia brasileira. Realizou ao longo dos últimos anos eventos como exposições, palestras, seminários, oficinas, intervenções urbanas e rodas de conversa.
Ficha Técnica:
Livro: “Escola de samba: árvore que esqueceu a raiz”
de Antônio Candeia Filho e Isnard Araújo
Editora: Selo Carnavalize
Páginas: 168
Preço: R$ 50,00
A venda na loja da editora.
Sobre os autores: Isnard Araújo (1939 – 2017) fez parte do Departamento Cultural da Portela ao longo da década de 1970, ao lado do irmão Hiram Araújo. Ao lado de Candeia, escreveu este livro em 1978 e foi responsável também pela idealização do Museu Histórico Portelense. Formado em Educação Física, atuou como jogador de basquete e foi professor do Colégio Arte e Instrução, além de vice-diretor de ensino das Faculdades Integradas Simonsen.
Antônio Candeia Filho (1935 – 1978) foi um importante compositor, cantor e músico brasileiro. Nascido em berço de sambistas, a partir da década de 1950, integrou a ala de compositores da Portela, onde venceu seis disputas de samba-enredo. Em 1970, lançou seu primeiro álbum individual e se tornou referência no “partido alto”. Durante a mesma década, foi figura de oposição às transformações que aconteciam nas escolas de samba, o que o fez se afastar da Portela e fundar o GRANES Quilombo, em 1975.