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Leandro Vieira sobre os artistas das escolas de samba: ‘carnaval vai bem demais e mostra muito fôlego’

O carnavalesco da Imperatriz Leopoldinense e União de Maricá, Leandro Vieira, conversou na última quinta-feira, com o jornalista Muka. O bate-papo, disponibilizado no canal do Youtube do comunicador, se debruçou sobre o processo criativo, falou de novos e velhos talentos do carnaval e mudanças e tendências recentes do maior espetáculo da Terra. Leandro iniciou sua participação comentando sobre o atual estágio de desenvolvimento dos enredos para as escolas em que trabalha.

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leandro veira
Foto: Reprodução de internet

“Não dá para dar spoiler do que não existe ainda. Não existe. Se eu der spoiler, é mentira. Na verdade, a gente tem várias ideias, mas às vezes uma que tive há três anos já envelheceu, não é oportuna. Os terrenos por onde eu estou pisando também me alimentam de novas referências. No momento, eu estou lendo e aprofundando propostas que eu guardo há uns 2 anos”, disse Leandro.

Nesse sentido, segundo o artista, há de se pensar não só em argumentos abstratos, mas em conteúdos imagéticos com potencial de serem representados na avenida. Foi justamente essa abordagem simples e popular que fez de seus desfiles tão celebrados.

“A amarração é muito simples. Falar da Betânia é (falar da) Betânia do Candomblé e da música. Quando eu fiz a religiosidade popular, eram santos de altares e santos de casa. Mesmo história para ninar gente grande, que talvez seja aparentemente mais complexo, é a história que a história não conta. Se você for parar para pensar, você resume em poucas palavras. Eu gosto dessa ideia do ordinário, na melhor conotação da palavra. A simplicidade tem esse poder de comunicação, de construção de beleza”, explicou o carnavalesco.

Tendo completado, em 2025, 10 anos assinando apresentações na Sapucaí, o artista falou que nunca foi obrigado a conceber um desfile que não lhe agradasse.

“Até tentaram imposições e tal, mas eu sempre fui muito franco com relação à necessidade da liberdade para trabalhar, que não me interessava o trabalho amarrado, que não me que não me interessava o trabalho orientado”, revelou.

Ainda assim, o egresso da Escola de Belas Artes da UFRJ não se considera contrário a enredos patrocinados, desde que não sejam absurdamente comerciais e propagandísticos.

“Há enredos patrocinados que te abrem possibilidades de pesquisa fantásticas. O último carnaval do Bora e Haddad foi patrocinado e não tem nada de ruim. Pelo contrário, foi maravilhoso, possibilitou investimento financeiro de uma escola incrível. Eu fiz o Lampião e ele podia ser patrocinado. Algum estado do Nordeste, Alagoas, Pernambuco, a prefeitura de Piranhas, podia ter patrocinado. Não rolou. O patrocínio não é inimigo da construção artística”, defendeu Leandro.

O criador comentou também sobre o atual estado do carnaval carioca, tanto em termos de novos talentos como quanto à visão que a sociedade tem do espetáculo.

“Do aspecto criativo, o carnaval vai bem demais e mostra muito fôlego, quanto a safra dos artistas – e não estou falando dos carnavalescos, não. Me refiro aos mestres de bateria, mestre-sala, porta-bandeira, dos intérpretes, da qualidade musical dos carros de som, das escolas de samba, bailarinos… Não há carência de artistas, não há entressafra”, pontuou.

Leandro exaltou ainda o surgimento, mesmo que tímido, de carnavalescos negros e mulheres e expressou que novos talentos, como João Vítor Araújo, mestre Vitinho e Pitty de Menezes convivem com estrelas consagradas como Renato Lage, mestre Ciça e Ito Melodia.

“Artisticamente, aponta potência, aponta continuidade. Você olha para esses nomes e todos são apaixonados, todos aprenderam a gostar de desfiles de samba e, apesar de cada um fazer a seu modo, seguem adiante com uma tradição bonita. Outras manifestações carnavalescas, como as grandes sociedades, acabaram. A gente olha para elas e consegue determinar início, meio e fim. A escola de samba não”, expôs.

Já em relação à valorização social da festa, Leandro sustentou que a população entende mal a festa e, para que se atinja o devido reconhecimento, é necessário um esforço coletivo e de longo prazo dos grandes veículos de divulgação das artes.

O carnavalesco criticou o discurso utilitarista de que a destinação de verbas públicas para o evento é um investimento que gera retorno financeiro, sobretudo através do turismo e da coleta de impostos. Para ele, a legitimidade do carnaval não está no aspecto monetário, mas no valor artístico e cultural.

“A gente sabe o quanto boa parte da sociedade brasileira tem aversão ao que é popular. Porque o que é popular tradicionalmente é periférico e a gente sabe a aversão que as pessoas têm à periferia. Nós sabemos o quanto a sociedade brasileira tem aversão, restrição a pessoas retintas. A culpa é dessa sociedade doente com traços equivocados que entende mal cultura, sabe pouco do país e é difícil lutar contra isso, embora acho que a gente deva insistir na luta de ainda apresentar ao Brasil, o Brasil que vale a pena, o Brasil da beleza, o Brasil das artes. O Brasil que o Brasil não conhece”, argumentou Leandro.

Caminhando para o término da conversa, Leandro, a pedido de Muka, analisou as recentes mudanças do carnaval carioca. Os três dias de desfile, em contraste ao esquema anterior, de duas noites, desagradou o talento, que considerou o término pouco depois das 3 da manhã demasiado cedo.

“Eu nunca sentei na mesa de um botequim ou na mesa de um bar e ouvi queixa de sambista dizendo que dois dias de desfile era muito. Alguém que tenha dito ‘Não, dois dias de desfile tá muito, três dias vai ser muito melhor, vamos botar quatro escolas por dia que vai ser melhor’. Nunca ouvi isso”, alfinetou.

Para ele, há interesses que não artísticos envolvidos nessa decisão, sobretudo em relação aos camarotes que, após o espetáculo das agremiações, puderam aumentar o som e estender com liberdade suas comemorações.

“Fiquei com a sensação de que o desfile das escolas de samba atrapalhava a festa das escolas de samba, que era bom que acabasse rápido. ‘Vamos passar ali às 4 horas, vamos resolver isso aqui porque precisa desfilar para depois continuar’. Como sambista, me deu uma sensação ruim”, descreveu Leandro.

A inclusão de um quarto módulo de jurados obrigou que houvesse mais paradas no desfile, o que, para o sambista, engessou uma atividade que já é engessada pelo regulamento. Em sua visão, faltou a fluidez de um espetáculo que tem a dinâmica da procissão como fundamental. Nem mesmo a Beija-Flor, que Leandro disse ter sido o desfile mais emocionante e digno de título, com seu chão incontestável, chegou perto da catarse de anos anteriores.

O profissional se posicionou também sobre a tendência de tripés majestosos na comissão de frente. “O meu foi enorme. A comissão da Imperatriz é uma como tantas outras. Todo mundo basicamente está levando um palco onde os bailarinos se apresentam em cima. E isso dá pouquíssimos recursos: ou você esconde gente dentro e possibilita o surgimento ou você camufla equipamento para o efeito de fogo, faísca, água, vento. E todo mundo ficou refém disso. Está pior nos últimos anos que entrou o drone”, opinou.

A iluminação cênica da Sapucaí, por sua vez, é um desafio que anima um pouco mais Leandro, apesar de ele acreditar que o ponto ideal ainda não foi encontrado. Em sua perspectiva, não adianta iluminar a Sapucaí como um estádio de futebol, com luz à beça, como era feito anteriormente. Por outro lado, a Passarela do Samba não é um palco de show convencional: ao abrangerem toda a avenida em um mesmo momento, efeitos luminosos que valorizam certos segmentos e alegorias, por exemplo, podem ficar aleatórios para alas mais distantes.

Leandro elogiou o fechamento das notas ao fim de cada noite de desfile.

“Esquece a ideia de que não é comparativo. É comparativo – mas esse comparativo, para ser justo, deve levar em consideração a noite. Porque o público não é o mesmo, as condições do dia não são as mesmas. É um espetáculo a céu aberto que um dia pode chover e no outro não. Pode acontecer de todo mundo numa noite passar um monte de perrengue e na noite seguinte não chover. Na noite seguinte, ser completamente diferente. Não é mais o mesmo espetáculo. É, então, muito justo que se tenha uma impressão da primeira noite, uma impressão da segunda noite e uma impressão da terceira noite. E, no fim, na matemática, as diferenças sejam as mais justas possíveis”, explicou.

Para ele, o que explica historicamente as escolas que se apresentaram segunda terem ganho muito mais títulos do que aquelas que desfilaram no domingo foi exatamente o fechamento das notas no último dia.

“Quando as pessoas vão para casa e descansam, elas já são outras. O júri não é mais o mesmo. O júri, mesmo sendo as mesmas pessoas, tem um comportamento no domingo e outro depois que ele foi para casa dormir e descansou. Eu não acredito que alguém que assistiu um espetáculo na primeira noite tenha a lembrança no último dia daquilo que mais lhe impactou”, expressou.

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