Notas e justificativas de Leonardo Bruno
MANGUEIRA: 10. Letra com enorme qualidade, fazendo uma leitura poética do tema, com passagens interpretativas que expandem o significado do enredo, como “Rosto negro, sangue índio, corpo de mulher”, “Minha mãe é Maria das Dores Brasil” e “Eu tô que tô dependurado / Em cordéis e corcovados”. A melodia surpreende em vários trechos, como na transição do canto esticado em “Sem saber que a esperança / Brilha mais na escuridão” para o impactante “Favela, pega a visão”.
MOCIDADE: 10. Um samba que faz a aposta certa na emoção, casando de forma perfeita com o perfil da homenageada. A letra estimula a garra da escola ao relembrar a trajetória de Elza Soares, sem deixar a potência cair em momento algum, mas o grande trunfo está na melodia, especialmente na cabeça do samba e na repetição de “Para a preta não chorar”.
GRANDE RIO: 9,9. Uma letra rica, que consegue contar com criatividade e imagens interessantes a trajetória de Joãozinho da Gomeia. A melodia vai por caminho difícil, procurando unir o embalo da escola a trechos mais líricos. E é bem-sucedida, como vemos no trecho “Bailam os seus pés / E pelo ar o bejoim / Giram presidentes, penitentes, yabás / Curva-se a rainha / E os ogans batuqueiros… pedem paz”.
TIJUCA: 9,9. Samba inteligente, que subverte o enredo usando a visão particular do morador do Borel sobre tema tão denso como a arquitetura. A letra usa recursos criativos em todos os trechos, aproximando a temática do dia a dia do componente, com expressões como “quintal”, “bangalô”, “palha e sapê”, “capela”, etc. A melodia traz trechos que saltam aos ouvidos pela originalidade, com construções que não são muito comuns no gênero samba-enredo, como “Lágrima desce o morro / Serra que corta a mata / Mata…”, além da boa sacada na repetição do trecho que prepara para o refrão do meio: “Vem, é lindo o amanhecer…”
TUIUTI: 9,8. Refrãos fortíssimos, favorecendo o desempenho do desfilante na Sapucaí. Nos trechos entre refrãos, a melodia fica mais dolente, permitindo o respiro que prepara o próximo momento de explosão. O refrão final, com a repetição em partes, é boa sacada: “No Morro do Tuiuti / No alto do Terreirão / O cortejo vai subir / Pra saudar Sebastião”. A letra é objetiva ao contar o enredo, mas não consegue deixar totalmente claro o enredo que une Dom Sebastião e São Sebastião.
PORTELA: 9,8. Um samba forte, com melodia explosiva, que a todo momento parece emular os cânticos rituais indígenas e pode proporcionar bom desfile aos componentes. Os dois refrãos são muito felizes. A letra não se arrisca muito, procurando dar conta do enredo de forma direta, mas sem conseguir êxito na tarefa de deixar clara a narrativa. A repetição da expressão “a ira de Monã” não se justifica por nenhum recurso reiterativo, então soa gratuita.
BEIJA-FLOR: 9,7. Boas sacadas nos refrãos, especialmente em “Nilopolitano em romaria / A fé me guia! A fé me guia!”. A letra não é bem-sucedida ao contar o enredo de forma clara. A melodia tem soluções ricas, mas se repete em muitos trechos, o que torna o samba pesado. A sequência de versos antes do refrão do meio, com passagens melódicas semelhantes, pode se tornar cansativa: “E nessas andanças, eu sigo teus passos / São tantas promessas de um peregrino / É crer no milagre, sagrados valores / Em tantos altares, em tantos andores / A vela que acende, a dor que se apaga / A mão que afaga se torna corrente”.
VIRADOURO: 9,7. Um refrão fortíssimo antecedido pela ótima sacada do “Ó, mãe, ensaboa, mãe” prometem uma entrada vibrante para a Viradouro. A primeira parte traz uma bela letra, com versos como “E o balaio é do tamanho do suor do seu amor”. A segunda parte não mantém a mesma potência, caindo bruscamente, retomando apenas na volta dos refrãos iniciais.
SÃO CLEMENTE: 9,7. Letra adequadíssima ao enredo e ao estilo da escola, contando de forma clara o enredo e com sacadas espirituosas. A melodia segue a proposta da letra, ao não trazer grandes novidades e seguir em seu “feijão com arroz” caprichado. No conjunto, é um samba que pode permitir um bom desfile à São Clemente. Na comparação com os demais sambas, perde um pouco na criatividade de letra e melodia.
SALGUEIRO: 9.6. A letra procura trazer soluções criativas para contar o enredo, usando figuras como “Quando cair, no talento, saber levantar” e “Aqui o negro não sai de cartaz”, mas não consegue fugir dos lugares-comuns associados ao universo circense. A melodia é o ponto mais problemático da obra, trazendo nos dois refrãos sonoridades já ouvidas muitas vezes na Sapucaí.
VILA ISABEL: 9,6. A letra busca caminhos criativos para contar um enredo denso. É difícil imaginar um componente em 2020 cantando versos como “Quando um cacique (JK!) inspirado / Olhou pro futuro / E mandou construir / Brasília, joia rara prometida”. Soa anacrônico, e os versos de uma obra devem dialogar com seu tempo. A melodia ainda salva alguns trechos, como o refrão do meio: “Ô, viola! / A sina de preto velho / É luta de quilombola / É pranto, é caridade”.
ESTÁCIO: 9,5. É um samba duro, sem trocadilhos com o enredo “Pedra”. A letra ainda esboça alguma criatividade, com a rima interna em “O poder que emana do alto da pedreira / Tem alma justiceira, tem garra de leão” e a repetição do “peneirar, peneirar”, num falso refrão. De resto, se limita a descrever os setores do enredo numa leitura que não foge do óbvio. A melodia é insípida e não apresenta momentos de grande criatividade.
UNIÃO DA ILHA: 9,5. A letra não tem sucesso ao explicar o enredo, que fica nebuloso do início ao fim, numa sequência de versos aparentemente sem conexão. Muitos trechos batem no lugar-comum da autoajuda: “Inocentes, culpados, são todos irmãos”, “Eu sei o seu discurso oportunista / É a ganância, hipocrisia / O seu abraço é minha dor, seu doutor”, “Eu sei que todo mal que vem do homem / Traz a miséria e causa fome”. A melodia não procura novos caminhos e se contenta em explorar uma sonoridade nada novidadeira.
Notas e justificativas de Aydano André Motta
Grande Rio: 9.9. O mais bonito samba do ano conta com beleza e empolgação a história de Joãozinho da Gomeia. O refrão “Eu respeito seu amém/ Você respeita meu axé” é o ponto alto.
Mocidade: 9.9. Força e empolgação para celebrar Elza Soares na medida certa. E Vander Pires sem exageros. Um espetáculo.
Portela: 9.8. Samba rico e emocionante para festejar o Rio antes de o Rio existir. A devida exaltação aos indígenas com críticas a quem merece.
Viradouro: 9.8. Zé Paulo em grande forma canta obra de qualidade, que vai empolgar os componentes na avenida. O refrão “ensaboa” é apenas uma das valências do hino.
Tijuca: 9.7. O samba mais criativo do ano canta a favela como obra (brilhante) de arquitetura. Golaço num enredo que não prometia muito.
Mangueira: 9.6. O Jesus renascido no morro da Mangueira desfila num samba de bom nível. Falta um pouco a cara da escola. Mas vai funcionar.
Tuiuti: 9.6. A encomenda da escola deu numa obra mediana, com menos crítica do que propõe o enredo. Os bons refrãos são o ponto alto.
Beija-Flor: 9.6. A mítica comunidade nilopolitana tem samba correto para o ano da reconstrução, após a tragédia de 2019. A segunda parte cai um pouco, mas o início é empolgante.
São Clemente: 9.6. O alívio cômico da safra, lembra os marajás “puxando férias em Bangu” e o país que caiu na fake news. Pavimenta desfile divertido da escola de Botafogo.
Vila Isabel: 9.5. O enredo deveria ser Brasília, mas a capital só aparece em dois versos. No mais, conta a história antes de a cidade ser construída. Estranho.
Salgueiro: 9.5. A saga do primeiro palhaço negro do Brasil ganhou música apenas regular, de letra previsível.
Estácio: 9.5. Samba mediano que tem dificuldades de explicar o enredo. Os refrãos são a melhor parte.
Ilha: 9.5. O enredo de difícil compreensão inviabilizou a construção de obra melhor. “Chumbo trocado”, imagem de um refrão, não deveria estar no Carnaval.
Notas e justificativas de Pedro Ivo
Estácio de Sá: 9,7. Letra pobre, sem nada mais rebuscado. Compositores não conseguiram sair da frieza da sinopse para algo brilhante. Se preocuparam apenas em reproduzir o que está pedido e ponto. Enredo é bastante confuso, logo problematiza para quem precisa fazer um samba a partir daquilo. Uma melodia até certo ponto agradável, mas repetitiva. Uma ou outra boa variação melódica. Quando você estica uma sílaba (muda acentuação) ou outra para encaixar no samba, ok. Não vejo tanto problema. Mas Estácio faz isso com frequência. Tanta prosódia ratifica a falta de inspiração.
Unidos do Viradouro: 9,8. Samba forte e que promete funcionar para o desfile da Viradouro. A definição de forte, no entanto, combina muito mais com as passagens interessantes da melodia (numa tentativa de repetir modelos recentes de sucesso), não com sua letra – fraca e sem tanta clareza em alguns momentos. Não chega a trazer algo novo e surpreendente em termos de qualidade. Não se pode, no entanto, negar o mérito da parte final combinando a subida para o refrão “Ó, mãe! Ensaboa, mãe!”.
Estação Primeira de Mangueira: 9,9. Uma letra espetacular, mas com uma melodia que não acompanha no mesmo nível. A escola mexeu, tentou, ajustou, mas não parece ter encontrado o “casamento” ideal de letra-melodia. Melodia não acompanha o brilho da letra. A diferença entre os dois aspectos – especialmente no refrão principal – acaba sendo determinante para descontar ponto de um samba que poderia ter avaliação máxima.
Paraíso do Tuiuti: 9,9. Um bom samba. Se não chega a ser brilhante nas principais de avaliação (letra e melodia), cumpre bem o seu papel. E mostra potencial em outra vertente: a síncope. Boa e necessária para um samba-enredo. Destaque para os três refrãos, com boas melodias. Boa letra da primeira parte – sobre o Maranhão – não é acompanhada na segunda parte – sobre o Rio de Janeiro (de “Rio, do peito flechado” a “Salve o Rio de Janeiro”).
Acadêmicos do Grande Rio: 10. Letra e melodia muito excelentes, entregando um samba à altura do que o grande enredo merecia. Samba que já foge do óbvio em sua cabeça – a condução a partir do caboclo Pedra Preta é uma grande sacada e dá peso à obra. Refrão principal forte, fácil – sem parecer “bobo” – e fechando com a ideia de recado/apelo por mais tolerância religiosa. Uma obra que explora muito bem o aspecto da ancestralidade, conseguindo transformar expressões não tão simples em situações fáceis de serem cantadas.
União da Ilha do Governador: 9,6. Um (não) enredo que complicou a missão dos compositores. Diante do que me pareceu uma dúvida sobre a clareza do tema para o desfile, a letra esclarece menos ainda. Um samba que você ouve e não consegue identificar exatamente um tema sendo contado ali. Criança? Mulher? Negro? Pobre? Esperança de dias melhores? Coisas que já passaram pela Avenida, mas que o samba não explica exatamente como contará. Uma série de expressões clichês soltas, perdidas. Como o enredo, que tem uma logo, mas não uma sinopse a se seguir. São questões soltas que devem formar uma ideia no desfile. Porém não se sabe qual. Não há exatamente um encaixe para facilitar o entendimento. Por enquanto, é tudo uma incógnita. Até mesmo o desempenho de um samba muito abaixo do que a Escola merece. Uma melodia razoavelmente agradável em algumas partes evita uma avaliação ainda pior.
Portela: 9,9. Samba forte e que consegue dar a cara/ideia do enredo à obra com citações e expressões bem encaixadas. Termos indígenas não apareceram de forma cansativa, mas sim de maneira necessária para expressar o ar da temática ali. Apenas a letra, no entanto, poderia ser mais bem trabalhada. Não brilha como a melodia.
São Clemente: 9,9. Letra inspirada e com sacadas interessantes. Alcança de forma direta o que o enredo pede, mantendo a tradição da linha de obras da Escola. A extensa segunda parte, no entanto, acaba deixando a melodia levemente cansativa, comprometendo uma nota máxima.
Vila Isabel: 9,8. Uma composição que, somada a ideia do enredo de ser pré-Brasília, consegue resolver um tema que soaria “clichê”, dado o número de vezes que a capital federal já passou pela Avenida. Melodia agradável, apesar das variações talvez exageradas. Destaque para o bonito refrão do meio e algumas boas passagens de letra do meio para a subida do refrão principal.
Acadêmicos do Salgueiro: 9,8. Um samba regular para um enredo que poderia gerar obras mais interessantes. Primeira parte pouco inspirada. Com exceção da boa sacada do refrão do meio, a obra não mostra brilho em nenhum outro momento e tem até alguns clichês isolados. Refrão principal sem tanta força, diferente do que a Escola gosta de apresentar e cantar.
Unidos da Tijuca: 10. Uma obra muito boa. Um samba que resolveu um enredo que, inicialmente, parecia não inspirar os compositores. Falar sobre arquitetura a partir da realidade do morro do Borel, da favela, do sonho do pobre, foi algo muito feliz. Desenho melódico excelente, poético, combinando uma letra inspirada.
Mocidade Independente de Padre Miguel: 10. Letra muito boa e que conta com facilidade o forte enredo. Melodia acompanha a inspiração da letra. Obra que cumpre a expetativa de um enredo desejado pela comunidade de Padre Miguel. Excelente encaixe entre as partes do samba, além da boa preparação de cada parte para os refrões.
Beija-Flor de Nilópolis: 9,9. Um samba que retoma a característica de anos da Escola de Nilópolis. Forte, de boa melodia. Refrãos interessantes. Uma obra que prepara para pegar na veia na hora do refrão principal. Como ressalva, uma letra um pouco abaixo da melodia e que não chega a trazer a maior clareza do enredo – ainda que o mesmo possa ser percebido ao lado da composição.
Notas e justificativas de Alexandre Lozetti
MANGUEIRA: 9,7. Obra rebuscada e corajosa, mantém a linha de fortes críticas sociais, mas vê sua melodia provocar uma ou outra desarmonia. Faltou um caminho melhor para o refrão principal, mas a essência do samba pode funcionar novamente na avenida.
VIRADOURO: 9,8. Pode não ter a letra mais poética ou as soluções mais brilhantes, mas o mérito de invadir e criar raízes no cérebro de quem ouve também é grande. Dá vontade de cantar, de brincar, de curtir a festa. E o “ensaboa mãe” pode arrastar a Sapucaí para o refrão principal.
VILA ISABEL: 9,6. O enredo não empolga e as soluções encontradas parecem de outros carnavais. Há bons momentos, como a cabeça do samba e o refrão central.
PORTELA – 9,9. Depois de uma sequência de obras em que a Portela falava mais de si mesma que dos enredos, quaisquer que fossem, o samba de 2020 acerta em cheio na abordagem, nos refrães, na vibração melódica e, principalmente, ao não ter bispo e nem se curvar a capitão.
SALGUEIRO: 9,5. Para um enredo tão bom e com potencial de emocionar, o samba soa blasé, sem a pegada do salgueirense, carece de sentimento. A letra em primeira pessoa é bonita em alguns momentos. A harmonia terá que resistir ao insólito dueto de Emerson Dias e Quinho.
MOCIDADE: 9,9. Elza Soares certamente está feliz com a bela obra, valente e exitosa na missão de materializar a relevância da homenageada para a música brasileira. O verso “Essa nega tem poder, é luz que clareia” resume a mensagem ao país onde o racismo volta a se assanhar.
UNIDOS DA TIJUCA: 9,8.É possível identificar Jorge Aragão, um dos compositores, em trechos do samba – bangalôs têm muito a sua cara. Isso não faz da obra impecável. Ela parece se estender um pouco além da conta e a melodia com isso se arrasta, mas há mais bons momentos, como o refrão central.
PARAÍSO DO TUIUTI: 9,7.Parece que ouvi o samba pela primeira vez em 2018, tamanha a precocidade da divulgação. Os refrães são fortes, marcantes, podem embalar mais um desfile valente da escola que, a cada ano, se consolida no Grupo Especial.
GRANDE RIO: 10.Obra que conta com maestria o enredo proposto e tem no refrão principal um apelo emocionante e pertinente para os tempos de intolerância. A melodia também parece ter sido criada especialmente para musicar a vida de Joãozinho da Gomeia. O melhor samba do ano.
UNIÃO DA ILHA: 9,3.Não se vê nada de União da Ilha nesta composição enfadonha. Não há coesão e nem se percebe o enredo na leitura do samba. A comunidade aguerrida terá um desafio e tanto pela frente. Salve-se quem puder!
BEIJA-FLOR: 9,9.Carrega a identidade da escola na melodia forte que estimula o canto da comunidade, e na letra que não apela a recursos fáceis. A junção do refrão do meio e a segunda parte, mais curta, chama o nilopolitano pelos brios, e isso costuma dar resultado.
SÃO CLEMENTE: 9,5. A letra é divertidíssima e faz jus à genialidade de Marcelo Adnet, agora compositor de samba-enredo. Mas a melodia por vezes soa básica demais, como se dedicada a paródias. É o desequilíbrio da obra, mas o traço de deboche é importante para a história da São Clemente.
ESTÁCIO DE SÁ: 9,4.Obra mal resolvida, no meio do caminho entre a leveza e a complexidade, não alcança qualquer um dos resultados. O refrão central desafoga, permite a brincadeira, mas não atenua os problemas melódicos.
MANGUEIRA. Nota: 9,9. O samba da Mangueira é sem dúvidas muito forte, com letra de extrema inteligência. Mas a melodia deixar a desejar. Sem pontos explosivos, o samba passa bem, mas sem um grande trecho de destaque. Poderia ser um samba sensacional mas algumas passagens dificultam, como por exemplo o refrão: “Mangueira / Samba, teu samba é uma reza / Pela força que ele tem…”.
VIRADOURO. Nota: 9,6. “Ensaboa mãe” pode parecer um pouco apelativo, mas após ouvir o samba algumas vezes é impossível não ficar com essa parte na cabeça. A letra é correta e os refrões são fáceis, apesar de algumas rimas, que aqui em São Paulo chamamos de pobres. Cumpre o seu papel, porém, o enredo pedia mais, soa um pouco genérico em alguns momentos.
VILA ISABEL. Nota: 9,5. Um samba funcional, sem novidades com algumas estrofes que não fazem muito sentido de imediato. Também falta explosão. O samba não compromete, mas certamente não será um dos hits de 2020.
PORTELA. Nota: 10. Certamente, é um dos melhores sambas do ano no RJ. O refrão de cabeça é lindo e a melodia melhor ainda. Um sambaço.
SALGUEIRO. Nota: 9,6. O samba começa alegre e pra cima, mas se torna bastante burocrático e com a melodia sem grandes variações. “Fazer sorrir quando a tinta insiste em manchar” é sensacional e a letra no geral é boa, bastante superior a melodia que deixa muito a desejar.
MOCIDADE. Nota: 10. O samba da Mocidade é o samba do Carnaval 2020.
TIJUCA. Nota: 9,8. A qualidade da letra e melodia desse samba são inquestionáveis e fogem do lugar comum de outros sambas. Minha única ressalva é a falta de um grande momento de explosão, que faça o componente bater o peito.
TUIUTI. Nota: 9,8. O samba é muito bem construído de frases curtas e diretas e uma melodia diferente, mas, comete um pecado que para um paulista é difícil não descontar pontos: Muitas rimas terminadas em “ado” em toda a letra.
GRANDE RIO. Nota: 10. Sambaço, oriundo de um enredo espetacular. Apesar de abusar de palavras difíceis é arrebatador.
UNIÃO DA ILHA. Nota: 9,3. Não entendi o enredo através da letra do samba. Não encontrei momentos contagiantes e a melodia se arrasta.
BEIJA-FLOR. Nota: 9,9. O samba começa com muita energia, melodia pesada e vibrante, com uma letra muito bem construída. Só não leva a nota máxima, pois pareceu ser muito longo, isso pode comprometer.
SÃO CLEMENTE. Nota: 9,7. A melodia pra cima, a letra crítica e bem humorada fazem o samba ser contagiante e simpático. Ao mesmo tempo que tem todas essas características, peca pela simplicidade e pela falta do algo mais. Algumas esticadas em vários versos fazem o samba perder um pouco de dinâmica.
ESTÁCIO DE SÁ. Nota: 9,4. A primeira impressão do samba é que a palavra “Poder” está lá de maneira totalmente equivocada. Melodia pesada e letra pouco inspirada proporcionam poucos momentos de vibração.
Notas e justificativas de Leonardo Antan
Mangueira: 9,9. Com uma das mais bonitas e inspiradas letras do ano, o samba da verde e rosa possui algumas variações melódicas bruscas e versos mais alongados que podem prejudicar seu melhor desempenho.
Vila Isabel: 9,7. A construção de um enredo confuso reflete na letra do samba da Vila Isabel. Apesar de tentar evocar belas passagens e algumas se destacarem pela qualidade melódica, o samba da azul e branco passa uma sensação apenas burocrática, explodindo num refrão cheio de lugares comuns.
Viradouro: 9,8. Um dos sambas que mais cresceu desde a disputa, o samba da Viradouro evoca o enredo com boas passagens e ganha ainda maior força com a boa interpretação de Zé Paulo Sierra.
Portela: 9,9. Forte e com bastante pegada, o samba da azul e branco é uma das grandes obras do ano. Com um refrão explosivo e passagens valentes, o único senão fica por frases muito reducionistas e pouco elaboradas, que acabam por simplificar demasiadamente um enredo com grande potencial.
Salgueiro: 9,8. Apesar de criticado, o samba-enredo do Salgueiro cumpre seu papel ao evocar um imaginário circense. A letra constrói pelas imagens e versos inspirados que explodem num refrão animado, mesmo que clichê. A melodia peca em alguns sentidos, mas funciona bem no contexto.
Mocidade: 9,9. Ao materializar a esperada homenagem a Elza Soares, os compositores do samba da verde e branco da Zona Oeste apostaram num samba explosivo, deixando um pouco de lado a linha mais melódica que a agremiação vinha seguindo. O samba reflete de maneira valente a história da homenageada numa bonita crescente, apesar de construções mais óbvias e com poucos momentos realmente inspirados.
Tijuca: 10
Tuiuti: 9,9. Um excelente acerto, o samba da Tuiuti pode não chamar atenção na primeira ouvida, mas a cada nova audição, o samba cresce e pode chegar na Avenida com sua potência máxima. O samba constrói belas imagens e costura de maneira competente o enredo da azul e amarela, um dos seus únicos senões é alguns versos muitos alongados que dificultam o canto.
Grande Rio: 10
Ilha: 9,5. A proposta da comissão de carnaval da União da Ilha de não escrever uma sinopse que guiasse a criação dos seus compositores parece ter influenciado diretamente na qualidade da obra insulana. Com um amontoado de imagens clichês que não parecem se conectar, a obra faz uma crítica rasa e sem foco, apesar de tentar evocar grandes carnavais da tricolor, como É hoje e O Amanhã.
Beija-Flor: 9,8. Com a força característica nilopolitana, o samba tem um refrão explosivo e forte, que é certamente um dos melhores do ano. Entretanto, apesar de sua força, a obra de se perde em alguns versos e acaba por exaltar demais a agremiação e fugir o intuito de contar o enredo.
São Clemente: 9,8. Com passagens bem-humoradas e inspiradas, o samba da preta e amarela conduz bem o tema desenvolvido e traz belas imagens ao enredo, servindo bem a proposta da escola. O único senão da obra parece uma segunda parte mais longa do que o necessário, numa sequência de versos que poderia ser facilmente dispensada dando mais agilidade a obra.
Estácio: 9,6. Uma obra valente, o samba da Estácio tem altos e baixos ao tentar dar conta do enredo, se utilizando de muitos lugares comuns e versos poucos inspirados.
Notas e justificativas de Guilherme Alves
Viradouro: 9,9. O samba é valente e tem um refrão que pode pegar na Avenida (“Oh, mãe, ensaboa, mãe”). A primeira parte do samba parece um pouco abaixo do restante da obra em termos de qualidade.
São Clemente: 9,9. Samba inteligente, com boas sacadas e soluções, não fica preso à fórmulas ou modelos comuns do gênero. Falta um algo a mais, um diferencial, pra conseguir a nota máxima.
Vila Isabel: 9,8. O samba possui uma melodia valente e a interpretação do Tinga valoriza a obra. O uso de alguns recursos já usados em sambas de carnavais anteriores, como o “sou da Vila não tem jeito”, acaba desvalorizando um pouco a obra.
Tuiuti: 9,8. Samba interessante por possuir um formato diferenciado na construção de versos e refrões. A principal dificuldade do samba parece ser a melodia, que exige um esforço maior no canto.
Grande Rio: 10
Portela: 10
Mangueira: 10
Beija-Flor: 10
Mocidade: 10
Salgueiro: 9,7. Um samba que fica abaixo da expectativa devido à qualidade do enredo, além da tradição do Salgueiro em ter grandes sambas e do próprio grupo de compositores, que já fez obras inspiradíssimas para a escola. A obra possui algumas boas sacadas, mas parece cansar em alguns momentos.
Ilha: 9,6. Um samba extremamente subjetivo, tem poesia, mas não dá uma noção exata do que se trata o enredo. E também causa estranheza o estilo de samba, a proposta foge um pouco das características da escola.
Tijuca: 9,6. O samba é um tanto quanto irregular. Possui passagens inspiradas, como no refrão central, mas também algumas soluções incômodas, como o “eu sou favela” do refrão principal, em que há extensão nas duas últimas sílabas da palavra “favela” durante o canto e acaba soando mal.
Estácio: 9,4. A proposta do enredo da escola parece interessante, mas infelizmente não rendeu um samba dos mais inspirados. A obra poderia ser melhor lapidada, a impressão que fica é que falta mais poesia, lirismo à letra.
Como ficou a avaliação do Especial do Rio:
Grande Rio: 69,8 pontos
Mocidade: 69,7 pontos
Portela: 69,3 pontos
Mangueira: 69 pontos
Beija-Flor e Unidos da Tijuca: 68,8 pontos
Paraíso do Tuiuti: 68,5 pontos
Viradouro: 68,4 pontos
São Clemente: 68,1 pontos
Salgueiro e Vila Isabel: 67,5 pontos
Estácio de Sá: 66,5 pontos
União da Ilha: 66,3 pontos