É da Estação Primeira de Mangueira o primeiro lugar do Júri do CARNAVALESCO para os sambas-enredo do Grupo Especial do Carnaval 2019. A Verde e Rosa que levará o enredo “História para ninar gente grande” perdeu apenas 0,1 (um décimo) na avaliação de nove julgadores. O Salgueiro ficou em segundo lugar e a Portela terminou em terceiro.
Participaram do corpo de jurados jornalistas e pesquisadores convidados pela equipe do site CARNAVALESCO. São eles: os jornalistas Rafal Galdo (O Globo), Rica Perrone, Aydano André Motta, Leonardo Bruno, Guilherme Alves (Rádio Globo), Pedro Ivo (Portal UOL) e Fabio Fabato, o compositor e jornalista Jairo Rozen, e o pesquisador Leonardo Antan. * VEJA AQUI TODAS NOTAS E JUSTIFICATIVAS
“Uma vitória como essa muito nos orgulho e nos honra. São pessoas que vivem o carnaval todos os dias, entendem os problemas que o carnaval passa, as necessidades, pessoas especializadas e analisam de forma diferente. É um júri técnico. Um samba diferente e como o samba é analisa é uma conquista vencer como o melhor samba em um site tão importante, fundamental e que defende a bandeira do samba como é o site CARNAVALESCO“, disse o compositor Deivid Domêncio, que assina a obra da Mangueira com os compositores Tomaz Miranda, Mama, Marcio Bola, Ronie Oliveira e Danilo Firmino.
Sempre presente no corpo de jurados do CARNAVALESCO, o jornalista Fábio Fabato comentou a safra de 2019 e aproveitou para criticar a capa do disco oficial do Grupo Especial.
“O disco das escolas de samba apresenta, como sempre, destaques em diferentes prismas. Há obras para todos os gostos – epopeicas, afetivas, alegóricas, divertidas. Tem até canção consagrada o que, a meu ver, entra em choque com o próprio gênero samba-enredo. De nota triste, mais uma vez, a capa – bem longe da alteza e do tamanho de uma festa que se autoproclama “Maior Espetáculo da Terra” – sem preocupação estética e como peça de marketing. O poder público está vacilando muito com o carnaval, mas as escolas de samba e entidades representativas se encontram completamente paradas no tempo. É preciso estar atento e forte aos contextos e abraçar uma imperativa reinvenção geral, antes que a festa acabe”, disse Fabato.
Rica Perrone deu notas 10 para seis escolas e, além de enaltecer a obra da Mangueira, citou destaques para Salgueiro, Portela, Mocidade, Tijuca e a reedição da São Clemente.
“Eu não sei o que acho sobre dar notas pra samba repetido. Não acho errado um jurado tirar nota pela escola não ter criado nada novo, nem acho justo que um samba nota 10 seja diminuído. Eu amo esse samba. Não tem como não dar 10”, afirmou Rica Perrone sobre o samba da São Clemente.
Para o jornalista Leonardo Bruno, os sambas da Mangueira e do Tuiuti foram os únicos que mereceram a nota máxima.
“Melodia sinuosa, com mudanças inesperadas e criativas. Traz apenas um refrão, explorando a força da cabeça do samba, que acalenta o componente com “Brasil, meu nego” e “Brasil, meu dengo”. A letra é simples à primeira vista, mas requintada numa análise mais detalhada, com a aliteração de “Marias, Mahíns, Marielles, Malês” e os plurais “Lecis, Jamelões”, explicou sobre a obra da Verde e Rosa.
“Letra rica, elaborada, sem deixar de ser popular, abusando do bom humor. Traz soluções interessantes, como a oposição “serviu/servil”. Os três refrãos são fortes e criativos, com melodia contagiante”, disse Leonardo Bruno em seu comentário sobre o samba do Tuiuti.
O samba encomendado da Grande Rio recebeu alguns comentários do jurados.
“A letra mostra dificuldades para fazer poesia num enredo complicado, com uma melodia pouco criativa. Em alguns momentos, o samba parece desconectado de seu tempo, como em “Quem nunca sorriu da desgraça alheia” (?). Já nos trechos em que é atual, a temática é árida e pouco carnavalesca: “E a cisma de atender o celular pra curtir, compartilhar / Zombar do perigo, largar o amigo, perder o pudor”, comentou Leonardo Bruno.
“Samba com passagens interessantes melodicamente, como o refrão do meio e o final da segunda parte. Mas, talvez o enredo, uma mistura de auto-ajuda com uma série de lições morais, seja o maior problema. Difícil misturar numa mesma letra consciência ecológica com alertas sobre o comportamento ao celular. Os compositores conseguiram até escapar de um samba enfadonho. Mas não foi o bastante para salvar o enredo”, explicou o jornalista Rafael Galdo.
Vice-campeã no ranking do CARNAVALESCO, a obra do Salgueiro foi muito elogiada pelos jurados.
“Um dos melhores sambas do ano no carnaval brasileiro. O refrão principal é poético e aguerrido, chama o componente a cantar com ainda mais força. Melodia e letra belíssimas. O desempenho de Emerson Dias também merece destaque”, garantiu o jornalista Guilherme Alves, da Rádio Globo.
A opção do Império Serrano em utilizar uma obra clássica da MPB como samba-enredo foi citada pelos jurados.
“Com todas as dificuldades e problemas de adaptar uma obra musical para o gênero do samba-enredo, o Império tem uma aposta com todos os seus prós e contras. Apesar de um dos grandes clássicos do repertório da música nacional e com um refrão marcante e emocionante, como samba-enredo, a obra deixa a desejar em vários aspectos, com passagens muito aceleradas e poucos funcionais para um tipo de música repetida a exaustão por um coro em cortejo de milhares de pessoas. Ao pontuar então a obra, se busca colocar na balança a problemática entre os pontos desfavoráveis na adaptação da canção a um gênero que não é o seu originalmente e que resulta uma obra que não agrada dentro do campo de “samba-enredo” e reflete uma série de discussões a cerca da produção e veiculação do gênero no universo das agremiações”, comentou o pesquisador Leonardo Antan.
“A ‘inovação’ da escola da Morro da Serrinha soa um pouco estranha, pois a música escolhida (apesar de belíssima) não é um samba-enredo. Além disso, o trecho a partir de “você diz que é luta e prazer” até o “sempre desejada” é de difícil canto e entendimento”, comentou Guilherme Alves.