Mesmo sendo uma das escolas mais novas em todo o carnaval de São Paulo, a Dragões da Real já coleciona momentos memoráveis na história. Com 25 anos completados em 2025, a agremiação da Vila Anastácio possui uma série de momentos impactantes de nomes importantes da instituição e a reportagem do CARNAVALESCO fez questão de ouvir tais personalidades. Um spoiler: um desfile, em especial, foi o campeão de citações.

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Primórdios

O Lugar de Gente Feliz tem uma capacidade imensa de manter componentes e pessoas na comunidade. É claro, porém, que alguns nomes importantes participaram da criação da escola de samba. Elias Vieira, atualmente diretor-geral da agremiação e um dos fundadores da instituição, fez questão de relembrar o primeiro desfile na avenida como instante impactante: “Para mim, o momento mais marcante foi o primeiro desfile, que foi o momento em que você colocou a sua ideia, o seu sonho de construir e fazer uma escola e fazê-la desfilar na avenida. Ver hoje o que se tornou aquele sonho que você teve lá atrás, aquela loucura para quem começou esse sonho (éramos quatro ou cinco apaixonados pelo São Paulo e pela Dragões), que quiseram fazer uma escola de samba e ver o que virou hoje, uma referência no carnaval da cidade com grandes eventos, ver como a instituição está hoje, a casa cheia, um monte de gente feliz e todos prestigiando, a felicidade que é de todos, o nosso sorriso de estar nesse grande evento… isso é muito marcante”, comentou.

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Elias Vieira, atualmente diretor-geral da agremiação e um dos fundadores da instituição

A lembrança traz alguns detalhes importantes. O primeiro desfile em questão, intitulado “Circo Criança, Uma Grande Esperança”, foi campeão do Grupo de Espera da União das Escolas de Samba Paulistanas (UESP), então sexta divisão do carnaval paulistano. Com 100 pontos, a apresentação teve nota máxima em todos os quesitos.

A fala de Elias, que também tem participação na inauguração do Memorial da Caverna e na da agremeiação, também relembra o fato da Dragões da Real ser uma escola desportiva, oriunda de uma torcida organizada do São Paulo Futebol Clube. Hoje, entretanto, a agremiação reúne torcedores de todos os clubes e é muito mais identificada com o Extremo Oeste paulistano, além de englobar residentes de outros municípios – sobretudo de Osasco, local que faz fronteira com a Vila Anastácio, último bairro da capital paulista em direção a tal cidade.

Também há tempos

Outro personagem que relembrou um momento mais antigo da Dragões da Real para citar um momento tocante foi Rogério Félix. Diretor de Harmonia da Dragões desde 2010, ele foi para o primeiro desfile com a agremiação em 2011. E, antes da apresentação… ele mesmo conta o que aconteceu: “Tem vários, vários momentos… eu vou pedir liberdade para destacar dois. O primeiro foi logo no meu primeiro ano, não conhecia ainda o comando da Dragões, não sabia como a comunidade ia realmente me atender e se a comunidade ia entender o projeto. Durante o ano inteiro foi fantástico, aliás. Chegamos no dia, tivemos algumas coisas de alegoria, mas conseguimos fazer tudo. Chegou na hora da montagem, tudo pronto, nós éramos a última escola do Grupo de Acesso I. Terminada a montagem, quando passou o fosso do Palácio de Convenções do Anhembi, eu escutei um estrondo no céu. Olhei para cima, eu vi o céu fechando. Não tinha chovido para ninguém. E não foi uma chuva: foi um dilúvio. Se você pegar fotos e vídeos daquele desfile, você vai ver umas fotos das nossas baianas encharcadas. Quando caiu o dilúvio, eu estava bem no fosso. Olhei para trás e a escola inteira saiu correndo, desmontou. Eu estava com a minha esposa, a Jussara, do lado. Com aquele pé d’água do caramba e eu sendo o comandante, não iria sair da chuva. Começou a subir água pela canela e a gente no meio da água. Deu a hora da gente andar e eu simplesmente apitei e comecei a marchar. Nem olhei para trás. Aí eu perguntei para a Jussara olhar para trás para ver se a escola estava vindo – e ela respondeu que sim. Nós fomos campeões ali. Ali eu senti que a energia tinha virado. E era uma coisa que, para mim era novidade. Eu estava junto com a escola, e, do nada, quando caiu a chuva, ela desmontou. Mas ela montou quando eu apitei. Esse foi um momento mágico para mim. Nós entramos com uma chuva destruindo tudo, e a escola passou, deu um sacode enorme. Tem uma imagem que é linda, das nossas baianas dançando naquela chuva e a chuva fazendo quase um véu com elas dançando. Isso foi fantástico. Ali acho que foi um marco”, destacou.

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Rogério Félix, diretor de Harmonia da Dragões desde 2010

O desfile em questão, intitulado “A Felicidade se Conta em Contos”, foi campeão do Grupo de Acesso I e colocou, pela primeira vez, a instituição no Grupo Especial. O segundo momento marcante dele será contado mais para frente.

Resultado marcante

Como melhores colocações no Grupo Especial, a Dragões da Real tem três vice-campeonatos. O último deles no ano de 2024 – com o desfile do enredo “África – Uma Constelação de Reis e Rainhas”, citado por dois personagens que chegaram nos últimos anos na agremiação. Um deles foi Klemen Gioz, mestre da “Ritmo Que Incendeia”, bateria da instituição, que está na agremiação desde o desfile de 2023: “É difícil dizer isso estando numa escola que tem a melhor feijoada de São Paulo, com o presidente e com a diretoria dando carta branca para a gente trabalhar. Mas o momento mais marcante, claro, foi em 2024: a gente atingiu o segundo lugar, faltando pouco para ser campeão do carnaval”, comentou.

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Klemen Gioz, mestre da Ritmo Que Incendeia

Emoção a flor da pele

Dos grandes carnavalescos da história do carnaval paulistano, Jorge Freitas também está na instituição desde 2023. Ele, entretanto, preferiu destacar o desfile de 2025, intitulado “A vida é um sonho pintado em aquarela!” e idealizado por ele próprio, como o mais impactante: “O desfile que nós fizemos em 2025 foi um momento marcante. Todo evento que a Dragões faz é um momento marcante, na realidade. Mas esse desfile que passou foi algo extraordinário. Acho que a nossa proposta enquanto projeto nós entregamos na avenida e tenho certeza que o público, todo ele, fez parte desse projeto. Foi um congraçamento entre público e escola. A Dragões está de parabéns”. É importante relembrar que, para Jorge Freitas, o desfile de 2025 marcava, também, uma grande homenagem ao neto.

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Carnavalesco Jorge Freitas

Motivos pessoais

É claro que não são apenas desfiles que marcam em uma escola de samba que se tornou uma potência do carnaval paulistano. Eventos com o calor da comunidade, por exemplo, também foram lembrados.

Rubens de Castro, mestre-sala da instituição, destacou as edições da já citada Superfeijoada, evento que se tornou tradicional na Dragões: “Ver essa feijoada, que na primeira ocasião em que foi feita teve 50 convites vendidos e hoje está tão forte, sendo a maior do Brasil. Esse é o maior momento que a gente pode escrever além da avenida”, destacou.

A corte da “Ritmo Que Incendeia” também relembrou momentos marcantes. Yohana Obyara, princesa da bateria, destacou o instante no qual passou a ter ainda mais destaque à frente dos ritmistas: “Depois de 14 anos, essa pergunta é muito difícil. Mas eu vou escolher a minha coroação, que foi há quatro anos atrás. Foi um momento marcante na minha vida, na minha trajetória aqui na Dragões, e também foi a consagração de um sonho. Foi um momento muito marcante para mim”, relembrou.

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Karine Grum, rainha da Ritmo Que Incendeia, e Yohana Obyara, princesa da bateria

Miscelânea

O momento relembrado por Karine Grum, rainha da Ritmo Que Incendeia, se refere ao desfile de 2023. Naquele ano, a apresentação de “Paraíso Paraibano – João Pessoa, A Porta do Sol das Américas” também foi marcado pela estreia dela como destaque à frente dos ritmistas: “São 21 anos e 20 carnavais. Eu batalhei por muita coisa, muita coisa mesmo… mas tem uma cena que eu não esqueço. Eu até revisitei esse instante novamente: eu chegando na concentração do meu primeiro desfile, sete horas da manhã, tudo já claro, e eu passando no carro abre-alas. Olha… não tem como descrever. O primeiro desfile como rainha, que era o meu sonho desde criança. Realmente eu acho que foi a cereja do bolo”, finalizou.

Na “Ritmo Que Incendeia”, Karine foi a sucessora de uma das mais famosas rainhas de bateria da história do carnaval paulistano. Simone Sampaio também relembrou alguns desfiles especiais e momentos marcantes na Dragões: “São muitos os momentos marcantes e bastante pontuais. O primeiro ano, quando eu desfilei no enredo sobre as mães com a minha filha, na frente da bateria comigo. O desfile de 2017, que foi um ano extraordinário. E o ano passado – quando nós, enfim, representamos um enredo tão importante, que falava de reis e rainhas africanas e negras, da nossa descendência. Isso foi uma grande conquista. A Dragões veio para um divisor de águas. Nesse ano, eu completo os meus 30 anos de carnaval e encerro meu ciclo aqui na Dragões como madrinha, mas sigo em prol do carnaval, da arte, da nossa cultura. Posso dizer que o melhor momento foi quando eu adentrei a quadra e as crianças me pegaram, ocuparam meu coração. Foi um relacionamento de muito amor”, disse.

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Simone Sampaio

O desfile de 2012, “Mãe, ventre da vida e essência do amor”, foi o primeiro da escola no Grupo Especial e também foi citado por Márcio Santana, diretor de carnaval da agremiação: “São vários momentos marcantes por aqui. Mas, sem dúvida nenhuma, eu acredito que dois dos mais marcantes para mim foi o enredo sobre as mães – e, posteriormente, um enredo que não foi para a avenida em decorrência da pandemia. No primeiro, consegui homenagear minha mãe em vida; no segundo, a homenagem foi póstuma. Esses dois pensando em algo que vai além da competição. Agora, se a gente for falar de paixão e de tudo que envolve técnica de carnaval, aí não tem como fugir de Asa Branca”, comentou, aproveitando para destacar o enredo que estava escolhido para o carnaval de 2021 – ano em que os desfiles não aconteceram por conta da pandemia. Em 2022, a instituição alterou o enredo para “Adoniran”.

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Márcio Santana, diretor de carnaval da agremiação

Mais lembrado

O leitor mais atencioso já prestou atenção que alguns nomes citaram um desfile em especial. Em 2017, a escola apresentou “Dragões canta Asa Branca”, um clássico instantâneo do carnaval paulistano fazendo uma releitura da igualmente clássica música de Luiz Gonzaga. Impactando pelo abre-alas com o esqueleto do tradicional dragão em alusão à seca nordestina, a exibição teve uma série de detalhes esmiuçados por Rogério Félix: “E um outro marco é 2017. Sou um dos autores do enredo. Ele nasceu na minha sala, junto com o Jorge Silveira. Quando eu dei a ideia, quando a gente sentou para conversar, eu ia falar sobre o livro ‘Os Sertões’. Quando eu peguei uns dois dias para reler o livro rapidamente, eu lembrei que é muita coisa que estaria triste para gente representar. Nisso, eu lembrei da música ‘Asa Branca’ e levei a ideia. Sentei com o Jorge e a gente começou a fazer tudo. Desenhamos na minha sala todas essas coisas. E, aí, nasceu aquele abre-alas de caveira, um dragão fantástico, era bem na época de Game of Thrones, tinha uma cena que tinha umas carcaças de dragões na praia. A gente pegou e fez aquilo. Foi uma briga para a escola entender que a gente não estava desmontando o dragão, que é o nosso símbolo, mas homenageando ele de uma outra forma. Naquele ano, também, eu fazia parte da comissão de carnaval: era eu, o Jorge Silveira, o Márcio Gonçalves e o Dione Leite. Nós éramos uma equipe fazendo um trabalho. As baianas também foram um desenho fantástico daquele ano. O carro que florescia foi uma coisa que o Tomate quase matou a gente, porque era um carro sem nada aqui no barracão. Ele disse que esse carro não iria funcionar. E, quando passou na avenida, com o mandacaru abrindo, foi aquele grande choque. Acho que 2017 foi um marco, foi uma virada. A escola vestiu um enredo: nós mudamos a alimentação na escola para comida nordestina, tocamos músicas nordestinas… desde aquele momento, a gente veste o enredo. Toda vez que chega o enredo, a gente veste-o. Esses momentos são os que marcaram a minha trajetória. Mas, mais do que nunca, sou muito feliz com uma comunidade que aceita qualquer loucura. Já fizemos evoluções na avenida em que cada ala ia para um lado, cada fileira dançava para um lado. As alas faziam evoluções diferentes. Sou muito feliz, de verdade, com a comunidade que construímos hoje”, disse.

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Renato Remondini, o Tomate, presidente da instituição

Renato Remondini, o Tomate, presidente da instituição, também destacou o desfile: “São vários e vários os momentos em que a Dragões foi marcante na minha vida. O grande momento, entretanto, foi quando eu senti que a escola, de fato, encantou a todos: ver a arquibancada vibrando com o nosso desfile em 2017 foi inesquecível”, rememorou.

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Jorginho Soares, integrante do carro de som da Dragões

Por fim, Jorginho Soares, integrante do carro de som da Dragões, passou a mesma impressão: “Posso dizer que foram vários momentos, tivemos momentos marcantes em disputas de samba, em desfiles e em feijoadas como hoje – ainda mais nessa Superfeijoada, comemorando 25 anos da escola. É uma honra para mim poder fazer parte dessa festa e dividir um pouco da nossa alegria com toda a nossa comunidade. Na minha modesta visão, pelo menos no meu coração, o momento mais marcante foi o ano de 2017, que até hoje está engasgado com aquele vice-campeonato. Com todo o respeito à Tatuapé, que foi a campeã, nós terminamos com a mesma pontuação. Para nós, também fomos campeões naquele Carnaval de 2017. Eu acho que é o momento mais marcante da nossa escola – e, no meu coração, é esse”, finalizou.