De volta ao Rio de Janeiro após um tempo apenas fazendo carnaval em São Paulo, período estendido pela pandemia, Jorge Silveira retorna ao cenário carioca da folia e especialmente à escola em que recebeu grandes elogios pelo trabalho produzido em três anos de São Clemente. Se as colocações não refletiam a qualidade do trabalho, o melhor foi o décimo lugar de ” O conto do vigário”, em 2020, Jorge produzirá o desfile da escola, agora em um novo momento em que agremiação está no Grupo de Acesso depois de mais de 10 anos seguidos de Especial.
“É um momento novo, a São Clemente em uma nova condição, agora no Grupo de Acesso, é uma outra realidade. Mas é a boa e velha São Clemente de sempre. Eu tenho dito que é um brinquedo que eu já brinquei, é uma máquina que eu sei fazer funcionar. Eu me sinto em casa literalmente, foram três anos trabalhando na escola, conheço todos os funcionários e toda a equipe. Foi uma conversa muito boa com o Renato (presidente) para que a gente pudesse acertar os ponteiros e determinar o projeto para 2023. É uma escola que eu já operei, e já tive a experiência de trabalhar no Grupo de Acesso, já estive no Grupo de Acesso e já fiz a São Clemente, então é uma realidade que misturando essas duas coisas eu já estou acostumado. O objetivo é trazer a escola de volta para a sua identidade, um carnaval engraçado, satírico, irreverente, divertido, mas com o compromisso da competição para que a gente possa buscar esse lugar no Grupo Especial de volta”, explica o carnavalesco.
E para Jorge Silveira, o que não pode faltar nos desfiles da São Clemente é a irreverência característica da escola. O carnavalesco quer resgatar essa qualidade ainda de uma forma mais carioca.
“Eu gosto muito de fazer o trabalho servindo a característica do pavilhão, e essa é a característica da São Clemente. Acho que toda vez que ela tenta fugir disso, ela não se dá bem. Ela tem que entender que o lugar dela é esse. Se o carnaval do Rio de Janeiro fosse um jornal, a São Clemente seria aquela charge que vem na capa, fazendo a crítica das coisas. Eu entendi isso desde sempre e procuro sempre direcionar para isso. Podem esperar um carnaval leve, divertido, mas crítico, irreverente, com um toque de humor muito forte e sobretudo, acho que de todos os carnavais que eu já trabalhei na São Clemente, esse será com certeza o mais carioca de todos, com um traço muito forte de Rio de Janeiro na linguagem”.
O enredo “O achamento do velho mundo” pretende trazer a visão do descobrimento do Brasil sobre uma ótica invertida, através do olhar dos povos nativos do país que a partir da narrativa de Jorge seriam os descobridores. O carnavalesco explica um pouco de onde partiu a ideia para a história ser levada para a Avenida.
“Eu tinha uma ideia embrionária disso no carnaval virtual anos atrás e agora, eu adaptei, tornei ele maior para o padrão do carnaval da São Clemente. E trouxe ele para a praia de Botafogo. O nosso carnaval começa partindo da praia de Botafogo, então tudo isso é pensado para ter uma linguagem carioca, para a linguagem da São Clemente. Logo que eu apresentei o tema ao Renato, ele gostou da ideia. Praia é uma coisa que tem a ver com a história da escola. Futebol de areia, futebol de praia, então a gente parte daí para poder brincar o nosso carnaval”, aposta Jorge Silveira.
Trabalho com planejamento
Agora na Mocidade Alegre também, Jorge explica como consegue se desdobrar para produzir o carnaval do Rio e o de São Paulo ao mesmo tempo.
“É tranquilo, o carnaval é planejamento e equipe. A gente trabalhando com equipe e tudo organizado com antecedência, é tranquilo de fazer. Eu tenho uma boa recordação da última vez que eu dividi carnaval. Em 2017 eu fui vice campeão no Rio e em São Paulo. Eu gosto dessa brincadeira de dividir, não vejo problema, as duas escolas entendem e respeitam esse processo de trabalho, estou feliz”, finaliza Jorge.
Com o enredo ” O achamento do Velho Mundo”, a São Clemente vai encerrar a primeira noite de desfiles da Série Ouro em 2023.